Lula é uma metamorfose ambulante, mas exagerou no caso da Venezuela

Lula descarta desvinculação de aposentadoria do salário mínimo | Agência  Brasil

Lula mandou Gleisi soltar nota do PT apoiando Maduro

Elio Gaspari
O Globo

Alguma coisa aconteceu no coração do governo. No dia 17 de julho, o presidente venezuelano Nicolás Maduro disse que o resultado da eleição de domingo passado poderia levar a um “banho de sangue” com “uma guerra civil fratricida”. Ele batalhava por um terceiro mandato.

No dia 22, durante uma entrevista a agências internacionais de notícias, Lula declarou-se “assustado” com a fala do colega: “Eu já falei para o Maduro duas vezes, e o Maduro sabe, que a única chance da Venezuela voltar à normalidade é ter um processo eleitoral que seja respeitado por todo o mundo”.

Recebeu um imediato contravapor de Maduro que, sem citá-lo, recomendou-lhe tomar chá de camomila. No dia 28, veio a eleição e foi o que se viu.

MAIS BOBAGENS – Na terça-feira (30), Lula assustou quem o ouvia ao dizer que “não tem nada de grave, nada de anormal” e recorreu a um precedente nacional: “Sempre que tem um resultado apertado as pessoas têm dúvidas. Aqui no Brasil você viu o que aconteceu. Mesmo quando o Aécio (Neves) perdeu para a Dilma e entrou com recurso para anular a eleição”.

Paralelo absurdo. Em 2014, ninguém mais contestou a lisura da reeleição de Dilma Rousseff. Ela não fechou as fronteiras terrestres, nem barrou a entrada de observadores internacionais. Anos depois, o próprio Aécio revelou que entrou com a ação “só para encher o saco”.

Mesmo para uma pessoa que se declara “uma metamorfose ambulante”, Lula foi de uma ponta a outra na questão, como se estivesse tratando de algo sem importância.

MORTES E PRISÕES -Desde domingo passado já morreram dezenas de pessoas na Venezuela e mais de mil foram encarceradas. O Centro Carter, instituição criada pelo ex-presidente americano Jimmy Carter, vinha acompanhando a campanha, declarou que “a eleição presidencial da Venezuela de 2024 não se adequou a parâmetros e padrões internacionais de integridade eleitoral e não pode ser considerada democrática”.

(A presença do Centro Carter tinha sido apresentada pelo embaixador Celso Amorim como indicação da lisura de Maduro).

É visível que desde domingo o governo de Lula se equilibra como uma Rebeca Andrade na prova das barras assimétricas. Não houve nada de grave, mas Brasília teve que garantir a segurança da embaixada da Argentina em Caracas.

REUNIÃO COM GLEISI – As repórteres Marianna Holanda e Catia Seabra lançaram luz sobre a metamorfose. Na noite de segunda-feira (29), antes da fala de Lula, a executiva nacional do PT reconheceu a vitória de Maduro. Horas antes, Gleisi Hoffmann e Cleide Andrade, presidente e tesoureira do PT, estiveram com Lula no Palácio da Alvorada.

Esta não foi a primeira vez que Lula e a máquina do PT tomaram caminhos diferentes. Quando a crise lhe dá tempo, Lula apara as arestas e prevalece. A encrenca venezuelana foi muito rápida. Nesse caso, o ronco bolivariano de uma parte do PT prevaleceu.

Assim como na reeleição de Maduro, há outras áreas de atrito entre o governo de Lula 3.0 e correntes do PT. A crise venezuelana um dia poderá sair da agenda nacional, mas a gestão da economia, com seus reflexos políticos, continuará viva.

TUDO ERRADO – Apoiar Maduro é uma coisa, minar a gestão da economia é outra. Bem outra é sabotar uma política de contenção dos gastos públicos ou flertar com uma polícia que possa chamar de sua.

Na sua fala de terça-feira (30), Lula disse: “Vejo a imprensa brasileira tratando como se fosse a Terceira Guerra Mundial. Não tem nada de anormal”. Noves fora a anormalidade da eleição venezuelana, fica a impressão de que o problema estava na imprensa, essa malvada.

Para um país que ralou quatro anos de Bolsonaro, Lula é um campeão na sua relação com os jornalistas. Mesmo assim, ele mostrou que ainda tem a alma envenenada com a espécie.

