Extinção do Cerrado começa a secar os rios e reservatórios de água

http://i2.wp.com/www.jornalopcao.com.br/wp-content/uploads/2014/10/Entrevista-1.jpg

O cientista Altair Barbosa, maior especialista do Cerrado

Elder Dias
Jornal Opção

Uma ilha ambiental em meio à metrópole está no Campus 2 da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás). É lá o local onde o cientista Altair Sales Barbosa idealizou e realizou uma obra que se tornou ponto turístico da capital: o Memorial do Cerrado, eleito em 2008 o local mais bonito de Goiânia e um dos projetos do Instituto do Trópico Subúmido (ITS), dirigido pelo ele.

Como professor e pesquisador, Barbosa tem graduação em Antropologia pela Universidade Católica do Chile e doutorado em Arqueologia Pré-Histórica pelo Museu Nacional de História Natural, em Washington (EUA). Mais do que isso, tem vivência do conhecimento que conduz.

É justamente pela força da ciência que ele dá a notícia que não queria: na prática o Cerrado já está extinto como bioma, o que propicia também o desaparecimento de importantes reservatórios de água, que abastecem outras áreas, o que já vem ocorrendo — a crise de abastecimento em São Paulo foi só o início do problema.

“Memorial do Cerrado” é uma expressão pomposa. Mas, tendo em vista o que vivemos hoje, é algo quase que tristemente profético. O Cerrado está mesmo em vias de extinção?

Dos ambientes recentes do planeta Terra, o Cerrado é o mais antigo. Os primeiros sinais de vida, principalmente de vegetação, que ressurgem na Terra se deram no que hoje constitui o Cerrado. Portanto, vivemos aqui no local onde houve as formas de ambiente mais antigas da história recente do planeta, principalmente se levarmos em consideração as formações vegetais. No mínimo, o Cerrado começou há 65 milhões de anos e se concretizou há 40 milhões de anos. É um tipo de ambiente em que vários elementos vivem intimamente interligados uns aos outros.

A vegetação depende do solo, que é oligotrófico, com nível muito baixo de nutrientes, e o solo depende de um tipo de clima especial, que é o tropical subúmido com duas estações, uma seca e outra chuvosa. Vários outros fatores, incluindo o fogo, influenciaram na formação do bioma – o fogo é um elemento extremamente importante porque é ele que quebra a dormência da maioria das plantas com sementes que existem no Cerrado. É um ambiente que já chegou a seu clímax evolutivo. Ou seja, uma vez degradado, não vai mais se recuperar na plenitude de sua biodiversidade.

Por que o sr. é tão taxativo?

Uma comunidade vegetal é medida não por um determinado tipo de planta ou outro, mas, sim, por comunidades e populações de plantas. E já não se encontram mais populações de plantas nativas do Cerrado. Podemos encontrar uma ou outra espécie isolada, mas encontrar essas populações é algo praticamente impossível.

Outra questão: o solo do Cerrado foi degradado por meio da ocupação intensiva. Retiraram a gramínea nativa para a implantação de espécies exóticas, vindas da África e da Austrália. A introdução dessas gramíneas, para o pastoreio, modificou radicalmente a estrutura do solo. Isso significa que naquele solo, já modificado, a maioria das plantas não conseguirá brotar mais. É uma área fácil de trabalhar, em um planalto, sem grandes modificações geomorfológicas e com estações bem definidas. Junte-se a isso toda a tecnologia que hoje há para correção do solo. É possível tirar a acidez do solo utilizando o calcário; aumentar a fertilidade, usando adubos. Com isso, altera-se a qualidade do solo, mas se afetam os lençóis subterrâneos e, sem a vegetação nativa, a água não pode mais infiltrar na terra.

Onde há pastagens e cultivo, então, o Cerrado está inviabilizado para sempre, é isso?

Onde houve modificação do solo a vegetação do Cerrado não brota mais. O solo do Cerrado é carente de nutrientes básicos. Quando o agricultor e o pecuarista enriquecem esse solo, isso é bom para outros tipos de planta, mas não para as do Cerrado. Por causa disso, não há mais como recuperar o ambiente original, em termos de vegetação e de solo.

O mais importante de tudo isso é que as águas que brotam do Cerrado são as mesmas águas que alimentam as grandes bacias do continente sul-americano. É daqui que saem as nascentes da maioria dessas bacias. Esses rios todos nascem de aquíferos. Um aquífero tem sua área de recarga e sua área de descarga. Ao local onde ele brota, formando uma nascente, chamamos de área de descarga. Como ele se recarrega? Nas partes planas, com a água das chuvas, que é absorvida pela vegetação nativa do Cerrado. Essa vegetação tem plantas que ficam com um terço de sua estrutura exposta, acima do solo, e dois terços no subsolo. Isso evidencia um sistema de raízes extremamente complexo. Assim, quando a chuva cai, esse sistema radicular absorve a água e alimenta o lençol freático, que vai alimentar o lençol artesiano, que são os aquíferos.

