Com o caso da atriz pornô, começam os julgamentos de DonaldTrump

Promotoria de NY afirma que Trump maquiou o pagamento

Pedro do Coutto

Nesta segunda-feira, nos Estados Unidos, começou o julgamento do ex-presidente Donald Trump pelo Tribunal de Nova York por acusação de suborno a uma atriz do cinema pornográfico para que não revelasse o relacionamento íntimo que mantiveram.

Trump será o primeiro ex-presidente da história americana a enfrentar a justiça criminal. O republicano foi intimado a comparecer a uma audiência para responder um processo sobre o pagamento de US$ 130 mil à ex-atriz pornô Stormy Daniels, a fim de comprar o silêncio dela sobre um relacionamento extraconjugal e proteger a campanha eleitoral de 2016, quando venceu a democrata Hillary Clinton.

ACUSAÇÃO – O empresário não foi acusado pelo pagamento em si, mas por disfarçá-lo como despesas legais da Organização Trump, o que pode resultar em uma pena de até quatro anos de prisão. Trump é acusado de 34 falsificações de documentos contábeis da Organização Trump para camuflar como “despesas legais” os pagamentos feitos a Stormy Daniels, que foram adiantados com dinheiro do então advogado e homem de confiança do ex-presidente, Michael Cohen.

O que impressiona na questão é que esse processo é mais um entre muitos que Trump responde por uma série de infrações que bateriam de frente com a legislação americana. Nova York é um tribunal mais duro para Trump e ele tenta sair-se bem do episódio, mas dezenas de outras ações o aguardam e que podem atrapalhar a sua campanha nas eleições de novembro.

LEGISLAÇÃO – A pergunta que se faz é se ele ficará inelegível ou não se for condenado pela Corte de NY. A legislação americana não prevê especificamente casos de inelegibilidade, mas isso não significa que alguém possa sair ileso de um processo muito ruim para poder livremente disputar a Presidência do país. Não faz sentido.

Os direitos não podem se confundir. Caso contrário, não haveria diferença entre candidaturas. A não existência de legislação específica não significa imunidade total para quem infringe pontos legais numa situação inédita na história dos Estados Unidos, de forma que mesmo que seja condenado pela justiça de Nova York, Trump poderá realizar a sua campanha livremente.

Uma contradição se coloca. Se alguém sem processo algum ou sem responder à justiça pode ser candidato, é difícil achar que um candidato que age de forma contrária, infringindo leis e a ética do país, possa transitar livremente à sua disposição para enfrentar as urnas. É importante considerar o abalo que poderá alcançar tanto para a democracia americana quanto para a ética.

Supremo em clima de alta tensão, com Barroso enfrentando Moraes e Gilmar

Deltan Dallagnol: O STF elegeu Lula

Moraes e Gilmar estão unidos para enfraquecer Barroso

Matheus Teixeira e Julia Chaib
Folha

O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Luís Roberto Barroso, se indispôs com os ministros Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes em julgamentos nos últimos meses e colocou em risco seu poder de articulação no tribunal na posição de chefe da corte.

Barroso derrotou Moraes e viu suas teses saírem vitoriosas em ações sobre a chamada revisão da vida toda do cálculo de aposentadorias e outra relativa a sobras eleitorais que poderia levar à troca de sete deputados na Câmara dos Deputados.

Já Gilmar ficou irritado com após a interrupção da análise de ampliação do foro especial na corte, tese defendida pelo decano. Barroso paralisou o julgamento ao pedir vista (mais tempo para análise) quando já havia quatro votos a favor. O caso agora está parado por pedido de André Mendonça.

SOBRAS ELEITORAIS – No tema das sobras eleitorais, Barroso e Moraes se desentenderam e protagonizaram no plenário um diálogo ríspido. Depois, longe das câmeras, o clima esquentou ainda mais e o bate-boca prosseguiu.

Ministros relataram à Folha sob reserva que a irritação de Moraes ficou maior porque Barroso teria articulado nos bastidores a mudança de posição do ministro Luiz Fux, que foi decisiva para o resultado do julgamento –o placar acabou em 6 a 5.

Menos de um mês depois, o presidente do Supremo articulou outro revés ao colega. Em 2022, Moraes apresentou uma tese, que saiu vencedora, para autorizar a revisão mais benéfica para incluir salários antigos, pagos em outras moedas, no cálculo das aposentadorias.

Neste ano, diante da mudança de composição do tribunal, o presidente pautou no plenário um recurso à decisão do ano retrasado e reverteu a regra que havia sido determinada sobre o tema. A mudança de entendimento alivia as contas do governo federal, que via na revisão o potencial de impacto de R$ 480 bilhões.

CONSEQUÊNCIA – As duas derrotas impostas a Moraes já tiveram uma consequência. Barroso pediu vista (mais tempo para analisar o processo) no julgamento sobre ampliação do foro especial em 29 de março.

Já havia quatro votos para mudar a regra atual, formulada por Barroso em 2018 e representou uma das principais marcas de sua atuação no Supremo desde que tomou posse na corte, em 2013.

Pela praxe, quando há pedido de vista, os integrantes do tribunal que ainda não haviam votado aguardam a retomada da análise do tema para anunciarem sua posição. Nesse caso, porém, Moraes atropelou o colega e antecipou seu voto para se alinhar a Gilmar e ampliar as hipóteses de investigações perante o STF contra autoridades.

ELOGIO A TEMES – Além disso, discurso de Moraes em um evento de homenagem ao ex-presidente Michel Temer, que o indicou para a corte, também foi interpretado como recados do ministro ao presidente da corte.

“Todas as injustiças dolosas que fizeram contra o seu governo não foram capazes de apagar as marcas, as reformas que foram aprovadas”, disse.

Barroso foi o relator de inquérito contra Temer quando ele era chefe do Executivo e deu duras decisões contra o então presidente em apurações sob suspeita de esquema ilegal no Porto de Santos, inclusive determinando a prisão de aliados do emedebista, em 2018. Em uma ordem judicial, afirmou que havia no caso “possível cometimento de crimes como corrupção, lavagem de dinheiro e associação criminosa/organização criminosa a eles correlatos”.

GILMAR IRRITADO – Foi também o julgamento do foro que suscitou a irritação de Gilmar com o presidente da corte. O magistrado, que é o decano da corte, não gostou do fato de Barroso ter interrompido a apreciação da matéria quando já havia quatro votos e se desenhava a formação de maioria.

O decano fez críticas ao colega nos bastidores. Ao final, no entanto, o presidente do tribunal não demorou a devolver o caso e ainda se alinhou a Gilmar em sua tese.

Em 2018, o STF decidiu que, em casos de autoridades com foro, apenas crimes cometidos durante o mandato e relacionados ao exercício do posto deveriam tramitar na corte. Agora, Gilmar propôs a ampliação da regra para determinar que a prerrogativa de foro para “crimes praticados no cargo e em razão das funções subsiste mesmo após o afastamento do cargo, ainda que o inquérito ou a ação penal sejam iniciados depois de cessado seu exercício”. Barroso acompanhou por entender “adequado definir a estabilização do foro, mesmo após a cessação das funções”.

RISCO PARA BARROSO – Nos bastidores, a avaliação é que é um risco para Barroso se desentender com os dois colegas por se tratar, atualmente, dos membros do tribunal mais influentes dentro da corte e também na relação com os outros Poderes.

Ambos foram decisivos, por exemplo, nas escolhas pelo presidente Lula (PT) de Flávio Dino para o STF e de Paulo Gonet na PGR (Procuradoria-Geral da República).

A atuação dos dois é criticada por outros ministros em conversas reservadas por haver uma avaliação de que, às vezes, eles extrapolam suas atribuições jurisdicionais para influenciar o mundo político e fazer valer suas vontades dentro do tribunal.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG –
O choque de opiniões, no Supremo e em qualquer colegiado, é salutar. No momento, Moraes e Gilmar (não necessariamente nesta ordem) fazem o que bem entendem e se acham o máximo. Do jeito que está não pode continuar. Não é recomendável aceitar ditadura de nenhum poder, pois os três precisam ser harmônicos, como ensinava Montesquieu. A briga é boa, vamos comprar pipocas. (C.N.)

Um desesperada canção de amor, na poesia de J.G. de Araújo Jorge

Poesias de JG de Araújo Jorge, página 7. Coletânea.

Araújo Jorge, um poeta romântico

Paulo Peres
Poemas & Canções

O advogado, político e poeta acreano José Guilherme de Araujo Jorge (1914-1987) ou, simplesmente, J. G. de Araújo Jorge, foi conhecido como o Poeta do Povo e da Mocidade, pela sua mensagem social e política e por sua obra romântica mas, às vezes, dramática, como no poema “Canção do meu abandono”.

CANÇÃO DO MEU ABANDONO
J. G. de Araújo Jorge

Não, depois de te amar não posso amar ninguém!
Que importa se as ruas estão cheias de mulheres
esbanjando beleza e promessa
ao alcance da mão?
Se tu já não me queres
é funda e sem remédio a minha solidão.

Era tão fácil ser feliz quando tu estavas comigo!
Quantas vezes, sem motivo nenhum, ouvi o teu sorriso
rindo feliz, como um guiso
em tua boca?

E todo momento
mesmo sem te beijar eu estava te beijando:
com as mãos, com os olhos, com os pensamentos,
numa ansiedade louca!

Nossos olhos, meu Deus! nossos olhos, os meus
nos teus,
os teus
nos meus,
se misturavam confundindo as cores
ansiosos como olhos
que se diziam adeus…

Não era adeus, no entanto, o que estava em teus olhos
e nos meus,
era êxtase, ventura, infinito langor,
era uma estranha, uma esquisita, uma ansiosa mistura
de ternura com ternura
no mesmo olhar de amor!

