Em plena campanha eleitoral que ainda não começou, todos são candidatos de convenções que não existiram, mas se recusam a definir qualquer coisa. Numa análise isenta e profissional, é realidade irrefutável. Mas pode ser também um acúmulo de contradições, que se revelam e se identificam a cada momento.
Decodificando cada palavra dessas 23 que formam a frase e constatam o momento insensato em que vivem os partidos, vamos encontrando crateras e mais crateras, que não podem ser preenchidas de forma alguma.
Ou lembrando Tancredo Neves, (que faria 100 anos amanhã, comemorados ontem) que me disse, quando fez a saudação pelo fato de eu estar entrando no seu partido, o PP, já como candidato a senador: “Helio, quero você no meu partido, por causa de duas coisas que se completam: é o maior oposicionista que já conheci, e ao mesmo tempo participou de duas campanhas eleitorais, de JK e Jânio. Por isso conhece o Brasil todo, seus grotões e igarapés”.
Esse PP tinha Magalhães Pinto como presidente de honra, Tancredo como presidente de fato, e Thales Ramalho, secretário geral. Mas era voz corrente que o partido não era de oposição, se “equilibrava entre o ser e o não ser”.
Isso foi em 1980, quando acabavam a Arena e o MDB, (pelo qual fui cassado em 1966 como candidato a deputado federal, possivelmente o mais votado) e surgia o pluripartidarismo ainda dominado pelo Planalto-Alvorada da ditadura agonizante.
Então, quando Tancredo, com aquela voz retumbante, afirmou, “agora quero ver quem é que vai dizer que não somos oposição, se temos o jornalista mais oposicionista”, não pude deixar de meditar e refletir: “Então era para isso que insistiram em que entrasse para o partido”.
Eu era amigo de Tancredo, nenhum disparate ou contradição me filiar ao PP. Durante anos, antes e depois da candidatura, pertenci a um partido que tinha um único “governador”, Chagas Freitas. E o seu “homem forte e porta-voz”, Miro Teixeira, que ficava na ante-sala, de avental branco, faturando as decisões que Chagas ainda nem assinara.
Tancredo era candidatíssimo a presidente da República, mas como os que têm o mesmo objetivo hoje, nem podia se declarar. Lógico que as razões eram diferentes. Nos bastidores, o que se dizia e todos entendiam: “Se a eleição for DIRETA, o candidato será o doutor Ulysses. INDIRETA, Tancredo Neves”.
Na Câmara a tremenda batalha das “Diretas JÁ”. Ulysses e Tancredo, com pleno conhecimento da opção que se formara naturalmente, lutaram bravamente pela aprovação da EMENDA Dante de Oliveira. Não esmoreceram um momento, suas posições pessoais só depois se lançariam e se revelariam.
O PT de hoje, já surgia ou surgiria em 1985, sua primeira eleição presidencial e a última sem Luis Inácio da Silva, (muito mais tarde é que incorporaria o LULA, completando o nome que é marca registrada hoje).
A eleição ficou sendo indireta, os candidatos, Tancredo Neves e Paulo Maluf. Em quem votar, qual a dúvida? Essa ficou com o PT, que tinha uma certeza, que se transformou em imposição: “Não podem votar em Tancredo, o PT fechou questão contra ele”. E foram expulsos os parlamentares que votaram em Tancredo.
(Até hoje lembro de Airton Soares, líder dos 8 deputados do PT, expulso por ter votado em Tancredo Neves. Ontem, deputados e senadores do PT, se arrojaram diante da história do presidente que não se empossou, choraram emocionados. Dizem que o passado volta sempre).
2010 revive 1980 e por extensão, 1985. E iremos assim até 3 de abril, quando haverá a primeira parada para reabastecimento, apesar de alguns ficarem para sempre no estacionamento. Faltam 30 dias, nada desesperador.
Por favor, examinem as 23 palavras da frase inicial destas lembranças, constatem o que querem dizer, decidam se pode haver alguma novidade antes do 3 de abril. Esse 3 de abril de agora, se parece em corpo inteiro com o 6 de janeiro de 1963.
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PS – Estas lembranças trazendo 1980 para bem perto de 2010, representam uma forma de lembrar o grande, ou melhor, o maior articulador político que já conheci. Em 1954, ficou com Vargas até à morte, arriscando a própria carreira política. Tinha então 44 anos, ministro da Justiça.
PS2 – Em 1960, o trauma de uma vida, que o acompanhou por muitos anos. Franco favorito como candidato a governador de Minas, perdeu para Magalhães Pinto, por causa da deserção de José Maria Alckmin. Que apesar de ser do seu PSD, deu a vitória ao candidato da UDN.
PS3 – Em 1961, tendo chegado aos 50 anos, mais uma vez se arriscava apesar de perto do Poder. Os militares não admitiam a posse de Jango. Mas depois da resistência vitoriosa de Brizola, aceitaram o “Parlamentarismo com Tancredo”. Brizola não queria, Jango decidiu: “Aceitamos, doutor Tancredo é nosso amigo, depois resolveremos”.
PS4 – Em 6 de janeiro de 1963, o Parlamentarismo era derrotado, num plebiscito financiado por banqueiros,seguradoras e multinacionais (como se chamavam na época). Jango teria que pagar em duas parcelas. A primeira: demitir Tancredo Neves, nenhum problema. A segunda, inacreditável, que acabou derrubando Jango: nomear Roberto Campos embaixador nos Estados Unidos. Como é que Jango cumpriu essa exigência? Campos lá, Lincoln Gordon aqui.