No efeito borboleta, candidatura de Kamala aviva as chamas da democracia

Kamala Harris funcionará como Reagan no pós-Vietnam

Muniz Sodré
Folha

“A gente se move facilmente no que é grande e distante / difícil é apreender o que é próximo e singular”, ironiza um epigrama do austríaco Franz Grillparzer. É outra luz de compreensão para o momento político norte-americano, em que a candidatura de Kamala Harris parece avivar chamas da democracia em meio ao seu declínio incipiente na maior potência mundial.

Para o escritor angolano João Melo, a eventual vitória de Harris será boa para a sociedade americana e para o mundo, não por qualquer razão geopolítica, mas pelo “efeito borboleta” nos demais países.

GEOPOLÍTICA IMPERIAL – O raciocínio é vizinho ao do epigrama, pois se atém a uma singularidade, deixando na sombra o “grande e distante”, isto é, a geopolítica imperial. Essa é a dimensão em que circula o slogan trumpista “Maga” (“torne a América novamente grande”), que só parece algo de novo quando se esquece que o mote de Reagan era”America is back again”, ou seja, “a América está de volta”.

Mero delírio cinematográfico de conforto à nação fragilizada pela derrota no Vietnã, acompanhada à distância televisiva por um povo cujos filhos precisavam se drogar na cena de guerra para aceitar que estivessem morrendo por nada.

Mas um delírio autopublicitário, que obtém confiança paradoxal, “aquela que se dá a alguém em função de seu fracasso ou de sua ausência de qualidades” (Jean Baudrillard, em “América”). Nada de credibilidade real, e sim crença sectária nas profecias de um chefe qualquer.

EFEITO CONTÍNUO – Desde Reagan, a América estaria atravessando o que Baudrillard chamou de “histeresia de potência”, isto é, um efeito que continua depois que a causa desapareceu e se desenvolve por inércia. Trump, puro efeito de tevê, é imagem dessa potência mítica e publicitária, agora impulsionada por redes protofascistas.

Por trás dessa grande ilusão, está a realidade da aliança do complexo militar com o capitalismo financeiro. Se eleita, Harris nada poderá fazer para alterar o capitalismo bélico, assim como nada puderam Obama ou Biden.

Pelo contrário, estimularam a simulação imperial, incrementando guerras e matando inimigos mundo afora. Foram, porém, operadores do “efeito borboleta”, que é o percebido como próximo nos países às voltas com instabilidades democráticas.

MELHOR DA AMÉRICA – Neles, o discurso democrata de Kamala Harris, por mais ambíguo que seja, ainda oferece o melhor da América, a sugestão de liberdade política, que faz a diferença entre o horror do grande e a normalidade do singular.

Para quem vive em espírito público de qualidade negativa, movido a ódio e baixarias, é uma oferta confortável. Trump, claro, é a obscenidade da cena primitiva americana.

Se eleito, não será apocalipse nenhum, mas um “flatus” desagradável da impotência moral da potência.

Protestos levam 400 à prisão no Reino Unido, e Musk culpa o premier Starmer

Homem aponta dedo par apolicial durante protesto - Metrópoles

Durante o protesto, manifestante provoca a polícia em Londres

Madu Toledo
Metrópoles

Mais de 400 pessoas já foram presas por participarem e incitarem tumultos e manifestações anti-imigrantes no Reino Unido, segundo fontes policiais. Apenas nessa segunda-feira (5/8), foram feitas, no total, 64 prisões. Enquanto isso, a polícia britânica se preparava para seis novos atos de protesto nesta terça-feira (6/8) e monitora, pelo menos, 30 outras aglomerações.

De acordo com o diretor de processos públicos, Stephen Parkinson, apenas na última semana, houve cerca de 100 acusações de disseminação de distúrbios violentos.

ONDA DE PROTESTOS – O Reino Unido vive uma onda de protestos anti-imigração promovidos pela extrema direita desde 29 de julho, quando três meninas, entre 9 e 6 anos, foram brutalmente assassinadas em Southport, perto de Liverpool, no noroeste da Inglaterra.

Os atos marcados pelo uso de violência, desordem e vandalismo foram alimentados por rumores falsos, divulgados nas redes sociais, de que o suspeito do crime tinha origens mulçumanas.

