.jpg)
Jorge de Lima, na visão do amigo Portinari
Paulo Peres
O alagoano Jorge Mateus de Lima (1893-1953) foi político, médico, poeta, romancista, biógrafo, ensaísta, tradutor e pintor. O poema “Mulher Proletária” é uma reflexão sobre a cultura patriarcal vigente na sociedade no preâmbulo do Século XX. Consequentemente, critica o capitalismo por explorar trabalhadores e transformá-los em máquinas e, neste contexto, a mulher é a própria sociedade que fabrica filhos em grande número, máquinas humanas que serão transformadas em braços para manter a burguesia.
MULHER PROLETÁRIA
Jorge de Lima
Mulher proletária — única fábrica
que o operário tem, (fabrica filhos)
tu
na tua superprodução de máquina humana
forneces anjos para o Senhor Jesus,
forneces braços para o senhor burguês.
Mulher proletária,
o operário, teu proprietário
há de ver, há de ver:
a tua produção,
a tua superprodução,
ao contrário das máquinas burguesas
salvar o teu proprietário.
De Jorge de Lima, gosto muito do poema O Acendedor de Lampiões de rua, um vulto histórico que tinha como principal função , imitar o sol, trazendo luz para a cidade, associando-se à lua.
O Acendedor de Lampiões – Jorge de Lima
Lá vem o acendedor de lampiões da rua!
Este mesmo que vem infatigavelmente,
Parodiar o sol e associar-se à lua
Quando a sombra da noite enegrece o poente!
Um, dois, três lampiões, acende e continua
Outros mais a acender imperturbavelmente,
À medida que a noite aos poucos se acentua
E a palidez da lua apenas se pressente.
Triste ironia atroz que o senso humano irrita: –
Ele que doira a noite e ilumina a cidade,
Talvez não tenha luz na choupana em que habita.
Tanta gente também nos outros insinua
Crenças, religiões, amor, felicidade,
Como este acendedor de lampiões da rua!
Mulher proletária, Jorge de Lima faz uma autêntica critica ao capitalismo que explora o trabalhador, Compara a mulher a uma fábrica de produzir filhos. O ser humano não é uma familia, constituida de pai, mãe, filhos e filhas. A mulher é a sociedade que fabrica filhos, como se máquinas fossem. ” teu proprietário/há de ver/a tua produção/a tua superprodução/ao contrário das máquinas burguesas “salvando o teu proprietário.
Os sinos dobram por Luiz Melodia que partiu para o outro lado, hoje, dia 4 de agosto de 2016;
John Donne escreveu: “nenhum homem é uma ilha, que se basta a si mesma. Somos parte de um continente; se um simples pedaço de terra é levado pelo mar, a Europa inteira fica menor. A morte de cada ser humano me diminui, porque sou parte da humanidade. Portanto, não me perguntem por quem os sinos dobram: eles dobram por ti.”