Ainda ontem, cada instante era uma nova espera…
Deslumbramento, alegria exuberante
e sem limite…

E de repente,
de repente eu me sinto triste como um velho muro
cheio de hera
embora a luz do sol num delírio palpite!

Não, depois de te amar não posso amar ninguém!

Podia até morrer, se já não há belezas ignoradas
quando inteira te despi,
nem de alegrias incalculadas
depois que te senti…

Depois de te amar assim, como um deus, como um louco,
nada me bastará, e se tudo é tão pouco…
… eu devia morrer…

Politização dos casos Brazão e Musk ofusca discussão sobre erros do STF

Tribuna da Internet | Supremo precisa de autocrítica, para evitar novos conflitos de competência

Charge do Bessinha (Conversa Afinda)

Renata Galf
Folha

Episódios recentes envolvendo o STF (Supremo Tribunal Federal), como a prisão preventiva do deputado federal Chiquinho Brazão e a inclusão do dono do X, Elon Musk, no inquérito das milícias digitais suscitam importantes questionamentos jurídicos, que têm, entretanto, ficado em segundo plano, ofuscados pelo embate político levantado por grupos à direita e à esquerda.

Brazão (ex-União Brasil-RJ) foi preso em março por ordem do ministro do STF Alexandre de Moraes sob suspeita de ser um dos mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ). Os magistrados da Primeira Turma da corte já haviam ratificado a ordem do ministro e, na última quarta-feira (10), por 277 a 129 votos, a Câmara aprovou a manutenção da prisão.

MAU PRECEDENTE – No debate político, de um lado a direita disse temer a criação de um precedente que pudesse ser usado no futuro e queria, com eventual soltura do parlamentar, mandar um recado ao Supremo. De outro, parlamentares da esquerda defenderam que Brazão seguisse preso, clamando por justiça e contra a impunidade.

A decisão do ministro Alexandre de Moraes tem paralelos com a prisão do senador Delcídio do Amaral (então no PT-MS), ordenada em 2015 pelo então ministro do Supremo Teori Zavascki no contexto da — àquela altura ainda aclamada — Operação Lava Jato.

Apesar das diferenças entre os dois casos, ambas as detenções levantam o debate sobre como o STF interpreta a Constituição, que diz que os membros do Congresso Nacional “não poderão ser presos, salvo em flagrante de crime inafiançável”.

CASO MUSK – Também quanto à inclusão de Elon Musk como investigado no inquérito no STF, a discussão ficou restrita à polarização política. Assim como em outros casos em que tomou decisões controversas, neste episódio o ministro Moraes não foi alvo de críticas da esquerda.

Na direita, por outro lado, o empresário que disse que descumpriria decisões judiciais brasileiras foi aclamado e tratado como herói. Em postagens no X, Musk também chegou a questionar Moraes quanto ao porquê de “tanta censura no Brasil” e defendeu o impeachment do ministro.

Em paralelo, ministros do STF voltaram a se manifestar fora dos autos, inclusive para posicionamentos sobre regulamentação das redes sociais. Ficaram sem serem debatidas a instauração de mais um inquérito de ofício e sua distribuição sem sorteio para a relatoria de Moraes, que é juiz e vítima.

ATO IMPENSADO – Tatiana Badaró, advogada criminalista e doutora em direito pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), considera que seria preciso um conjunto de elementos para além daqueles tuítes para uma medida grave como a abertura de um inquérito.

Juliana Cesario Alvim, professora de direito da UFMG e da Central European University, avalia de modo geral que, ao passo que a corte construiu uma espécie de jurisprudência de emergência para lidar com ameaças à democracia, é preciso estabelecer certos limites.

“É importante que isso seja demarcado. O que é o excepcional? E o que é o excepcional que corre risco de virar cotidiano?”, questiona.

SEM JUSTIFICATIVA – O professor de direito da USP (Universidade de São Paulo) Rafael Mafei vê uma instrumentalização da pauta da liberdade de expressão por parte de Musk e ressalta que o empresário não pode descumprir decisões tampouco ameaçar pessoas. Ele não vê, no entanto, que nos posts de Musk já haveria elementos justificando relevância criminal.

Já no caso da prisão do deputado, Mafei entende que, ainda que seja possível debater a argumentação jurídica do caso, a análise da Câmara quanto a prisão é o aspecto mais importante a ser respeitado e que ele carrega uma dimensão política.

Parte dos deputados defendia a soltura de Brazão, sob o argumento de que Moraes tem violado prerrogativas de parlamentares.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
O fato inquestionável é a insegurança jurídica, com aberrações como o inquérito do fim do mundo, aquele que investiga tudo e não acaba nunca, a joia da coroa na extravagante produção jurídica de Moraes. (C.N.)

Chegou a hora de parar Moraes, antes que leve ao ridículo a democracia brasileira

Amin Khader pede para não ser confundido com Moraes | Entretenimento | Pleno.News

Ilustração reproduzida do Arquivo Google

Carlos Newton

Imprensa amestrada é uma expressão criada por Helio Fernandes para caracterizar o comportamento dos jornalistas que se acomodam a viver às custas do poder, seja econômico, político ou social, em suas diferentes manifestações. A própria imprensa é considerada o quarto poder, mais importante do que o poder militar, embora não possa colocar tanques nas ruas.

Realmente, a função da imprensa tem um valor enorme na sociedade contemporânea e sua capacidade tende a se expandir, por ser o grande veículo de esclarecimento da sociedade. É claro que a comunicação entre as pessoas hoje é dominada pela internet, via celulares, mas a função crucial de esclarecer sempre será desempenhada pela chamada imprensa, por seus portais, sites e blogs.

Aqui no Brasil, a imprensa viveu momentos de apreensão devido à preparação do golpe que era e é considerado bolsonarista, mas na verdade estava sendo armado para evitar que uma figura execrável como Lula da Silva voltasse ao poder, após ter se livrado ilegalmente das grades.

ENIGMA BRASILIENSE – Há uma pergunta que ninguém quer responder e que ficará para sempre na História, como o enigma da Esfinge. Se o Supremo não tivesse libertado Lula e o aparelhado para voltar à Presidência, será que haveria alguma movimentação para golpe?

É claro que não. Somente houve essa perspectiva de golpe porque surgiu a ameaça da volta de Lula e tudo de ruim que ele representa, após Mensalão e Petrolão. As Forças Armadas tiveram de tapar o nariz para aceitar a candidatura dele e grande parcela dos brasileiros pensava exatamente a mesma coisa.

Aliás, quem raciocina com mais de dois neurônios, tem um mínimo de experiência de vida e não se deixa levar por fanatismos, com toda certeza sabe que Lula jamais foi “inocentado”, como diz o ministro aposentado Marco Aurélio Mello, que presenciou tudo isso no Supremo.

DEPOIS DO GOLPE – Em 2020, o Supremo assumiu um importante papel na defesa de democracia, o golpe foi um fracasso, o país logo voltou à normalidade. Mas surgiu um ponto fora da curva, porque os ministros do STF se acostumaram aos poderes excepcionais que assumiram.

“Por que o Supremo segue em mobilização permanente, como se o país vivesse num 8 de Janeiro interminável? São questões legítimas, que que nada têm de extremismo. Demandar a contenção do Supremo não é ser golpista, é só ser republicano”, desabafa o jornal Estadão.

A Folha foi ainda mais incisiva. Disse que Moraes,  com decisões solitárias em inquéritos anômalos – conduzidos pelo magistrado e não pelo Ministério Público, o órgão competente –, reinstituiu a censura prévia no Brasil.

GRANDE CENSOR – “Ordens secretas de Alexandre de Moraes proíbem cidadãos de se expressarem em redes sociais. O secretismo dessas decisões impede a sociedade de escrutinar a leitura muito particular do texto constitucional que as embasa. Nem sequer aos advogados dos banidos é facultado acesso aos éditos do Grande Censor. As contas se apagam sem o exercício do contraditório nem razão conhecida”, protestou a Folha, com a devida veemência.

Também a Veja, com um artigo magnífico de Fernando Schüler, condena a atuação ditatorial de Moraes, que deixa o Brasil em má situação perante as demais nações democráticas, como se estivesse sofrendo um retrocesso institucional.

O comportamento da grande imprensa mostra que Moraes já ultrapassou todos os limites e não pode continuar a cometer arbitrariedades a três por dois, como se dizia antigamente. Chegou a hora de parar, antes tarde do que nunca.

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P.S. – A iniciativa de conter os impulsos de Moraes deveria partir do atual presidente do Supremo, Luís Roberto Barroso, mas ele se comporta como um zumbi robotizado, a repetir indefinidamente que o Supremo salvou a democracia. Em Brasília, todo mundo sabe que no Brasil só existe uma instituição capaz de salvar a democracia – é o Estado-Maior do Exército. E o resto é folclore, como diz nosso amigo Sebastião Nery. (C.N.)

É inacreditável, mas juízes e procuradores armam mais um superpenduricalho

Tribuna da Internet | Natal antecipado, juíz federal ganha um novo  'superpenduricalho' salarial

Charge do Nani (nanihumor.com)

Vicente Limongi Netto

Há assuntos recheados de indignidade e ultraje, que agridem o bom senso. Exemplo: os senadores Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e Davi Alcolumbre (União-AP), parceiros de unha e carne em cretinice e cinismo, manobram para favorecer outro penduricalho para juízes e procuradores, com recebimento de “atrasados”. É a escalada apoteótica da pouca vergonha, da indecência funcional.

