Muita gente me pede, por todos os trajetos, caminhos e formas de comunicação, que relembre acontecimentos de minha carreira jornalística, com repercussão não apenas pessoal. Desculpem, deveria ter escrito vários livros a partir de 1960/70. Mas ocupado em viver, combater e ser perseguido, descuidei da importância de escrever, a não ser no dia-a-dia.
(Quando descobri que essa documentação em livro era também importante, já era tarde, não dava mais tempo).
No entanto, atendendo e passando a fatos que irão levar (ou não) o Brasil ao seu destino de potência mundial, que tanto tem sido retardado, vou revelar meu primeiro processo, da forma como fiz com o meu primeiro julgamento no Supremo. Este relato é ainda mais importante, porque se relacionava com o interesse DIRETO do país.
Meu primeiro processo aconteceu em 1956, portanto há 54 anos. Não existia a Lei de Imprensa, nem prisão antecipada, os jornalistas eram enquadrados no que se chamava de “injúria, calúnia e difamação”. Alguém processava o jornalista, o juiz decidia se aceitava ou recusava a denúncia.
Debates notáveis, grandes advogados e jornalistas importantes, tribunal aberto ao público. E muitos desses mestres, atingindo mais tarde o Supremo, sonho de quase todos.
Esse processo foi insignificante em relação ao repórter, mas os fatos conseqüentes e decorrentes, de enorme repercussão. O Brasil, finalmente assinava com a Bolívia, os famosos “Acordos de Roboré”, a Bolívia precisava VENDER gás, o Brasil tinha necessidade de COMPRAR.
O representante do Brasil nesse Acordo, foi Roberto Campos (“entreguista” maior, sobre quem escrevi a vida inteira), que presidia o BNDE. (Naquela época não tinha o S de Social, hoje tem o S mas ainda não tem o Social, é dominado pelos maiores açambarcadores, que palavra, grupos multinacionais).
Inacreditável: o ACORDO (Tratado) era entre Brasil e Bolívia, mas o senhor Roberto Campos tentou de todas as maneiras, INCLUIR os Estados Unidos no relacionamento. Não me conformei, denunciei a tentativa, justificando que a intenção do senhor Roberto Campos era a de “FAZER MÉDIA COM SEUS PATRÕES”. (Textual).
Já todo poderoso e portentoso, (5 anos depois seria embaixador lá mesmo nos EUA, nomeado por Janio e mantido por Jango) me processou. Escrevi que “visivelmente tentava fazer “média” com os Estados Unidos”, que eu já combatia com todas as forças de que dispunha.
Meu advogado, Evandro Lins e Silva (que curiosamente 5 anos depois seria chefe da Casa Civil de João Goulart, ministro do Exterior e finalmente ministro do Supremo), quando leu a petição, riu, nada satisfeito.
Perguntei a razão da CONTRARIEDADE, resposta: “Imaginava que fosse um processo em que pudesse COLOCAR como bandeira o INTERESSE NACIONAL, que é o que você defende. O juiz nem receberá a denúncia”. Foi o que aconteceu.
Quando Evandro, muito tempo depois, assumia a cadeira na Academia, uma de minhas filhas, grande profissional, foi fotografá-lo para a Folha.
Evandro, que já conhecia Ana Carolina, como profissional e amiga do seu neto, falou: “Defendi teu pai 6 vezes”. E ela, irreverente: “Quantas ganharam?” Extraordinária figura, com a gargalhada característica: “ADIVINHA?”
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PS – Em tudo isso, o assombroso, inexplicável, quem pode saber? Esse Tratado Brasil-Bolívia foi retardado e impedido por quase 50 anos. Só foi assinado por Lula e o presidente da Bolívia Evo Morales.
PS2 – Por que o distanciamento desses quase 50 anos? Não consegui descobrir, mas são os caminhos e os descaminhos do capitalismo. Naquela época, serviria apenas aos dois países.
PS3 – 50 anos depois, o tumulto já estava montado e estabelecido, continuava importantíssimo para Brasil e Bolívia. Mas outros países, INTERESSADÍSSIMOS em que não se concretizasse ou consolidasse.
Por esta e por muitas outras que os políticos cometem: Que vergonha de ter o mesmo sobrenome. Pior que Jair Messias Bolsonaro colocou Roberto Campos Neto num cargo importantíssimo no Banco Central.