Tulio Kruse
Folha
O acúmulo de gelo nas asas do avião se tornou a principal hipótese para a queda do voo 2283 da Voepass na última sexta-feira (9) por uma combinação de fatores. Havia condições severas de meteorologia que favoreciam a formação de gelo, a aeronave ATR 72-500 voa exatamente na altitude onde esse fenômeno é mais intenso e existe um histórico de acidentes desse mesmo modelo nessas condições.
Mesmo que menos frequente no Brasil do que em países com clima mais frio, o congelamento das asas é um problema frequente na aviação. Evitá-lo exige procedimentos que começam no planejamento pré-voo e envolve até o comportamento da tripulação ao operar a aeronave. O gelo é um risco à aviação porque altera as condições que permitem uma máquina com toneladas de aço se erguer no ar, ou seja: o formato aerodinâmico de seu corpo, a direção e o atrito do ar que sustenta o avião e, por fim, a distribuição de seu peso.
DENTRO DE NUVENS – Ele se forma a partir do choque entre gotículas de água que ficam suspensas no ar a temperaturas abaixo de 0°C, dentro de nuvens. É comum que o gelo se acumule nos chamados bordos de ataque, que são as bordas frontais das asas e do estabilizador na cauda da aeronave.
“O formato da asa de um avião é muito bem estudado para fazer com que o ar passe por ela de forma a fornecer sustentação”, explica o professor James Rojas Waterhouse, do departamento de Engenharia Aeronáutica da USP. “Quando se começa a formar o gelo, ele vai distorcendo esse formato e alterando as forças de sustentação. Ele diminui a sustentação do avião no ar e aumenta o atrito, além de alterar o peso.”
Waterhouse diz que, por causa do acúmulo de gelo em várias partes do avião, aviões turboélices —como é o caso do ATR 72-500— estão mais suscetíveis a dificuldades de controle da aeronave. Se o acúmulo de gelo se agravar, a resposta do avião aos comandos do piloto piora, fazendo com que ele perca a condição de realizar algumas manobras. “É como se você estivesse dirigindo um carro em que a direção não volta automaticamente ao eixo, como costuma acontecer. Em vez disso, imagine que a direção começa a ir de um lado para o outro”, compara o professor.
ATR 72-500 – Qualquer aeronave comercial dispõe de sistema de prevenção e quebra de gelo. Em comparação com jatos usados na aviação comercial, os turboélices operam com menos potência elétrica e ar sangrado dos motores para combater o congelamento.
Outra desvantagem é que voam a velocidades menores e a altitudes comparativamente mais baixas, e mais favoráveis à formação de gelo.
É por isso que aviões como o ATR 72-500 dispõem de uma combinação de dois sistemas para lidar com o problema: um sistema elétrico antigelo, e um pneumático de degelo. O sistema elétrico é alimentado pelo giro das turbinas e protege algumas partes da aeronave, como o para-brisa e os pitots (sensores acoplados à fuselagem que medem condições como pressão do ar e velocidade).
O sistema pneumático é um complemento vital ao elétrico. Câmaras de borracha, instaladas justamente nos bordos de ataque, inflam com ar quente que vem dos motores e, assim quebram o gelo que se acumula nas asas e no estabilizador da cauda.
SISTEMA MANUAL – É necessário acionar o sistema manualmente, o que é procedimento padrão em voos como o 2283 da Voepass, que atravessou grandes áreas propícias à formação de gelo. Uma vez acionado, as câmaras inflam e mudam de formato periodicamente e constantemente para seguir quebrando gelo ao longo da travessia numa condição adversa.
Segundo o piloto Raul Marinho, presidente do Bgast (Grupo Brasileiro de Segurança Operacional de Aviação Geral) da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), a prevenção de um voo contra o gelo começa com a equipe de despacho da aeronave, que recebe mensagens dos serviços de tráfego aéreo e os planos de voo e orienta a tripulação.
“Ele [o piloto] tinha consciência que estava enfrentando formação de gelo nas asas? Essa é uma questão central”, diz Marinho. “Essa questão faz parte dos alertas dos boletins meteorológicos. Quando existe condição para formação de gelo, a tripulação é alertada pelo pessoal do despacho, e isso faz parte do currículo de treinamento dos pilotos, inclusive porque já existe um histórico de acidentes com essa característica.”
QUEDA NOS EUA – O histórico diz respeito, principalmente, à queda de uma aeronave turboélice da ATR em 1994 nos Estados Unidos. O voo fazia um percurso curto (de cerca de 250 km) entre Indianápolis e Chicago e caiu em um campo perto da cidade de Roselawn, no estado de Indiana. O congelamento das asas foi um dos fatores centrais para a queda da aeronave e, segundo Marinho, houve mais de uma adaptação nos sistemas antigelo e de degelo nos ATRs após esse caso.
Dados de voo da última sexta-feira mostram que o avião da Voepass manteve-se na mesma altitude durante toda a fase de cruzeiro, mesmo enfrentando condições de tempo severas. Já a velocidade variou consideravelmente, com dois momentos de desaceleração brusca que coincidem com a entrada na zona de nuvens carregadas.
A orientação para casos de emergência quando o gelo se acumula nas asas, segundo vários especialistas ouvidos pela Folha, é baixar a altitude e aumentar a velocidade. “Num voo por instrumentos, como é o caso em questão, o piloto não pode mudar o nível de voo sem autorização do controle de trafego aéreo, mas existe uma exceção: se há uma questão de segurança”, explica Marinho.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – A matéria de Túlio Kruse é uma verdadeira aula de Aviação. A indicação é de que a torre foi avisada por outro piloto sobre “formação de gelo severo”, mas não comunicou ao piloto do ATR 72-500, que continuou voando na mesma altura, atravessando nuvens que podiam formar gelo. Nesse caso, culpar o piloto e a companhia aérea é uma tremenda injustiça. Os aviões foram feitos para não cair. Quando há falhas, se o motor parar, o piloto levanta o bico da aeronave e ela segue planando, até aterrissar. Quando o avião cai em estol, é sinal de grave desequilíbrio, não tem nada a ver com o piloto, (C.N.)
Pela imagens de satélite podia observar a frente fria na região do acidente. O topo das nuvens tinha regiões com temperatura entre -30 e -40 graus centígrados. Tudo indica mesmo que deve ter sido a formação de gelo. Segundo divulgado o mecanismo que dificulta a formação de gelo não estava funcionando
prezados…e nobres comentaristas…Notem a parte final da aula…nos dada por que entende do assuto … O PILOTO ( autoridade suprema da aeronave) DEVERIA ser ALERTADO …pela torre sobre as nuvens…
O que não aconteceu..PORTANTO : A CULPA é da Torre..( autoridade máxima em terra) QUE falhou na sua obrigação de REPASSAR ..quaisquer INFORMAÇÕES…ao PILOTO ( Comandante supremo da Aeronave)..para dar a ELE…A lógica necessária para a plena segurança de TODOS.
O que no caso ….NÃO..Aconteceu.
Falha da torre..ERRO ..gravíssimo de procrastinar informações IMPRESCINDÍVEIS…
YAH SEJA LOUVADO SEMPRE…
Vou aguardar relatório da Cipaer da FAB.
Outras causas podem derrubar uma aeronave, pode ter havido outras falhas, uma estrutural por exemplo…