Tertúlia infantil no Supremo


Carlos Chagas

Joãozinho e Juquinha eram vizinhos de carteira, na sala de aula, e viviam se implicando. Precisou a professora interferir na disputa, botando um em cada canto da classe e ameaçando os dois com castigo.

Com todo o respeito, estamos assistindo no Supremo Tribunal Federal uma tertúlia parecida. Coisa pequena, infantil, mas que perturba as lições de alfabetização ministradas a todos os meninos e meninas.

O presidente da mais alta corte de justiça do país negou o recurso de João Paulo Cunha, determinando a prisão do deputado. Só que esqueceu ou não quis assinar o mandado de prisão que imediatamente deveria ter encaminhado à Polícia Federal.

Como Barbosa saiu de férias naquele mesmo dia, os ministros Carmem Lúcia e Ricardo Leswandowski, que o substituíram, deixaram de expedir o mandado de prisão. Com base no regimento interno, entenderam que a iniciativa caberia ao relator do processo do mensalão, o próprio Barbosa, ainda que casos de urgência, como esse, exigissem a ação de quem estivesse ocupando a presidência da casa.

Claro que o presidente armou uma arapuca para os dois colegas, imaginando que um deles assinasse o mandado de prisão e, assim, ficasse comprometido com a decisão. Em especial para demonstrar que o julgamento do mensalão foi uma decisão colegiada, jamais obra de um só julgador, como o acusam. Carmem Lúcia e Ricardo Lewandowski, por coincidência, haviam votado em favor de João Paulo Cunha numa das acusações a que respondeu.

Os dois substitutos não quiseram comprometer-se. Quem gerou Mateus que o embale.

Joaquim Barbosa não gostou de ver desmontada sua armadilha e estrilou, mesmo de férias em Paris. Sem fulanizar a queixa, disse que seus colegas não cumpriram suas obrigações. Acrescentou que se fosse substituto, como os dois, não teria hesitado em assinar o mandado de prisão. Explicou não ter assinado porque já estava voando para o exterior. A assinatura não seria um ato pessoal, e quem estivesse de plantão poderia tê-lo praticado. Para ele, está havendo uma tremenda personalização de decisões que são coletivas, “mas estão procurando transformá-las em decisões do Joaquim Barbosa”.

O resultado é que João Paulo Cunha goza de mais um mês de liberdade. Até deixou Brasília para permanecer em São Paulo. Será preso quando o presidente do Supremo reassumir suas funções, em fevereiro.

Assistimos mais um capítulo da novela encenada por Joãozinho e Juquinha, porque Carmem Lúcia pode ter entrado na briga como Pilatos no Credo. Na verdade, o choque é entre Joaquim Barbosa e Ricardo Lewandowski, que durante todo o processo do mensalão andaram às turras, agredindo-se. Como não há uma professora para apartá-los, voltam-se as atenções para o mês de novembro, quando expira o mandato de Barbosa e Lawandowski assume o lugar. Até lá serão julgados os embargos infringentes de alguns mensaleiros ainda soltos, imaginando-se que farão companhia a João Paulo Cunha, depois que for assinado seu mandado de prisão.

Indaga-se da possibilidade de Joaquim Barbosa requerer aposentadoria, para não ver invertida a relação prevalente até agora. Há quem suponha que a partir de novembro os mensaleiros entrarão, em peso, com pedidos de revisão de seus processos, já então sob nova direção na presidência do Supremo.

2 thoughts on “Tertúlia infantil no Supremo

  1. Infelizmente sem Joaquim Barbosa na presidência do Supremo a “vaca vai para o brejo”, como se dizia antigamente.
    E a Terra da Jabuticaba continuará sendo o oásis dos corruptos. Porque roubar milhões, por aqui, não é crime.

  2. Sr jornalista e senhores leitores desse blog, me desculpem, mas este país virou um verdadeiro cabaré.

    Me desculpe os mesmos….

    Vejo aqui comentários tentando explicar politicamente, sociologicamente, “futebolisticamente”, etc., mas infelizmente não tem mais jeito, a vaca não vai, já foi pro brejo há muito tempo.

    As futuras gerações estão literalmente ferradas, para não dizer algo mais pesado.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.