Carlos Chagas
Nove são os candidatos à presidência da República. Outros nove vão acompanhá-los como penduricalhos, indicados para a vice-presidência, mas excluídos da votação individual desde a Constituição de 1967. Porque na República Velha, exceção da eleição de Floriano Peixoto, isolada de Deodoro da Fonseca, ambas pela Assembléia Constituinte de 1893, os vices eram indicados junto com os candidatos a presidente, inexistentes as votações em separado.
Getúlio Vargas, desde 1930 presidente provisório, depois presidente constitucional e por fim ditador, teve a cautela de não dispor de vice-presidentes.
Foi com a Constituição de 1946 que se estabeleceu a votação individualizada para presidente e vice, em duas cédulas distintas, ainda que o substituto do marechal Eurico Dutra, Nereu Ramos, tivesse sido votado pelo Congresso.
Getúlio elegeu-se pelo voto popular em 1950, seu companheiro de chapa foi Café Filho, eleito separadamente.Depois Juscelino Kubitschek, que em 1955 aceitou João Goulart para vice, também com votações distintas, elegendo-se ambos.Em 1960 Jânio Quadros teve como companheiro Milton Campos, do seu grupo político, mas por baixo do pano mandou votar em João Goulart, que venceu como adversário.
Com o golpe militar de 1964 o marechal Castello Branco foi eleito pelo Congresso, junto com José Maria Alckmin para vice. Pelo mesmo processo o marechal Costa e Silva teve como substituto, que aliás não pôde substituí-lo, o deputado Pedro Aleixo. Com o general Garrastazu Médici baniram-se os civis da vice-presidência, pela indicação conjunta, também indireta, do almirante Augusto Rademaker. O general Ernesto Geisel, novo presidente, voltou a ser votado pelo Congresso tendo o general Adalberto Pereira dos Santos de vice.
O último dos generais-presidentes, João Figueiredo, voltou à prática de contar com um vice civil, Aureliano Chaves.
Instalada a Nova República, Tancredo Neves, mesmo escolhido por um Colégio Eleitoral, viu mantida a regra do vice sem voto, apenas indicado: no caso, José Sarney.
Restabelecidas as eleições diretas em 1989, nem por isso voltou-se a votar isoladamente para vice-presidente. Fernando Collor elegeu-se com Itamar Franco a tiracolo. Depois, duas vezes Fernando Henrique Cardoso, acompanhado de Marco Maciel, e agora, também em dois mandatos, Luiz Inácio Lula da Silva e José Alencar.
Porque entupimos a paciência do leitor com tantas situações inusitadas e tantos nomes ilustres? Para concluir, com todo o respeito, que no Brasil o dia seguinte sempre consegue ficar um pouquinho pior do que a véspera.
Menos por continuarmos a votar apenas nos candidatos a presidente da República, sem escolher os vices, mais por demonstrar a História que até agora os indicados para a vice-presidência eram políticos ou militares de expressão, conhecidos nacionalmente, felizes ou infelizes em suas trajetórias na vida pública.
Pois em outubro, exceção do companheiro de chapa de Dilma Roussseff, o presidente da Câmara, Michel Temer, de experiência política reconhecida, estão indicados à vice-presidência ilustríssimos e obscuros desconhecidos que a Providência Divina fará o favor de jamais permitir cheguem à chefia do governo, por algum inusitado da vida ou descuido do eleitorado.
Vale citá-los com o desafio correspondente à memória do eleitor comum e à paciência de todos nós:
Índio da Costa, vice de José Serra; Guilherme Leal, vice de Marina Silva; Hamilton Assis, vice de Plínio de Arruda Sampaio; Claudio Durans, vice de José Maria Almeida; Edmilson da Costa, vice de Ivan Pinheiro; Edison Dorta, vice de Rui Pimenta;J osé Paulo Silva Neto, vice de José Maria Eymaiel; e Luis Eduardo Duarte, vice de Victor Fidelix.
Não dá para resistir à tentação de observar que tão obscuros e desconhecidos quanto os vices são também pelo menos cinco dos candidatos a presidente da República. Como vivemos numa democracia, melhor assim do que não ter eleições…