Carlos Chagas
O programa de propaganda partidária do PT ganhou nota dez em matéria de produção. Mas nota zero em termos de respeito à legislação eleitoral. Tratou-se de campanha eleitoral antecipada na medida em que o presidente Lula apresentou, enalteceu e favoreceu a candidata Dilma Rousseff, além de haver lançado farpas sobre José Serra e os tucanos. Comparou seu governo ao anterior, de Fernando Henrique. Teve nítido objetivo eleitoral, ou eleitoreiro.
A discussão deve ser mais profunda. Por que proibir a campanha pura e simples, se não for feita com recursos públicos? Mas se a proibição existe, como desrespeitá-la? Atropelada, a Justiça Eleitoral terá condições de reagir?
O PSDB já começou a preparar o seu programa, para o mês que vem. Como se comportarão seus marqueteiros? Seguirão o mesmo modelo dos companheiros, apresentando José Serra como Dilma Rousseff foi apresentada? Ignorando o Tribunal Superior Eleitoral?
Ficha limpa, adeus
O líder Romero Jucá lançou a pá-de-cal no projeto da ficha-limpa. Não se trata, para ele, de uma proposta de interesse do governo, mas da sociedade. Deixando de lado a indagação de para quem o governo governa, se não for para a sociedade, vale registrar que o Senado não terá pressa em votar o projeto a tempo de sua aplicação nas eleições deste ano. Porque o texto precisará retornar à Câmara. Mesmo mutilado no objetivo de impedir condenados em primeira instância de se candidatarem, nem assim poderá valer para outubro. A proibição atingiria apenas os condenados pelos tribunais, na segunda instância. Uma pena.
Lula explicará
Anunciou o presidente Lula a disposição de estudar economia, depois de deixar o governo. Pretende inscrever-se num desses cursos livres que prescindem dos vestibulares. Tomara que concretize a proposta e possa explicar, mesmo com atraso, porque os economistas de seu governo apanham tanto dos números. A moda, agora, é prever que o PIB crescerá até 7.5%, este ano, quando faz pouco a equipe econômica fixava-se nos 4%. Estimulada pelos bancos, a previsão deixa perplexos os estudantes de economia. Será manobra eleitoral? O eleitor comum dá de ombros diante da mudança, ignorando o que seja PIB, mas o volume da propaganda se encarregará de sensibilizá-lo por via transversa.
Planejando o futuro
Na Câmara, mesmo a curta voz, especula-se sobre quem sucederá Michel Temer na presidência da casa, no biênio 2011-2012. Caso o PMDB mantenha a maioria entre as bancadas, reivindicará a indicação. Henrique Eduardo Alves é candidato, desde que se reeleja em outubro, mas outros nomes existem, como o de Eliseu Padilha.
No Senado, tudo indica a continuação de José Sarney, dispondo de mais quatro anos de mandato pelo Amapá. Também na dependência de o PMDB formar a maior bancada.
A conclusão, sempre sujeita aos inusitados, é de que nada vai mudar no Congresso, tanto faz se Dilma Rousseff for eleita ou se o vitorioso for José Serra. Ambos acreditam que formarão maioria. Realmente, nada vai mudar…