Urbanismo ‘da moda’, arquitetura e engenharia como símbolos de marketing

Rafael Koury

O Brasil está se tornando o país das pontes estaiadas, aquelas suspensas por cabos de aço, de aspecto moderno e elegante. Rio das Ostras (RJ) pode ser considerada precursora desta tendência, inaugurando em 2007 uma ponte que virou símbolo da cidade. No Rio de Janeiro, já existem duas destas pontes construídas, uma ligando a Linha Vermelha à ilha do Fundão e outra sustentando um viaduto do metrô na Cidade Nova. Duas outras estão previstas até a Copa.

A maior parte destas pontes poderia ser construída de forma muito mais simples (e barata), mas o fato é que pontes estaiadas estão “na moda”, tornaram-se símbolos de status para cidades que esperam exibir uma imagem de modernidade, atraindo turistas e investidores. Este fenômeno é semelhante ao que aconteceu com os viadutos nos anos 60 e 70 e não se limita às pontes. Teleféricos em favelas, sistemas de bondes elétricos (VLTs), “mergulhões”, também parecem fazer parte dessa tendência. Em tempos de ecologismo exacerbado, qualquer solução que apresente um viés minimamente “verde” é aclamada por unanimidade entre gestores urbanos. Não pretendo criticar estas soluções do ponto de vista técnico ou estético, exceto quando se apresentam em clara oposição às necessidades, possibilidades ou interesses do local.

No Rio, a Perimetral foi recentemente demolida para dar lugar a uma via enterrada, parte do projeto popularmente conhecido como Porto Maravilha, cujo orçamento total é de R$ 15 bilhões. Em Niterói, outro “mergulhão”, parte do projeto de Jaime Lerner, alagou no dia de sua inauguração, 23/11/2013, transformando-se em uma verdadeira piscina subterrânea. A prefeitura alegou que um cabo de energia foi rompido, interrompendo o sistema de drenagem de água. Mesmo sem questionar os argumentos da prefeitura, seria sensato criar vias subterrâneas ao nível do mar? Não seria irresponsável correr este tipo de risco? Em situações de congestionamento, espaços confinados, sobretudo subterrâneos, causam uma sensação terrível de opressão, para não mencionar os riscos reais de um alagamento.

As obras de engenharia e arquitetura parecem perder seu sentido enquanto equipamentos urbanos, passando a ser valorizadas unicamente como símbolos. Das pontes estaiadas aos grandes eixos viários, das ciclovias aos “mergulhões”, é fundamental avaliar os benefícios e custos reais de cada intervenção, não apenas sua visibilidade e potencial atração de capitais.

Grandes reformas urbanas parecem estar “na moda”. A questão é que essas obras custam muito dinheiro, causam grandes transtornos, não são discutidas com a população, e seu resultado raramente atinge o esperado, quando não causa problemas ainda maiores do que aqueles que pretendia resolver.

(enviado por Yuri Sanson)

5 thoughts on “Urbanismo ‘da moda’, arquitetura e engenharia como símbolos de marketing

  1. Governantes irresponsáveis e caras de pau que fazem marketing
    com dinheiro da população que não tem HOSPITAIS, ESCOLAS,
    SEGURANÇA E SANEAMENTO.

    E MAIS, veja aqui:
    http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/senado-endurece-punicoes-no-transito/

    Senado endurece punições no trânsito.
    Projeto prevê ampliação de multas e outras penas.
    Condutor flagrado na Lei Seca poderá ficar até dois anos sem dirigir.

    PERAÊ:

    POLITICOS ADORAM PUNIR A POPULAÇÃO.
    NADA DE TRANSPORTE PUBLICO.
    NADA DE PUNIR OS CORRUPTOS.

  2. A prioridade de qualquer governo sensível as amarguras do povo, deveria ser: educação, saúde,
    segurança, transporte, enfim tudo aquilo que pode trazer benefício e tranquilidade ao povo.
    Gastar l5 bilhões na obra da Perimetral, obra que não deveria ser prioridade, não vai melhorar
    o trânsito, vai trocar a perimetral por um túnel, somente para a área do porto vai ficar uma
    maravilha. É como um pai, que tem dinheiro para enfeitar a casa, renovar o vestuário
    e não tem dinheiro para atender as necessidades básicas dos filhos. Quinze bilhões, seria
    de suma importância para melhorar o atendimento do SUS e a educação, que estão abandonados.
    A obra da Transcarioca, infernizou a vida dos moradores de Jacarepaguá. Em vez de fazer a obra por
    etapa, ficando o resto da via liberada, preferiram fazer toda a obra de um só vez, então anda-se
    trechos enormes sem ver um só trabalhador. Acredito que fazer a obra por etapa, seria muito mais
    rápido, com o mesmo número de trabalhadores e não causaria tanto transtorno aos moradores.

  3. Creio que esse “Mergulhões”, não passam de um garimpo com o dinheiro público. Posso estar enganado, mas aqui na cidade do RJ, o segundo mergulhão também corta um antigo cais. Fico imaginando essas antigas praias sendo garimpadas, após séculos de carga e descarga de galeões e outros navios, o que se pode encontrar. Não lembro se o da Praça xv teve acompanhamento de algum orgão oficial em arqueologia e que o único “achado”, tenha sido um cais de pedra, assim como foi, o agora “encontrado” do Valongo. Me ajudem a tirar essa dúvida.

  4. Jornalista,
    Não existe CREA-SC, Ministério Público ou Tribunal de Contas que se interesse pela Ponte de Florianópolis – a Hercílio Luz.
    Construída em 1927, foi tirada de operação em 1981. Logo, mais de 50 anos após a sua vida útil.
    Esta sob reforma constante sob o mote de que é um símbolo do Estado de Santa Catarina de 1981 a 2013. Logo, 32 anos de manutenção inútil.
    Sob a égide do atual Secretario da Infraestrutura do Estado, houve uma assembleia visando justificar a manutenção da atual estrutura e, para tanto, trouxeram dos Estados Unidos um engenheiro da empresa que originalmente projetou a Ponte Hercílio Luz.
    O engenheiro americano foi curto e grosso. “Esta ponte esta condenada e já venceu o seu tem de vida”!
    Mesmo assim, deram vazão a atual reforma.
    Se tivessem trocado a ponte velha por outra igual, mantendo o mesmo projeto, o custo para o Estado seria muito menor.
    Além disso, o transito da capital de Santa Catarina estaria mais desafogado e menos caótico como o de hoje. Haveria maior integração da ilha com o continente.
    Cabe a pergunta! A quem interessa essa manutenção constante?
    SDS
    Vitor

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