A máxima “o patriotismo é o último refúgio dos canalhas” agora é brasileira

Charge: 'Me chama de patriota'. Por Duke

Charge do Duke (Dom Total)

Luiz Felipe Pondé
Folha

Agora somos todos patriotas. A máxima “o patriotismo é o último refúgio dos canalhas” é algo que nós, brasileiros, deveríamos ter junto ao nosso coração. Em 2022, “patriotas” era um termo que os bolsonaristas usavam para si. “Patriotas” invadiram a Praça dos Três Poderes.

Chegou a hora de a galera do outro lado da babaquice nacional dizer que o Brasil nunca usará uma camisa azul, vermelha e branca? Toda a intelligentsia zoava os patriotas bolsonaristas. Agora vestem a camisa da seleção brasileira com orgulho.

RIDÍCULO HUMILHANTE – O “Lulanistão” deprime. Ser obrigado a conviver com o ridículo do novo patriotismo é humilhante. Quando se pensa que atingimos o fundo do poço, vamos mais fundo.

O crítico literário americano Lionel Trilling (1905-1975) dizia que o historiador romano Tácito (século 1º d.C.) escrevia como um intelectual sem nenhuma esperança para com a Roma dos ditadores. Seria uma obrigação moral dos historiadores brasileiros escrever agora sobre o Brasil sem nenhuma esperança?

“Agora somos todos o STF!” A direita, sempre burra, atirou no próprio pé. Trump deu uma sobrevida a um regime, o lulismo, que respira por aparelhos. A chance de sair do coma foi dada de bandeja pelo Trump.

ACENDER VELAS – Ao contrário de xingarmos o presidente americano —e não me venham com expressões ridículas como “estadunidense”—, a galera do outro lado da babaquice nacional deveria acender velas para ele.

Bandeiras americanas queimadas na Paulista! Oh! Finalmente o Brasil foi lembrado pelos americanos. O vira-lata em nós tem um dia de cachorro de madame. Banho e tosa numa clínica de pets chiques.

Na verdade, o Trump ter lembrado de taxar o Brasil significa que, depois de um longo e tenebroso inverno, os ianques lembraram que nós existimos. Da irrelevância geopolítica absoluta, temos nossos 15 minutos de fama internacional.

NOSSA ESTRATÉGIA – E como conseguimos tal proeza? Lambendo as botas de Putin, indo celebrar o fim da Segunda Guerra Mundial na pátria da grande guerra patriótica —os russos chamam a Segunda Guerra Mundial assim.

Lula, ao lado da fina flor das democracias mundiais, lambendo as botas dos chineses, com a chefe da diplomacia nacional rogando para que eles nos ensinem a defender nossa democracia dos seus inimigos —assim como os chineses defendem a democracia deles, claro.

Lambendo as botas do regime teocrático iraniano, pátria do respeito aos povos, vítima da “agressão americana e sionista”. Gozando com a ideia de criar uma moeda que “desdolarize” a economia global.

EIXO DE RESISTÊNCIA – Enfim, temos a nossa “crise dos mísseis em Cuba”. Lula quer fazer do seu quintal “Lulanistão” a cabeça de ponte dos regimes não democráticos do mundo. Glória nacional, finalmente. Lula quer transformar o Brasil no representante do “eixo da resistência global” contra a ameaça americana à liberdade. Sendo esta, claro, defendida por China, Rússia e Irã.

A liderança brasileira é regredida. Bolsonaro, por sua vez, exige que o Supremo agilize seu processo, contando, claro, com o poder do seu amigo rico, Trump.

 A miséria da política nacional atinge seu clímax. Deveríamos fazer um minuto de silêncio para a vergonha nacional. A incompetência é o combustível do Brasil nos últimos tempos.

É UM CIRCO – É possível que Trump, de fato, esteja preocupado com o Bolsonaro —essa outra face do ridículo nacional? Ainda custo a acreditar, apesar de que o presidente americano reforça bem a suspeita de que o mundo seja mesmo um circo.

Achar que pode se meter num processo jurídico de outro país é coisa de gente de inteligência duvidosa mesmo. Somos sim a república das bananas, mas deixamos claro que as bananas são nossas e não do Trump.

