Carlos Chagas
Os episdios recentes no Paquisto e na Lbia lembram com clareza aquilo que o jornalista Elio Gaspari publicou em livro, a respeito da reao do general Ernesto Geisel ao ser informado de que um grupo de subversivos chilenos havia sido morto pelas foras de segurana, ao tentar entrar no Brasil: Tem que matar mesmo, no ?
No caso, matar sem julgamento, em especial nos pases onde no h pena de morte. Qual a diferena entre o tonitruante general-presidente e o ameno Barack Obama, para quem justia foi feita com o assassinato de Osama Bin Laden?
Ambos justificaram as mortes sem sentena judicial por conta do execrvel comportamento de subversivos e terroristas, uns explodindo as Torres Gmeas, quartis, navios e embaixadas, outros sequestrando, assaltando bancos e matando.
Abre-se o sculo sob discusso que vem de tempos imemoriais: deve o poder pblico adotar as mesmas tticas dos adversrios postados margem da lei? Prevalece na Humanidade o Talio, aquele do olho por olho e dente por dente?
Torna-se difcil explicar s famlias de centenas de milhares de vtimas que o Estado tem limites, quando constitudo para gerir a sociedade organizada segundo princpios justos e democrticos. No sendo assim, prevalecero a barbrie, a vontade e os interesses do mais forte.
Assistimos, na mesma semana, a execuo sem julgamento de Bin Laden e, no muito longe, na Lbia, o bombardeio dos palcios de Kadaffi, onde morreram um filho e netos do ditador. E pela ao dos mesmos, afastado o eufemismo de que foram avies da OTAN a atacar Trpoli. Eram americanos, da mesma forma como os helicpteros utilizados no Paquisto.
Seria bom meditar na evidncia de que Barack Obama e Ernesto Geisel possuem muito mais semelhanas do que diferenas.
***
ALIANA CONTRA SERRA
Consolida-se a aliana entre Geraldo Alckmin e Acio Neves, ambos sustentando a incorporao do DEM ao PSDB e, mais ainda, favorveis permanncia de Srgio Guerra no comando dos tucanos. Ainda que precria, trata-se de uma frente nica contra Jos Serra, que pretendem afastar das hipteses sucessrias para 2014. Ao contrrio do que sustenta o candidato derrotado ano passado, a crise no PSDB no apenas paulista. nacional, apesar dele ter lembrado os 44 milhes de votos recebidos em todo o pas, na recente sucesso.
Resta saber como reagir Jos Serra, mas se abrir luta em duas frentes correr o risco de acabar como acabou o III Reich. Est sendo aconselhado a escolher um adversrio e celebrar pacto de no agresso com o outro, mas como Acio no Stalin, muito menos Alckmin ser Churchill, fica difcil selecionar quem receber o primeiro ataque…
***
MICHEL ABENOADO
De novo no Brasil, depois de representar o pas nas cerimnias de beatificao de Joo Paulo II, no Vaticano, Michel Temer desembarcou retemperado e at abenoado por Bento XVI. Mostra-se disposto a seguir adiante na misso de abrir espaos para o PMDB no segundo escalo do governo, agora que a nova direo do PT entrou em rota de coliso com a presidente Dilma Rousseff.
Sua primeira iniciativa foi acalmar os nimos de Henrique Eduardo Alves, o mais decepcionado de seus companheiros diante da parcimnia com que o palcio do Planalto contempla os pleitos do partido. Parece que conseguiu.
***
MURALHA INTRANSPONVEL?
Apesar de durante a campanha, Dilma Rousseff haver-se pronunciado favorvel ao financiamento pblico das campanhas, a equipe econmica erigiu forte muralha diante da proposta defendida pelo PT e adjacncias. A presidente parece sensibilizada pelos argumentos de Mantega, Palocci e companhia, a respeito de numa hora de conteno como a atual, ficar difcil encontrar dinheiro para dar a partidos e candidatos gastarem em campanhas eleitorais.
At porque, no haver como a Justia Eleitoral fiscalizar o uso do chamado caixa dois, ou o emprego de recursos particulares na conquista de votos. Seria necessrio, primeiro, aparelhar o Tribunal Superior Eleitoral e os Tribunais Regionais para essa tarefa, mas como os concursos e nomeaes encontram-se proibidos, onde buscar montes de fiscais?