
Goulart abriu as relações diplomáticas com a China de Mao
Pedro do Coutto
Leio no Ancelmo Gois, O Globo de hoje, que a diretora Susana Lira vai dirigir um filme sobre João Goulart, suas passagens pela estrada política, suas dúvidas, contradições, acertos e erros, estes últimos que o levaram à queda. O filme terá base no livro de sua mulher Maria Tereza Goulart. A obra literária propõe-se a lançar um olhar sobre aquele personagem que teve ascensão a partir de 1953 e desapareceu na névoa do tempo em 1964. Viveu tempestade em série, tornando-se um fator de grande impacto político.
Principalmente para si, o que me leva a pensar que sua passagem na vida pública talvez estivesse traçada pelo mistério do destino. Conheci. Era um conciliador, entretanto sua presença provocava contradições e dúvidas. Dúvidas até de si próprio.
OLHAR OBLÍQUO – Nas situações mais tensas encarava pouco as pessoas, desviando-se da cena com um olhar oblíquo. No fundo, penso eu, era alguém com vontade de somar, mas faltava-lhe a firmeza para se afirmar.
Luiz Oswaldo Aranha, filho de Oswaldo Aranha, uma figura notável, me contou recentemente que um dia Goulart foi às lágrimas quando ouviu do ex-chanceler a lembrança de que tinha uma trajetória humanista a percorrer. Aranha referiu-se a seu ingresso na vida pública por iniciativa de Getúlio Vargas. Emocionado Jango respondeu que lhe faltavam forças para cumprir o legado.
Foi eleito deputado estadual no Rio Grande do Sul em 1947. Em 1952 Vargas o nomeou Ministro do Trabalho. Em 53 a primeira tempestade.
SALÁRIO DOBRADO – Através de uma portaria. Jango dobrou o salário mínimo de 1200 para 2400 cruzeiros, moeda da época. Errou. O salário mínimo só poderia ser fixado por decreto do presidente da República. Carlos Lacerda, seu principal opositor acusou-o de tramar uma República sindicalista. Em 53, o manifesto dos coronéis encabeçado por Amaury Kruel, derrubou-o da pasta.
Após a morte de Vargas, foi escolhido por JK para disputar a vice-presidência. Naquele tempo, a eleição do vice era separada da eleição para presidente. Mal foi divulgado seu nome outro vendaval, outra crise.
JK e ele tomaram ´posse sustentados pelo então ministro da Guerra, Teixeira Lott.
BRIGA NO SUPREMO – Disputou a reeleição em 60, sua candidatura foi decidida no STF. A UDN impugnou seu nome e seu advogado foi Santiago Dantas. Venceu, porque Santiago sustentou que a Constituição de 1946 dizia que o presidente era inelegível para o mandato seguinte ao seu, mas não falava do vice.
Foi reeleito e embora integrasse a chapa de Lott, na campanha pouco falou sobre ele. Ao contrário, o jingle de Miguel Gustavo só falava em Jango Goulart.
Com a renúncia de Jânio Quadros enfrentou uma onda terrível. Para assumir teve de aceitar uma mistura de presidencialismo com parlamentarismo. Na formação de seu ministério incluiu a própria UDN: Virgílio Távora nos Transportes, Gabriel Passos na Minas e Energia e Afonso Arinos embaixador do Brasil junto a ONU. Moreira Sales na Fazenda, Ulisses Guimarães na Indústria e Comercio, Celso Furtado no Planejamento.
CRISE DESDE 62 – Não resistiu as contradições a partir das eleições de 62. A UDN retirou seus três representantes. No governo, incrivelmente rompeu com o universo econômico, encampando refinarias particUlares e abalou seriamente a disciplina militar, partiu para a subversão com apoio sindical. Ameaçou também o capitalismo rural. O resultado não podia ser pior. O desabamento o conduziu ao exílio. Mas na sua passagem reatou as relações com a então URSS e se relacionou com a China.
Na época foi um maremoto. Hoje tanto a Rússia quanto a China são exaltadas e com elas o Brasil mantém forte relacionamento. O comunismo transformou-se num tigre de papel.
Para os gaúchos, existem dois partidos, o chimangos, (Collor, FHC, Aécio, Temer, Sarney, etc.) E os maragatos, começando por Getúlio, Jango, Brizola, Arraes, e atualmente, Lula, Dilma, Haddad, H Costa e outros. Está nomenclatura define melhor o pensamento e métodos de se fazer política do que nominá-los de direita x esquerda, ou capitalistas x socialistas.
Grande feito de João Goulard, restabeleceu relações com duas ditaduras assassinas. Sem preconceitos, era um imbecil.
Ué?!
Mas quem foi levar dinheiro para a China do Maozinho foi Richard Nixon, conservador cristão norte-americano.
Como pode se dirigir desse modo a um presidente, que não fez mal a ninguém. Mal educado, pulha, sem eira nem beira.
Jango sofreu todo tipo de oposição. Não conseguiu governar, pois até a CIA tramou contra ele.
