“Álibi”, uma desesperada canção de amor, marcada pelo talento de Djavan

Por ser exato, o amor não cabe em si, Por ser encantado, o amor ...Paulo Peres
Poemas & Canções

O cantor, compositor e produtor musical alagoano Djavan Caetano Viana revela na letra de “Álibi” o ser apaixonado e não correspondido, tal como ele gostaria que fosse, inclusive, já não se sacia com o sexo (força do beijo), mesmo que o sexo seja intenso, frequente e liberado (vadio).

O apaixonado sofre (chora), mas nega a raiva que sente (mentira da ira), pelo desejo não satisfeito (não contraíra). O amor está no limiar da dor e vice-versa (por um triz).

O apaixonado tenta iludir-se e ao outro aparentando felicidade, usando a sua carência como justificativa (álibi) para essa vida sem sentido, a espera do outro que não se entrega.

A música faz parte do LP Djavan Ao Vivo, lançado em 1999, pela Epic/Sony Music.

ÁLIBI
Djavan

Havia mais que um desejo
A força do beijo
Por mais que vadia
Não sacia mais

Meus olhos lacrimejam teu corpo
Exposto à mentira do calor da ira
No afã de um desejo que não contraíra
No amor, a tortura está por um triz

Mas gente atura e até se mostra feliz
Quando se tem o álibi
De ter nascido ávido
E convivido inválido
Mesmo sem ter havido, havido

Quando se tem o álibi
De ter nascido ávido
E convivido inválido
Mesmo sem ter havido, havido

Havia mais que um desejo

 

No colo da mãe natureza, Paulo Peres criou versos nas nuvens do ateliê do vento

Peres, na gravação de uma de suas músicas

Carlos Newton

O advogado, jornalista, analista judiciário aposentado do Tribunal de Justiça (RJ), compositor e poeta carioca Paulo Roberto Peres, é uma pessoa muito especial, de rara sensibilidade.

Peres sempre gostou de poesia, mas se entusiamou depois de conhecer Rubem Braga, quando trabalhamos juntos na Revista Nacional, que circulava aos domingos numa cadeia de jornais nas capitais dos estados, com a maior tiragem do Brasil. Braga mantinha uma coluna chamada “A Poesia é necessária”.

Modestamente, eu era diretor da revista, criada por Mauritônio Meira, que tinha outros grandes craques, como Joel Silveira, Sebastião Nery, Mister Eco, Roberto Paulino, Gilse Campos,Evanir Fonseca, os chargistas  Nássara e Willy,  e muitos mais. A gente era feliz e não sabia. E assim Paulo Peres se tornou um tremendo poeta, graças a Rubem Braga.

NUVENS, ATELIÊ DO VENTO
Paulo Peres

A caneta do vento escreveu
Poemas de Nuvens

O cinzel do vento esculpiu
Mulheres de Nuvens

O pincel do vento pintou
Jardins de Nuvens

A caneta, o cinzel e o pincel
São veios infindos do vento

Qual estro nos astros vagueiam
Raios de sonhos tangentes

Nuvens no céu,
Ateliê do vento,
No colo da mãe natureza

No choro das águas, as enxurradas provocam vento e frio no varal da agonia

Chuvas afetam 781 mil pessoas no RS; mortes sobem para 75 | Agência Brasil

A tragédia brutal, se transformou numa lição de solidariedade

Paulo Peres
Poemas & Canções

O jornalista e poeta amazonense Vicente Limongi Netto, radicado há anos em Brasília, sensibilizado pela tragédia que ocorre no Rio Grande do Sul, compôs o “Choro das Águas”.