Quando se retira a vegetação nativa dos chapadões, trocando-a por outro tipo, alterou-se o ambiente. Ocorre que essa vegetação introduzida tem uma raiz extremamente superficial. Então, quando as chuvas caem, a água não infiltra como deveria. Com o passar dos tempos, o nível dos lençóis vai diminuindo, afetando o nível dos aquíferos, que fica menor a cada ano.

As plantas do cerrado são de crescimento muito lento. Quando Pedro Álvares Cabral chegou ao Brasil, os buritis que vemos hoje estavam nascendo. Eles demoram 500 anos para ter de 25 a 30 metros. Também por isso, o dano ao bioma é irreversível

Qual é a consequência imediata desse quadro?

Em média, dez pequenos rios do Cerrado desaparecem a cada ano. Esses riozinhos são alimentadores de rios maiores, que, por causa disso, também têm sua vazão diminuída e não alimentam reservatórios e outros rios, de que são afluentes. Assim, o rio que forma a bacia também vê seu volume diminuindo, já que não é abastecido de forma suficiente. Com o passar do tempo, as águas vão desaparecendo da área do Cerrado.

Hoje, usa-se ainda a agricultura irrigada porque há uma pequena reserva nos aquíferos. Mas, daqui a cinco anos, não haverá mais essa pequena reserva. Estamos colhendo os frutos da ocupação desenfreada que o agronegócio impôs ao Cerrado a partir dos anos 1970: entraram nas áreas de recarga dos aquíferos e, quando vêm as chuvas, as águas não conseguem infiltrar como antes e, como consequência, o nível desses aquíferos vai caindo a cada ano. Vai chegar um tempo, não muito distante, em que não haverá mais água para alimentar os rios. Então, esses rios vão desaparecer.

Por isso, falamos que o Cerrado é um ambiente em extinção: não existem mais comunidades vegetais de formas intactas; não existem mais comunidades de animais – grande parte da fauna já foi extinta ou está em processo de extinção; os insetos e animais polinizadores já foram, na maioria, extintos também; por consequência, as plantas não dão mais frutos por não serem polinizadas, o que as leva à extinção também. Por fim, a água, fator primordial para o equilíbrio de todo esse ecossistema, está em menor quantidade a cada ano.

(entrevista enviada por Wilson Baptista Junior)

8 thoughts on “Extinção do Cerrado começa a secar os rios e reservatórios de água

  1. A crise hídrica de são Paulo é o resultado da Dinastia Francesa Corrupta que domina todo o Estado há 28 anos (4 do ignóbil montoro).,
    Toda a responsabilidade é do Des-governadores de Plantão que sentam conforme a mudança do traseiro na cadeira do Palacio Caviar & Champgne, covas/serra/geraldo/ não nessariamente nesta ordem.
    Esses malfeitores nefastos acham que São Paulo é o quintal da casa deles, que podem tudo e mais um pouco, deixando a população sem um pingo de água em suas torneiras
    Os nefastos estão sendo avisados em vários relatários sobre o problema, desde 2001 já havia o índicios de que á agua seria o grande problema do eStado.
    E o que fizeram os que dizem que são os “melhores”, os mais preparados”, os mais dos mais”, aqueles onde o Cappo de Tutti Cappi iluminava a antiguidade,????
    Nada
    Preferiram o que mais gostam, nadar de braçadas na CORRUPÇÂO do dinheiro público, e tome roubo dos cofres públicos ´paulistas, a proposito, a Quadrilha é enorme, contando com. amigos, filiados ao partideco , empresas de comunicações e as empresas-carteis-amigas-do-peito……
    E agora.
    Onde o digníssimo MENTIROSO vai buscar água.???

  2. Urge o país começar a fazer usinas para extrair água potável do mar. O pequeno Japão e outros países sérios já fazem isso há décadas, é um processo caro, mas é mais barato que o desvio em benefício de alguns poucos… por outro lado, já há um movimento chamado “cisterna já” está na internet, a população vai ter que aprender a coletar água da chuva com baldinhos…

  3. OPINIÃO DE FORMA GERAL
    No final da década de 70, quando começaram problemas com a estiagem, também iniciaram os racionamentos de água e campanhas de conscientização dos consumidores quanto ao desperdício (sempre pontuais). Com o passar dos anos, o problema foi aumentando, passando a atingir o fornecimento de energia elétrica. Já naqueles tempos, falava-se da necessidade de investimentos nessas áreas, tendo em vista o inevitável aumento de consumo no futuro. Passaram-se governos e muito pouco foi feito! No caso específico do abastecimento de água, até por restrições ambientais mas também por outros motivos, passaram a serem executadas medidas paliativas, como por exemplo, construção de barragens a fio d’água (também para novas hidrelétricas) que importa em menores custos, por não necessitarem de grandes reservatórios que, entretanto, ficam fragilizados em épocas de seca.
    Enfim, os problemas são conhecidos e antigos, então, não há como entender que os governos neguem a existência de racionamento (já que este é necessário pela redução da oferta do produto), ao invés de fazer campanhas de conscientização (duradouras) e priorizar investimentos nessa área, simultaneamente à adoção de novas tecnologias. Nem o motivo eleitoreiro explica, porque antigamente era o procedimento normal, quando começava a estiagem e redução dos níveis dos reservatórios, minimizando os problemas à população, pela sua conscientização.