Greves, desabastecimento, tramas de empresários, panelaços, militares contra ele, e no dia do golpe, em 31 de março de 1964, a Frota americana estava na costa do Espírito Santo, pronta para intervir em apoio aos golpistas, caso Jango resistisse. E Jango se recusou, sob a nobre alegação, de que não queria ver o sangue dos brasileiros jorrar em disputas políticas.
É a esse homem, que você chama de imbecil.
A que ponto nós chegamos.
Falta de cultura, falta de conhecimento, obscurantismo, falta de leitura. O Brasil está regredindo e a caminho do retrocesso.
Jad Bal Ja,
Então Bolsonaro é pior ainda que Jango, na sua imbecilidade:
Se o gaúcho reatou relações com ditaduras assassinas (sic), o atual presidente as mantém conosco através de um comércio de importação e exportação importantes ao nosso equilíbrio econômico.
No mínimo, se Jango foi um imbecil na tua ótica, Bolsonaro é cínico e hipócrita também, pois critica e aponta o comunismo como o nosso mal e inimigo a ser eliminado, mas sabe da importância de regimes totalitários para as nossas relações comerciais.
Coerência seria riscar a China de nossas exportações, e alguns países árabes e africanos.
Por que o Planalto, nesse particular, se mantém condescendente?
Só não me respondas que, amigos são amigos, mas negócios à parte.
Lacerda foi um canalha que a todo o momento atacou a Democracia.
Se fosse hoje, teria sua conta na rede bloqueada e seria algo como aquela Giromini com o seu grupo os 300 de Brasília ( que não passa de 30)
Seria contra ele aplicada a lei de segurança nacional…
Trata-se de uma vergonha, criticar o presidente João Goulart, chamá-lo de imbecil.
Um homem que sempre pautou sua vida, na luta por melhores salários. Era rico, fazendeiro, nunca roubou, nunca lesou o patrimônio público.
Homem afável, cordial e leal com seus correligionários. Queria o melhor para o país.
Não era sindicalista , nem comunista, simplesmente um brasileiro preocupado com a sua gente.
O chefe da Casa Civil era Darcy Ribeiro e o Consultor Geral da República, o jurista Waldir Pires. Um homem que traz para o governo esses dois excepcionais brasileiros, por si só, deveria ser lembrado como um humanista e estadista.
Mas, o conservadorismo radical, não suporta a melhora da qualidade de vida e da cultura do povo. O que querem é a submissão ao poderio dos EUA. Nações não tem amigos, somente interesses comerciais e militares. Estaremos nós, condenados a escravidão e sofrermos sobre o comando dos americanos, como já fomos pelos europeus?
Não podemos nem comerciar com a China, pois Trump não quer. E o que dizem né: incorporamos o espirito de vira lata, sempre atrelados ao dono do momento.
Que coisa obscurantista e odiosa.
Pedro do Couto, você sempre nos brinda com fatos históricos, que os brasileiros mais jovens não conhecem e precisam tomar conhecimento deles, pela sua lavra brilhante.
Estão pensando em acabar com o ensino da História, pois acham que é ensino de comunismo.
O caos na Educação dá nisso. O cara não estuda, não lê, não sabe nada e vem na Internet chamar os outros de imbecil. Daí para pior isso daí viu. Cada vez pior e está chegando ao ponto, que nem choca mais, isso daí. Grotesco.
Dá vontade de quebrar celular, desligar o zap, se recolher ao mundo zen, para não estressar com tanto medievalismo.
Eu tomo conhecimento de fatos históricos – inclusive sobre os citados pelo Pedro Couto – em exposições.
Fui a duas no Instituto Moreira Salles. Fotos, vídeos, jornais… E sobre o que assisti tirei minhas conclusões.As elites sempre atuaram com mesquinhez como agora.
São contra a criação de imposto sobre fortunas. Mas tiveram um salto de patrimônio – só dos super-ricos crescendo US$ 34 bilhões durante a pandemia (matéria do G1)
Já mais dinheiro nas mãos dos pobres, com distribuição de renda a qualquer título que seja, com empregada viajando à Disney – tudo isso são do contra e quem defende é comunista…
Concordo plenamente com você, Sr. Leão da Montanha.
E agora a coisa está ainda pior, pois querem a desoneração total da Folha de Pagamento e o Guedes e o Bolsonaro vão dar. Tens alguma dúvida?
Bom dia, Roberto! É isso aí… nenhuma dúvida
Leão da Montanha. Meu caro, chamar Lacerda de canalha tem o mesmo sentido do cara que chamou Jango de imbecil.
Vamos criticar a postura política, sem entrar na adjetivação pessoal. Lacerda tramou pela derrubada de Getúlio. Mas, o castigo dele veio a cavalo. O regime militar cassou Lacerda e impediu que seu sonho de ser presidente fosse realizado.
Depois fez a autocrítica participando da Frente Ampla pela Democracia, junto com Juscelino e Jango. Foi um momento muito triste da história da nação, todos morreram muito tristes, os três mais importantes políticos das décadas de 50/60.
Não adiantou nada, o país está muito pior, no que tange a Política em todos os sentidos. Não aprendemos nada com o sofrimento da época. A memória do país é muito curta.