Secretária de Estado para Assuntos Internos do Reino Unido, Yvette Cooper, prestou homenagem às crianças vítimas de um ataque com faca. Até o momento, três crianças entre 6 e 7 anos morreram. No total, 11 foram esfaqueadas

EM ESTADO GRAVE – Na noite dessa segunda-feira (5/8), manifestantes pisotearam a cabeça de um imigrante durante um dos protestos, em Belfast, na Irlanda do Norte. A polícia está tratando o caso como crime de ódio. A vítima tem por volta de 50 anos e está hospitalizada em estado grave.

A violência em massa, que já dura uma semana, teve início após boatos de que o autor do ataque em que morreram três meninas, na segunda-feira (29/7), seria muçulmano. Usando redes sociais, centenas de participantes da Liga de Defesa Inglesa (EDL) — um movimento de extrema direita — convocaram protestos após o surgimento dos rumores.

GUERRA INEVITÁVEL? – Desde então, as manifestações começam a se espalhar. Os atos têm como objetivo propagar o lema anti-imigração “Enough is enough” (Já basta), que ganha cada vez mais adeptos nas redes sociais.

Após usuários do X compartilharem vídeos e imagens dos atos de protestos anti-imigração na rede, o bilionário e dono da empresa, Elon Musk, afirmou que uma “guerra civil é inevitável” no Reino Unido. Musk foi duramente criticado em um comunicado oficial feito pelo escritório do primeiro-ministro britânico, Keir Starmer.

“Não há justificativa para comentários como esse”, disse o porta-voz de Starmer. “O que temos visto neste país é uma violência organizada e violenta que não tem lugar, nem nas nossas ruas nem online […] espero, assim como em relação àqueles que participam diretamente nas ruas, que haja prisões, acusações e processos.”

###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Pelo que se vê, Musk é contrário à imigração, maior problema dos países desenvolvidos, cuja maioria tem população decrescente e precisa de imigrantes. A crítica teve respostas provocativas de Elon Musk. Em uma série de postagens, o empresário fez comentários ácidos contra o novo primeiro-ministro. Musk chegou a chamar o premiê de “Keir de duas camadas”, em referência à teoria de que a polícia está tratando os manifestantes de extrema direita com inflexibilidade diante de outros grupos. Como dizia Delcio Lima, esta bagaça não vai dar certo. (C.N.)

Especialista de Michigan analisa atas e confirma que Maduro perdeu a eleição

Mebane Appears in Connected | U-M LSA Political Science

Mebane, de Michigan, vistoriou as atas e diz que Maduro perdeu

Guilherme Amado e João Pedroso de Campos
Metrópoles

Um estudo do pesquisador Walter Mebane, da Universidade de Michigan, especialista em detecção de fraudes eleitorais, não encontrou evidências de fraude nas atas de votação divulgadas pela oposição da Venezuela.

Entre os dados dessas atas, que totalizam 81,7% das atas eleitorais da eleição venezuelana e 24.532 mesas de votação, o candidato de oposição, Edmundo González, teve 7,1 milhões de votos contra 3,2 milhões do ditador do país, Nicolás Maduro, dentro de um total de 10,6 milhões de votos.

Em seu estudo, Mebane utilizou ferramentas estatísticas de perícia eleitoral. Sua avaliação apontou que, do total de 24,5 mil mesas de votação abrangidas pelas atas divulgadas pela oposição, apenas duas podem ter sido alvo de fraude — ou seja, uma quantia de votos pequena.

Ainda assim, o intervalo de credibilidade de 99,5% do estudo não permite afirmar que tenha ocorrido fraudes nessas duas mesas.

COMPARAÇÃO – O estudo do pesquisador compara os resultados das atas da oposição venezuelana com outras eleições no país entre 2000 e 2013. Ele conclui que as eleições de 2024, conforme as atas analisadas, são as que têm menor probabilidade de terem sido fraudadas.

Apesar da pressão internacional, as atas do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela, que reconheceu vitória de Nicolás Maduro, ainda não foram divulgadas.

Presidente do CNE, Elvis Amoroso afirmou que entregou nesta segunda-feira (5/8) as atas de eleição na Venezuela ao Tribunal Supremo de Justiça (TSJ).