Juízes e procuradores frequentemente recebem elevados pagamentos de supostas vantagens, além de salários superiores aos vencimentos do Presidente da República, dos ministros de Estado e até dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), que deveriam ganhar o teto,

Outras categorias de profissionais, como professores, médicos da rede pública, e agentes de segurança, ganham vergonhosas merrecas, enquanto juízes e procuradores enchem os bolsos através de vantagens indecorosas. E todos acham que isso seria normal

OUTRAS EXCRESCÊNCIA S- A família do moleque e assassino riquinho motorista do famoso carro Porsche, que matou em São Paulo um pai de família, motorista de aplicativo, pagou 500 mil reais à justiça, para livrar a cara do filhote.

Em compensação, prometeu dar mensalmente um salário mínimo para a viúva e filhos do motorista. Francamente. É o fim da picada. Temos uma Justiça capenga, que alivia penas rigorosas para assassinos e envergonha trabalhadores e assalariados.

Por fim, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o governo não tem recursos para aumento salarial dos servidores. Haddad não explicou nem justificou de onde tira fortunas para pagar viagens inúteis de Lula ao exterior, com imensas comitivas de capachos engomados com direito a diárias vultuosas e hotéis de luxo. Tenho ânsias de vômito.

É PRECISO BEIJAR – ” O poder do beijo”(Correio Braziliense – 13/04), um espetacular artigo do psiquiatra Alaor Carlos de Oliveira. Segundo Alaor, “dentro da demonstração do afeto, o beijo tem papel de destaque, tanto pela variedade de seus significados como pela complexidade biológica de seu ato”.

Nessa linha, creio que o beijo é eterno e permanente. Sem hora para acontecer. O beijo precisa ser louvado e valorizado. Todos os beijos. Mania boa. Energiza corações. Espanta o tédio, a raiva e preocupações.

A humanidade, tomada por guerras e ambições desenfreadas, precisa de oceanos de beijos.

E a juíza Gabriela Hardt virou suspeita neste outro McDia Feliz da Lava Jato…

CNJ afasta Gabriela Hardt e três desembargadores do TRF-4 da magistratura –  Justiça – CartaCapital

Gabriela Hardt é outra vítima das vinganças da Lava Jato

Mario Sabino
Metrópoles

Coitada de Gabriela Hardt, ex-juíza da Lava Jato que está no alvo do Conselho Nacional de Justiça. Hoje, ela foi suspensa das suas funções e pode até ser enquadrada por peculato e corrupção por causa da homologação do acordo entre a Petrobras e o Ministério Público Federal e autoridades americanas, em 2019.

O acordo previa que 2,5 bilhões de reais da estatal iriam para aquela fundação de combate à corrupção a ser administrada pela força-tarefa da operação — fundação que nunca foi constituída graças ao STF. Também foram afastados os desembargadores  federais do TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região) Thompson Flores e Loraci Flores de Lima, além do juiz federal Danilo Pereira Júnior, atual titular da 13ª Vara de Curitiba.

IDEIA DE JERICO – A ideia dessa fundação foi uma tremenda bola fora de Deltan Dallagnol e companhia, ele próprio reconhece isso, mas não adianta: a ideia de jerico continua a ser pretexto para emporcalhar e arrasar a reputação de juízes e procuradores da Lava Jato.

A vingança do sistema é bruta, como era de se esperar, porque o recado tem de ser claro para todos os procuradores e juízes: que ninguém sequer pense outra vez em investigar e condenar gente poderosa. É como Cartago, cujo terreno foi arado com sal para que nele nada crescesse, depois de ser destruída por Roma.

Enquanto Gabriela Hardt é investigada pela Justiça, magistrados continuam a julgar processos nos quais suas mulheres e filhos amantíssimos figuram como advogados. Em Brasília e alhures semelhantes, é assim: não existe conflito onde há interesses.

SÓCIO DA MULHER – Neste outro McDia Feliz para a Lava Jato, o repórter Tácio Lorran publicou que o ministro da Controladoria-Geral da União (CGU), Vinícius Marques de Carvalho, é sócio de um escritório de advocacia, o VCMA, que presta serviços à Novonor, a ex-Odebrecht.

Depois de ser nomeado ministro, ele se afastou formalmente do batente como advogado, mas é a sua mulher quem comanda o escritório, juntamente com uma colega.

Agora, veja a coincidência: a Novonor, cliente do escritório de advocacia do ministro da CGU, renegocia com o governo os acordos de leniência firmados no âmbito da Lava Jato. Segundo o repórter Tácio Lorran, Vinícius Marques de Carvalho se reuniu neste ano com os advogados da Novonor e de outras sete empreiteiras.

TANTO FAZ… – O escritório VCMA participa das negociações com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica, mas não das conduzidas com a CGU, pelo menos não oficialmente. E se participasse, isso mudaria alguma coisa?

Vinícius Marques de Carvalho já disse publicamente que os acordos não podem prejudicar financeiramente as empresas, mas isso obviamente não tem relação nenhum com o fato de ser uma opinião favorável à linha de defesa adotada pelo escritório do qual ele é sócio e que é comandado pela sua dileta esposa.

O McDia Feliz da Lava Jato é ainda mais feliz para os protagonistas do lado de lá do balcão deste nosso tropicalíssimo Estado de Direito. Coitada da juíza Gabriela Hardt.

O Globo ainda se omite sobre censura do STF e tenta pôr a culpa na Câmara

Deu no Poder360

O diário carioca O Globo é de propriedade da família Marinho, dona do maior conglomerado de mídia no Brasil (em 2023, faturamento de R$ 15,1 bilhões e lucro líquido de R$ 838,7 milhões). É também a empresa de mídia que mais se beneficiou de verbas de publicidade com a volta de Lula ao poder, liderando o ranking de propaganda estatal federal em 2023.

O Globo ainda não fez um editorial nos dias mais recentes sobre liberdade de expressão. O que motivou Folha e Estadão foi o embate entre o empresário Elon Musk, dono do X (ex-Twitter), e o STF, tendo como alvo preferencial Alexandre de Moraes.

VOLTA DA CENSURA – Musk acusa o STF de tomar decisões inconstitucionais, contra a liberdade de expressão no Brasil. O Supremo, nega que seja esse o caso.

Em vez de expressar sua opinião sobre o tema do momento – se o STF está seguindo a Constituição ao bloquear por completo o acesso de algumas pessoas às redes sociais –, o Globo fez um editorial também neste domingo (14.abr.2024): “É um erro atrasar aprovação do PL das Redes Sociais”.

Nesse texto, o Globo apenas trata de um tema de interesse direto do governo Lula, e sobre o qual a oposição, sob Jair Bolsonaro, tem aversão: a regulamentação das redes sociais, no que ficou conhecido como projeto de lei das fake news.

DIZ O GLOBO – Depois de longo debate, o Projeto de Lei (PL) de Regulação das Redes Sociais, aprovado pelos senadores, estava maduro na Câmara no início do ano passado, na opinião do jornal carioca.

“A última versão do relator, deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), prevê a responsabilização de empresas digitais por conteúdos criminosos publicados por usuários, desde que comprovada negligência. Também estabelece prazos para cumprimento de decisões judiciais, promove transparência nas decisões e dá aos afetados pelas decisões o direito de contestá-las”, diz O Globo, elogiando:

”Para evitar censura arbitrária, atribui às próprias plataformas a formulação de regras e da estrutura de governança necessária para fazê-las cumprir. O texto alcança um equilíbrio virtuoso entre as necessidades de proteger a livre expressão e de coibir abusos”, escreve o Globo.

CRÍTICA A LIRA – Em seguida,  o editorial emenda: “Por isso é incompreensível a decisão do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), de abandoná-lo depois da crise entre Elon Musk, dono da plataforma X (ex-Twitter), e o Supremo Tribunal Federal. Não se podem confundir as decisões controversas da Corte com a necessidade imperativa e urgente de regular as redes. E, se há um foro com legitimidade para isso, é o Congresso”.

É uma referência à decisão do presidente da Câmara de criar um grupo de estudo para tratar do tema, o que certamente retardará a aprovação da lei.

O Globo argumenta que os adversários do PL das fake news “confundem propositalmente seu objetivo. Acusam-no de promover censura, quando o texto não impõe nenhuma restrição à liberdade de expressão além das já previstas em lei há décadas”.  

VÁCUO JURÍDICO – E completa: “Decisões duras da Justiça ao suspender contas e posts surgem num vácuo jurídico. Falta uma lei atribuindo às plataformas o dever de zelar pelo conteúdo. É disso que se trata”.

Quando afirma que contas em redes sociais são bloqueadas e seus donos são proibidos por tempo indefinido de se manifestarem nessas plataformas, o Globo não explica por que isso estaria “num vácuo jurídico”.

Muitos especialistas em direito acham que não há vácuo. O Supremo simplesmente não poderia banir pessoas por tempo indeterminado de se expressarem na internet.

FALHAS DO PROJETO – Na realidade, o PL das fake news nunca esclareceu dois pontos relevantes sobre essa eventual lei:

1) como seria o critério objetivo para definir o que é verdade e o que é mentira (deixar a decisão para critérios próprios das redes sociais e empresas de tecnologia, as big techs, não resolveria o problema);

2) uma vez decidido o critério, quem teria poder para arbitrar caso a caso sobre o que é fato ou inverdade.

Há um terceiro ponto também controverso: ofender com palavras uma instituição, um magistrado ou qualquer autoridade seria considerado um crime a ponto de o autor ter de ser banido da internet?