CHORO DAS ÁGUAS
Vicente Limongi Netto

A linguagem das águas
flutua no vazio do silêncio,
rio e lagoa viraram barro
perderam o mistério dos peixes

Barcos e lanchas são desalentos
das margens tristes,
casas e móveis boiando
na frieza da desesperança

A avalanche de lama conta mortos,
desabrigados gaúchos são reféns do futuro,
o canto das águas perdeu a ternura
e as enxurradas provocam vento e frio
no varal da agonia

Dante Milano pedia que Lígia perdoasse os outros poetas que não sabiam amá-la

FCO-1159 - Retrato de Dante Milano | Obras | Portinari

Milano, retratado pelo amigo Portinari

Paulo Peres
Poemas & Canções 

O poeta Dante Milano (1899-1991), nascido em Petrópolis (RJ), no poema “Elegia a Lígia”, lança uma mensagem de amor a uma mulher que lhe “arrasta o absorto espírito” e pede que ela perdoe os outros poetas que não sabem amá-la.

ELEGIA A LÍGIA
Dante Milano

Lígia, teu nome de elegia
Te dá ao corpo moço um ar antigo
E cria em meu ouvido lento ritmo
Que me arrasta o absorto espírito
Para o verso e sua inútil tortura.

Torso de ânfora esguia!
Só o que amou deveras um quadro,
um vaso, um objeto precioso,
Pode sentir o relevo suave do teu ventre,
Corpo de mulher,
Forma antiga e novíssima.

Perdoa aos poetas que te desnudam,
te divinizam, te prostituem.
Em meus versos inteira te possuo.
Que importa a fêmea que se nega?
Transformada em poema,
Amo-te ainda mais!
Ajoelho agarrado a teus joelhos,
Não com palavras de fé
Mas impudente e irreverente
Profanando mas adorando
A tua imagem desfigurada.

“Vai mostrar esta saudade, sonho meu, com a sua liberdade, sonho meu…”

Delcio Carvalho, eterno (06/04/2019) - União Brasileira de Compositores

Dona Ivone e Delcio, grandes sambistas

Paulo Peres
Poemas & Canções

O cantor e compositor Délcio Carvalho (1939-2013), natural de Campos dos Goitacazes (RJ), na letra de “Sonho Meu”, em parceria com Dona Ivone Lara, pede à imaginação para ir buscar o seu amor. Este samba foi gravado por Maria Bethânia e Gal Costa no LP “Álibi”, de Maria Bethânia, em 1978, lançado pela gravadora PolyGram.

SONHO MEU
Dona Ivone Lara e Délcio Carvalho

Sonho meu,
Sonho meu,
Vai buscar quem mora longe,
Sonho meu
Vai mostrar esta saudade,
Sonho meu
Com a sua liberdade,
Sonho meu
No meu céu a estrela guia se perdeu
A madrugada fria só me traz melancolia,
Sonho meu

Eu sinto o canto da noite
Na boca do vento
Fazer a dança das flores
No meu pensamento.
Traz a pureza de um samba,
Sentido marcado
De mágoa de amor,
O samba que mexe
O corpo da gente
E o vento vadio
Embalando a flor,
Sonho meu.

“Eu sou a terra, eu sou a fonte original de toda vida”, dizia Cora Carolina

Cora Coralina: frases e fotos marcantes da poetisa brasileiraPaulo Peres
Poemas & Canções

Cora Coralina, pseudônimo de Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas (1880-1985), nasceu em Goiás Velho. Mulher simples, doceira de profissão, tendo vivido longe dos grandes centros urbanos, alheia a modismos literários, produziu uma obra poética rica em motivos do cotidiano do interior brasileiro, conforme este poema “Cântico da Terra”. Vale ressaltar que a obra de Cora Coralina também nos mostra a vida simples dos becos e ruas históricas de Goiás Velho, a antiga capital do Estado.

O CÂNTICO DA TERRA
Cora Coralina

Eu sou a terra, eu sou a vida.
Do meu barro primeiro veio o homem.
De mim veio a mulher e veio o amor.
Veio a árvore, veio a fonte.
Vem o fruto e vem a flor.

Eu sou a fonte original de toda vida.
Sou o chão que se prende à tua casa.
Sou a telha da coberta de teu lar.
A mina constante de teu poço.
Sou a espiga generosa de teu gado
e certeza tranquila ao teu esforço.

Sou a razão de tua vida.
De mim vieste pela mão do Criador,
e a mim tu voltarás no fim da lida.
Só em mim acharás descanso e Paz.