DISSIDENTES – O líder de seu governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (AP-PT), disse o seguinte: “Uma eleição em que os resultados não são passíveis de certificação e onde observadores internacionais foram vetados é uma eleição sem idoneidade”.

E Marina Silva, ministra do Meio Ambiente, também falou: “Na minha opinião pessoal, eu não falo pelo governo, não se configura como uma democracia. Muito pelo contrário. O Brasil está muito correto quando diz que quer ver o resultado eleitoral, os mapas, todas as comprovações de que de fato houve ali uma decisão soberana do povo venezuelano”.

8 thoughts on “Lula é uma metamorfose ambulante, mas exagerou no caso da Venezuela

  1. Mais adiante, eis:
    Alerta de Notícias de 11/7/2024: (1) Quanto tempo irá demorar até que este caos atual se transforme no pesadelo da Terceira Guerra Mundial? (2) A China cerca Taiwan com seu maior exercício naval e aéreo de todos os tempos. (3) A crise com Biden está transformando muito rapidamente os EUA em um novo país comunista! (5) A administração Biden libera o embarque de bombas de 500 libras (cerca de 225 kg) para Israel. Novo em 5/7! https://www.espada.eti.br/alerta-2024-07-11.htm

  2. Ponderado Nilton,

    A situação política na Venezuela só mudaria num golpe de estado diz a História.

    Um golpe contra o atual governo que – reconhecido ou não – está efetivamente no poder.

    E golpe na região é dado historicamente por forças armadas com intervenção estrangeira (leia-se Estados unidos).

    A exemplo do que ocorreu no Brasil em 1964, no Chile em 1973 e na Argentina em 1976.

    O resto seria blá, blá, blá.

  3. Lula e Maduro, cada um em seu país, são chefetes do Cartel Narco-socialista latino-americano. Um tem a mão enfiada no rabo do outro.

    Os brasileiros minimamente informados conhecem o depoimento arrasador da Mônica Moura, a mulher do marqueteiro João Santana, sobre os milhões de dólares torrados para fraudar a vontade popular na Venezuela. O Carbajal também falou sobre os pacotes de dinheiro do narcotráfico, mandados para o Lula via malotes diplomáticos. Até a então senadora Heloísa Helena falou sobre os narco-dólares do PT.

    O consórcio PT/STF não pode abandonar os assassinos venezuelanos.

  4. Lula falou, assim como os observadores do centro Carter, que as eleições na Venezuela no dia 28 de julho, ocorreram com normalidade.

    Lula não falou ou se alguns preferirem, omitiu os impedimentos de candidaturas ou até as manobras que impediram exilados em outros países de votarem. Também não falou dos protestos e repressões pós-eleições.

    Certamente a posição do governo do Brasil, México e Colômbia é a mais sensata ao exigir que se mostrem as atas eleitorais das urnas.

    Até a oposição agradece, pois só uma negociação impediria coisa mais séria e ainda o incremento do êxodo de pessoas para os países vizinhos, o que traria consequências péssimas.

    . https://www.elnacional.com/venezuela/protestas-en-venezuela-exfuncionarios-chavistas-piden-parar-la-represion-en-el-pais/

    https://www.elnacional.com/venezuela/represion-a-lo-nicaragua-colapso-del-regimen-o-una-solucion-sin-vencedores-ni-vencidos-que-le-espera-a-venezuela/

  5. Concordo com seu ponto, Vidal.
    É obrigação de qualquer presidente do Brasil ter relações diplomáticas e cordiais tanto com a Venezuela, quanto qualquer país vizinho de fronteira.
    O eventual colapso por lá não interessa ao Brasil, não ganhamos nada com isso, receberíamos milhares de imigrantes de lá, principalmente os estados do norte.
    O colapso da Venezuela interessa aos EUA, porque eles pegariam o óleo deles praticamente de graça, como o próprio Trump declarou.
    Nós não teríamos nenhum benefício com o colapso deles, independente dos bolsotários acharem que não devemos conversar com ditadores, apesar de que isso é beeeeeem relativo pra essa cambada, pois com a Arábia Saudista e outros países árabes que também são ditaduras ninguém fala nada contra, com eles pode-se conversar e até aceitar mimos bem caros que eles distribuem.
    A birra é só com o regime Venezuelano, cubano e da Coreia do Norte.
    Eu não votaria no Maduro se fosse venezuelano, mas também não apoio romper relações com eles.
    Países tem laços diplomáticos pragmáticos, não ideológicos.

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