LIBERDADE DE EXPRESSÃO – Um dos maiores especialistas e defensores da liberdade de expressão no Brasil, o ex-deputado federal Miro Teixeira entende que ir à frente do Congresso e pedir que o Poder Legislativo seja fechado não é crime, mas livre exercício de liberdade de expressão. Miro também entende que no 8 de Janeiro a democracia não correu risco.

Os jornais tradicionais brasileiros têm circulação impressa diminuta e ainda não ganharam tração relevante nas suas versões on-line.

Os três diários citados nesta reportagem têm estas tiragens impressas: Estadão (56.356 cópias por dia), Globo (52.933) e Folha (41.401). Os dados são do IVC (Instituto Verificador de Comunicação) e referem-se a dezembro de 2023.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
– Quando o patriarca Roberto Marinho estava entre nós, O Globo era francamente de direita, mas tinha algumas preocupações democráticas, digamos assim. Sob gestão dos filhos, os irmãos Marinho, o jornal, a rádio e a televisão vivem grudados no governo, não interessa quem esteja no poder. O maior exemplo é o Jornal Nacional, que deveria trocar de nome para Agência Nacional, como era denominada a central de notícias da ditadura. Não há nada mais chapa-branca, como dizia Carlos Lacerda. (C.N.)

Ao criticar STF e Moraes, Estadão ainda passa pano, sob pretexto do “golpismo”  

Deu no Poder 360

O jornal O Estado de S.Paulo tem 149 anos, é controlado pela tradicional família paulista Mesquita e recentemente anunciou que vai emitir debêntures para sustentar uma expansão do negócio, sobretudo na área digital. O veículo tem lutado ao longo das últimas décadas para voltar a ter o prestígio, a influência e a relevância das décadas de 1970 e 1980, quando era o mais importante diário brasileiro.

O centenário Estadão publicou também neste domingo (14.abri.2024), o editorial “A legítima crítica ao Supremo”. No texto, o diário paulistano é menos contundente do que a Folha. Apega-se mais a uma atitude recorrente do Judiciário, com magistrados confundindo críticas com ataques ou ameaças.

DIZ O ESTADÃO – “Ao contrário do que parecem pensar alguns ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), criticar instituições democráticas não é necessariamente atacá-las ou ameaçá-las. Tampouco exigir sua autocontenção é ser extremista, e demandar que atuem conforme a lei não é deslegitimá-las. Ao contrário, quem faz tudo isso de boa-fé quer aperfeiçoá-las, isto é, quer instituições que não sejam ativistas, partidárias, arbitrárias, corporativistas ou pessoais”, escreve o Estadão.

O fato é que o uso das expressões “ataque” e “ameaça” como sinônimo de “crítica” tem sido comum na mídia tradicional, inclusive no Estadão.

Neste Poder360, a palavra “ataque” é reservada para quando há um indício claro de agressão física. Frases ou ofensas na internet são tratadas como “críticas”. Assim como a Folha, o Estadão faz ressalvas no meio de seu editorial.

“LIBERTICIDAS” – “É evidente que os liberticidas instrumentalizam a liberdade de opinião para propósitos indisfarçavelmente antidemocráticos. Quando um Jair Bolsonaro fala em “liberdade”, obviamente não é a liberdade no sentido liberal democrático, que garante a todos, indistintamente, o direito de questionar o Estado e suas instituições a qualquer tempo, e sim a ‘liberdade’ de desmoralizar os pilares dessas instituições porque estas são um obstáculo para seus projetos autoritários de poder”, diz o Estadão.

Mas o jornal não explica por que uma opinião que produza críticas acerbas que possam desmoralizar instituições seriam “antidemocráticas”.

Para o Estadão, a “algaravia bolsonarista” é “de fato golpista e antidemocrática” e essa característica da disputa política tem sido “usada pelos mais loquazes ministros do Supremo como prova de uma alegada ameaça permanente e generalizada à democracia, justificando dessa forma medidas juridicamente exóticas, quando não inteiramente desprovidas de base legal, para conter essa ameaça”.

EXCESSOS DO STF – No final de seu editorial, o Estadão escreve: “O Brasil testemunhou um surto de golpismo no 8 de Janeiro, mas hoje as instituições estão, como se diz, funcionando […] Por que o Supremo segue em mobilização permanente, como se o país vivesse num 8 de Janeiro interminável? São questões legítimas, que que nada têm de extremismo. Demandar a contenção do Supremo não é ser golpista, é só ser republicano”.

Em suma, tanto Folha como Estadão seguem adeptos da teoria propagada pela Polícia Federal e abrigada pelo STF de que o Brasil esteve a milímetros de ter sido alvo de um golpe de Estado – que teria quase sido perpetrado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro ou pelos baderneiros que depredaram prédios públicos em 8 de janeiro de 2023.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG –
Como assinala o Estadão, o país vive em democracia plena, mas o Supremo continua em “mobilização permanente, como se o país vivesse num 8 de Janeiro interminável”. Neste detalhe, o Estadão acertou na mosca, como se dizia antigamente. (C.N.)

Antes tarde do que nunca, a imprensa faz críticas ferozes ao STF e a Moraes

Deu no Poder360

Os tradicionais jornais impressos paulistas Folha de S.Paulo e O Estado de S.Paulo publicaram neste fim de semana editoriais críticos à atuação do Supremo Tribunal Federal a respeito de como a Corte reage a críticas e determina censura a algumas pessoas na internet. O carioca O Globo fez um editorial a favor do projeto de lei que tentará coibir notícias falsas nas redes sociais.

A Folha é comandada pelo empresário Luís Frias, que também controla o portal UOL e o PagBank (conhecido pelas maquininhas amarelas para pagamento com cartão). O jornal cita nominalmente o ministro Alexandre de Moraes, que além de ser do STF preside o Tribunal Superior Eleitoral.

CENSURA CLARA – O texto “Censura promovida por Moraes tem de acabar”, publicado neste domingo (14.abr.2024), diz que é inconstitucional “impedir alguém de se expressar nas redes sociais” e que o certo é punir o que é publicado apenas “após devido processo legal”.

“Um ministro do Supremo Tribunal Federal, com decisões solitárias em inquéritos anômalos – conduzidos pelo magistrado e não pelo Ministério Público, o órgão competente –, reinstituiu a censura prévia no Brasil. Ordens secretas de Alexandre de Moraes proíbem cidadãos de se expressarem em redes sociais. O secretismo dessas decisões impede a sociedade de escrutinar a leitura muito particular do texto constitucional que as embasa. Nem sequer aos advogados dos banidos é facultado acesso aos éditos do Grande Censor. As contas se apagam sem o exercício do contraditório nem razão conhecida”, escreveu a Folha.

O jornal paulistano se refere a casos em que Alexandre de Moraes nos últimos anos determinou a remoção de conteúdo das redes sociais, mas também que alguns usuários fossem banidos de usar a internet para expressar suas opiniões. Isso se deu em algumas ocasiões, sobretudo durante o processo eleitoral de 2022, como noticiou este Poder360.

POR QUE SIGILO? – Ao determinar a redes sociais como o X (ex-Twitter) a remoção de conteúdos e o bloqueio de contas, Alexandre de Moraes não explicava em detalhes a razão da decisão e dizia que o despacho deveria ser mantido em sigilo, sem amparo legal.

No meio de seu editorial, entretanto, a Folha faz uma ressalva relevante: “Urgências eleitorais poderiam eventualmente justificar medidas extremas como essas. O pleito de 2022 transcorreu sob o tacão de um movimento subversivo incentivado pelo presidente da República. Alguns de seus acólitos nas redes não pensariam duas vezes antes de exercitar o golpismo. Mas a eleição acabou faz mais de 17 meses e seu resultado foi, como de hábito no Brasil, rigorosamente respeitado. O rufião que perdeu nas urnas está fora do governo e, como os vândalos que atacaram as sedes dos três Poderes em 8 de janeiro, vai responder pela sua irresponsabilidade”.

ACEITAÇÃO – A Folha, com essa explicação, chancela, em certa medida, a atuação da Justiça, sobretudo do TSE, durante o período eleitoral de 2022 impondo censura prévia. Apesar de o jornal ter condenado em editorial os amplos poderes que a Justiça Eleitoral se autoatribuiu em outubro de 2022 (no texto “Censor Eleitoral”), quando foi disseminado o conceito de “desordem informacional”, o noticiário do diário paulista deixou de dar amplo destaque a algumas decisões teratológicas do TSE naquele ano.

Por exemplo, em 19 de outubro de 2022, o Poder360 deu como manchete (notícia principal) esta informação: “TSE censura fala de ex-ministro do STF em programa de Bolsonaro”.

LULA INOCENTE? – Sob Alexandre de Moraes, a Justiça Eleitoral mandou cortar um trecho de propaganda televisiva de Jair Bolsonaro (PL). Era uma frase de Marco Aurélio Mello, ministro aposentado do STF: “O Supremo não o inocentou [Lula]. O Supremo assentou a nulidade do processo-crime, o que implica o retorno à fase anterior, à fase inicial”.

Em suma, Mello relatava apenas um fato: o então candidato a presidente, Luiz Inácio Lula da Silva não havia sido inocentado de nenhum crime pelo qual havia sido condenado antes em diversas Instâncias por causa da Lava Jato. Havia apenas a determinação para que os processos começassem novamente.