Eu sou a grande Mãe Universal.
Tua filha, tua noiva e desposada.
A mulher e o ventre que fecundas.
Sou a gleba, a gestação, eu sou o amor.

A ti, ó lavrador, tudo quanto é meu.
Teu arado, tua foice, teu machado.
O berço pequenino de teu filho.
O algodão de tua veste
e o pão de tua casa.

E um dia bem distante
a mim tu voltarás.
E no canteiro materno de meu seio
tranquilo dormirás.

Plantemos a roça.
Lavremos a gleba.
Cuidemos do ninho,
do gado e da tulha.
Fartura teremos
e donos de sítio
felizes seremos.

Sonhe com aquilo que você quer ser, porque você possui apenas uma vida

Clarice Lispector - PensadorPaulo Peres
Poemas & Canções

A escritora, jornalista e poeta Clarice Lispector (1920/1977), nascida na Ucrânia e naturalizada brasileira, sustenta que “O Sonho” é para ser praticado durante a vida, juntamente com muita felicidade.

O SONHO
Clarice Lispector

Sonhe com aquilo que você quer ser,
porque você possui apenas uma vida
e nela só se tem uma chance
de fazer aquilo que quer.

Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.
Dificuldades para fazê-la forte.
Tristeza para fazê-la humana.
E esperança suficiente para fazê-la feliz.

As pessoas mais felizes não têm as melhores coisas.
Elas sabem fazer o melhor das oportunidades
que aparecem em seus caminhos.

A felicidade aparece para aqueles que choram.
Para aqueles que se machucam
Para aqueles que buscam e tentam sempre.

E para aqueles que reconhecem
a importância das pessoas
que passaram por suas vidas.

 

Um poema clássico de Casimiro de Abreu, que jamais será esquecido

Romancistas Essenciais - Casimiro de Abreu eBook de Casimiro de Abreu -  EPUB Livro | Rakuten Kobo BrasilPaulo Peres
Poemas & Canções

O poeta Casimiro José Marques de Abreu (1839-1860), nascido em Barra de São João (RJ), foi um intelectual brasileiro da segunda geração romântica. Sua poesia tornou-se muito popular durante décadas, devido à linguagem simples, delicada e cativante, conforme o poema “Meus Oito Anos”, que fala da saudade de sua infância.

MEUS OITO ANOS
Casimiro de Abreu

Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!

Como são belos os dias
Do despontar da existência!
– Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é – lago sereno,
O céu – um manto azulado,
O mundo – um sonho dourado,
A vida – um hino d’amor!

Que aurora, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d’estrelas,
A terra de aromas cheia
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!

Oh! dias da minha infância!
Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã!

Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
Da camisa aberta o peito,
– Pés descalços, braços nus –
Correndo pelas campinas
À roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!

Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo.
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!

Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
– Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
A sombra das bananeiras
Debaixo dos laranjais!

Que nossos amigos estejam salvos do perigo, no primeiro abrigo, diz o poeta Jatobá

Augusto Jatobá

Jatobá, poeta e compositor baiano

Paulo Peres
Poemas & Canções

O arquiteto, publicitário, artista plástico, designer, diagramador, arte-finalista, cantor e compositor baiano José Carlos Augusto Jatobá compara os “Pés de Milho” com o cotidiano das pessoas. A música Pés de Milho faz parte do LP Capim Verde gravado por Elba Ramalho, em 1980, pela Sony Music.

PÉS DE MILHO
Jatobá

Pés de milhos, andarilhos,
com os nossos filhos.
Procurando vinte milhas,
pelas nossas filhas.
Protegendo milharais
como as nossas mães.
Perseguindo os animais,
como os nossos pais.
Comparando a rouxinóis,
tal nossos avós.
Flutuando pelos rios,
como os nossos tios.
Fungos, cogumelos, limos,
como nossos primos.
Tanta gente tão aflita,
que eu nem sei ainda,
se transformo trigo em Pão,
prá nossos irmãos,
ou transformo pão em trigo,
prá nossos amigos,
que estão salvos do perigo,
do primeiro abrigo,
procurando girassóis,
como todos nós.

