
Couto, na visão de Vicente do Rego Monteiro
Paulo Peres
Site Poemas & Canções
O magistrado, diplomata, jornalista, romancista, contista e poeta paulista Rui Ribeiro de Almeida Couto (1898-1963), no poema “Fado de Maria Serrana”, expõe o pedido da prostituta que trocou a vida serrana pela cidade grande.
FADO DE MARIA SERRANA
Ribeiro Couto
Se a memória não me engana,
Pediste-me um fado triste:
Triste Maria Serrana,
Por que tal fado pediste?
Na serra, a fonte e as ovelhas
Eram só os teus cuidados;
Tinhas as faces vermelhas,
Hoje tens lábios pintados.
Hoje de rica tens fama
E toda a cidade é tua;
Tens um homem que te chama
Ao canto de cada rua.
Mas ai! pudesses de novo
Tornar à serra, Maria!
Se não te perdoasse o povo,
A serra te perdoaria.
Lá te espera o mesmo monte,
E a casa junto ao caminho,
E a água da mesma fonte
Que diz teu nome baixinho.
Secos teus olhos de mágoa,
Se não tivessem mais pranto,
Choraria aquela água
Que já por ti chorou tanto.
Fado é sempre triste, nostálgico.Adoro! Tenho meus fadistas deste mil oitocentos e antigamente. Amália Ropdrigues (a rainha do fado) Francisco José (que deixava a gente feliz ) Madredeus, Robeerto Leal e muitos outros.
Que não curte estes fados: Foi Deus.
Lado a lado.
Perseguição.
Nem às paredes confesso.
Fado do ciúme.
Lisboa antiga.
Ai, Mouraria.
Alguns foram gravados por nossos cantores como Nelson Gonçalves – Nem as paredes confesso, Só só dois, e outros.
Paulo Peres, você é demais, trazer o fado dos portugueses pra nós. Obrigada.
Lisboa Antiga
Amália Rodrigues
Lisboa, velha cidade,
Cheia de encanto e beleza!
Sempre a sorrir tão formosa,
E no vestir sempre airosa.
O branco véu da saudade
Cobre o teu rosto linda princesa!
Olhai, senhores, esta Lisboa d’outras eras,
Dos cinco réis, das esperas e das toiradas reais!
Das festas, das seculares procissões,
Dos populares pregões matinais que já não voltam mais!
Lisboa, velha cidade,
Cheia de encanto e beleza!
Sempre a sorrir tão formosa,
E no vestir sempre airosa.
O branco véu da saudade
Cobre o teu rosto linda princesa!
Olhai, senhores, esta Lisboa d’outras eras,
Dos cinco réis, das esperas e das toiradas reais!
Das festas, das seculares procissões,
Dos populares pregões matinais que já não voltam mais!
“Mas ai! pudesses de novo
Tornar à serra, Maria!
Se não te perdoasse o povo,
A serra te perdoaria”
Não é triste este fado, porque acena esperança. Esperança não é triste.
https://youtu.be/2xcEvmU5grU
Não sei, não sabe ninguém
Porque canto fado, neste tom magoado
De dor e de pranto
E neste momento, todo sofrimento
Eu sinto que a alma cá dentro se acalma
Nos versos que canto
Foi Deus, que deu luz aos olhos
Perfumou as rosas, deu ouro ao sol e prata ao luar
Foi Deus que me pôs no peito
Um rosário de penas que vou desfiando e choro a cantar
E pôs as estrelas no céu
E fez o espaço sem fim
Deu luto as andorinhas
Ai deu-me esta voz a mim
Se canto, não sei porque canto
Misto de ternura, saudade, ventura e talvez de amor
Mas sei que cantando
Sinto o mesmo quando, se tem um desgosto
E o pranto no rosto nos deixa melhor
Foi Deus, que deu voz ao vento
Luz ao firmamento
E deu o azul nas ondas do mar
Ai foi Deus, que me pôs no peito
Um rosário de penas que vou desfiando e choro a cantar
Fez o poeta o rouxinol
Pôs no campo o alecrim
Deu flores à primavera ai
E deu-me esta voz a mim
Deu flores à primavera ai
E deu-me esta voz a mim
https://youtu.be/R3mMiclLuSg
Elegia – Ribeiro do Couto
Que quer o vento?
A cada instante
Este lamento
Passa na porta
Dizendo: abre…
Vento que assusta
Nas horas frias
Na noite feia,
Vindo de longe,
Das ermas praias.
Andam de ronda
Nesse violento
Longo queixume,
As invisíveis
Bocas dos mortos.
Também um dia,
Estando eu morto,
Virei queixar-me
Na tua porta
Virei no vento
Mas não de inverno,
Nas horas frias
Das noites feias.
Virei no vento
Da primavera.
Em tua boca
Serei carícia,
Cheiro de flores
Que estão lá fora
Na noite quente.
Virei no vento…
Direi: acorda…