Cunha sabia da ligação de Temer com a Odebrecht e até deu a dica ao juiz Moro

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Fotomontagem reproduzida do Arquivo Google

Carlos Newton

O pedido de apoio à campanha de 2012, feito por Michel Temer a Sérgio Machado, então presidente da Transpetro, não representava prova consistente contra o atual presidente da República, porque na transcrição do depoimento está registrado que ele e o senador Valdir Raupp, vice-presidente do PMDB, tinham solicitado “doação oficial”. Ou seja, tratava-se de repasse a ser registrado na contabilidade da campanha, não significa crime ou sequer irregularidade.  Da mesma forma, a doação da Andrade Gutierrez, através de cheque de R$ 1 milhão, também ocorreu estritamente dentro da lei, registrada na contabilidade da campanha eleitoral da chapa Dilma/Temer.

Entretanto, no caso da delação de Cláudio Melo Filho, ex-diretor da Odebrecht, a coisa mudou inteiramente de figura, porque houve participação direta do então vice-presidente Temer num pedido de apoio financeiro que teria se concretizado de maneira ilegal e em dinheiro vivo.

O depoimento é impreciso e ainda deixa dúvidas que beneficiam Temer e Moreira Franco, que jamais metiam a mão em dinheiro. Mas complica diretamente o hoje ministro Eliseu Padilha e um assessor do Planalto, o advogado José Yunes, muito ligado aos caciques do PMDB, inclusive a Temer, e que teria atuado como operador de propina.

RIQUEZA DE DETALHES – O diretor da Odebrecht revelou, com riqueza de detalhes, um jantar no Palácio Jaburu, dia 28 de maio de 2014, com quatro pessoas à mesa – o então vice-presidente Michel Temer, o empresário Marcelo Odebrecht, o deputado federal Eliseu Padilha (PMDB-RS) e o próprio Melo Filho.

No jantar, acredito que considerando a importância do PMDB e a condição de possuir o vice-presidente da República como presidente do referido partido, Marcelo Odebrecht definiu que seria feito pagamento no valor de R$ 10 milhões. Claramente, o local escolhido para a reunião foi uma opção simbólica voltada a dar mais peso ao pedido de repasse financeiro que foi feito naquela ocasião. Inclusive, houve troca de e-mails nos quais Marcelo se referiu à ajuda definida no jantar, fazendo referência a Temer como MT”, disse no depoimento o diretor da Odebrecht, que entregou à Lava Jato cópia de e-mails em que Marcelo Odebrecht trata dos pagamentos a “MT” (Michel Temer).

Numa das mensagens, Marcelo falou sobre a doação que faria dos R$ 10 milhões acertada no jantar: “Depois de muito choro não tive como não ajudar”. E no fim do e-mail, Marcelo Odebrecht pede para avisar “MT” (Michel Temer) que esta seria a única conta a pagar do time dele.

RESSALVA IMPORTANTE – No acordo de delação premiada, Claudio Melo Filho dedica um capítulo ao relacionamento que tinha com Temer. O nome do presidente é citado 43 vezes, mas o ex-diretor da Odebrecht faz uma ressalva da maior importância, ao dizer que Michel Temer atuava de forma muito mais indireta, não sendo seu papel pedir contribuições financeiras para o partido, e o jantar com Marcelo Odebrecht foi a única vez em que isso ocorreu.

Ao contrário do depoimento de Sérgio Machado, na qual a expressão usada pelo delator foi “doação oficial”, o que isenta Temer de qualquer irregularidade, no caso de Melo Filho ainda não ficou explicitado se realmente o então presidente do PMDB (Temer) estava solicitando uma doação oficial ou dinheiro de caixa dois.

Quanto ao recebimento da contribuição, o ex-diretor da Odebrecht deixou claro que a operação foi mesmo em caixa 2 e inteiramente a cargo de Eliseu Padilha, que recebeu R$ 4 milhões, entregues no escritório de José Yunes. Os restantes R$ 6 milhões, o depoente “compreendeu” que seriam destinados à campanha de Paulo Skaf ao governo paulista, mas não detalhou como ocorreu a entrega, nem se foi em dinheiro vivo. Como se vê, um depoimento com muitas lacunas.

MARCELO VAI ESCLARECER – A versão logo será confirmada por Marcelo Odebrecht, que supervisionava pessoalmente o Setor de Operações Estruturadas, mais conhecido como Departamento de Propinas. O empresário terá de revelar  de onde saiu esse dinheiro e como foi entregue a parte de Skaf (R$ 6 milhões).