Precisamos avançar e não é pouca coisa não, pois o atraso é imenso, até perturbador.
Jango foi o único político a querer romper as barreiras do conservadorismo. Ao tentar iniciar reformas como a agrária, financeira e outras, com o intuito de diminuir as desigualdades, começou a ser atacado por todos os lados. Claro, o mote era a possibilidade de implantação do comunismo, mesmo que Jango fosse um liberal na economia e um patriota.
Talvez o episódio do projeto do aumento do SM em 100% tenha ficado inculcado na mente daqueles que não desejavam a mudança e, assim, conseguiram insuflar parte da população para os protestos surgidos. Isso com o apoio da imprensa e dos militares.
Nunca saberemos como estaríamos hoje, não fora o golpe militar e a ditadura imposta ao país.
Os militares foram lá e aumentaram o soldo deles próprios em 100% depois do Golpe de 64
Jose Vidal … Bom dia.
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Mesmo sendo emedebista dos históricos, me recuso a ser cego kkk KKK kkk
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Em 64 o Brasil era a 48ª economia … e Figueiredo a entregou pelos 10º lugar.
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Porém, o cidadão comum não acompanhou tal subida na escada … e foi ficando nos degraus inferiores.
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Porém, os governos civis também não mudaram tal situação, né???
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Infelizmente, o MDB que era crítico da continuada concentração até hoje não conseguiu impor seu Programa … visto que Sarney herdou a Crise da Direita … que só foi vencida por Itamar, com FHC e o PSDB levando a taça … e Temer herdou a Grande Crise da Esquerda … e começou a vencê-la … porém, o eleitorado deu a taça a Bolsonaro.
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kkk KKK kkk
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Sds.
Caro Lionço,
interessante os teus dados, mas dá uma olhada no gráfico animado deste link, onde são listados os maiores PIBs do mundo desde 1800. Será que está errado?
Também se vê a queda e a reascenção da China e a liderança dos EUA a partir de 1889.
https://www.youtube.com/watch?v=4-2nqd6-ZXg
Também existe o gráfico animado das exportações dos países.
Os dados que passei seriam do Banco Mundial … que não usa a Paridade do poder de compra (PPP).
Nesses gráficos também não é usada a paridade.
É só o amigo ler a explicação embaixo.
…
Este vídeo mostra os 20 principais países com maior PIB de 1800 a 2040, com base no dólar internacional de 2011. Dá uma breve história do mundo desde o século XIX. China e Índia estavam à frente antes do século XX, enquanto os EUA começaram a liderar após o século XX.
Paridade do poder de compra (PPP) é uma teoria econômica neoclássica que afirma que a taxa de câmbio entre dois países é igual à razão do respectivo poder de compra das moedas.
Sim, caro Lionço.
Já tinha visto esse termo. Inclusive o PIB do Brasil é maior, se usado essa metodologia. Segundo a Agência Central de Inteligência (The World Factbook), o PIB oficial do Brasil em 2017 era US 2.055 trilhões, já o PIB por paridade de poder de compra era de US 3.224 trilhões.
OK.
Mas tens razão. O gráfico foi elaborado pelo valor da paridade do poder de compra. Eu tinha dito que não, por isso desculpe.
que isso … o CN gosta deste nosso debate … abs.
Obrigado sr. Nascimento, pelas ponderações, contra os infelizes ataques. Pobre país, Muito triste ver onde o levaram e a pobreza do debate e a falta de estadistas nestes tempos sombrios em que vivemos. Será muito dura a reconstrução.
Quem será o produtor do filme sobre Jango?
A diretora, Suzana Lira, tem currículo suficiente?
Que atores serão escolhidos?
Lembro que um filme é prestigiado e valorizado através do seu comandante e do cast escolhido.
Por mais importante que seja o tema, porém se colocado nas mãos de incompetentes e canastrões, o filme será um fiasco.
Logo, se o roteiro seria de grande interesse do povo brasileiro, que mereça o que temos de melhor no circuito, e com o compromisso tácito de ser absolutamente verdadeiro, sem clichês, sem falsas interpretações de fatos e episódios que marcaram a carreira, a ascensão e queda de Jango, até a sua morte no exílio.
Certamente vídeos da época existem, assim como reportagens e personalidades do mundo político e jornalístico, pois muitos estão entre nós.
Haveria onde pesquisar e mencionar no filme, incluindo os acontecimentos que foram gravados ao vivo.
Se a película sobre Getúlio foi um sucesso, mesmo sendo frágil historicamente, imagino com Jango, havendo muito mais material à disposição, e uma fase que vivíamos das mais instáveis registradas.
Convenhamos, rever a mudança do país em 64 e suas consequências, durante e depois da derrubada de Jango, será um filme não só para se assistir como comprar e tê-lo em casa.
Tomara que saia do papel, e seja realizado esse filme.
Meu caro amigo Bendl.
O cineasta Silvio Tendl lançou há mais de 20 anos, um filme sobre os anos JK e sobre Jango.
O filme que a cineasta Suzana Lura pretende lançar agora, tem como pano de fundo, o livro da primeira dama, Tereza Cristina. Portanto, é a visão da esposa sobre o governo aJango.