Ana Cristina Cesar, genial poeta, em busca de um amor cada vez mais difícil

Ana Cristina Cesar: homenageada da Flip | Dante FilhoPaulo Peres
Poemas & Canções

A professora, tradutora e poeta carioca Ana Cristina Cruz Cesar (1952-1983) é considerada um dos principais nomes da chamada geração mimeógrafo (ou poesia marginal) da década de 1970. No poema “Samba-Canção”, Ana Cristina revela que fez tudo para o seu amor gostar, porque ela queria apenas carinho.

SAMBA-CANÇÃO
Ana Cristina Cesar

Tantos poemas que perdi.
Tantos que ouvi, de graça,
pelo telefone – taí,
eu fiz tudo pra você gostar,
fui mulher vulgar,
meia-bruxa, meia-fera,
risinho modernista
arranhando na garganta,
malandra, bicha,
bem viada, vândala,
talvez maquiavélica
e um dia emburrei-me,
vali-me de mesuras
(era uma estratégia),
fiz comércio, avara,
embora um pouco burra,
porque inteligente me punha
logo rubra, ou ao contrário,
cara pálida que desconhece
o próprio cor-de-rosa,
e tantas fiz, talvez
querendo a glória, a outra
cena à luz de spots,
talvez apenas teu carinho,
mas tantas, tantas fiz…

Zé Ramalho e a libertação da consciência humana para a consciência espiritual.

Acervo Cultural Zé Ramalho: O novo CD com músicas inéditas

Zé Ramalho canta suas reflexões

Paulo Peres
Poemas & Canções

O cantor e compositor paraibano José Ramalho Neto, mais conhecido como Zé Ramalho, na letra de “A Terceira Lâmina”, fala da libertação da consciência humana para a consciência espiritual. A música intitulou o LP A Terceira Lâmina gravado por Zé Ramalho, em 1981, pela EPIC/CBS. 

A TERCEIRA LÂMINA
Zé Ramalho

É aquela que fere,
que virá mais tranqüila
com a fome do povo,
com pedaços da vida
com a dura semente,
que se prende no fogo
de toda multidão,
acho bem mais do que
pedras na mão
dos que vivem calados,
pendurados no tempo
esquecendo os momentos,
na fundura do poço,
na garganta do fosso,
na voz de um cantador

E virá como guerra,
a terceira mensagem,
na cabeça do homem,
aflição e coragem
afastado da terra,
ele pensa na fera,
que o começa a devorar,
acho que os anos
irão se passar
com aquela certeza,
que teremos no olho
novamente a ideia,
de sairmos do poço
da garganta do fosso
na voz de um cantador

O sonho de o ser humano tornar-se eterno, na poesia de Carlos Nejar

Carlos Nejar lança livro com poemas sobre as tragédias brasileiras

Carlos Nejar, grande poeta gaúcho.

Paulo Peres
Poemas & Canções

O crítico literário, tradutor, ficcionista e poeta gaúcho Luís Carlos Verzoni Nejar, membro da Academia Brasileira de Letras, no poema “Crença”, aborda o sonho do ser humano tornar-se eterno.

CRENÇA
Carlos Nejar

Ainda serei eterno.
Não sei quando.
Sei que a sombra se alonga
e eu me alongo,
bólide na erva.

Ainda serei eterno.
Tenho ânsias cativas
no caderno. Cortejo
de símbolos, navios
e nunca mais me encerro
no meu fio.

Ainda serei eterno.
O mês finda, o ano,
o recomeço.
E o fraterno em mim
quer campo, monte, algibe.
Mas sou pequeno
para tanto aceno.
Metáforas me prendem
o eterno
que se pretende isento.

Numa dobra me escondo;
Noutra, deito.
Os nomes me percorrem no poente.
Sou sobrevivente
de alguma alta esfera
que saía de si mesma
e é primavera.

O eterno ainda será viável
como o sol, o dia,
o vento,
misturado ao que me entende
e transborda.
Misturado ao permanente
que me sobra.