    MELHORES IMFORMAÇÕES
    http://epoca.globo.com/tempo/noticia/2014/03/o-brasil-pede-baguab.html

    • Caro Edson,

      -O senhor sabia que, no Brasil, a metade da água que sai do reservatório é perdida por vazamento nos canos antes de chegar à torneira do consumidor?
      -E que em Tókio este índice é de 5%.
      -E que multar consumidor que “desperdiça” água que comprou e pagou dá lucro aos governos?
      -E que multar distribuidor joga água fora dá prejuízo aos amigos dos governadores?

      -Quer maior desperdício do que esse?

      Ora, tanto na esfera do governo de São Paulo, quanto no âmbito do Governo Federal, O PAÍS ESTÁ CHEIO DE LADRÕES ficando rico com a falta de água. Para descobrir quem são, faça a simples pergunta: “Quem está sendo beneficiado?”.
      Pois é!
      Nesta colônia nada deixa de acontecer ou de ser construído por esquecimento. Até mesmo a OMISSÃO é milimetricamente planejada.

      Abraços.

      • A questão principal está relacionada ao uso político de tudo sem visar os interesses da coletividade. Como grande parte da política está envolvida em um “balcão de negócios”, não sendo possível agraciar a todos com os cargos que pela natureza lhe são destinadas, passou a invadir os meandros das estatais assumindo aqueles que, na maioria das vezes, não têm qualquer afinidade ou mesmo, compromisso e, que deveriam estar ocupados por técnicos da área afeta (sem falar daqueles que somente constam da folha salarial). Assim, planejamentos são engavetados, aparecem “novas prioridades” que são executadas a “toque de caixa” sem os necessários cuidados, perdendo-se muito tempo, dinheiro e a paciência da população. Quando a situação chega ao ponto que estamos assistindo, vêm as mais estapafúrdias explicações, que não justificam, como tentar empurrar responsabilidades para outros grupos políticos,, às condições climáticas, ao aumento populacional, às crises econômicas. Nada engraçado é saber que à custa daqueles que os mantêm, privatizam até os recursos naturais necessários à nossa sobrevivência, sem os cuidados mínimos de controle pelo estado, confundindo-se a causa pública com a privada. No entanto, não chegam ao âmago da questão, por questões óbvias, continuando as diversas práticas nocivas, como exemplificado nos links a seguir: http://www.gazetadopovo.com.br/vidapublica/conteudo.phtml?id=1524723
        http://www.jfolharegional.com.br/mostra.asp?noticias=19205&Classe=
        http://www.saneamentobasico.com.br/portal/index.php/concessoes/le-monde-a-farsa-das-concessoes-privadas/

        • Verdade. É isso mesmo. Mas o rapaz aí de baixo extrapolou. Não dá para aceitar quando o assunto não guarda relação de “coisa com coisa”. Tem de haver sensatez e coerência.

  4. Mentiras à parte, essa “PORCARIA” de governo do PT é o principal responsável pela crise hídrica nos principais Estados do Sudeste . Essa merda de “aparelhamento petista feito na ANA, que, diga-se de passagem, não foi” parceira” de ninguém, falhou e ficou quietinha … Cadê o monitoramento preventivo? Onde estão os dados? E ninguém noticiou? Agora, não é só S.Paulo; o Rio de Janeiro, acredito, está em situação pior. E nas Minas Gerais? Herança maldita?? Sem comentários… “Maiores informações” com a intocável Rosemary …

  5. Todo este absurdo que ja é sabido, juntamente do ambicioso interesse daqueles que nunca preservaram AS AREAS DE APPs, mas só pensam em tirar proveito das bacias hidrograficas, não lembram que as areas de APPs retornam aos rios
    atravéz dos lençóis freaticos, milhares de metros cubicos de aguas, isto faz manter os mananciais d’aguas, somadas as
    cabeceiras das nascentes aonde continha estas mesmas areas de APPs preservadas. Não precisamos criticar, porque isto tudo que esta sendo visto, já faz parte da natureza do homem, nossa natureza caída faz simplesmente contaminar
    o nosso êgo, contendo o projeto de roubar , matar e destruír, faz levar à exercer os tipos de praticas, juntando todo tipo de corrupção que contamina o coração do homem, por um lado destrói as nascentes daguas, de outro tem roubadores
    contrariando à lei chegando a matar para roubar, o homem vive no mundo da corrupção, alimentado pela ídole do seu animo dobre, vive no engano de seu coração para buscar preencher seu êgo por coisas pereciveis, vive neste engano.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.