###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Em tradução simultânea, o oposicionista Edmundo González venceu mesmo a eleição. E as atas que o Elvis Amoroso entregou ao Tribunal Supremo de Justiça são frias como um freezer. Foram fabricadas pela entourage de Maduro, para alegar que ele vencera. Portanto, Maduro não reconhecerá a derrota e fará como Netanyahu – vai mandar matar quem estiver pela frente. (C.N.)

Por que os advogados de Bolsonaro saíram tão animados da reunião com Gonet?

O PGR, Paulo Gonet, e Bolsonaro

O procurador Gonet aceita se reunir com a defesa dos réus

Igor Gadelha
Metrópoles

Advogados do ex-presidente Jair Bolsonaro disseram a interlocutores terem saído animados da reunião que tiveram na terça-feira (30/7) com o procurador-geral da República, Paulo Gonet.

O encontro, revelado pelo jornal O Globo e confirmado pelo Metrópoles, ocorreu na sede da PGR. Entre os presentes, estava o advogado Paulo Amador da Cunha Bueno, segundo apurou a coluna.

INQUÉRITOS – Os defensores de Bolsonaro procuraram Gonet para falar dos inquéritos contra o ex-presidente que tramitam na PGR. Entre eles, o que apura a venda ilegal de joias e o que investiga fraude em cartões de vacina.

Bolsonaro já foi indiciado pela Polícia Federal em ambos os inquéritos. Os relatórios já estão nas mãos de Gonet, que decidirá agora se denuncia ou não o ex-presidente da República.

A interlocutores, os advogados de Bolsonaro ressaltaram que o procurador-geral da República fez perguntas e anotações, o que a defesa do ex-presidente considerou como um bom sinal.

EM PESSOA – Os advogados também comemoraram o simples fato de terem sido recebidos pessoalmente por Gonet. Segundo eles, em alguns casos, o procurador costuma terceirizar o encontro para integrantes de sua equipe.

O chefe da Procuradoria-Geral da República, por sua vez, minimizou a repercussão do encontro. “Eu recebo todos os advogados que me procuram”, afirmou Gonet à coluna.

###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Nem toda autoridade é como Alexandre de Moraes, que está restringindo os direitos dos advogados, ao invés de ampliá-los, segundo a tese da defesa mais ampla possível. Sua última façanha foi negar o direito de os advogados fazerem defesa oral em julgamento do Supremo, que é um péssimo sinal. Gonet, da PGR, vai no caminho contrário, felizmente. (C.N.)

Maior desafio para Tarcísio é superar a eterna desconfiança de Jair Bolsonaro

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos)

Trarcisio tem de esperar o dia D e a Hora H para dar o bote

Thomas Traumann
Veja

Do Palácio do Planalto ao Palácio dos Bandeirantes, passando pelo condomínio Vivendas da Barra, conta-se nos dedos de uma mão só quem duvida que o governador Tarcísio de Freitas quer ser o candidato da oposição em 2026. Ele governa como candidato, dá entrevistas como candidato, articula apoios na eleição para prefeito como candidato e, a cada oportunidade, jura sua fidelidade ao morador do Vivendas da Barra, Jair Bolsonaro, em busca do apoio para ser candidato. Falta, no entanto, combinar com os eleitores antipetistas. Por enquanto, eles preferem a mulher do ex-presidente, Michelle.

A rodada de pesquisa da Genial/Quaest na Bahia e Pernambuco é reveladora do longo caminho que Tarcísio precisa percorrer. Na Bahia, apenas 29% acham que ele seria o melhor nome para representar a oposição, ante 46% de Michelle.

BEM ATRÁS… – Em Pernambuco, ele tem só 24% e ela, 51%. Em abril, uma pergunta semelhante mostrou que Tarcísio é o favorito apenas em São Paulo, ficando em terceiro lugar em Minas Gerais, Paraná e Goiás.

Por decisão do TSE, Bolsonaro teve seus direitos políticos cassados até 2030. Como o mais provável é que Michelle saia candidata a senadora, a disputa de Tarcísio não é com a mulher de Bolsonaro, mas com a sua conhecida paranoia.

Por temor de ser traído, Bolsonaro já rompeu com tanta gente que só não terminou a presidência na solidão pela intervenção do senador Ciro Nogueira, que tomou conta do último ano do governo.

MANTER-SE LEAL – É por isso que a cada oportunidade, Tarcísio reforça sua lealdade com o ex-presidente. “Tivemos um professor (em Bolsonaro). Aprendemos o caminho. A direita está unida e tem uma única liderança, que é o presidente Bolsonaro, discursou num evento da extrema-direita em Camboriú, em julho.