Na Folha, na época, o episódio foi relatado neste post: “Propaganda eleitoral de Bolsonaro é interrompida com aviso de infração”. No texto, não estava explicada a razão da interrupção nem qual havia sido a frase suprimida.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Importantíssima matéria, enviada por José Guilherme Schossland. O portal Poder360, dirigido pelo jornalista independente Fernando Rodrigues (Ex-Folha), mostra que a grande imprensa enfim acordou para os exageros censórios e ditatoriais de Moraes, que infelizmente têm apoio dos demais ministros. Como o texto é longo para postar em blog, dividimos em três, para publicar em sequência. (C.N.)

Democracia dos EUA corre riscos por não ter sabido renovar as instituições 

Em matéria de renovação, os americanos estão muito mal

Hélio Schwartsman
Folha

A democracia americana tem um problema. Ali é possível tornar-se presidente mesmo recebendo menos votos que o adversário. Das últimas três eleições de presidentes republicanos, George W. Bush em 2000 e 2004 e Donald Trump em 2016, duas se deram com o vitorioso no colégio eleitoral perdendo no voto popular (2000 e 2016). Antes desses casos, isso só ocorrera um par de vezes no século 19.

O fenômeno se deve a uma combinação de mudanças demográficas, como urbanização e imigração, que fortaleceram a base eleitoral dos democratas, com a rigidez da Constituição americana, que só pode ser alterada se houver virtual consenso sobre a matéria, o que não acontece porque republicanos não votarão para reduzir suas chances de chegar à Casa Branca.

PIONEIRISMO – Os EUA pagam o preço de seu pioneirismo. Quando os “founding fathers” (pais fundadores) desenharam sua República, procuraram equilibrar instituições majoritárias, como o voto popular, com contramajoritárias, como o colégio eleitoral, a Suprema Corte e o laborioso processo de emendas constitucionais.

A ideia era evitar os riscos do populismo. Os “founding fathers” eram leitores de Platão e Aristóteles, que não morriam de amores pela democracia.

Durante muito tempo, funcionou bem. A ideia de criar um sistema de freios e contrapesos segue válida — e essencial —, mas o mix escolhido envelheceu mal. O colégio eleitoral é a mais visível das fossilizações.

EUA SÃO EXCEÇÃO – Contra Platão e Aristóteles, os princípios democráticos se firmaram no Zeitgeist, o espírito do tempo. Não há mais presidencialismo respeitável em que o principal governante não seja eleito pelo voto direto. A exceção são justamente os EUA.

Já vimos esse filme. Não é incomum que empresas e mesmo países que produzam uma inovação relevante acabem encalacrados em seu modelo e não consigam flexibilizá-lo quando necessário.

Pense numa Kodak. Ou em Portugal e Espanha, que acabaram presos ao bulionismo, no entesouramento de metais preciosos. Para os Estados Unidos, ainda não é tarde demais.

MST volta a invadir áreas da Embrapa e acusa governo de irresponsabilidade

 Integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) invadiram uma área da Embrapa, em Petrolina (PE). FOTO MST - PE

A área invadida pelo MST neste domingo fica em Petrolina

Isadora Duarte
Estadão

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) voltou a invadir, neste domingo, 14, uma área de pesquisa da Embrapa Semiárido, em Petrolina (PE), e uma segunda área da Codevasf, utilizada pela Embrapa também em Petrolina. O ato, de acordo com o movimento, faz parte da Jornada Nacional de Luta em Defesa da Reforma Agrária, que ocorre neste mês, o chamado “abril vermelho”, em repúdio ao massacre de Eldorado dos Carajás, no Pará, em 1996.

O MST não informou o número de famílias presentes na invasão. O movimento alega que a área de 1,5 mil hectares é “improdutiva, ociosa e abandonada” e a reivindica para desapropriação e assentamento.

A ação do MST ocorre às vésperas do lançamento pelo governo federal do Programa Terra para Gente para acelerar o assentamento de famílias no País que será anunciado nesta segunda-feira pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pelo ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA) no Palácio do Planalto.

PROMESSA DE LULA – O programa é uma promessa feita no ano passado pelo presidente Lula, que quer uma “prateleira de terras” improdutivas e devolutas para destinar à reforma agrária e à demarcação para quilombolas. A tentativa do governo é frear a onda de invasões do movimento prevista para este mês.

Uma das áreas invadidas pelo movimento é da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), ligada ao Ministério da Agricultura, e, portanto, do governo federal.

O movimento continua também numa ocupação em área de pesquisa da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac), em uma fazenda em Itabela, no extremo sul da Bahia. A unidade invadida pelo movimento, que a considera improdutiva, é um imóvel público Estação de Zootecnia do Extremo Sul (Essul, ligada à Ceplac), que desenvolve pesquisa com gramíneas e pastagens há mais de 40 anos.

OUTRA INVASÃO – Em nota, o MST afirma que “exige que o governo cumpra os acordos”. Jaime Amorim, da direção nacional do MST pelo Estado de Pernambuco, afirmou que, além das áreas da Embrapa, o movimento invadiu uma área na zona da mata norte do Estado, remanescente da Usina Maravilha – área que está em desapropriação.

Em 2023, o movimento invadiu áreas da Embrapa Semiárido em duas ocasiões, em abril e julho, e desocupou somente após determinação judicial.

Agora, o MST pede o cumprimento de acordo feito com o governo federal. “No ano passado, nós saímos da Embrapa com um compromisso do governo federal, assinado em pauta, de assentar 1.316 famílias que estavam na Embrapa. Foram mais de dezessete pontos acertados e nenhum foi cumprido. É muita irresponsabilidade a forma que estão tratando a reforma agrária”, disse Amorim em vídeo.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Os sem-terra estão com toda razão. Não faz sentido o governo celebrar acordos com o MST e simplesmente não cumprir. E o pior são as jogadas de marketing, lançando novos programas, como esse Terra para Gente, sem cumprir os anteriores. (C.N.)

Reação contra Musk reforça tese de que Moraes ultrapassa seus limites

Decisões do ministro Alexandre de Moraes são contestadas pela defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro

Moraes acha que merece palmas, mas está extrapolando

Hugo Henud
Estadão

Os recentes embates entre Elon Musk, dono do X (antigo Twitter), e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, reacenderam o debate sobre possíveis excessos cometidos pelo magistrado, especialmente após a inclusão do bilionário no inquérito das milícias digitais e a abertura de investigação contra ele por obstrução à Justiça.

Juristas ouvidos pelo Estadão admitem que o episódio tem o potencial de dar munição à tese de que o magistrado pode estar atuando para além de suas competências judiciais. Os especialistas rechaçam, no entanto, a ideia de que Moraes tem agido para perseguir Jair Bolsonaro, como alegam aliados do ex-presidente.

ESPAÇO DA PGR – Na avaliação de Marcelo Crespo, especialista em Direito Penal, a decisão de Moraes de abrir uma investigação contra Musk e incluí-lo em um inquérito, à revelia da Procuradoria-Geral da República , que é a instituição responsável por investigar e denunciar criminalmente, abre margem para críticas.

“Moraes está antecipando movimentos que deveriam ser naturalmente da Procuradoria. O debate não é o mérito, mas o caminho como se deu”.

Da mesma forma, o professor de Direito Processual Penal da USP, Gustavo Badaró, ressalta que este tipo de conduta, além de excessiva, também suscita dúvidas sobre a imparcialidade de Moraes. “Quando um ministro determina a inclusão de alguém como investigado em um inquérito e depois esse mesmo ministro vai tomar decisões judiciais como relator do mesmo inquérito, me parece que há uma clara perda de imparcialidade.”

AGIU DE OFÍCIO – O professor de Direito Constitucional da UFF, Gustavo Sampaio, concorda que Moraes agiu de ofício e, portanto, não seguiu o caminho natural do sistema acusatório. O jurista, porém, apoia a inclusão, mesmo que, até o momento, o bilionário não tenha desrespeitado as decisões determinadas por Moraes no X, o que, a princípio, impede a configuração de crime de obstrução à Justiça.

“Inquérito não tem por objetivo condenar ninguém, e sim apurar. Se não se incluir o Musk, não se tem como apurar se ele teve participação em práticas que colaboraram no sentido da interrupção do processo democrático no Brasil”, avalia.

Desde 2020, Moraes tem determinado a suspensão de perfis em redes sociais de aliados bolsonaristas. A medida foi justificada pela necessidade de “interromper discursos criminosos de ódio, subversão da ordem e incentivo à quebra da normalidade institucional e democrática”.

CRITÉRIOS SUBJETIVOS – Crespo e Sampaio pontuam que a decisão é necessária, considerando que a liberdade de expressão não é um direito irrestrito e ilimitado. Os juristas, porém, ressaltam que, em excesso, a prática pode levar a julgamentos discricionários, já que tais decisões são feitas caso a caso pelo Judiciário, com base em critérios muitas vezes subjetivos.

“A partir de qual momento é razoável considerar que uma conta deva ser bloqueada porque ela está sendo utilizada basicamente para praticar crimes e causar desinformação?”, questiona Crespo.

Para Crespo e Sampaio, as recentes decisões do ministro contra Musk e a rede social X extrapolam as controvérsias no âmbito jurídico e se transformam em uma espécie de ‘munição política’ para que aliados bolsonaristas reforcem o discurso de que o ex-presidente está sendo alvo de perseguição nos múltiplos inquéritos em que é investigado, a maioria sob a relatoria de Moraes. “Sem dúvida nenhuma, é bastante munição, isso é pólvora para o discurso político”, diz Crespo.

EXCESSO DE PODER – Um dos primeiros aspectos controversos é o possível excesso de poder de Moraes. Relator do inquérito das fake news aberto em 2019 pelo próprio STF, o ministro centralizou a relatoria de outras investigações no Supremo, incluindo aquelas relacionadas aos atos antidemocráticos de 2021, às milícias digitais e aos ataques do 8 de Janeiro.

