Carlos Chagas
Continuou repercutindo no Congresso, ontem, a baixaria de Dilma Rousseff em Belo Horizonte, quando propôs que o eleitor mineiro votasse em Antônio Anastásia, do PSDB, para governador, e nela, do PT, para presidente da República. O senador Heráclito Fortes, do DEM, sustentou estarem os mineiros vacinados contra a traição, desde que Joaquim Silvério dos Reis denunciou os Inconfidentes.
A bancada tucana, no Senado e na Câmara, não perdoou a candidata: o líder Artur Virgílio disse que Dilma caminha célere para a luta armada, como nos tempos em que foi guerrilheira. Sérgio Guerra, presidente do PSDB, afirmou que a ex-chefe da Casa Civil estava se omitindo de comentar as novas acusações de corrupção feitas contra companheiros do PT. O candidato do PMDB e do governo ao palácio da Liberdade, ironizou, mesmo tendo recebido telefonema de desculpas de Dilma: por que não ser formada a dobradinha “Serra para presidente, Hélio Costa para governador”?
Coube ao governador Antônio Anastásia, por coincidência em Brasília, reagir com firmeza e educação, acentuando que a sugestão de Dilma não encontra amparo na realidade, pois os tucanos mineiros estão fechados com a candidatura de José Serra. O ex-governador Aécio Neves guardou sua resposta para o discurso que fará hoje na convenção do partido destinada a formalizar a candidatura de Serra.
Faça o que eu digo, não o que eu faço
O importante nessa trapalhada da candidata ficou por conta do presidente Lula, que conforme assessores, não gostou nem um pouco e recomendou a Dilma para evitar comentários de improviso…
Por irônico que pareça, no mesmo dia o primeiro-companheiro dedicava-se uma vez mais a essa prática perigosa, com as consequências de sempre. Diante de denúncias do Tribunal de Contas da União, de que a Bahia recebeu 60% das verbas destinadas a enfrentar catástrofes, enquanto o Rio, menos de 1%, o presidente não se conteve e salientou: “Muita gente aproveita o recente desastre para fazer joguinho político pequeno”.
Horas depois, outra preciosidade do Lula: “Não podemos ficar subordinados ao que um juiz diz que podemos ou não fazer”.
Coincidência ou não, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, comentava com jornalistas, por conta de o presidente Lula haver ridicularizado as multas recebidas da Justiça Eleitoral: “Não se pode brincar com a Justiça. Violar a Constituição é crime de responsabilidade. Governadores já tiveram o mandato cassado por propaganda eleitoral antecipada e uso da máquina pública nas eleições.”
Assim caminha a sucessão presidencial. Não vai dar certo.
As mesmas denúncias
Mais uma vez o senador Mozarildo Cavalcanti denuncia estarem paralisadas as obras de asfaltamento da rodovia Manaus-Porto Velho, por obstrução do Ibama. Aquela seria a única forma de a capital do Amazonas não ficar isolada por terra, já que a estrada sem asfalto não funciona na maior parte do ano. Ainda mais, a rodovia significaria amplo desenvolvimento para Rondônia.
O singular nessa história está em que Mozarildo não representa nem o Amazonas nem Rondônia, pois é senador por Roraima, lá em cima. Mas nem por isso deixa de preocupar-se com a região.
Aliás, Rondônia parece predestinada à retaliação pelo governo federal. Dias atrás o ainda ministro Reinhold Stephanes, da Agricultura, estrilava pelo fechamento, também pelo Ibama, da única jazida de calcáreo no estado, fundamental para a preparação da terra agricultável. Por que? Porque numa das cavernas de onde o material era retirado, uma espécie especial de morcegos estava deixando de reproduzir-se, dado o barulho das escavadeiras. Quer dizer, a falta de tesão dos morcegos também paralisa a Amazônia.
Festa no ninho
Espera-se do candidato José Serra, hoje, um pronunciamento denso e concreto a respeito do que pretende realizar, se eleito presidente da República. A formalização de sua candidatura acontecerá em Brasília, reunindo perto de duas mil pessoas, com direito a outros discursos. Falarão os presidentes do PSDB, do DEM e do PPS, além do ex-presidente Fernando Henrique.
Serra, comentava-se ontem, não cairá na arapuca do PT, que pretende levar a campanha para uma comparação entre os governos do Lula e do sociólogo. Mais importante do que discutir o passado será programar o futuro. Mesmo que Fernando Henrique fique agastado. Como foi incluído na lista dos oradores, ele que se defenda…