
Ilustração reproduzida do Arquivo Google
Paulo Peres
Poemas & Canções
O advogado e poeta baiano Waly Dias Salomão (1943-2003), no poema “Hoje”, demonstra seu frenesi pela vida, a sua sede de celebrar o momento presente: o aqui e o agora. Logo, mesmo sem expressá-lo claramente, ele demonstra o desejo implícito de passar uma borracha no passado, de suplantá-lo, sempre cultuando o ritmo do presente.
HOJE
Waly Salomão
O que menos quero pro meu dia
polidez, boas maneiras.
Por certo,
um Professor de Etiquetas
não presenciou o ato em que fui concebido.
Quando nasci, nasci nu,
ignaro da colocação correta dos dois pontos,
do ponto e vírgula,
e, principalmente, das reticências.
(Como toda gente, aliás…)
Hoje só quero ritmo.
Ritmo no falado e no escrito.
Ritmo, veio-central da mina.
Ritmo, espinha-dorsal do corpo e da mente.
Ritmo na espiral da fala e do poema.
Não está prevista a emissão
de nenhuma “Ordem do dia”.
Está prescrito o protocolo da diplomacia.
AGITPROP – Agitação e propaganda:
Ritmo é o que mais quero pro meu dia-a-dia.
Ápice do ápice.
Alguém acha que ritmo jorra fácil,
pronto rebento do espontaneísmo?
Meu ritmo só é ritmo
quando temperado com ironia.
Respingos de modernidade tardia?
E os pingos d’água
dão saltos bruscos do cano da torneira
e passam de um ritmo regular
para uma turbulência
aleatória.
Hoje…
sua chacota na contra-mão de Ruy, o águia de Haia, é, no mínimo, ridícula tal qual o poema…
Um Modo de Vida
O que nos vale mil tesouros,
Se o nosso dia não mais amanhece,
Se nossa voz pra sempre cala,
E nada mais nos acontece,
Nem mesmo a dor no adverso.
Por isso, sem reclamar, sigo minha lida,
Festejo sempre a vida,
E, se tempo sobrar, faço versos!