Todos esses casos, nos quais o ex-presidente é investigado, permanecem sob o comando de Moraes, com base na regra de que quando há conexão entre os fatos investigados, a competência para julgar os processos deve ser mantida com o mesmo magistrado.

Ou seja, a partir do inquérito das fake news, Moraes assumiu, por prevenção, a relatoria de outras investigações devido ao elo probatório nas diferentes ações.

SEM CONEXÃO – Na avaliação de Badaró, nem todas as investigações parecem ter relação entre si, sendo necessário, nessa situação, separá-las e sorteá-las entre os ministros. Como exemplo, não há ligação entre a falsificação do certificado de vacina e os atos antidemocráticos.

O jurista pontua ainda que um dos efeitos da conexão é a reunião dos processos em único inquérito. “Se estão tramitando separados é porque não há conexão, então deveria ter distribuição livre”.

Conselheiro da OAB federal, Alberto Toron diz que o STF não teria competência para investigar o ex-presidente em certos casos, uma vez que Bolsonaro perdeu a prerrogativa de foro ao deixar a Presidência, devendo, portanto, ser julgado na primeira instância. Para o criminalista, a amplitude da interpretação da competência guarda semelhanças com o que ocorreu na Lava Jato, quando o então juiz Sérgio Moro foi criticado por avocar para si a competência de várias investigações com base na regra da conexão.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Em tradução simultânea, Moraes enfiou os pés pelas mãos. Ao unir diversas acusações contra Bolsonaro e outros réus num só inquérito, misturou chiclete com banana e agora não sabe como sair dessa situação, que está chegando a um ponto verdadeiramente ridículo. É lamentável. (C.N.)

O mundo em alerta máximo, após ataque iraniano a Israel

Explosões iluminam o céu de Jerusalém durante o ataque iraniano

Pedro do Coutto

O mundo novamente está sob mais uma nova tensão, consequência do conflito entre o Irã e Israel. O ataque lançado pelo Irã neste sábado contra Israel abalou o Médio Oriente, uma vez que, embora ambas as nações sejam inimigas declaradas, houve sabotagem mútua e Teerã comemorou o ataque realizado pelo Hamas em outubro do ano passado. No entanto, a escalada não pegou de surpresa Israel ou as potências internacionais, que aguardavam a resposta das forças iranianas ao ataque de 1º de Abril atribuído a Israel contra o edifício do consulado iraniano em Damasco, na Síria.

Sete membros do Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica foram mortos na ofensiva aérea.O ataque foi considerado o maior do tipo contra alvos iranianos desde que o então presidente dos EUA, Donald Trump, deu aval à operação que matou de Qassem Soleimani, chefe da Unidade de Força Quds do IRGC, em Bagdá, em 2020.

APOIO – O reflexo mundial neste momento é muito grande, levando os Estados Unidos a declararem apoio ao governo de Tel-Aviv, o que pode forçar a um posicionamento do governo Putin ao lado do Irã. Ao expressar forte condenação pelo ataque, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse que “ajudamos Israel a derrubar quase todos” os mísseis e drones.

“O Irã e os seus representantes que operam a partir do Iêmen, Síria e Iraque lançaram um ataque aéreo sem precedentes contra instalações militares em Israel”, disse Biden.

O conflito agora inclui ataques isolados de drones e de bombas que atravessam o espaço. Impressionante como o mundo não consegue viver em paz. Não há um dia em que não exista uma guerra, provocando mortes e destruição. Vejamos qual será o posicionamento do governo brasileiro na ONU diante do conflito que acarreta sem dúvida um ameaça à própria humanidade.

Donald Trump começa a ser julgado no caso do pagamento à atriz pornô

Stormy Daniels on Donal Trump's 'hush money' indictment

Trump pagou pelo silêncio, mas a atriz pornô contou tudo

Guilherme Botacini
Folha

O primeiro ex-presidente dos Estados Unidos réu em um caso criminal começa a ser julgado nesta segunda (15), em Nova York, e pode terminar o processo na cadeia. A chance de prisão, ainda que baixa, de um antigo ocupante da Casa Branca já seria marcante, mas falamos de Donald Trump, candidato a voltar ao poder em novembro.

Trata-se de 34 acusações de falsificação de registros financeiros de sua empresa, que teria ocorrido a partir do segundo semestre de 2016, ainda durante a campanha eleitoral que levou o republicano à Presidência. Este é o primeiro dos quatro casos criminais contra o ex-presidente —e provavelmente o único a ser julgado antes da eleição.

ATRIZ PORNÔ – Michael Cohen, assessor de Trump, teria pagado US$ 130 mil à atriz pornô Stormy Daniels em acordo para que ela não falasse sobre suposto caso com o empresário, segundo a Promotoria. Depois, já durante seu mandato na Casa Branca, o republicano teria reembolsado Cohen com depósitos feitos pela empresa de Trump, dinheiro disfarçado de despesas legais da companhia, o que violaria, de acordo com os promotores, leis de Nova York.

Nesta segunda, o júri será escolhido, algo que por si só tem levantado críticas de apoiadores de Trump e do próprio ex-presidente, que acusa o promotor Alvin Bragg de caça às bruxas e diz que qualquer seleção do júri durante uma campanha eleitoral não será totalmente imparcial.

Trump também tem apelado a bravatas e críticas ao juiz do caso, Juan Merchan, e acusado possíveis testemunhas, como Cohen e Daniels, de mentir. Merchan impôs uma ordem de silêncio ao republicano, proibindo que ele se manifestasse publicamente sobre o caso —o que não pareceu coibir o ex-presidente.

IMPACTO ELEITORAL – Além disso, claro, há o próprio impacto eleitoral. Pesquisa Ipsos/Politico conduzida no começo de março mostra que mais de um terço dos eleitores independentes —nem democratas, nem republicanos— disseram que uma condenação no caso diminui sua chance de apoiar Trump.

Dada a previsão de disputa acirrada contra Joe Biden, isso pode custar caro. Por isso a defesa do republicano tentou até o último instante adiar o julgamento, recebendo três negativas da corte de apelação.

Falsificar registros financeiros no estado de Nova York, a acusação de que Trump é alvo, é uma contravenção que se torna crime quando o delito é cometido com a intenção de realizar ou esconder outro crime. É nesse ponto em que se situam as estratégias da Promotoria do estado de Nova York, que acusa Trump, e da defesa —é esperado que o caso dure cerca de seis semanas após a escolha do júri.

O promotor Alvin Bragg e sua equipe tentam provar e convencer o júri de que o acordo de silêncio com a atriz pornôs tem relação com a intenção de cometer ou esconder outro crime —Trump não precisa ser formalmente acusado por esse eventual outro crime. Não é a legalidade em si do pagamento que é alvo da acusação, portanto.

ROMPIMENTO – A defesa deve começar por explorar justamente esse rompimento entre os dois, argumentando que Cohen tenta incriminar Trump por desavenças pessoais, dado que o ex-assessor do republicano é possivelmente a única testemunha que poderia ligar o republicano à falsificação dos registros financeiros.

Há também a tentativa de pintar o pagamento a Daniels como uma questão privada que teve apenas violações técnicas de registro financeiro, reduzindo assim seu escopo e eventual conexão com outro crime.

Há chances de Trump ser preso: a previsão de sentença para crimes de classe E no estado de Nova York é de no máximo 4 anos, mas é mais comum casos do tipo resultarem em sentença sem encarceramento ou com liberdade condicional para réus primários em casos não violentos.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Como este processo é provavelmente o único que será julgado antes das eleições à Presidência, marcadas para o dia 5 de novembro, se Trump for absolvido, sua candidatura ficará muito fortalecida. É aí que mora o perigo. (C.N.)

Louvando o que bem merece, você pode deixar o que é ruim de lado…

Tribuna da Internet | Gil e Torquato envolvidos na geleia geral, cujo nome  passaria a ser Tropicália…Paulo Peres
Poemas & Canções

O cineasta, ator, jornalista, poeta e compositor piauiense Torquato Pereira de Araújo Neto (1944-1972) é considerado um dos principais letristas do movimento Tropicalista, embora a letra de “Louvação” seja pré-tropicalista e tenha um tratamento épico/romântico e, principalmente, ideológico face à ditadura militar instaurada no país em 1964. A música foi gravada por seu parceiro Gilberto Gil no LP Louvação, 1967, pela Philips Records.