A pedido de Bolsonaro, Tarcísio impôs um ex-coronel da Polícia Militar como candidato a vice-prefeito em São Paulo e mudou seus apoios em algumas cidades do interior.

Com apoio de parte preponderante da elite e da mídia, Tarcísio sabe que é a sua vez na fila para ser o candidato a presidente, mas sem Bolsonaro todo o projeto se desmancha. Só que a rejeição a Bolsonaro segue tão forte, que ser visto como um fantoche do ex-presidente é jogar as chances de vitória no lixo.

PERTO E LONGE – Tarcísio precisa estar perto do ex-presidente a ponto de ter o seu apoio popular, mas mostrar alguma independência que indique que um eventual governo seu não será uma repetição dos anos 2019-22. É difícil.

A desconfiança sobre o quanto as falas de Tarcísio são prova de fidelidade e o quanto são apenas oportunismo político explicam a reticência do eleitor bolsonarista. Apoiar Michelle seria uma garantia para esses eleitores de que, em caso de vitória, quem tocaria o país seria Bolsonaro.

Com Tarcísio, isso não é evidente no Palácio do Planalto, nem no Palácio dos Bandeirantes, nem no condomínio Vivendas da Barra.

Lula é uma metamorfose ambulante, mas exagerou no caso da Venezuela

Lula descarta desvinculação de aposentadoria do salário mínimo | Agência  Brasil

Lula mandou Gleisi soltar nota do PT apoiando Maduro

Elio Gaspari
O Globo

Alguma coisa aconteceu no coração do governo. No dia 17 de julho, o presidente venezuelano Nicolás Maduro disse que o resultado da eleição de domingo passado poderia levar a um “banho de sangue” com “uma guerra civil fratricida”. Ele batalhava por um terceiro mandato.

No dia 22, durante uma entrevista a agências internacionais de notícias, Lula declarou-se “assustado” com a fala do colega: “Eu já falei para o Maduro duas vezes, e o Maduro sabe, que a única chance da Venezuela voltar à normalidade é ter um processo eleitoral que seja respeitado por todo o mundo”.

Recebeu um imediato contravapor de Maduro que, sem citá-lo, recomendou-lhe tomar chá de camomila. No dia 28, veio a eleição e foi o que se viu.

MAIS BOBAGENS – Na terça-feira (30), Lula assustou quem o ouvia ao dizer que “não tem nada de grave, nada de anormal” e recorreu a um precedente nacional: “Sempre que tem um resultado apertado as pessoas têm dúvidas. Aqui no Brasil você viu o que aconteceu. Mesmo quando o Aécio (Neves) perdeu para a Dilma e entrou com recurso para anular a eleição”.

Paralelo absurdo. Em 2014, ninguém mais contestou a lisura da reeleição de Dilma Rousseff. Ela não fechou as fronteiras terrestres, nem barrou a entrada de observadores internacionais. Anos depois, o próprio Aécio revelou que entrou com a ação “só para encher o saco”.

Mesmo para uma pessoa que se declara “uma metamorfose ambulante”, Lula foi de uma ponta a outra na questão, como se estivesse tratando de algo sem importância.

MORTES E PRISÕES -Desde domingo passado já morreram dezenas de pessoas na Venezuela e mais de mil foram encarceradas. O Centro Carter, instituição criada pelo ex-presidente americano Jimmy Carter, vinha acompanhando a campanha, declarou que “a eleição presidencial da Venezuela de 2024 não se adequou a parâmetros e padrões internacionais de integridade eleitoral e não pode ser considerada democrática”.

(A presença do Centro Carter tinha sido apresentada pelo embaixador Celso Amorim como indicação da lisura de Maduro).

É visível que desde domingo o governo de Lula se equilibra como uma Rebeca Andrade na prova das barras assimétricas. Não houve nada de grave, mas Brasília teve que garantir a segurança da embaixada da Argentina em Caracas.

REUNIÃO COM GLEISI – As repórteres Marianna Holanda e Catia Seabra lançaram luz sobre a metamorfose. Na noite de segunda-feira (29), antes da fala de Lula, a executiva nacional do PT reconheceu a vitória de Maduro. Horas antes, Gleisi Hoffmann e Cleide Andrade, presidente e tesoureira do PT, estiveram com Lula no Palácio da Alvorada.

