Pedro do Coutto
Reportagens de Marcelo Correa, Lucas Morethson e Douglas Mota, O Globo, e de Bruno Vilas Boas, Folha de São Paulo, edições de sexta-feira, com base em dados oficiais do IBGE, revelaram que a taxa de desemprego no país subiu de 6,9 pontos em junho, para 7,5% no mês de julho, representando assim, na soma dos últimos meses, uma legião em torno de 7 milhões e 500 mil pessoas sem emprego, já que a força de trabalho do Brasil reúne 100 milhões de habitantes, metade da população. O que é extremamente grave.
Em primeiro lugar, porque a subida do desemprego acarreta inevitavelmente a queda da arrecadação do INSS e do FGTS, uma vez que se encontra atrelada à folha de salários. Em segundo lugar, porque contribui para um declínio ainda maior no consumo, o que se reflete principalmente no ICMS, fonte maior das receitas estaduais.
Ainda sob o aspecto do consumo, o IBGE assinala um recuo, em trinta dias, de junho para julho, de 2,4% na renda dos trabalhadores. Assim, o avanço da queda de renda verificou-se em escala superior à do aumento do desemprego.
CONSUMO RETRAÍDO
O processo reflete, portanto, que a retração no ato de consumir tem como causa não somente o desemprego que ocorreu, mas também o medo de que ele atinja os que não perderam a colocação. Reflexo psicológico natural. Contra o qual não há volume maior e melhor de publicidade que faça resultado. Como pagar as compras e as contas? Torna-se um desafio sombrio e pessoal permanente. abrangendo o universo de todas as famílias brasileiras. Duzentos milhões de habitantes, em torno de 40 milhões de famílias e também de residências.
A população sente que há algo de profundamente errado na ação do governo. Daí a desconfiança que envolve praticamente toda sociedade em suas diversas classes. É natural que aconteça. Afinal de contas emprego e saúde são fundamentais à vida humana.
PORTAS FECHADAS
O desemprego, entretanto, possui outra face, intensamente negativa. Pois se há desemprego crescente é porque também se configura elevação do não emprego. Claro, uma coisa leva a outra. Se milhares de pessoas perdem seus trabalhos, de um lado, de outro milhares de jovens não conseguem ingressar no mercado de trabalho. O índice demográfico brasileiro situa-se em torno de 1%, já descontada a taxa de mortalidade, entre 0,6 e 0,7% a/a. Assim, a cada doze meses, 1 milhão de jovens atingem a idade de começar a trabalhar, já que a mão de obra ativa brasileira equivale à metade da população. Chegam às portas das empresas. E as encontram fechadas.
NÃO HÁ VAGAS
Evidente. Se estão demitindo é porque logicamente não estão admitindo. O impasse socioeconômico, dessa forma, alcança tanto o presente quanto o futuro. Isso de um lado. De outro, classicamente, se a demanda supera a oferta, e a está superando de muito, a média oferecida aos salários baixa na mesma proporção. Isso influi na renda produzida pelo trabalho do ser humano, no Brasil, estimada em 40% do Produto Interno Bruto.
Como o PIB é avaliado em 5,5 trilhões de reais, a fonte do trabalho produz anualmente 2,2 trilhões. Calcule-se por aí o que significa a redução de 2,4% no rendimento fornecido pela mão de trabalho. A grosso modo, podemos calcular uma retração da ordem de 86 bilhões de reais num espaço de apenas trinta dias, de junho para julho.
TENDÊNCIA DE BAIXA
Porém tão preocupante quanto tal queda de valor, é a tendência para baixo que vem se repetindo a cada um dos sete meses que separam janeiro e julho de 2015. E agosto, como será? E daqui para a frente?
A política econômica tem que dar mais atenção ao universo social. Porque sem ele não há economia no mundo capaz de progredir. É isso aí.
Se o Governo não cortar, realmente, suas despesas vamos terminar tendo uma carga tributária de 110%.
Exemplo:
1- A primeira parcela do 13º que as Vossas Excelências receberam e cortaram dos aposentados do INSS, que pagaram pelas suas aposentadorias.
2- Numero de participantes da comitiva que viaja com a dona Dilma Antonieta. Só aguardo sua ida para o Cadafalso.
O CAGED – Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do Ministério do Trabalho – informou anteontem o comportamento do emprego em julho: fechamento de mais 157.905 postos de trabalho formal.
De janeiro a julho o comportamento é de fechamento de 494.386 postos de trabalho formal. E computados nos últimos doze meses, até julho, fechamento de 778.731 postos de trabalho formal, isto é, com carteira assinada.
