Carlos Chagas
Em seu programa de rádio, ontem, o presidente Lula foi à estratosfera, mesmo acompanhado pela maioria da opinião pública nacional. Estrilou mais uma vez diante dos países ricos, anunciando que o Brasil apresentará nas Nações Unidas, em dezembro, um plano destinado a leva-los a pagar pelo estrago ecológico há muito feito no planeta. Citou os Estados Unidos, que há 200 anos iniciaram a revolução industrial devastando suas florestas e começando a poluir a atmosfera. Devem, os americanos, reflorestar seu país ou pagar àqueles que ainda possuem matas em grande extensão.
Vão rir de nós, quando formalizarmos essa proposta. Não há força humana capaz de obrigar o mundo a reparar o passado. Até porque, se essa história pegar, logo haverá quem pretenda ver Israel indenizando os cristãos, já que os judeus crucificaram Jesus, ou a Mongólia vendendo suas parcas riquezas, por conta da devastação feita por Gengis Khan.
O Lula anunciou para breve a redução de 80% no desmatamento entre nós e formulou com lógica a necessidade de recebermos compensações financeiras pela preservação das florestas. Convenhamos, porém: só obterá resultados quando o Sargento Garcia prender o Zorro…
Ver para crer
Acompanhado da ministra Dilma Rousseff o presidente Lula inicia, amanhã, demorado périplo pelas obras de transposição do rio São Francisco. Está otimista, anuncia para 2010 a inauguração da primeira etapa do projeto e para 2012 a sua conclusão. Tomara que dê certo, caso o Ibama e os ecologistas não criem novos obstáculos.
Paraíso perdido
Conquista praticamente ímpar na história da República, o ministro Celso Amorim conseguiu concentrar no Itamaraty a totalidade dos embaixadores do Brasil no exterior. Não há um só de nossos representantes escolhido fora da carreira diplomática. Deixando para outro dia discutir se essa reserva de mercado beneficia ou prejudica nossa imagem lá fora, vale registrar que parece em vias de ser alterada. Trará novas concepções o próximo presidente da Republica, seja José Serra, Dilma Rousseff, Ciro Gomes ou Marina Silva.
A presença do Marco Aurélio Garcia como “chanceler do B”, no palácio do Planalto, já desarruma bastante a pureza das intenções de Amorim, mas pior ficará a situação no próximo governo.
O próprio assessor especial para assuntos internacionais do presidente Lula acaba de ser designado coordenador do plano de governo de Dilma Rousseff. Trata-se da evidência de que se a candidata for eleita, integrará o ministério. Onde, se depender dele?
Com José Serra, coisa um pouco diferente, já que os embaixadores aposentados Rubem Barbosa e Sérgio Amaral são os mais cotados para as Relações Exteriores. Mas para não ser incomodado, caso vencedor, o governador paulista precisará acomodar o ex-presidente Fernando Henrique. Não como ministro, que o ego do sociólogo rejeitaria, mas como eminência parda da nossa diplomacia, ele que nomeou muitos embaixadores fora da carreira.