Bernardo Mello Franco
Folha
Depois do silêncio, o aplauso. Foi assim que o PT reagiu às críticas do ex-presidente Lula, que atacou o governo Dilma e acusou o partido de ter envelhecido e só pensar na ocupação de cargos.
No início, ninguém quis contestar o chefe. “Todo mundo tem direito de criticar”, desconversou Dilma. “Não me estresso com essas coisas”, disse o líder do governo na Câmara, deputado José Guimarães. “Não vejo como críticas, mas como uma provocação, um chacoalhão”, enrolou o líder da sigla, Sibá Machado.
Quando ficou claro que não haveria debate a sério, os senadores petistas se encorajaram a emitir uma nota de desagravo ao ex-presidente. “A bancada do PT no Senado manifesta sua total e irrestrita solidariedade ao grande presidente Lula, vítima de campanha pequena e sórdida de desconstrução”, afirmaram.
O texto soou estranho porque Lula não foi atacado para inspirar solidariedade dos comandados. Pelo contrário: ele é que fez duros ataques ao partido, ao governo e a Dilma, solenemente ignorada pelos senadores.
PARTIDO DA BOQUINHA
O novo discurso do ex-presidente lembra uma famosa estocada de Anthony Garotinho, que em 1999 rebatizou o PT como Partido da Boquinha. A diferença é que o então governador do Rio vivia em guerra com o petismo, e Lula continua a ser o líder máximo do partido.
A apatia não é apenas um sintoma de subserviência ao ex-presidente. Os petistas ainda batem cabeça para entender aonde ele pretende chegar com as críticas à sigla que fundou e à presidente que alojou em seu lugar. Há quem aposte em um esboço de estratégia para se descolar da imagem de Dilma, mas muita gente vê apenas irritação, destempero e temor com os avanços da Lava Jato.
Para sorte do Planalto, a oposição parece pouco interessada em tirar proveito da combustão interna do PT. Nesta terça, Aécio Neves e aliados gastaram a maior parte da sessão do Senado com longos discursos sobre a crise… na Venezuela.
A atitude do ex-presidente me faz lembrar da Mitologia Grega, de Kronos, o Tempo, que devora os filhos.
Na verdade o PODER é irresistível, sendo o maior dos afrodisíacos. As críticas do ex-presidente soaram como um mea-culpa. Seja qual for o objetivo de suas críticas, elas estão umbilicalmente ligadas ao criador (LULA) e a criatura (PT).
Durante longos 12 anos no exercício de PODER, membros da legenda e intelectuais criticaram os rumos do Partido, já prevendo a crise aguda pela qual o PT está passando. A principal delas foi o arco de alianças com as forças atrasadas do Congresso Nacional, ligadas a antiga ARENA e que somaram forças ao Centrão do PT, em troca de cargos e nacos do Estado.
Um segundo ponto importante, tratou-se de medidas impopulares para agradar o mercado financeiro, tanto no período de 2002 até 2008 e depois com mais intensidade, a partir de 2014. Lideranças do PT, quando confrontadas com a dicotomia entre a legenda e os atos de governo retrucavam que não poderiam se dissociar ante a modernidade dos novos tempos, que afinal sempre foram os mesmos.
Então, o PT cerrou fileiras em medidas que vinham da era PSDB, como a Reforma da Previdência 2 (já pensam na terceira Reforma) e na Privatização 2, que seus próceres gostam de dizer que é concessão. Em contrapartida aumentaram os repasses do Bolsa Família, a única boa medida na direção da parcela mais pobre da população, porém, aumentaram os investimentos subsidiados para o setor produtivo via BNDES, com juros de 5% ao ano. Deu com uma mão para os pobres e a outra junto com os pés para os ricos. Alguém se lembra de Getúlio Vargas, o pai dos pobres a mãe dos ricos? Lógico que as mães são mais generosas do que os pais. Nunca neste país os bancos e empreiteiras lucraram tanto. Não podia dar certo, tanto que o tão propalado Ajuste Fiscal teve que ser gestado para evitar o pior, que seria a inflação com estagnação, a pior deflagradora do desemprego e da desesperança. Esse filme nós já vimos a partir da década de 80 e que foi preponderante para o fim do ciclo militar.
Em síntese: Quando a economia vai mal nada mais dá certo e as crises assumem o palco iluminado, tanto nos países quanto no sacrossanto ambiente familiar.
Vemos tamanha dependência que estes senadores desta quadrilha… ops… Sigla tem a Lula. Todos devem pensar como O CHEFE, senão serão expulsos.
2015 é o fim desta gangue. Viva, Dr Moro!
” os petistas batem cabeça pra entender…” Acho que teremos que desenhar para ver se entendem que se trata de um processo de descolamento de um governo fracassado. Um governo petista.