Veja as tabelas:
Evolução do emprego no Brasil por setor de atividade econômica (últimos doze meses – agosto/2014 a julho/2015):
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SETORES……………………………………………..ADMISSÕES……DESLIGAMENTOS…….SALDOS
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Extrativa mineral………………………………….46.873………………59.422……………….-12.549
Indústria de Transformação……………..3.231.731………….3.659.574……………..-427.843
Serv. Ind. De Utilidade pública………………94.279……………….96.012………………..-1.733
Construção Civil……………………………….2.334.322………….2.689.876……………..-355.554
Comércio…………………………………………4.980.155………….4.965.185………………..14.970
Serviços……………………………………………7.930.139…………7.896.989………………..33.150
Administração Pública……………………………85.861……………..94.398………………..-8.537
Agricultura………………………………………..1.093.984………..1.114.619……………….-20.635
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Brasil………………………………………………19.797.344……….20.576.075…………….-778.731
Fonte: CAGED/MTE.
Estoque de Emprego Celetista – série com ajustes. (julho/2015):
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SETORES……………………………………………………..Qtd. de Trabalhadores……………(%)
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Extrativa mineral…………………………………………………..213.823……………………..0,53
Indústria de Transformação………………………………..7.986.464……………………19,62
Serv. Ind. De Utilidade pública……………………………….418.674……………………..1,02
Construção Civil………………………………………………….2.910.319…………………….7,15
Comércio……………………………………………………………9.202.662…………………..22,61
Serviços…………………………………………………………….17.413.408………………….42,77
Administração Pública……………………………………………908.216……………………2,23
Agropecuária………………………………………………………1.657.533……………………4,07
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Total das Atividades…………………………………………..40.711.099………………..100,00
Fonte: CAGED/MTE.
Elaboração: própria.
E o Brasil continuará sendo um país de gente pobre cuja população possui um rendimento nominal mensal domiciliar per capta de R$1.052,00.
Adaptação estatística da PNAD contínua realizada pelo IBGE à classificação dos estratos sociais feita pela ABEP (Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa):
Unid. da Federação…Rendi. nominal mensal domiciliar per capta…Estrato Social segundo a ABEP
—————————————————————————————————————————————-Brasil………………………….R$1.052,00…………………….pobre, mas não extremamente pobre
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Rondônia…………..….……R$762,00……………………….extremamente pobre
Acre……………………..……R$670,00……………………….extremamente pobre
Amazonas………………….R$739,00……………………….extremamente pobre
Roraima…………………….R$871,00………….………..….pobre, mas não extremamente pobre
Pará………………………….R$631,00……………………….extremamente pobre
Amapá………………………R$753,00……………………….extremamente pobre
Tocantins…………………..R$765,00……………………….extremamente pobre
Maranhão………………….R$461,00……………………….extremamente pobre
Piauí………………………….R$659,00……………………….extremamente pobre
Ceará…………………………R$616,00……………………….extremamente pobre
Rio Grande do Norte……R$695,00……………………….extremamente pobre
Paraíba……………………….R$682,00……………………….extremamente pobre
Pernambuco……….………R$802,00……………………….extremamente pobre
Alagoas……………………….R$604,00……………………….extremamente pobre
Sergipe………………….……R$758,00……………………….extremamente pobre
Bahia…………………….……R$697,00……………………….extremamente pobre
Minas Gerais………….……R$1.049,00……………….……pobre, mas não extremamente pobre
Espírito Santo………….…..R$1.052,00……………….……pobre, mas não extremamente pobre
Rio de Janeiro………………R$1.193,00…………….………vulnerável
São Paulo……………………R$1.432,00…………….……….vulnerável
Paraná………………………..R$1.210,00…………….……….vulnerável
Santa Catarina……………..R$1.245,00…………….……….vulnerável
Rio Grande do Sul…………R$1.318,00…………….……….vulnerável
Mato Grosso do Sul………R$1.053,00…………….……….pobre, mas não extremamente pobre
Mato Grosso………………..R$1.032,00…………….……….pobre, mas não extremamente pobre
Goiás…………………………..R$1.031,00……………………..pobre, mas não extremamente pobre
Distrito Federal…………….R$2.055,00……………………..baixa classe média
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Fonte:IBGE – PNAD Contínua 2014 / ABEP.
Critérios da ABEP (Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa):
– Renda média familiar até R$854,00 é considerado extremamente pobre;
– Renda média familiar de R$854,01 até R$1.113,00 é considerado pobre, mas não extremamente pobre;
– Renda média familiar de R$1.113,01 até R$1.484,00 é considerado vulnerável;
– Renda média familiar de R$1.484,01 até R$2.674,00 é considerado baixa classe média;
– Renda média familiar de R$2.674,01 até R$4.681,00 é considerado média classe média;
– Renda média familiar de R$4.681,01 até R$9.897,00 é considerado alta classe média;
-Renda média familiar de R$9.897,01 até R$17.434,00 é considerado baixa classe alta;
– Renda média familiar acima de R$17.434,00 é considerado alta classe alta.
Agradeço ao mestre Wagner Pires as informações do Brasil real.
Há que levar em conta de que as estatísticas do IBGE não contemplam os 50 milhões de brasileiros que usufruem do Bolsa Família, isto é, são entre 20 a 25 milhões de habitantes em idade de emprego mas sem ocupação produtiva, e que não constam como desempregados nem como população ativa.
O Bolsa Família tem um benefício básico mensal por pessoa de até R$ 77, valor este não considerado como de extrema pobreza.