
Ventura critica em versos a natureza morta
Paulo Peres
Poemas & Canções
O publicitário, ator, jornalista e poeta carioca Jorge Ventura, no poema “Emoldurados”, inspirou-se em telas da natureza morta.
EMOLDURADOS
Jorge Ventura
a laranja cortada à faca
sobre a mesa (gomos e gumes)
não exala mais o cheiro das manhãs
móveis da sala cozinha e quarto
abrigam tardes e noites imóveis
como cestas de nozes e avelãs
restam flores palavras secas
migalhas rostos tristes
expectativas inanimadas
afora o sol pela porta pintada a óleo
o silêncio dos olhos e a certeza
de que a natureza agora é morta
Só espaço para o poeta que morreu por alguma desilusão, pintar em rimas o triste quadro que restou!
Não existe a tal de morte
Com também não há vida
Somos ilusões de sensores
Na matéria em nós contida.
É uma arquitetura especial
Com uma delicada textura
Que nos revela o universo
Nos faz sentir o aroma das flores
E sofrer dores e fazer versos!
Favor deletar o poema do Sapo.
Não há o que chamam morte
E certo é não existir a vida
Somos só ilusões de sensores
Da matéria em nós contida.
Sentimos o aroma das flores
Inferimos sobre todo o universo
Temos tristezas, prazeres e dores
E podemos rimar e fazer versos.
Não há amor, maldade
E ideal nos nossos ismos
Só existe uma verdade:
É que nunca existimos!