Sebastio Nery
Ferreira Dantas, amigo de infncia do presidente da Paraba Camilo de Holanda (antes de 1930, governador era presidente), era jornalista e lhe fazia violenta oposio. Camilo respeitava.
Manh bem cedo, Camilo encontrou Ferreira Dantas na rua, parou o carro, ofereceu-lhe carona. Ferreira Dantas agradeceu, ele insistiu, o jornalista aceitou. Carro em Joo Pessoa, naqueles tempos (1918), era como helicptero hoje, coisa de governador.
O adversrio no carro, Camilo rodou a manh inteira. Correu a cidade, praas e subrbios. Humildemente, deu explicaes, anotou providncias, concordou com muitas crticas, prometeu consertar e pediu que ele continuasse apontando os erros do governo.
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FERREIRA DANTAS
Meio-dia, quando voltaram ao Palcio, a cidade toda j comentava, sem entender, o passeio do governador com Ferreira Dantas, seu mais terrvel adversrio. Camilo saltou, viu o olhar assustado dos auxiliares, mandou o carro oficial levar o jornalista at o jornal:
– No me largou a manh todinha!
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CAMILO DE HOLANDA
Ferreira Dantas denunciou torturas contra presos na cadeia de Joo Pessoa. Atacou violentamente Camilo de Holanda, presidente do Estado e portanto responsvel. E ressaltou a posio do chefe de Polcia, homem de categoria, incapaz de conivncia com essas barbaridades.
O chefe de Polcia mandou abrir inqurito. Camilo no gostou, porque ele est querendo fazer mdia com a oposio. Uma manh, chamou o chefe de Polcia e foram os dois para a cadeia:
– Cabo Chico Diabo, o que que est havendo ai? Que negcio esse de tortura?
– No tortura, no, presidente. So uns ladres de cavalos, uma escumalha. Dei uns bolos neles para eles aprenderem que cavalo tem dono.
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CHICO DIABO
O presidente Camilo de Holanda nem se sentou:
– Cabo Chico Diabo, v buscar os ladres.
Quando os ladres chegaram, nova ordem :
– Cabo Chico Diabo, meia dzia de bolos neste aqui. Depois, meia dzia nesse a. E meia dzia naquele ali tambm.
O chefe de Polcia plido e calado. Camilo de Holanda, de p. Cara fechada, espiava o teto. E os pobres homens gemendo na palmatria grossa de furinho no meio.
Quando os bolos terminaram, Camilo bateu a mo no ombro do chefe de Polcia, j branco e suando, sem entender nada:
– Doutor chefe de Polcia, prossiga com o inqurito. E com rigor. Com todo o rigor!
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LULA
Lula o chefe de Policia do governo Dilma. Protege qualquer ladro de cavalo. No Globo, o Moreno, catedrtico de mistrios palacianos, contou que, na semana passada, depois de inaugurar o teleferico da favela do Alemo, no Rio, a presidente Dilma simplesmente desapareceu:
– J dentro da base aerea do Galeo, avisou aos ministros de sua comitiva : – Me esperem aqui. Vou ali e volto j. Dilma s reapareceu para o embarque cinco horas depois. Durante cinco horas, Dilma esteve reunida, em algum lugar da cidade, com Lula.
Evidentemente, nem Lula nem Dilma estavam jogando biriba. Lula tentava convencer Dilma a manter o ministerio dos Transportes com o PR (Partido Republicano) do Alfredo Nascimento e do Waldemar Costa Neto.
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MENSALO
Esta compulso de Lula em proteger os corruptos irresistvel. Quando o honrado procurador-geral da Republica nos dois governos dele, Fernando de Souza, denunciou o Mensalo ao Supremo Tribunal Federal, dizendo que era uma associao criminosa e o chefe da quadrilha era o Jos Dirceu, e o imperturbvel ministro Joaquim Barbosa aceitou a denuncia, Lula fez questo de defender os mensaleiros, chamando a acusao do procurador-geral e a aceitao do ministro de uma farsa e que ia sair pelo pais denunciando a farsa.
Agora, o procurador-geral do governo Dilma, Roberto Gurgel, aps ouvir a defesa de todos os acusados, em 390 pginas, manteve a convico de que uma quadrilha chefiada pelo ento ministro da Casa Civil Jos Dirceu saqueou os cofres pblicos, para comprar apoio poltico no Congresso, pedindo a condenao de 36 pessoas, a maioria polticos do PT e de partidos aliados ao governo petista (Globo).