Carlos Chagas
Serviu para conclusões variadas a divulgação da lista com 102 produtos americanos importados pelo Brasil e que serão sobretaxados a partir do fim do mês, alguns aumentados em até 100%. Primeiro, registre-se a reafirmação de nossa soberania, ficando demostrado não termos medo de cara feia nem de vigarices explícitas. Porque depois de vários anos de luta, conseguimos que a Organização Mundial do Comércio aceitasse reclamação contra os subsídios dados pelo governo de Washington a seus produtores de algodão, estabelecendo concorrência desleal contra nossa agricultura. Veio a ordem para que os Estados Unidos interrompessem o abusivo benefício e eles deram de ombros. Nem ligaram. A OMC, em seguida, autorizou-nos a retaliar, subindo os percentuais do imposto de importação de produtos americanos.
Outro resultado dessa inevitável reação brasileira é que determinados produtos ficarão mais caros, inclusive remédios que vem lá de cima. E trigo. A população vai pagar.
Uma terceira conclusão é de que a tréplica virá breve. Apesar de os americanos divulgarem estar dispostos a negociar, não se duvida de que também preparam a sua lista. Nossos produtos de exportação serão sobre-taxados, terão seus preços aumentados no mercado, prejudicando os exportadores nacionais.
Ressalte-se ainda, do conhecimento dos produtos americanos que ficarão mais caros para entrar em nosso território, a hilariante existência de supérfluos de que nem tínhamos conhecimento. Por exemplo: importamos tripa de porco e sebo de boi, apesar do tamanho do nosso rebanho. Também pêras, cerejas e ameixas, não obstante a extensão de nossos pomares. O que dizer das batatas fritas e do chiclete sem açúcar que vem de lá? E do ketchup? Para que importarmos calças jeans, creme de barbear, dentifrício e xampus, se produzimos aqui, melhor e mais barato?
Vale repetir, a lista serve para revelar desperdícios sem conta, porque os dólares gastos nessas bobagens, se ficassem no Brasil, poderiam ser aplicados em escolas, hospitais e outras necessidades. Debite-se esses exageros à petulância de nossas elites. À arrogância das camadas privilegiadas que se gabam de comer lagostas do Maine e usar jóias de ouro da Califórnia. Bem feito, pelo menos vão pagar mais pela ostentação, ainda que fique óbvio para a população normal o prejuízo com relação a produtos essenciais. A começar pelos referidos remédios, muitos que não fabricamos.
ANIMAIS FEROZES, SÓ NA JAULA
A nação nem se estarrece mais, de tão repetidos esses dramas. Um animal, ainda por cima embriagado, dirigiu vinte quilômetros na contramão, a 120 por hora, na rodovia Raposo Tavares. No final, matou um casal que viajava em sentido contrário. Em poucas semanas estará em liberdade.
Nem é preciso lembrar outros exemplos. Estão todos os dias nas páginas de jornal, sob formas variadas. Arrastaram um menino por diversos quarteirões. Atropelaram e mataram famílias inteiras.
Fosse na China e rapidamente teriam recebido um tiro na nuca. Não vamos chegar a tanto, apesar do obvio resultado que fluiria de um plebiscito nacional sobre a pena de morte.
Mas condenar esses animais à jaula por toda a vida seria o mínimo a esperar de um estado democrático organizado. Jamais a impunidade registrada de formas tão variadas.
IGNORÂNCIA IMPERDOÁVEL
Muito se tem combatido a obrigatoriedade do diploma de jornalista, atitude maliciosa de quantos pretendem enfraquecer a profissão ou amoldá-la aos próprio interesses.
O diabo é que um dos argumentos utilizados vem sendo a má qualidade do ensino nas respectivas faculdades. Infelizmente, se não é isso, é quase isso.
Tome-se a página 8 do jornal O Globo de ontem, numa reportagem sobre a taxa de investimentos verificada no Brasil nos últimos governos. Com direito a fotografias, são mostrados diversos presidentes da República e os resultados econômicos de seus períodos.
Logo o primeiro é apresentado como Emílio Garrastazu Neves…
Do repórter ao editor de área, do digitador ao diagramador, do editor-chefe aos diretores, são todos responsáveis pelo vexame. Porque um jornal não pode ir para a rua com uma barbaridade dessas. Sem que ninguém se tenha dado conta da monumental ignorância. Ainda mais porque Neves foi o Tancredo, em tudo e por tudo muito diferente do Emílio.
A MODA PEGOU
O presidente Lula é conhecido por dizer impropriedades de improviso. Não vai mudar. O grave é assistirmos a moda pegar. Dessa vez foi o senador Tasso Jereissatti, aliás, contumaz na prática. A pretexto de apressar José Serra a entrar em campanha, declarando-se candidato e passando a viajar pelo país, o ex-governador do Ceará exortou o governador de São Paulo a “cair na vida”. Se as coisas não mudaram depois da pílula e da independência das mulheres, “cair na vida” significa… Bem, deixa para lá.