Esta não foi a primeira vez que Lula e a máquina do PT tomaram caminhos diferentes. Quando a crise lhe dá tempo, Lula apara as arestas e prevalece. A encrenca venezuelana foi muito rápida. Nesse caso, o ronco bolivariano de uma parte do PT prevaleceu.

Assim como na reeleição de Maduro, há outras áreas de atrito entre o governo de Lula 3.0 e correntes do PT. A crise venezuelana um dia poderá sair da agenda nacional, mas a gestão da economia, com seus reflexos políticos, continuará viva.

TUDO ERRADO – Apoiar Maduro é uma coisa, minar a gestão da economia é outra. Bem outra é sabotar uma política de contenção dos gastos públicos ou flertar com uma polícia que possa chamar de sua.

Na sua fala de terça-feira (30), Lula disse: “Vejo a imprensa brasileira tratando como se fosse a Terceira Guerra Mundial. Não tem nada de anormal”. Noves fora a anormalidade da eleição venezuelana, fica a impressão de que o problema estava na imprensa, essa malvada.

Para um país que ralou quatro anos de Bolsonaro, Lula é um campeão na sua relação com os jornalistas. Mesmo assim, ele mostrou que ainda tem a alma envenenada com a espécie.

DISSIDENTES – O líder de seu governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (AP-PT), disse o seguinte: “Uma eleição em que os resultados não são passíveis de certificação e onde observadores internacionais foram vetados é uma eleição sem idoneidade”.

E Marina Silva, ministra do Meio Ambiente, também falou: “Na minha opinião pessoal, eu não falo pelo governo, não se configura como uma democracia. Muito pelo contrário. O Brasil está muito correto quando diz que quer ver o resultado eleitoral, os mapas, todas as comprovações de que de fato houve ali uma decisão soberana do povo venezuelano”.

Bolsonaro usa relógio de Lula para escapar no caso das joias sauditas

Bolsonaristas e Moro ironizam Lula por uso de relógio importado

Relógio de Lula é um Cartier de ouro que vale R$ 80 mil

Rafael Moraes Moura
O Globo

O Tribunal de Contas da União (TCU) está dividido a respeito do julgamento desta quarta-feira (7) que vai decidir se o presidente Lula terá de devolver um relógio presenteado pela grife francesa Cartier em 2005, no seu primeiro governo, e avaliado em R$ 60 mil na época – mas a defesa de Jair Bolsonaro não só já estudou o caso, como pretende usar o entendimento do tribunal a seu favor no caso das joias sauditas.

Por irônico que pareça, aliados de Bolsonaro torcem discretamente para que o TCU decida que o relógio é um item personalíssimo e libere Lula de devolvê-lo. Se isso acontecer, a defesa do ex-presidente poderá usar a decisão como precedente para tentar livrar Bolsonaro do inquérito que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF).

INDICIAMENTO – Bolsonaro foi indiciado em julho pela Polícia Federal por peculato, associação criminosa e lavagem de dinheiro no inquérito das joias sauditas, sob a acusação de se apropriar indevidamente de presentes dados por autoridades estrangeiras durante o período em que ocupou o Palácio do Planalto.

O ex-presidente não é parte do caso do relógio de Lula, mas mesmo assim o time jurídico do ex-presidente pretende tentar extrair dele alguma fundamentação jurídica que possa servir para ajudá-lo no caso das joias sauditas.

Na petição apresentada na semana passada à Procuradoria-Geral da República (PGR), os advogados do ex-presidente já recorreram ao episódio de Lula para argumentar que o inquérito das joias, sob o comando de Alexandre de Moraes, deveria seguir os mesmos parâmetros usados para Lula, que recebeu o relógio durante o ano do Brasil na França.

ITEM EXCLUÍDO – O item não foi incluído entre uma série de presentes que o petista, junto com Dilma Rousseff, tiveram que devolver em 2016, após uma determinação do próprio TCU.

O plenário da corte de contas, porém, vai para o julgamento da quarta-feira dividido, apesar de um parecer da área técnica defender que o presente permaneça com o petista.

Isso porque naquela época ainda não havia a regra estabelecida depois, segundo a qual o presidente da República só pode levar consigo após deixar o cargo peças de uso pessoal e baixo valor – os chamados “itens personalíssimos”.

