A conta invisível da política: bilhões em campanhas, nenhuma transparência

Charge do Zé Dassilva (Arquivo do Google)

Dora Kramer
Folha

Um fundo eleitoral de R$ 5 bilhões somado ao quase R$ 1 bilhão da verba reservada aos partidos, acrescido dos recursos das emendas, faz do avanço do Congresso sobre o Orçamento da União um saco sem fundo.

Pela terceira eleição consecutiva, se não houver alguma espécie de freio, a de 2026 receberá valores quatro vezes maiores ao que o Executivo propõe como patamar razoável para o financiamento de campanhas.

JUSTIFICATIVA – O argumento cínico é o de que a democracia custa caro. Isso sem que os congressistas apresentem contas precisas sobre os gastos. A nação não sabe exatamente para onde vai o dinheiro, qual a real necessidade do montante pretendido e de que maneira se dá a distribuição.

Há critérios, em tese, mas na prática prevalece o poder discricionário das direções partidárias, cujas decisões não passam por escrutínio rigoroso da Justiça Eleitoral. Eventuais irregularidades, quando, e se, interditadas, são perdoadas por constantes anistias concedidas no Parlamento pelos interessados.

O poder dado às cúpulas conversa diretamente com a tentativa, na PEC da Blindagem, de conferir foro privilegiado aos presidentes de partidos ao mesmo tempo em que os deixaria fora do alcance da Justiça, devido à exigência de aval do Congresso para abertura de ações no Supremo Tribunal Federal.

REJEIÇÃO POPULAR – A indecência morreu na força da rejeição popular. Única potência capaz de se contrapor à completa falta de cerimônia dos congressistas com o dinheiro daqueles dos quais se dizem representantes.

O caso pede reação à altura. Talvez não para acabar com o financiamento público, ou propor a volta das doações empresariais sob regras e fiscalização rigorosas, mas, ao menos, para exigir justificativas e prestação de contas transparentes e detalhadas.

Se é isso o que se reclama do uso das emendas —que, aliás, funcionam como financiamento público paralelo, pois irrigam as bases de seus autores mesmo fora dos períodos eleitorais— lícito impor também regras de decoro à dinheirama destinada às campanhas.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGSe há alguma coisa que não funciona é a fiscalização das contas dos partidos políticos. Já tive a oportunidade de manusear esse tipo de contas e constatei a impunidade dos dirigentes dos partidos. É raríssimo haver punição e suspensão das cotas, um verdadeiro escândalo. Mas quem se interessa? (C.N.)

6 thoughts on “A conta invisível da política: bilhões em campanhas, nenhuma transparência

  1. “NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Se há alguma coisa que não funciona é a fiscalização das contas dos partidos políticos. Já tive a oportunidade de manusear esse tipo de contas e constatei a impunidade dos dirigentes dos partidos. É raríssimo haver punição e suspensão das cotas, um verdadeiro escândalo. Mas quem se interessa? (C.N.)” https://www.tribunadainternet.com.br/2025/10/10/a-conta-invisivel-da-politica-bilhoes-em-campanhas-nenhuma-transparencia/#comments

  2. Senhor Jorge , acredite se quiser , a única ” Lei ” que de fato funciona n Brasil e é levada á sério , é a ” Lei da pensão alimentícia ” , por incrível que pareça .

  3. Senhor Jorge , acredite se quiser , a única ” Lei ” que de fato funciona no Brasil e levada á sério , é a ” Lei da pensão alimentícia ” , por incrível que pareça , com o agravante de que os ” Congressistas ” recentemente tentaram modifica-la com o pretexto de moderniza-la e tornando-a mais flexível , deixando seus infratores impunes .

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