O coração do poeta era como um rio, a chorar de queda em queda…

Olhando O Rio | Poema de Belmiro Ferreira Braga com narração de Mundo Dos  Poemas - YouTubePaulo Peres
Poemas & Canções 

O poeta Belmiro Ferreira Braga (1872-1937), nascido em Vargem Grande (MG), no soneto “Olhando o Rio”,  compara o transcurso do rio com o sofrimento de seu coração tristonho.

OLHANDO O RIO
Belmiro Braga

Nas noites claras de luar, costumo
ir das águas ouvir o vão lamento;
e, após o ouvi-las, cauteloso e atento
que o rio também sofre, eis que presumo.

Nesse que leva tortuoso rumo,
que fado triste e por demais cruento:
Vai deslizando agora doce e lento
e agora desce encachoeirado e a prumo.

O dorso aqui lhe encrespa leve brisa,
ali o deslizar calhau lhe veda;
além, de novo, sem fragor, desliza…

És como o rio, coração tristonho:
Se ele vive a chorar de queda em queda,
vives tu a gemer de sonho em sonho.

Chico Buarque e o desafio de compor a música Beatriz, com o amigo Edu Lobo

Letícia Colin faz aulas de circo para filme - Patrícia Kogut, O Globo

Letícia Colin interpretou Beatriz no cinema

Paulo Peres
Poemas & Canções

O cantor, escritor, poeta e compositor carioca Chico Buarque de Holanda, buscou inspiração para fazer a letra da música “Beatriz”, tanto que se baseou num poema de Jorge Lima, onde a personagem chamava-se Agnes e era equilibrista, mas chegou a um ponto que a letra não saía com esse nome, Agnes. Então, passados alguns dias, surgiu o nome “Beatriz”, que era a musa inspiradora de Dante Alighieri, a qual podemos notar quando Chico faz alusão ao citar na letra “comédia” e “divina”, mencionando outra obra de Dante, A Divina Comédia.

Dizem que Dante viu Beatriz uma única vez, e nunca falou com ela, nutrindo uma paixão que iria inspirar seus poemas. Beatriz é uma das canções do musical “O Grande Circo Místico”, cujo disco com o mesmo nome foi lançado, em 1983, pela Som Livre.

BEATRIZ
Edu Lobo e Chico Buarque

Olha
Será que ela é moça
Será que ela é triste
Será que é o contrário
Será que é pintura
O rosto da atriz

Se ela dança no sétimo céu
Se ela acredita que é outro país
E se ela só decora o seu papel
E se eu pudesse entrar na sua vida

Olha
Será que ela é de louça
Será que é de éter
Será que é loucura
Será que é cenário
A casa da atriz
Se ela mora num arranha-céu
E se as paredes são feitas de giz
E se ela chora num quarto de hotel
E se eu pudesse entrar na sua vida

Sim, me leva pra sempre, Beatriz
Me ensina a não andar com os pés no chão
Para sempre é sempre por um triz
Aí, diz quantos desastres tem na minha mão
Diz se é perigoso a gente ser feliz

Olha
Será que é uma estrela
Será que é mentira
Será que é comédia
Será que é divina
A vida da atriz
Se ela um dia despencar do céu
E se os pagantes exigirem bis
E se o arcanjo passar o chapéu
E se eu pudesse entrar na sua vida

Um soneto romântico de Aurélio Buarque de Holanda, que entendia de palavras

Figuras da Linguagem (II): Aurélio Buarque de Holanda

Aurelio era um imortal muito bem-humorado

Paulo Peres
Poemas & Canções

O crítico literário, lexicógrafo, filólogo, professor, tradutor e ensaísta alagoano, Aurélio Buarque de Holanda (1910-1989), grande dicionarista brasileiro, também sabia usar as palavras para nos brindar com este belo soneto “Amar-te”.

AMAR-TE
Aurélio Buarque de Holanda

Amar-te – não por gozo da vaidade,
Não movido de orgulho ou de ambição,
Não à procura da felicidade,
Não por divertimento à solidão.

Amar-te – não por tua mocidade
– Risos, cores e luzes de verão –
E menos por fugir à ociosidade,
Como exercício para o coração.

Amar-te por amar-te: sem agora,
Sem amanhã, sem ontem, sem mesquinha
Esperança de amor, sem causa ou rumo.