LOUVAÇÃO
Gilberto Gil e Torquato Neto

Vou fazer a louvação
Louvação, louvação
Do que deve ser louvado
Ser louvado, ser louvado
Meu povo, preste atenção
Atenção, atenção
Repare se estou errado
Louvando o que bem merece
Deixo o que é ruim de lado
E louvo, pra começar
Da vida o que é bem maior
Louvo a esperança da gente
Na vida, pra ser melhor
Quem espera sempre alcança
Três vezes salve a esperança!
Louvo quem espera sabendo
Que pra melhor esperar
Procede bem quem não pára
De sempre mais trabalhar
Que só espera sentado
Quem se acha conformado

Vou fazendo a louvação
Louvação, louvação
Do que deve ser louvado
Ser louvado, ser louvado
Quem ‘tiver me escutando
Atenção, atenção
Que me escute com cuidado
Louvando o que bem merece
Deixo o que é ruim de lado
Louvo agora e louvo sempre
O que grande sempre é
Louvo a força do homem
E a beleza da mulher
Louvo a paz pra haver na terra
Louvo o amor que espanta a guerra
Louvo a amizade do amigo
Que comigo há de morrer
Louvo a vida merecida
De quem morre pra viver
Louvo a luta repetida
A vida pra não morrer

Vou fazendo a louvação
Louvação, louvação
Do que deve ser louvado
Ser louvado, ser louvado
De todos peço atenção
Atenção, atenção
Falo de peito lavado
Louvando o que bem merece
Deixo o que é ruim de lado
Louvo a casa onde se mora
De junto da companheira
Louvo o jardim que se planta
Pra ver crescer a roseira
Louvo a canção que se canta
Pra chamar a primavera
Louvo quem canta e não canta
Porque não sabe cantar
Mas que cantará na certa
Quando enfim se apresentar
O dia certo e preciso
De toda a gente cantar

E assim fiz a louvação
Louvação, louvação
Do que vi pra ser louvado
Ser louvado, ser louvado
Se me ouviram com atenção
Atenção, atenção
Saberão se estive errado
Louvando o que bem merece
Deixando o ruim de lado

Há censura no Brasil? Eis a pergunta que Moraes e o STF não querem responder

Tribuna da Internet | Inquérito eterno no STF contra 'atos antidemocráticos' é declaração de guerra

Ilustração reproduzida do Arquivo Google

Fernando Schüler
Veja

“Para que tanta censura?”, começou perguntando Elon Musk. Depois o caldo entornou. A bronca de Musk vem na sequência da revelação dos Twitter Files, pelo jornalista Michael Shellenberger, e das denúncias que todos de algum jeito conhecemos. O Estado brasileiro querendo dados de usuários, para saber quem divulga esta ou aquela hashtag, censura a parlamentares, desmonetização e apagamento de contas, e por aí vai.

Os temas envolvidos são políticos, os personagens são políticos, e não há muita novidade aí. A área jurídica da rede disse que “não havia indício de ilegalidade” naquelas opiniões. Mas obviamente o conceito do que é legal ou ilegal se tornou bastante flexível, ao menos por aqui, nos últimos tempos. O direito “líquido”, me disse um colega, bem-humorado, por estes dias. E quem sabe nesse ponto resida boa parte do problema.

O imbróglio, nesta confusão toda, não é Musk. Ronaldo Lemos matou a charada ao dizer que não cabia ao Estado brasileiro fazer todo esse alarde com as declarações de Musk. Bastaria agir na forma da lei, caso a empresa de fato cometer uma ilegalidade. O problema é que as perguntas, alertas e denúncias de Musk incomodam.

Ele faz o papel daquele vizinho que, em um dia qualquer, diz que “está acontecendo alguma coisa estranha naquela casa”. Sejamos claros: o que ele diz sobre censura prévia e controle de opinião, no país, basicamente já sabemos. E fomos empurrando com a barriga.

A diferença é que agora a coisa toda foi jogada em um imenso ventilador. Xingar o Musk, chamar de “menino mimado”, “drogado”, “extremista de direita” e os impropérios de sempre, pode ser um bom divertimento, mas não passa muito de um truque.

FILA DE PERGUNTAS – As perguntas que realmente importam dizem respeito a nós mesmos e à nossa democracia. E nós sabemos quais são: há ou não censura prévia no Brasil? Há devido processo? Acesso de advogados aos autos? E o que vamos fazer com os famosos inquéritos, que já vão para mais de cinco anos? Há uma fila de perguntas, e nada disso tem a ver com Elon Musk, nem será resolvido por ele.

O que me fascina, nessa confusão toda, é o choque entre duas histórias e duas culturas jurídicas. De um brilhante jurista, escutei que “Musk faz isso porque sabe que está protegido pela Primeira Emenda”. Bingo. É porque está sob a guarda das instituições da mais antiga democracia do planeta que Musk pode dizer o que pensa e dormir tranquilo.

Ele sabe que fala ancorado em uma tradição que vem de Madison e Jefferson, do Bill of Rights de 1791, atualizada por gerações de juízes da Suprema Corte americana.

DELITO DE OPINIÃO – Do lado de cá, nós também temos a nossa tradição. Nossas sete constituições, nossas duas longas ditaduras, no século XX. E aquela frase de Sérgio Buarque sobre nosso estranhamento com a ideologia “impessoal” do liberalismo, que “jamais se naturalizou entre nós”.

Choque de culturas significa o seguinte: não há “delito de opinião”, na tradição americana. Diferentemente do que acontece por aqui. Vimos isso ainda agora, quando a Justiça americana negou a extradição do blogueiro Allan dos Santos.

Depois de assistir a vídeos do sujeito, levados pela turma do lado de cá, o funcionário americano (imagino que um tanto entediado), foi claro: “São apenas palavras”. E encerrou a questão. É o mesmo caso do youtuber Monark. Em uma conversa meio sem nexo, na internet, ele resolveu “achar” que qualquer agremiação política, mesmo um partido nazista, deveria ter direito à expressão. Foi o que bastou.

MUDANÇA NAS LEIS – Banimento, processo, pedido de multa milionário. Do seu jeito tosco, ele defendeu o mesmíssimo princípio consagrado no direito americano. O direito afirmado em decisões históricas, como a tomada pela Suprema Corte em 1978, autorizando uma passeata nazista em Skokie, comunidade judaica, perto de Chicago.

O que o youtuber sugeriu, na prática, foi uma mudança na lei brasileira. Da qual discordo, o que é irrelevante. A pergunta é: vivemos em um país onde os cidadãos não podem defender uma mudança nas leis? Defender, por exemplo, algo similar à Primeira Emenda americana? É este o país em que nos transformamos?

É exatamente aqui que entra um novo personagem: Oliver Wendell Holmes. Veterano da Guerra Civil Americana e depois juiz da Suprema Corte, foi ele quem formulou o famoso critério do “risco claro e imediato” para definir os limites da liberdade de expressão.

RISCO IMEDIATO – O caso tratava de um líder socialista da Filadélfia, Charles Schenck, que havia soltado panfletos contra o recrutamento obrigatório na Primeira Grande Guerra. O critério de Holmes era claro: o direito à expressão não deveria depender de interpretações abertas sobre os riscos de uma opinião. O critério deveria ser objetivo: o risco imediato da violência.

Meses depois, Holmes julgaria um caso envolvendo ativistas comunistas, em Nova York, contrários à interferência americana na Revolução Russa. Um deles era Jacob Abrams, judeu e militante de esquerda.

Holmes agiu com base naquele princípio. E o fez na forma de um voto dissidente. Absolveu Abrams e seus colegas, e colocou seu próprio nome na tradição dos direitos e da democracia liberal.

MERCADO DE IDEIAIS – Holmes argumentou que, se há algo que podemos aprender com a tradição moderna, é que não há forma mais segura de nos aproximarmos da verdade do que o “livre mercado de ideias”. E que esta era, em última instância, a “teoria da nossa Constituição”.

É um “experimento”, ele diz, “como toda a vida é um experimento”. Sempre me surpreendo com essas palavras. Da ideia da Constituição como um “experimento”. Holmes havia lido muito Adam Smith, e de alguma forma transfere para o mundo das ideias e do próprio direito o princípio que Smith tão bem compreendeu para a economia.

A lógica simples de que respeitar a regra do jogo, mantendo-se sempre aberta a praça do mercado à livre competição de ideias, é uma ótima maneira de viver. Onde todos ganham, ainda que isso nos custe o preço de muitas péssimas ideias, no curto prazo. O custo, por exemplo, de ideias “perigosas” como aquelas que Abrams e seus amigos espalhavam em uma noite qualquer de Nova York.

LÁ E CÁ – Por vezes as pessoas me sugerem que não há muito sentido em falar da tradição americana. Que somos brasileiros e que por aqui temos outra visão sobre a liberdade de expressão. Discordo. Não me consta que teríamos sido feitos para o cangote.

E, tanto lá como aqui, as leis vedam a censura prévia e não reconhecem o delito de opinião. Também nós temos uma teoria de nossa Constituição, filha dos anos 80 e de seu desejo de garantir a liberdade e limitar o poder. De consagrar uma sociedade aberta, não a democracia de tutela em que vamos nos convertendo. A estranha democracia feita de agentes de Estado bisbilhotando conversas no rádio, vídeos no YouTube, contas no Twitter e bate-papos no WhatsApp.

Se esse será nosso destino ou se andamos apenas num desvio de curso é a pergunta a que devemos responder. Talvez nos falte um Holmes ou um Madison, lá atrás. Ou, quem sabe, uma grande tradição liberal. Não sei. O fato é que nossa marcha da insensatez já foi longe demais. São sobre isso, no fundo, os alertas que nos são dados, por estes dias, aos quais deveríamos prestar atenção.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Enviado por Duarte Bertolini, o artigo de Fernando Schüler é uma aula de política, que exibe os erros gravíssimos que o Supremo está cometendo, ao levar para um buraco imundo a democracia plena pela qual tanto lutamos e muitos morreram na ditadura militar. É preciso dar um basta em Alexandre de Moraes e seus acólitos do STF, que não têm coragem de enfrentá-lo ou são tão ditatoriais quanto ele. (C.N.)

O maior erro cometido por Moraes acabou atingindo o presidente Lula

Escolhas de Lula para TSE decepcionam alas do PT; almoço com Moraes foi decisivo | O TEMPO

Lula entrou numa gelada por causa dos exageros de Moraes

Carlos Newton

Aqui na Tribuna da Internet, já explicamos que é muito difícil solucionar o problema das fake news e dos exageros, ofensas e baixarias que invadem as redes sociais. Até agora, nenhum país minimamente civilizado conseguiu aprovar uma legislação aceitável, devido à necessidade de ser respeitada a liberdade de expressão.

