Recessão econômica exige continuidade das políticas sociais tipo Bolsa Família

Charge do Felipe Coutinho (Arquivo Google)

Paulo Haddad
O Tempo

Uma das principais mazelas da atual política econômica tem sido o empobrecimento de diversos segmentos sociais da população brasileira nos últimos três anos à medida que avança a recessão. Nesse período, a renda per capita da sociedade, em seu conjunto, diminuiu em mais de 10%. Simultaneamente, alguns grupos sociais e muitas famílias vivenciaram um rápido processo de empobrecimento, com diferentes trajetórias.

Em primeiro lugar, é preciso destacar que a pobreza admite uma escala que vai da situação de pobreza relativa até a situação de miséria.

POBREZA E MISÉRIA – No caso de pobreza menos intensa, considera-se que uma família ou um grupo social possa dispor de renda e de capital no nível de atendimento de suas necessidades básicas. Noutro extremo, estão os miseráveis e os despossuídos, que vivem numa situação de pobreza absoluta e de extrema vulnerabilidade social.

A recessão econômica gera a metamorfose do empobrecimento, conforme as perdas e os danos das famílias e dos grupos sociais que venham a ocorrer em termos de capital financeiro (poupança, aplicações financeiras, ações etc.) e não financeiro (casa própria, terra etc.) ou em termos de nível de renda real (salários, juros, lucros, aluguéis). Algumas das trajetórias dessa metamorfose podem ser observadas com frequência maior nesses anos de recessão econômica. Vejamos dois exemplos.

CLASSE MÉDIA – Na trajetória de empobrecimento de famílias e grupos sociais da classe média (funcionários públicos, profissionais liberais, microempresários etc.), a perda inicial pode dar-se pelo desemprego, pelo apelo ao subemprego, pela fragilidade financeira ou pela perda de poder aquisitivo.

A trajetória, nesse caso, tem observado, frequentemente, o seguinte passo a passo: após a primeira queda de renda real, busca-se recompor o padrão de vida por meio da monetização dos ativos financeiros e não financeiros. Esgotada essa alternativa ao longo dos meses, o efeito cremalheira ou a resiliência do padrão de consumo já conquistado induz a diferentes formas de endividamento, o que pode ser fatal no momento seguinte.

Um novo passo ocorre quando se abre mão do padrão de consumo, migrando do plano de saúde particular para o sistema público de atendimento à saúde, do aluguel em residências localizadas em bairros de classe média para moradias em áreas periféricas etc. Nesse passo a passo, acumula-se o desalento, perde-se a autoestima, aumentam o estresse e a tensão emocional.

CLASSE MÉDIA BAIXA – Um segundo caso refere-se a grupos sociais e famílias pertencentes aos chamados “segmentos D e E” da sociedade (em geral, trabalhadores de mão de obra não qualificada ou semiqualificada).

Quando caem para situação de pobreza absoluta, com carência de recursos financeiros e de capital para atender as necessidades básicas de suas famílias diante do desemprego aberto, caminham, então, para a situação dos sem-teto, dos andarilhos, dos socialmente marginalizados e vulneráveis.

Quanto mais a recessão aprofunda-se, com risco de se tornar uma depressão econômica, mais podem-se observar casos dessa pobreza andarilha e sem-teto a mendigar nos grandes centros urbanos das áreas economicamente empobrecidas do país.

POLÍTICAS SOCIAIS – Emerge, então, a importância da preservação das políticas sociais compensatórias num contexto em que as portas de saída estão cerradas para os novos pobres. Trata-se dos benefícios sociais continuados para idosos e pessoas com deficiência física (Loas), do programa Bolsa Família, da Previdência.

É um processo de redistribuição ou transferência de pouco dos que têm muito que acaba representando muito para os que têm pouco.

(Paulo Haddad foi ministro do Planejamento e da Fazenda no governo Itamar Franco)

11 thoughts on “Recessão econômica exige continuidade das políticas sociais tipo Bolsa Família

  1. PGR desiste de nova delação da Andrade Gutierrez

    A desistência ocorreu após procuradores questionarem se haveria relatos de crime envolvendo o ex-presidente Lula e teles e receberem um não como resposta.

    Os casos de interesse da PGR: 1) o investimento de R$ 5 milhões feito em 2005 pela Telemar na Gamecorp, empresa de Fábio Luis Lula da Silva, o filho mais velho de Lula; 2) a compra da Brasil Telecom em 2008 pela Telemar, negócio no qual o Banco do Brasil e o BNDES entraram com R$ 6,8 bilhões; e 3) a história narrada pelo publicitário Marcos Valério, condenado no mensalão, de que a Portugal Telecom pagou propina de 2 milhões de euros ao PT.

    A Andrade Gutierrez negou aos procuradores que tenha havido crime nesses três episódios

    https://goo.gl/5nLDhc

    Sem Lula, sem acordo. Simples assim.

  2. O ilustre Prof. e Ministro da Fazenda Sr. PAULO HADDAD, do Governo ITAMAR FRANCO, chama a atenção dos maus efeitos sociais causados pela forte Recessão do últimos 2 1/2 anos, com perda de Renda perCapita de mais de 10% e causando Desemprego Oficial de 14 Milhões de Brasileiros, outros +- 14 Milhões que já desistiram de procurar Emprego e estão vivendo de “bicos”, sub-Empregos, etc.
    Esse enorme contingente de Brasileiros de quase 30 Milhões, necessita mais do que nunca de Políticas Sociais tipo Bolsa-Família.

    O Governo, na ânsia de reduzir o Deficit Fiscal não pode esquecer disso.

    Nossa Economia sofreu duplo golpe. No Plano interno devido a crescente Deficit e Endividamento potencializado pela Recessão, e no Plano Externo causado pela desaceleração da Economia Mundial, principalmente China, com grande queda de Preços de nossas Commodities Exportáveis que só agora se recuperam lentamente, mas ainda +- 35% abaixo da Média dos últimos anos.
    Para consertar os desequilíbrios surgidos, requerem-se tempo e PACIÊNCIA, e o Governo, cuja tarefa não é fácil, está operando para o lado certo, mas não pode deixar de ajudar os que mais necessitam.

    • Caro Sr. Flávio José Bortolotto … Saudações!

      Realmente, o Governo Temer tem dificuldades para encontrar Unidade Nacional.

      O senhor vale uma ‘think tank’.

      Seria interessante nosso editor CN avançar e, além do debate democrático, partir para sugestão de soluções.

      Abraços

      • Prezado Sr. LIONÇO RAMOS FERREIRA,

        Muito Obrigado pelas palavras amáveis, embora não merecidas.
        Para a sugestão de soluções, para acabar com a Recessão e se fazer a Economia do Brasil voltar a crescer forte, é meio complicado, porque Grupos Políticos/Econômicos muito poderosos teriam que ter seus interesses prejudicados o que dificulta tudo. Um Grupo Político/Econômico bem organizado tem muito poder de barganha.
        No fim o sacrifício maior cai sempre nos menos Organizados Politicamente,
        Abraços.

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