Thaísa Oliveira e Matheus Teixeira
Folha
O Senado usou a indicação de Lula (PT) para a DPU (Defensoria Pública da União) para mandar um duro recado ao governo e expor o clima de insatisfação na Casa. A força do movimento que levou à rejeição do nome escolhido pelo presidente pegou de surpresa até a oposição.
A avaliação de parlamentares e assessores é a de que a derrota de Igor Roque na quarta-feira (25) confirmou a dificuldade do Planalto de construir uma base sólida, em meio a um balcão de reclamações no Senado.
DESDE AGOSTO – O mal-estar já era explícito no fim de agosto, quando o governo aprovou novas regras para o Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais) com o placar apertado de 34 votos a 27.
Pelas contas do governo, 12 parlamentares da base nem sequer participaram da votação do Carf — mesmo com a possibilidade de votação à distância e com o empenho pessoal de duas das principais lideranças da Casa, o senador Otto Alencar (PSD-BA) e o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA).
O cenário de agosto é parecido com o de Roque nesta quarta-feira, segundo interlocutores do governo ouvidos pela Folha: 35 votos a favor (um a mais que no Carf) e 12 governistas infiéis.
DESGASTE CRESCENTE – O nome do DPU já vinha sendo desgastado por bolsonaristas depois que a instituição anunciou um seminário sobre aborto legal. Os 38 votos para rejeitar a indicação, no entanto, pegaram de surpresa até mesmo senadores da oposição, que esperavam um teto de 30 votos contra — ele precisava de 41 favoráveis para ser aprovado.
Embora no primeiro semestre a relação com o Senado tenha sido melhor, os sinais de desgaste já existiam, de maneira mais tímida, no debate sobre os decretos editados por Lula para alterar o Marco Legal do Saneamento.
O governo contava com o Senado para reverter a derrota sofrida na Câmara, que derrubou as normas sobre saneamento publicadas pelo petista logo no início do mandato. No entanto, os senadores obrigaram o governo a editar novos decretos sobre o tema sob ameaça de novo revés para o Executivo.
ENVIAR UM ALERTA – A leitura nos bastidores sobre a rejeição de Roque é a de que o Senado aproveitou um processo de baixo interesse —a indicação para a DPU— para enviar um alerta para o governo.
A avaliação é que falta à articulação política do Executivo tratar com mais atenção às demandas dos membros do Senado, que vão da liberação de emendas à nomeação de aliados no governo.
A reclamação, no entanto, é difusa e envolve até mesmo a chateação de senadores por não serem chamados para agendas com Lula. O clima com o Senado azedou em meio ao avanço da negociação que culminou com a indicação, para a presidência da Caixa, de um aliado do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).
CÂMARA E SENADO – Nesta semana, deputados liderados por Lira aprovaram a taxação de offshores e de fundos de super-ricos e ajudaram o Ministério da Fazenda no esforço de ampliar a arrecadação federal no próximo ano. Na direção contrária, o Senado aprovou a prorrogação da desoneração da folha de pagamento para 17 setores, o que deve dificultar o plano da equipe econômica de zerar o déficit em 2024.
Outro ponto de preocupação do governo é a guinada que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), deu ao aproximar-se da oposição e encampar uma pauta anti-STF (Supremo Tribunal Federal).
A avaliação no Planalto é que a votação de propostas que atingem o Supremo têm potencial para ganhar corpo e gerar uma crise entre os Poderes capaz de atrapalhar o ambiente político, como no caso do marco temporal.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Ficam claras duas situações. O deputado Arthur Lira foi comprado a bom preço, mas o governo Lula não vai conseguir comprar o senador Rodrigo Pacheco, e a crise institucional vai se agravar. (C.N.)
A politica oficial do país virou um mercado persa, se compra e se vende de tudo. A esquerda vai se dando bem com seu modus operandi como arrematadora de pechinhas.
Os mequetrefes se locupletam em bocas e boquinhas e os compradores de gado no atacado querem tudo de porteira fechada.
É difícil um alinhamento pró Brasil do governo progressista com um Congresso de maioria de direita e extrema direita, reacionário de um conservadorismo do passado que não acompanhou a evolução.
Pacheco está preocupado com seu futuro eleitoral em Minas Gerais, sabe que o governo terá um candidato de esquerda o que sobra para Pacheco, é a direita e a extrema direita do Zema., por isso, está defendendo pautas bolsonraristas, como o ataque ao STF, o aborto e o marco temporal.
“Outro ponto de preocupação do governo é a guinada que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), deu ao aproximar-se da oposição e encampar uma pauta anti-STF (Supremo Tribunal Federal).”
Muito particularmente, não vejo essa iniciativa como “encampar uma pauta anti-STF”, mas sim uma retomada na valorização do papel de responsabilidade, do Senado Federal, naquilo que faz parte de sua competência, enquanto partícipe integrante dos Três Poderes, quiçá fosse por interesse nacional, e não apenas pessoais,