O potencial das revelações da Odebrecht é bombástico: apenas nas eleições de 2014, o grupo doou legalmente R$ 46 milhões para campanhas eleitorais de 15 partidos, tanto do governo quanto da oposição, além das contribuições ilegais, em caixa dois, como foi o caso desses R$ 10 milhões, segundo os advogados de defesa do ex-deputado Eduardo Cunha.

Ao arrolar Temer como testemunha de defesa, Cunha fez perguntas a ele que o juiz Moro eliminou, devido ao foro privilegiado do presidente da República. Em um dos quesitos, Cunha indaga a relação do presidente “com o sr. José Yunes” (que é assessor do Planalto) e pergunta se ele “recebeu alguma contribuição de campanha” para alguma eleição de Temer. “Em caso positivo“, acrescenta Cunha, “as contribuições foram realizadas de forma oficial ou não declarada?”

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PS – Em tradução simultânea, Cunha sabia de tudo e tentou colocar Temer numa enrascada. Mas como acontece nos filmes do Drácula, o mordomo do vampiro é esperto e sempre dá um jeito de se escapar. (C.N.)

12 thoughts on “Cunha sabia da ligação de Temer com a Odebrecht e até deu a dica ao juiz Moro

  1. Mas da opinião pública não escapa…
    A pesquisa também aponta que o presidente Michel Temer passou a ocupar o primeiro lugar no ranking de rejeição para o primeiro turno das próximas eleições.

    O percentual de entrevistados que não votaria em Temer em nenhum cenário saltou de 29%, em julho, para 45%.

  2. Só um sujeito mal informado não saberia que o atual presidente não sabia o que rolava e que também pediu a Odebrecht, a empresa superfaturava as obras e pagava as propinas exigidas pelos políticos inescrupulosos mercenários e a conta ia para o erário público, se o presidente atual citado na delação, não tem condições de governar o país, nós estamos num paiol de pólvora que pode estourar a qualquer momento, o povo não aguenta mais tantas sacanagens do poder judiciário que livrou Renan Calheiros, do Executivo comandado por um presidente suspeito e de um legislativo onde a maioria está metida nesta lama das propinas das empreiteiras, é um vergonha o que o mundo afora está assistindo sobre o Brasil, país CORRUPTO.

    • Parabéns pela sensatez … caro Nélio Jacob … … … não há NENHUMA acusação ao Governo Temer … as possíveis acusações são fora de crime de responsabilidade – que só existem quando o feito é no exercício de mandato!!!

  3. Newton, a situação está tão confusa que é provável que tenha havido um crime premeditado no acidente que matou 71 pessos (o time do Chapecoense), e ninguém ao menos desconfia.Eu desconfio desde o primeiro momento. Tenho por que desconfiar. Estou pensando em escrever para alguma autoridade. Qual? Essa é a pergunta que faço a mim mesmo Em quem confiar?. Até o final da semana decido. Posso estar errado, mas em minha cabeça existe essa imágem.

  4. Não há nenhuma surpresa quanto aos que sabiam ou não desta relação da Odebrecht com os nome publicados de assaltantes e chantagistas!

    Não há qualquer parlamentar que não esteja envolvido em crimes contra o país e erário público.

    Portanto, esta surpresa de alguns a mim parece ingenuidade ou crença demasia em ladrões, portanto, um tipo de pessoa que pela sua credulidade não tem mais espaço neste mundo corrupto e desonesto que se vive, principalmente no Brasil!

    Agora, fiquei mesmo impressionado com a tese levantada pelo comentarista Aquino, que desconfia da queda do avião da Lamia, que transportava jogadores e dirigentes da Chapecoense, inclusive gente da imprensa, que iria transmitir o primeiro jogo entre o time catarinense e o Atlético Nacional, de Medellin, como possível atentado!

    Apesar de se saber que a causa se deu por falta de combustível, erro crasso do piloto, em consequência, resta elucidar as razões pelas quais o piloto cometeria suicídio, se não abastecesse seu avião, exatamente o que aconteceu.

    Por que a tragédia iria interessar ao governo?

    Ou que interesses seriam contemplados com o acidente que vitimou 71 pessoas?

    Desviar a atenção do povo para esta tragédia e aliviar as costas de Temer pela gravíssima crise política, social e econômica que nos aflige?!

    Caso esta tese seja mesmo plausível, este governo deve ser chutado a pontapés do Planalto, junto com o Congresso!

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