Carlos Newton
Os nervos estão à flor da pele e o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, quase perdeu a linha com a repórter Luiza Damé, de O Globo, que lhe fazia perguntas sobre o envolvimento dele com as obras do Ministério dos Transportes na gestão de Lula, quando ocupava o Ministério do Planejamento.
Como se sabe, o ainda diretor-geral do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), Luiz Antonio Pagot, presta depoimento na Câmara hoje, e Paulo Bernardo é o coringa do carteado que se coloca sobre a mesa. Se Pagot fizer carga contra o ministro, dizendo que obedecia ordens diretas dele para beneficiar empreiteiras, vai ser uma festa.
De toda forma, mais ou cedo ou mais tarde, tudo virá à tona, não adianta tentar esconder, porque é corrupção demais. A CGU (Controladoria-Geral da União) já apura irregularidades em 34 contratos de obras e uma licitação do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) e da Valec, estatal de ferrovias, órgãos vinculados ao Ministério dos Transportes. E a Polícia Federal já abriu outros 74 inquéritos para investigar desvio de verbas no Dnit, comandado até quarta-feira passada pelo PR, que é o ex-PL.
A coisa está feia, e na quinta-feira, representantes da CGU foram aos três órgãos (Dnit, Valec e Ministério), copiaram dados de oito computadores e levaram documentos para uma auditoria determinada pela presidente Dilma Rousseff. Os computadores do diretor afastado do Dnit, Luiz Antonio Pagot, do ex-presidente da Valec, José Francisco das Neves, o “Juquinha”, e do ex-chefe de gabinete do Ministério dos Transportes, Mauro Barbosa, serão analisados.
Uma expressiva fonte de corrupção está na Valec, estatal na qual a CGU já encontrou irregularidades em 23 contratos e uma licitação para ferrovias. Um dos problemas levou o ex-ministro Alfredo Nascimento a cancelar em maio passado uma licitação de R$ 800 milhões para a compra de trilhos para a Ferrovia Oeste-Leste. E se Nascimento cancelou, é porque a corrupção realmente passara de qualquer limite.
Os 23 contratos com indícios de irregularidades são referentes a vários trechos em construção da Ferrovia Norte-Sul e somam quase R$ 2 bilhões. Há indícios de superfaturamento e pagamento por serviços não realizados.
No Dnit, estão sendo fiscalizados pela CGU inicialmente 11 contratos: sete de rodovias e quatro de hidrovias. Na maior parte deles, os pagamentos não correspondem ao que foi realizado pelas construtoras. Mas há os outros 74 inquéritos da Polícia Federal em andamento para investigar desvio de verbas no órgão, vejam a que ponto chegamos.
Bem, de toda forma, a partir das 9 horas da manhã, com o início do depoimento de Pagot, transmitido direto do Senado Federal, começaremos a saber mais detalhes sobre o Dnit, que é o antigo DNER, também famoso por suas bandalheiras. Mudaram o nome, que já estava completamente imundo e desgastado, mas esqueceram de mudar as práticas administrativas.