Bolsonaro vai visitar a Rússia em momento de forte tensão internacional

Bolsonaro visitará Putin enquanto se teme invasão à Ucrânia

Pedro do Coutto

Eliane Oliveira e Jussara Soares, numa excelente reportagem publicada na edição de ontem de O Globo, anunciam e analisam a viagem que o presidente Jair Bolsonaro realizará, no mês de fevereiro, à Rússia e à Hungria. A matéria acentua uma dose de procura de reflexo nas urnas de outubro. É o que pode pretender Bolsonaro, embora tal viagem, principalmente o provável encontro com o presidente Putin, contrarie as bases mais radicais de seus eleitores.

Pessoalmente não creio que possa influir favoravelmente junto às esquerdas, uma vez que o caráter ideológico do presidente da República encontra-se bem marcado como de oposição às ideias reformistas, quanto mais, portanto, à ideias que se caracterizam na política por ditatoriais. Não usei o termo comunista para o governo Putin porque ele é real ao que se refere à liberdade do povo, mas não se aplica a empreendimentos absolutamente capitalistas. Tanto assim, que milionários russos, da mesma forma que chineses, adquirem obras de arte por preços estratosféricos.

CRISE – Mas não é só essa questão. É preciso considerar também a crise da Ucrânia e a ameaça de invasão russa ao país que através da história sempre esteve no foco de divergência com o poder central,  desde os tempos de Stalin. Sofreu, inclusive, um cerco que culminou com a morte pela fome de milhares de ucranianos.

No momento atual a cartada de Bolsonaro é de alto risco sobre o reflexo que poderá atingir sua campanha, sobretudo porque não faz sentido imaginar-se que em Moscou Bolsonaro possa se pronunciar contra a ditadura de Putin ou mesmo contra a economia russa. A meu ver, a viagem de Bolsonaro irrita a direita, principalmente a extrema, e não significa que vá obter consequências de qualquer posição de esquerda nas urnas de outubro.

O presidente Bolsonaro tem se colocado em posição contrária ao resultado das eleições em vários países, inclusive nos Estados Unidos que contrariaram os grupos mais conservadores desses países. A viagem de Bolsonaro deve causar manifestação, por exemplo, do escritor Olavo de Carvalho. Em matéria de eleições, um ponto sequer pode ser extremamente importante.

FUNDOS DE PENSÃO -   A reportagem é de Lucas Bombana, Folha de S. Paulo de segunda-feira, destacando que os fundos de pensão nas empresas estatais, como é o caso da Petrobras, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Furnas e Eletrobras, com o reajuste da Selic para 9,25% ao ano, passaram a adquirir títulos públicos corrigidos por essa taxa.,

Digo sempre e agora reafirmo a luz dos fatos que os bancos, fundos de investimentos e fundos de pensão são credores e não devedores dos títulos públicos. Portanto, quando o governo divulga e técnicos endossam que a Selic mais alta é para combater a inflação, peço sempre que os leitores rejeitem o absurdo ou pelo menos analisem a desculpa.

Enquanto a poupança gira por ano a uma velocidade de 3%, a inflação de 2021 alcançou 10% em números redondos. Esse processo mostra que a Selic subirá ainda mais porque se ela ficar abaixo da inflação oficial vai desestimular a aquisição dos títulos públicos.

MAPA DA FOME – Em entrevista à Suzana Petropouleas, Walter Belik, que foi um dos coordenadores do Fome Zero  e é um dos principais especialistas em Segurança Alimentar, criticou a política do ministro Paulo Guedes adotada pelo presidente Jair Bolsonaro voltada para desmontar, disse ele, as iniciativas contra a fome no país.

Belik lembrou que o projeto de Fome Zero foi criado em caráter pluripartidário. Proporcionou resultados positivos, mas a partir de 2017 representou um retrocesso, consequência, digo, do desemprego, do subemprego, do não emprego e dos reajustes de salário inferiores às taxas oficiais de inflação do IBGE. Tal processo conduziu o país a retornar ao Mapa da Fome.

A fome vem se agravando no país, o que está refletido no consumo de alimentos. No Brasil, acrescentou Belik, 55% da população vive algum tipo de restrição alimentar.

SEM PLANEJAMENTO – Manuel Ventura, em uma importante reportagem publicada no O Globo de ontem, destacou o fato de hidrelétricas de porte, como é o caso das usinas de Belo Monte e Tucuruí, no Pará e a de Sobradinho, na Bahia, estarem jogando água fora por não terem como escoar toda a produção da energia que poderia transmitir para áreas necessitadas que acionam termelétricas para atender a demanda.  

O preço das tarifas das termelétricas é muito mais cara do que a produzida pelas hidrelétricas. Além disso, operam à base de óleo, gás, carvão e insumos  poluidores. Belo Monte e Tucuruí foram construídas no governo Lula e, principalmente, a de Belo Monte gerou uma polêmica entre a então ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, e a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.

Esse embate terminou com a demissão de Marina Silva. De qualquer forma, porém, a falha maior foi a ausência de planejamento com o projeto de grande porte como Belo Monte voltado para a produção de energia, mas não levando em conta a indispensável rede de transmissão.

7 thoughts on “Bolsonaro vai visitar a Rússia em momento de forte tensão internacional

  1. Será que a manutenção das termelétricas em operação não favorece ao cartel que domina a Petrobrás e consequentemente com mais óleo sendo queimado se importa mais e o governo federal arrecada mais impostos com um dólar que só tem esse valor no Brasil e em nações de quinto mundo?

  2. O dirigente mais poderoso do Mundo convidar Bolsonaro para visitar a Rússia e ele negar seria uma deselegância, arrogância e estupidez sem limites. Ele não está indo de penetra, foi convidado.

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