Trazer-te incorporada vida fora,
Carne de minha carne, filha minha,
Viver do fogo em que ardo e me consumo.

Bastos Tigre se defende da acusação de uma mulher que ele teria difamado

Bastos Tigre | Poemas, Frases motivacionais, PensamentosPaulo Peres
Poemas & Canções

O publicitário, bibliotecário, engenheiro, humorista, jornalista, compositor e poeta pernambucano Manoel Bastos Tigre (1882-1957), no soneto “Argumento de Defesa”, ao ser acusado de caluniar uma senhora, apresenta o seu melhor argumento de defesa, embora preconceituoso, ou seja,  ele sempre achou-a feia demais para não ser honesta.

ARGUMENTO DE DEFESA
Bastos Tigre

Disse alguém, por maldade ou por intriga,
que eu de Vossa Excelência mal dissera:
que tinha amantes, que era “fácil”, que era
da virtude doméstica, inimiga.

Maldito seja o cérebro que gera
infâmias tais que, em cólera, maldigo!
Se eu disser tal, que tenha por castigo
o beijo de uma sogra ou de outra fera!

Ponho a mão espalmada na consciência
e ela, senhora, impávida, protesta
contra essa intriga da maledicência!

Indague a amigos meus: qualquer atesta
que eu acho e sempre achei Vossa Excelência
feia demais para não ser honesta…

Na Serenata de Meyer, geme o violão pelos ares, corda a corda, dedo a dedo…

Augusto Meyer | Leveza e EsperançaPaulo Peres
Poemas & Canções

O jornalista, folclorista, ensaísta, memorialista e poeta gaúcho Augusto Meyer (1902-1970) foi membro da Academia Brasileira de Letras e da Academia Brasileira de Filologia. Romântico, compôs uma “Serenata” pelas noites enluaradas do outono.

SERENATA
Augusto Meyer

Ai luares de outono, ai luares
lá na rua do Arvoredo!
Serenatas e cantares
Até quase manhã cedo!

Geme o violão pelos ares
corda a corda, dedo a dedo,
abre o peito, e ao cantares
alivia o teu segredo!

Lá se vão de rua em rua,
flauta, violão, cavaquinho
lá se vão ladeira abaixo.

Treme nas águas a lua
e o luar bate, branquinho,
na velha ponte do Riacho.

Em versos, a declaração do amor de Castro Alves à atriz Eugênia Câmara

Como eu Vi Castro Alves e Eugênia Câmara no Vendaval Maravilhoso de suas  Vidas - Leitão de Barros - Traça Livraria e Sebo

O poeta amava a atriz desesperadamente

Paulo Peres
Poemas & Canções

O baiano Antônio de Castro Alves (1847-1871), conhecido como poeta abolicionista, tem seu nome vinculado também à música popular brasileira, especialmente ao gênero “modinha”, muito cultivado pelos poetas românticos na segunda metade do século XIX. Teve vários de seus poemas musicados. O mais famoso é, sem dúvida, “O Gondoleiro do Amor”, com música de Salvador Fábregas, gravada por Mário Pinheiro, em 1912, pela Record.

Os versos são construídos com antíteses, refrão, metáforas, hipérbole e vocativo, numa barcarola dedicada a Eugênia Câmara, atriz portuguesa e o grande amor de Castro Alves. Vale ressaltar a associação da cor dos olhos da “dama negra” com a ideia de profundidade.

Em 1941, a modinha “O Gondoleiro do Amor” foi cantada por Sílvio Caldas, acompanhado por um coro de 30 mil vozes regidas pelo maestro Villa-Lobos no estádio de São Januário, pertencente ao Clube de Regatas Vasco da Gama, no Rio de Janeiro.

FELICIDADE É DOM
Salvador Fábregas e Castro Alves

Teus olhos são negros, negros,
Como as noites sem luar…
São ardentes, são profundos,
Como o negrume do mar;

Sobre o barco dos amores,
Da vida boiando à flor,
Douram teus olhos a fronte
do Gondoleiro do amor.

