Paulo Peres
Poemas & Canções
O jornalista, tradutor e poeta gaúcho Mário de Miranda Quintana (1906-1994), constrói o poema no 12º andar do prédio, numeral que significa o mês de dezembro, no local onde uma mulher/criança espera o Ano Novo, simbolizado por seus olhos verdes, de um verde que significa esperança, a esperança de uma vida melhor.
ESPERANÇA
Mário Quintana
Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas as sirenas
Todas as buzinas
Todos os reco-recos tocarem
– Ó delicioso voo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,
Outra vez criança…
E em torno dela indagará o povo:
– Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá
(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:
– O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA…
Mario Quintana era um SER visionário e/ou dotado de senso de realidade aflorado.
Pois, há cerca de dois anos, nos EUA, foi publicado um estudo assinalando: Pessoas que costumo maturar bastante uma ideia, o risco de elas tomarem uma decisão ou execução erradas, será bem maior do que se fosse feita no bate-bucha, “é pra já”
Quanto à esperança, vejo-a como uma expectativa que pode trazer deleites e até sensação duma falsa realização antecipada. Se o cabra não for objetivo e arrojado, ele acaba ficando acomodado e aprisionado na antessala da concretização!
E se o esforço visa à inserção dentro duma sociedade competitiva, lembre: o jogo é acirrado e arrivista! O tempo urge!
Em situações extremas, valores e princípios só atrapalham: tende a vencer o mais determinado e inescrupuloso.
Consta que, dada ocasião, dois pistoleiros andavam no encalço um do outro. O sicário “A” era cheio de “frecuras”: não se atira em homem pelas costas, comendo, dormindo; em igreja ou velório etc. O matador “A” não tinha nenhum tipo de autorrepressão, para atrapalhar seu “sirviço”. Quem matou, quem morreu primeiro?
…O matador “B”…
…costumam…
Esperança é algo inerente aos humanos. É um sentimento meio irracional, mas talvez vital.
Você me parece uma pessoa sensata!
Hoje recebi uma daquelas mensagens da internet, em versos, que desejam feliz ano novo. Ela começa assim:
No ano da morte, ESTOU vivo
No ano da doença ESTOU saudável
No ano da escassez não faltou pão na MINHA mesa…
Notem agora mais esse egoismo pantagruélico:
“Sendo assim afirmo sem medo de errar que este foi um ÓTIMO ano, pois EU tenho um GRANDE DEUS”. E o poeta encerra agradecendo ao seu Jesus.
Não dá para entender esse santo egoismo.