Enquanto nas outras nações democráticas o assunto é tratado com a necessária cautela, no Brasil o presidente do TSE, Alexandre de Moraes, quer resolver o problema com a delicadeza de quem dirige uma retroescavadeira.

LEI MORAES – Em 27 de fevereiro deste ano, Moraes se superou, na condição de presidente do Tribunal Superior Eleitoral. Com a maior sem-cerimônia, entrou na contramão da Justiça mundial e baixou uma norma draconiana, a Resolução 23.732, que torna as plataformas das redes sociais “responsáveis, civil e administrativamente, quando não promoverem a indisponibilização imediata de conteúdos e contas, durante o período eleitoral”.

E enumerou uma série de possibilidades de incriminação dos provedores tipo X (ex-Twitter), Instagram, Facebook, WhatsApp, TikTok, Google, YouTube, LinkedIn, Telegram, Spotify e Twitch.

É uma resolução, mas poderia ser conhecida como Lei Moraes, a única no mundo a reger as plataformas das redes sociais com tamanho rigor em país democrático.

MUSK REAGIU – O bilionário Elon Musk demorou, mas reagiu contra o que considera um equívoco da Justiça brasileira. Mas como aqui no Brasil juiz do Supremo não erra, o ministro Moraes, ao invés de admitir ter cometido uma tremenda mancada jurídica, respondeu com uma tamancada na cabeça de Musk. Resolveu incriminar o megaempresário no inquérito das milícias digitais e mandou investigá-lo por obstrução à Justiça, incitação ao crime e associação criminosa.

É uma Piada do Ano em versão mundial, pois já podemos vislumbrar os destemidos agentes da Polícia Federal investigando no Texas o que Musk realmente pretende ao treinar boxe todas as manhãs e outras bobagens mais, como se a PF não tivesse o que fazer.

Qualquer acadêmico de Direito sabe que, até agora, Musk não cometeu crime algum, está apenas defendendo os interesses de sua empresa, ameaçada por atos de exceção do TSE brasileiro.

MAIOR ERRO – No caso, Moraes cometeu o maior erro de sua vida. Está se tornando famoso no mundo inteiro, mas numa condição depreciativa e patética, e está levando junto com ele o presidente Lula da Silva, que estaria “na coleira de Moraes”, conforme Musk ironizou, para dimensionar os superpoderes que o ministro do Supremo julga ter e utiliza.

Lula não pensou duas vezes e “respondeu” a Musk, mantendo o baixo nível de uma discussão que deveria ser muito séria e delicada, por envolver liberdade de expressão.

É claro que Musk não vai ceder, enquanto o X estiver ameaçado pela resolução ditatorial de Moraes, que parece estar perdendo a noção, igual a Lula, que não diz coisa com coisa e resolveu protestar contra agressões a mulheres, justamente quando seu filho caçula está proibido de se aproximar da ex-esposa.

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P.S. –
Como se vê, Lula e Moraes não estão bem. Parecem descompensados e fora da realidade. Devem estar sofrendo alguma espécie de Síndrome de Brasília, que os médicos têm medo de diagnosticar. Era justamente para evitar esses delírios de poder que os romanos colocavam um centurião ao lado do imperador, para a todo momento lembrá-lo de que era mortal e não devia se iludir pelas glórias terrenas. (C.N.)

Campanha publicitária da Petrobras exclui somente o “X”, de Elon Musk

TRANSIÇÃO ENERGÉTICA JUSTA

Petrobras agora está atuando em outras fontes de energia

Denise Rothemburg
Correio Braziliense

A Petrobras apresentou, sexta-feira, sua nova campanha publicitária, com o tema “Transição Energética Justa”. As peças estarão em todas as mídias, tevês, rádios, mídias digitais no Brasil e no exterior, exceto… no X, do bilionário Elon Musk, que desafiou a Justiça e as autoridades brasileiras.

A empresa mostrará ao público todo o trabalho que vem desenvolvendo em plataformas 100% eletrificadas, energia eólica em alto-mar e produção de derivados sustentáveis. A ideia é mostrar como a Petrobras já atua na transição energética, de forma gradual e inclusiva.

A VISÃO DELES – Do ângulo político, a nova campanha faz um contraponto aos críticos das pesquisas de petróleo na Margem Equatorial, assunto que colocou a área do meio ambiente e o setor de minas e energia em campos opostos dentro do governo.

Pela primeira vez, uma empresa pública vai desdobrar o slogan do governo federal: “Isso é bom pra todo mundo”. Alguns políticos disseram à coluna que isso é um sinal de que Jean Paul Prates continua alinhado com o governo.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
A Petrobras está indo bem, na gestão de Prates, que visa a transformar a petroleira numa gigantesca empresa multienergia, trabalhando também em energia solar, eólica e hidrogênio renovável. A imprensa amestrada, como dizia Helio Fernandes, torce contra e quer destruir a Petrobras, mas no governo Lula isso não acontecerá. (C.N.)

Musk não será incriminado e seguiremos fingindo que crimes digitais não existem

r/brasilivre - Crime de ódio

Charge do Spacca (Arquivo Google)

Demétrio Magnoli
Folha

O negócio mais lucrativo das plataformas de redes sociais –como o X, de Elon Musk, e a Meta, de Mark Zuckerberg – é impulsionar mensagens criminosas. Lá na Índia, são conclamações à violência contra muçulmanos. Lá em Mianmar, uma campanha de limpeza étnica contra os rohingya. A União Europeia regulamentou as redes. Nós, não. Para compensar, tal qual uma república bananeira, convertemos Musk em vilão ou herói.

A Câmara paralisou o debate sobre a regulamentação. Os partidos e os nobres deputados beneficiam-se do faroeste virtual, investindo na calúnia envelopada em fake news. Havia um álibi: os regulamentadores anunciaram seu desejo de “banir a desinformação”, uma senha quase explícita para a censura política. Nada feito. Vitória das bananas.

SEM CRIME – Do fracasso brotou o ridículo. Musk criticou o STF, o que não é crime. Na sequência, provocou-o, ameaçando desbloquear contas censuradas pelos juízes – sem, contudo, fazê-lo. Alexandre de Moraes enxergou na mera ameaça um crime, adicionou o valentão ao plantel de investigados no seu inquérito sem fim, enrolou-se no sagrado pendão auriverde e correu para o abraço. Bananas.

Bolsonaro, sobre Musk: “A nossa liberdade, em grande parte, está nas mãos deles. Não tem se intimidado. Tem dito que vai botar para frente essa ideia de lutar por liberdade, por nosso país.” Lindo, não?

A China tem Tesla e não tem X: o herói da extrema direita opera como parceiro da ditadura de Xi Jinping. A liberdade – isso ele mede na régua do vil metal.

SOBERANIA? – A esquerda jamais proporciona à extrema direita o monopólio do ridículo. Alexandre Padilha, voz do Planalto, acusou Musk de promover uma “ofensiva truculenta” contra a nação orgulhosa e, excitado, tomou de empréstimo as frases rituais de Maduro: “A nossa soberania está sendo atacada e nós vamos responder com mais soberania”. Sério? Bastaria uma canetada do STF para bloquear o X no Brasil.

Liberdade de expressão não é um direito absoluto. A lei brasileira impõe-lhe limites, a fim de incrustá-la na arquitetura de um conjunto de direitos em perene tensão. Veta-se calúnia, injúria e difamação. É proibido incitar à violência contra instituições, grupos sociais ou indivíduos. São parâmetros que desagradam tanto à extrema direita quanto à esquerda.

Médici, Pinochet, Bin Salman… André Mendonça, ministro do Arbítrio de Bolsonaro, abriu investigações contra críticos de seu mestre com base na Lei de Segurança Nacional.

MILÍCIAS DIGITAIS – Liberdade de expressão, segundo os extremistas de direita, é a liberdade das milícias digitais. Venezuela, Cuba, a Rússia de Putin, a “democracia relativa” lulista. Liberdade de expressão, segundo a esquerda fóssil, é a liberdade para eles mesmos – e a censura para os que divergem. Daí, a cacofonia do debate em curso.

Alexandre de Moraes habituou-se à justiça de exceção empregada nos anos em que Bolsonaro tramava o golpe de Estado. Inspirado pelo conceito de “democracia militante”, um contrabando alemão de Gilmar Mendes, passou da punição legal do discurso criminoso ao bloqueio de contas em redes sociais.

O nome disso é censura prévia do discurso futuro, algo vetado pela Constituição.

CULPA DA IMPRENSA – Embriagado pelo poder, o STF oferece-lhe amparo – e ainda decide responsabilizar a imprensa profissional por declarações de entrevistados.

Bananas e bandeiras: a esquerda aplaude extasiada, sem atinar para a hipótese de que, amanhã ou depois, o alvo seja ela. Na trajetória insana, monta-se um palanque iluminado para as bazófias de Musk e circunda-se um pistoleiro digital bolsonarista foragido com a auréola do martírio.

O teatro passa, o ruído cessa. Musk não será punido por crimes que não cometeu. As plataformas de redes sociais continuarão protegidas pelo manto da irresponsabilidade legal. Ao som do mar e à luz do céu profundo, seguiremos fingindo que os crimes digitais de verdade não existem.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGApenas um reparo. A União Europeia ainda não conseguiu regulamentar as redes sociais. Apenas aprovou normas genéricas, que são simplemente demonstrativas de intenção, mas ficou faltando definir as regras de verdade, que nenhum país do mundo até agora conseguiu fazer. O problema é esse. Caso contrário, bastaria o Brasil imitar a União Europeia . (C.N.)