No caminho do homem até as eleições, há uma trajetória realmente engrandecedora

Galeria | LaitosAugusto Tomazini

Uma arqueologia da cultura traz dificuldades metodológicas inerentes ao seu objeto. Por mais evidências materiais que existam, ainda teremos várias lacunas a completar. Reminiscências de bens intangíveis altamente elaborados, cujos métodos ou ritos nos resta intuir com os sofisticados métodos de dedução e insistente primazia ao empírico, sempre ao sabor de dúvidas rondadas por um permanente ceticismo.

A primeira armadilha é projetarmos nossas fantasias, conscientes ou inconscientes, nos rastros deixados por seres humanos antigos que apesar de terem vivido no mesmo planeta, habitaram outro mundo.

ANTES DA ESCRITA – O filósoforomeno Mircea Eliade, naturalizado americano, fala na “opacidade de documentos pré-históricos” ao se referir às evidências anteriores à escrita: ossadas, sobretudo crânios, ferramentas, pigmentos e objetos trabalhados, eventualmente tecidos.

O comportamento, os sons, emoções, regras etc. se desvanecem no ar e só retornam ao sabor da ritualística da cultura a qual pertencem. 

O estudo dos arquétipos e da história comparada das religiões nos oferece um ponto de apoio para possíveis deduções. As interpretações devem ser amparadas pelo rastro da atividade humana encontrada, pelas condições geográficas e temporais, conforme datação por elementos radioativos, além de condições inferidas pela ciência do paleoclima. E surgem as interconexões históricas e geográficas… a mistura e sucessões de mundos, até que a escrita toma destaque e compete com as tradições orais.

EXEMPLO DAS RODOVIAS – Muitas de nossas rodovias estão superpostas a caminhos sagrados que populações nômades e seminômades utilizaram há séculos e milênios; em geral caminhos “naturais”, que em decorrência de recursos vitais já eram percorridos por grandes mamíferos antes da chegada dos primeiros hominídeos.

Pode ser vista em todos os continentes a continuidade de lugares sagrados e ritos que persistem mesmo após a invasão por outros povos ou mesmo por transformações menos violentas.

O edifício espiritual do paleolítico e do neolítico pode ser visto na cultura atual. Há algumas metamorfoses e uma nova roupagem, é claro. Assim como debaixo do sol não há nada de novo, também tudo se transforma…

E AS ELEIÇÕES? – Enquanto a sucessão de instantes nos faz pôr em dúvida a permanência das coisas, as repetições e semelhanças nos despertam para alguma forma de metafísica. Lembro das eleições que se repetem periodicamente desde 1989, desprezadas por autoritários, por anarquistas e por inimigos das “eleições burguesas” plutocratas.

Mesmo ainda tuteladas por instituições que devem proteger nosso povo, nosso território e nossa constituição, as eleições despertam o homem livre que há em nós, com a sociedade civil resiliente às ameaças internas e externas. Nossas instituições resistiram ao que há de pior e estão a evoluir para melhor, o Brasil precisa disso.

Esses atuais anos 20 mostram o capitalismo em suas formas mais cruas e duras, o que não é inédito na história da Humanidade. Poucos séculos atrás companhias privadas desafiavam potências estatais e travavam guerra em pé de igualdade.

RITO DE UNIÃO – A eleição é nosso rito de união, mesmo no confronto; todos sabem que de lá sairão decisões importantes para a vida de cada um de nós. Uma lei não escrita estabelece que as decisões coletivas possuem proeminência, salvo em desafio ao direito natural.

Pagamos impostos de toda forma, muito do IPI, ISS ou ICMS possui marcas de suor de todos os componentes da empresa/indústria, com o suor do salário ou do serviço prestado por trabalhadores de todo tipo. Essa riqueza serve para a garantia de eleições limpas, livres do poder econômico, político ou fraudulento; garantia de liberdade e autodeterminação dos brasileiros.

Por fim, o uso do dinheiro público é assunto sagrado. Passada a crise sanitária, não importa quem vença a eleição, o assunto dos contratos de dívida pública precisam ser objetos de discussão pública e os limites pétreos do orçamento de seguridade social têm de ser defendidos.

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