Enquanto os brios da nação verde oliva acordam —para um pesadelo—, o país continua no buraco. O governo federal continua gastando rios de dinheiro para manter o populismo vivo e atuante no “Lulanistão”.

CRIME ORGANIZADO – Patinamos na nossa incompetência. A soberania nacional —essa expressão que no Brasil de hoje tem tanta segurança semântica quanto a palavra “energia espiritual”— está quase perdida para o crime organizado, mas os novos patriotas acham que as big techs é que são a ameaça a essa pretensa soberania.

A ditadura também falava em soberania nacional. As forças armadas também falavam em soberania nacional. Todos ridicularizados. Agora é “cool” falar dela.

Aliás, ela vai bem obrigado na tão cantada em prosa e verso Amazônia, território colonizado em grande parte pelo mesmo crime organizado, esse sócio do mercado, do governo e de todos nós, enquanto nos matam, nos roubam e nos perseguem nas ruas a pauladas. Festa no “Lulanistão”. Cantemos nosso hino.

5 thoughts on “A máxima “o patriotismo é o último refúgio dos canalhas” agora é brasileira

  1. “Traição à Pátria?”: Bananinha parece estar caindo na real

    Afirmou que vai (ter que) ‘sacrificar’ mandato e continuar nos EUA

    Disse ter certeza de que, se retornasse, Xande mandaria prendê-lo

    Bananinha afirmou nesta segunda-feira, 14, ao Estadão, que não voltará ao Brasil agora e que, embora lamente, abrirá mão do mandato.

    O parlamentar disse ter tomado essa decisão por ter a certeza de que, se retornasse, seria “preso” por Xande.

    ‘A minha data para voltar é quando Xande não tiver mais força para me prender… Estou me sacrificando o meu mandato’, disse

    Fonte: O Estado de S. Paulo, Política, 14/07/2025 | 13h57 Por Roseann Kennedy

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    “Traição à Pátria: tomar o partido de um governo estrangeiro contra o teu próprio país? Qual é a definição disso? É traidor.”

    “É muito grave. É uma ameaça que, se concretizada, torna o comércio quase inviável com essa taxa de 50%”, afirmou Rubens Recupero

    “Outro aspecto inaceitável é essa conspiração de brasileiros com o governo americano contra o Brasil”, disse, em referência à campanha de Bananinha e outros para que os EUA apliquem sanções contra Moraes, do STF, que recaíram, inclusive, sobre produtos nacionais exportados.

    “Em tempo de guerra, seria considerado traição à Pátria. Tomar o partido de um governo estrangeiro contra o teu próprio país? Qual é a definição disso? É traidor que faz isso, não é?

    Não sou eu quem está dizendo, são eles que se orgulham nas mídias sociais de serem responsáveis por isso”, concluiu.

    Fonte: Poder360, Opinião, 14.jul.2025 – 10h28 Conteúdo Valor Econômico

  2. Vi recentemente o filme “Eu ainda estou aqui”. Não vou antecipar acontecimentos para não estragar a expectativa daqueles que ainda não o viram. Mas o filme trás de volta tristes memórias: uma familia feliz, vivendo a realidade dos dias da ditadura militar, e o sofrimento que resultou após a morte de um marido, pai e chefe de familia Marcelo Rubens Paiva.
    Retornando áquele tempo, penso que as lutas, os ataques terroristas, os encarceramentos, as ideologias fajutas e tanto sofrimento foram-se com o vento sem nada nos trazer de alento.
    Entretanto, hoje tudo se repete por meios diferentes: Uns defendem o Bolsonaro e outros o Lula numa discussáo tola movida por pura ideologia sem nos levar a lugar nenhum.
    Que tal a gente pausar para pensar antes de cegamente apoiar quem já provou que nada fez e nada vai mudar.
    Fuck Bolsonaro, Fuck Lula, Viva o Brasil!

    • Comportamentos movidos por ideologia até poderiam ser respeitáveis — se ao menos não se resumissem a uma torcida organizada, onde a razão cede lugar ao grito de guerra e a camiseta vale mais que qualquer argumento.

  3. Senhor Rue des Sablons , nesse imbróglio existe de tudo , menos diferenças políticas ” ideológicas ou filosóficas ” , sendo que são pura disputas criminosas de poder e assaltos aos cofres e patrimônios públicos , com a impunidade garantida pelos congressistas Brasileiros .

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