Carlos Chagas
Até um calouro da Faculdade de Direito concluirá que o presidente da República e a chefe da Casa Civil fizeram campanha eleitoral antes do período autorizado por lei.
Importa menos verificar que o IV Congresso do PT foi um sucesso. Quatro mil militantes excitados, centenas de bandeiras vermelhas agitadas por horas seguidas, slogans apropriados, excelente estratégia de marketing, presença de partidos aliados, discursos entusiasmados – tudo isso e muito mais serviu para recuperar a imagem até então desgastada do partido.
O problema é que o Lula pediu votos para Dilma. Chegou a declarar que elege-la é das coisas mais importantes de seu governo. E a candidata não se fez de rogada: expôs planos de ação futura, como mais verbas e melhor gestão na Saúde e na Educação, além da manutenção do equilíbrio fiscal, do cambial flutuante, do combate à inflação e da política de juros. Sem esquecer a necessidade de um estado forte.
É claro que a legislação eleitoral mostra-se ultrapassada e até farisaica, porque um presidente da República, afinal, é um cidadão como qualquer outro, com direito a exprimir com liberdade o seu pensamento. O diabo está na fixação de prazos pela lei, especialmente para Dilma, que continua na chefia da Casa Civil.
Por quatro vezes, recentemente, o PSDB e o DEM entraram no Tribunal Superior Eleitoral com representação contra o presidente e a candidata, por praticarem antecipação de campanha em viagens pelo país, inaugurando obras do PAC. Foram todas rejeitadas sob a alegação de que a máquina administrativa pública não poderia sofrer constrangimentos. Só que agora foi diferente. Por isso mesmo é que as convenções partidárias destinadas a lançar candidatos estão marcadas para junho, já dentro do período eleitoral.
Parece certo que novo protesto venha a ser impetrado esta semana pelas oposições. Só por milagre a denúncia seria politicamente aceita, ainda que juridicamente correta. Não engana ninguém o eufemismo de que não foi lançada uma candidatura, mas uma pré-candidatura. Não há diferença. Mesmo assim, haverá que registrar o fato: o presidente Lula e a ministra Dilma Rousseff atropelaram a lei.
No Reino da Fantasia
No IV Congresso, o PT reafirmou propostas como a criação do imposto sobre grandes fortunas, a reforma agrária cirúrgica, a semana de trabalho de 40 horas, o fim do monopólio nos meios de comunicação, a participação dos empregados no lucro das empresas, a co-gestão e outras de igual quilate ideológico.
Dilma Rousseff, de seu turno, sustentou a manutenção do equilíbrio fiscal, do câmbio flutuante, da política de juros e do combate à inflação. A maior concessão que fez foi a da preservação de um estado forte, com ênfase para maiores investimentos na saúde e na educação públicas.
Dá para conciliar? Só se for no reino da fantasia, onde o PT se encontra desde 2002 e onde deverá permanecer na hipótese da vitória da candidata. As teses revolucionárias só ganharão corpo diante da eleição de José Serra. Aliás, capaz de incorporá-las todas.
Nos últimos sete anos os companheiros pouco se preocuparam com o programa agora ressuscitado. Preferiram ocupar-se no preenchimento dos 36 mil cargos em comissão da administração federal, na disputa pelas diretorias de empresas estatais e na ampliação de montes de ONGs sustentadas com dinheiro do governo. Com Dilma Rousseff no lugar do Lula, nada vai mudar.
Ausência inexplicável
Ainda sobre o Congresso do PT, um registro que poucos entenderam, ainda que muitos estranhassem: porque Henrique Meirelles faltou? Estaria viajando para alguma reunião de presidentes de Bancos Centrais? Andaria pelo interior de Goiás, explicando porque desistiu de candidatar-se ao governo do estado? Ou pretendeu não encontrar-se com Michel Temer, que o presidente Lula e Dilma Rousseff precisaram agradar para que comparecesse?
Só a primeira parte é verdadeira
Corre em Brasília que, feito ministro, viajando com o presidente Lula pelo país e até o exterior, Edison Lobão preocupou-se com a má qualidade dos vinhos servidos a bordo do Aerolula. Conhecedor de longa data da bebida dos deuses e ciente da deficiência do paladar de oficiais da Aeronáutica e de funcionários da Receita Federal, encarregados de suprir a mini-adega da aeronave, Lobão passou a levar vinhos de primeira linha nas viagens, oferecidos às comitivas.
Indagado esta semana sobre a veracidade da historinha, o ministro de Minas e Energia logo rebateu: “só a primeira parte é verdadeira”