Gonet passa por um fio e dá munição a opositores de Messias

Malu Gaspar
O Globo

O placar apertado da votação que confirmou a recondução do procurador-geral da República, Paulo Gonet, na última quarta-feira (12), reforçou o discurso de uma ala do Senado Federal, em particular de aliados de Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), sobre os riscos de uma rejeição do advogado-geral da União, Jorge Messias, caso Lula o indique para o Supremo Tribunal Federal (STF).

Gonet ganhou mais dois anos na função na votação mais apertada de um procurador-geral da República desde a redemocratização – foram 45 votos favoráveis (apenas quatro a mais que os exigidos pela Constituição) e 26 contra. O resultado ficou abaixo da projeção do relator da indicação de Gonet, senador Omar Aziz (PSD-AM), de 48 a 52 votos favoráveis.

RECADO – Entre aliados de Alcolumbre, a leitura é a de que o resultado de Gonet é uma espécie de recado da Casa sobre o difícil caminho de Messias para garantir a aprovação, em um momento em que o Palácio do Planalto enfrenta dificuldades para emplacar uma agenda no Congresso.

“Messias já larga com os 26 votos contra que o Gonet teve. Além disso, vai ter a rejeição de ainda mais senadores, já que o sentimento predominante na Casa é o de que a vaga deve ser do Pacheco [Rodrigo Pacheco, ex-presidente do Senado]”, disse um interlocutor de Alcolumbre.

Interlocutores de Alcolumbre avaliam que os senadores ficaram “traumatizados” com o último ministro nomeado por Lula, Flávio Dino, relator de investigações no STF que fecharam o cerco contra o orçamento secreto e as sucessivas irregularidades na execução de emendas parlamentares.

PREFERÊNCIA – “Não é bem uma rejeição ao Messias, mas sim uma preferência pelo Pacheco”, resumiu um senador da base lulista. Para esse parlamentar, a “vaga bônus” aberta com a aposentadoria antecipada de Luís Roberto Barroso deveria ficar com Pacheco, em uma deferência à Casa, que costuma criar menos problemas para o governo Lula que a Câmara dos Deputados. No entorno do advogado-geral da União, a avaliação é a de que a votação de Gonet escancarou a estratégia de Alcolumbre de tentar emplacar Pacheco na vaga.

Após a votação apertada de Gonet, aliados do presidente Lula tentavam minimizar os efeitos do placar do procurador-geral sobre a provável indicação de Messias. “Não existe uma relação entre uma coisa e a outra”, disse ao blog um interlocutor de Lula com bom trânsito no meio jurídico. “A votação do Gonet é uma espécie de revanche dos bolsonaristas, revoltados com a atuação do procurador no combate aos golpistas nas investigações do 8 de Janeiro.”

DENÚNCIA – Gonet, de fato, foi o responsável por apresentar a denúncia que levou o ex-presidente Jair Bolsonaro a ser condenado a 27 anos e três meses de prisão por articular um golpe de Estado para se manter no poder.

Messias, por outro lado, é visto pela tropa de choque bolsonarista como um “quadro ideológico do PT” e homem da confiança de Lula. Ele protagonizou um dos momentos mais célebres da Lava-Jato, sendo chamado de “Bessias” pela então presidente Dilma Rousseff em conversa com Lula, que havia acabado de tomar posse como ministro da Casa Civil.

A indicação de Lula era uma última cartada de Dilma para salvar o seu governo da ameaça de impeachment e recompor a base aliada, mas a divulgação do áudio pelo então juiz federal Sergio Moro levou o ministro Gilmar Mendes, do STF, a barrar a nomeação do petista. A tropa de choque bolsonarista pretende agora revisitar o episódio para fustigar Messias, caso ele seja mesmo indicado.