Mal da dúvida

Luiz Tito

Os empresários da indústria estão roucos de gritar que não é possível mudar o cenário de produção no Brasil em função dos custos que a tributação e as leis trabalhistas anotam nas suas planilhas. Qualquer produto industrial brasileiro arranca com um custo 32% maior do que aqueles produzidos no mundo (e não apenas na China). É certo e provado. Essa condenação é resultado da opção pelo câmbio defasado e por uma carga tributária estúpida, que é consumida pela ineficiência do Estado para pagar gastos públicos que crescem cada vez mais sem controle.

Acresce-se a isso o fato de que o Estado brasileiro, além de gastar muito, o faz sem qualidade, legislação trabalhista, que protege excessivamente e não promove mudanças no perfil da força de trabalho, câmbio desatualizado e impróprio para a exportação industrial e o crédito caro, já que o governo desse recurso se vale para conter a inflação. Às críticas responde em coro o governo Dilma que o Brasil esteve nos últimos tempos e brevemente voltará ao grupo dos cinco países do mundo mais bem avaliados e preferidos pelos investidores internacionais.

Embora parcialmente verdadeira, essa afirmação encobre a realidade de que o investimento externo no Brasil não conseguiu mudar nossos atrasos, porque não foi usado para aplacar a insuficiência de nossa infraestrutura de transportes, que gera entraves ao escoamento da produção ou a onera excessivamente com os custos de circulação, de esperas, da burocracia dos portos e morosidade de seus processos.

Também não melhorou os custos de energia, não aumentou a produção de petróleo, não manteve aqui, para ser industrializada, nossa produção na mineração, na agricultura e na pecuária.

FANTASIAS

Para pagar seus gastos, a União, os Estados e municípios continuam sacrificando investimentos essenciais ao processo de mudanças necessárias, pela incapacidade de se ajustar a agenda de produtividade às medidas que os governos privilegiam para cumprir seus compromissos políticos, promovendo o acesso das classes menos favorecidas, contingente engrossado pela classe média às fantasias de desenvolvimento.

Fantasias porque o incentivo desmedido ao consumo não caminhou com melhorias na educação, na saúde, na qualidade da moradia e sobretudo na segurança. Ao contrário, esses segmentos foram sufocados pelo baixo investimento dos governos, fazendo com que a sociedade siga retirando de suas reservas os recursos para cobrir o que deveria ser obrigação original do Estado. Exemplo é o crescimento dos planos de saúde, da rede particular de ensino em todos os níveis e das empresas de segurança privada. Nesses setores, há um sucateamento público de difícil reconstrução, ainda que a população se inquiete sempre, muitas vezes da forma mais violenta e sem caminho de volta.

A sustentabilidade da economia suportada exclusivamente pelo mercado interno chegou ao final, por flagrante saturação. Os números do comércio assim demonstram. Se não ocorrerem mudanças nas prioridades de nossos governantes e projetos corajosos por parte dos que se apresentam em nome de novos compromissos, esses próximos dois anos serão catastróficos.
Sem investimentos públicos e privados, nada mudará.

Para haver investimentos privados, nacionais ou vindos do exterior, o empresário quer segurança, certeza jurídica nas relações e tributos pagáveis. Hoje só temos a dúvida. (transcrito de O Tempo)

One thought on “Mal da dúvida

  1. Além disso faltou ao articulista considerar:
    a) ” Um sistema educacional que não qualifica os egresso para os desafios futuros do País.”

    Estamos formando, no terceiro nível, um contingente de pessoas sem preparo.
    O drama vivido pelos alunos dessas duas universidades fechadas nessa semana pelo MEC, se este Ministério for verificar o nível e qualificação dos egressos que jogam no mercado , se repetiria em tsunami!
    Aluno é tratado como cliente e não mais como discente.
    Não temos solução a longo prazo!
    Antonio

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