Tua voz é a cavatina
Dos palácios de Sorrento,
Quando a praia beija a vaga,
Quando a vaga beija o vento;

E como em noites de Itália,
Ama um canto o pescador,
Bebe a harmonia em teus cantos
O Gondoleiro do amor.

Teu sorriso é uma aurora,
Que o horizonte enrubesceu,
-Rosa aberta com o biquinho
Das aves rubras do céu.

Nas tempestades da vida
Das rajadas no furor,
Foi-se a noite, tem auroras
O Gondoleiro do amor.

Teu seio é vaga dourada
Ao tíbio clarão da lua,
Que, ao murmúrio das volúpias,
Arqueja, palpita nua;

Como é doce, em pensamento,
Do teu colo no languor
Vogar, naufragar, perder-se
O Gondoleiro do amor!?…

Teu amor na treva é – um astro,
No silêncio uma canção,
É brisa – nas calmarias,
É abrigo – no tufão;

Por isso eu te amo querida,
Quer no prazer, quer na dor…
Rosa! Canto! Sombra! Estrela!
Do Gondoleiro do amor

A tragédia de Branca Dias, condenada à fogueira da Inquisição pelo amor proibido 

REGINA DUARTE (NAMORADINHA DO BRASIL): REGINA DUARTE É BRANCA DIAS NA PEÇA  DE TEATRO, O SANTO INQUÉRITO (1978)

Regina Duarte viveu Branca Dias no teatro

Paulo Peres
Poemas e Canções 

O professor e poeta Antônio Carlos Ferreira de Brito, mineiro de Uberaba e conhecido como Cacaso (1944-1987), tem o seu lugar entre os gênios que fazem a história da Música Brasileira em seus diversos estilos populares. “Branca Dias” tem parceria de Edu Lobo e faz parte do seu LP Camaleão, gravado em 1978, pela Polygram/Philips.

Essa é uma das músicas incluídas na peça “O Santo Inquérito”, de Dias Gomes, cuja letra reproduz a poesia que os movimentos do vento transmitem, comparando-o com os dias de sofrimento vividos por Branca Dias, personagem que devido a conduta do Padre Bernardo para com ela, que, a princípio, era a de conduzi-la à ortodoxia da fé e expurgá-la de seus pecados, todavia quando a paixão carnal começa a queimá-lo por dentro, ele vê que só a condenação dela poderá livrá-lo da perdição do inferno e, consequentemente, condena Branca Dias a ser queimada viva na fogueira da Inquisição.

BRANCA DIAS
Edu Lobo e Cacaso

Esse soluço que ouço, que ouço
Será o vento passando, passando
Pela garganta da noite, da noite
A sua lâmina fria, tão fria
Será o vento cortando, cortando
Com sua foice macia, macia
Será um poço profundo, profundo
Alvoroço, agonia

Será a fúria do vento querendo
Levar teu corpo de moça tão puro
Pelo caminho mais longo e escuro
Pela viagem mais fria e sombria
Esse seu corpo de moça tão branco
Que no clarão do luar se despia
Será o vento noturno clamando
Alvoroço, agonia

Será o espanto do vento querendo
Levar teu corpo de moça tão puro
Pelo caminho mais longo e escuro
Pela viagem mais fria e sombria
Esse soluço que ouço, que ouço
Esse soluço que ouço, que ouço

Em poucos versos, Affonso Romano faz uma bela e precisa definição de amor 

Acervo Pernambuco - Affonso Romano de Sant'Anna encara as demandas do tempo

Affonso Romano, grande poeta

Paulo Peres
Poemas & Canções

O jornalista e poeta mineiro Affonso Romano de Sant’Anna, no poema “Arte Final”, explica que não é somente um imenso amor que nos leva a poetizar.

ARTE FINAL
Affonso Romano de Sant’Anna

Não basta um grande amor
para fazer poemas.
E o amor dos artistas, não se enganem,
não é mais belo
que o amor da gente.

O grande amante é aquele que silente
se aplica a escrever com o corpo
o que seu corpo deseja e sente.

Uma coisa é a letra,
e outra o ato,
quem toma uma por outra
confunde e mente.