PESOS E MEDIDAS – “O ideal seria garantir que o entendimento aplicado ao presidente da República seja aplicado também aos seus antecessores”, diz um interlocutor de Bolsonaro. “Se o Lula puder ficar com relógio e Bolsonaro é investigado criminalmente pelas joias, serão dois pesos, duas medidas.”

O relógio de Lula, um Cartier Santos Dumont, foi dado de presente pelo próprio fabricante durante uma visita oficial a Paris, para as celebrações do Ano do Brasil na França, iniciativa dos dois governos para promover relações bilaterais. A peça é feita de ouro branco 16 quilates e prata de 750.

Foi o deputado federal bolsonarista Sanderson (PL-RS) quem provocou o TCU sobre o assunto.

OUTRA ESTRATÉGIA – Mas a defesa de Bolsonaro tem também uma estratégia para aproveitar a decisão do TCU caso o julgamento termine com a determinação de que Lula devolva o Cartier Santos Dumont: cobrar na Justiça a apuração de todos os presentes recebidos pelos ex-presidentes ao longo dos últimos 34 anos, de Fernando Collor até Lula, exigindo um “tratamento isonômico” – e de preferência abrindo inquéritos em casos semelhantes aos de Bolsonaro.

Seja qual for a decisão, aliados do ex-presidente avaliam que o entendimento do TCU pode servir para esclarecer de uma vez por todas qual regra deve valer para os presentes recebidos por chefes de estado no exercício do cargo.

Em 2016, no contexto do impeachment de Dilma Rousseff, a Corte de Contas firmou um entendimento sobre os itens personalíssimos a partir de regras já previstas em diferentes leis e decretos sobre que objetos podem ir para o acervo pessoal de ex-presidentes e quais devem ser incorporados ao patrimônio da União.

###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Muitos brasileiros consideram que Bolsonaro e Lula são iguais em quase tudo. A começar por se dizerem imbrocháveis, ambos serem ignorantes e terem enriquecido ilicitamente. E agora mais essa – são iguais na usurpação de presentes recebidos durante o mandato, que pertencem à União. No entanto, é claro que relógio de pulso é item personalíssimo, mas relógio de parede, não. Pense sobre isso. (C.N.)

PF manipulou imagens, diz a defesa dos acusados de hostilizar Moraes em Roma

Advogado diz guardar a "sete chaves" imagens do incidente com Moraes | ParadoxoBR

Advogado mostra os exageros na perseguição aos réus

Bruna Aragão
Poder360

A defesa de Roberto Mantovani, Roberto Mantovani Filho, Andreia Mantovani e Alex Zanatta, suspeitos de hostilizar o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), disse nesta quinta-feira, em novo pedido de acesso às imagens de câmeras de segurança do Aeroporto de Roma, que agentes da PF (Polícia Federal) teriam manipulado as imagens.

“Por fim, considerando que as imagens foram manipuladas por alguns agentes da Polícia Federal, não por peritos oficiais, e para que a defesa tenha relativa segurança da idoneidade dessa prova, requer, antes de determinada a intimação dos denunciados para oferecimento de defesa prévia, que lhe seja autorizada a extração da cópia dessas imagens, diretamente das mídias originais recebidas das autoridades italianas, por meio da Cooperação Internacional 613/2023, não por qualquer outro meio”, afirma o documento que o Poder360 teve acesso.

PARECER TENDENCIOSO – Segundo a defesa, um novo relatório foi elaborado em junho de 2024, “com base em parecer tendencioso feito por agente da PF acolhendo cegamente a versão de uma das partes, desprezando as imagens como um todo e as versões dos investigados”.

Disse ainda ser provável que o próprio delegado não tenha assistido à íntegra das imagens antes de fazer o relatório. “Com a devida vênia, sua Excelência, o Delegado de Polícia Federal, em inusual novo relatório (ou seja, temos um inquérito com dois relatórios!), surpreendeu e extrapolou em muito os limites do trabalho investigatório, fazendo ilações, assertivas absolutamente subjetivas e decorrentes, unicamente, da sua interpretação pessoal de imagens que nem sequer possuem áudio!”, afirmou.

O advogado Ralph Tortima aponta que consta no relatório a recusa de comparecimento de Roberto Mantovani Filho que, segundo ele, em momento algum se negou a comparecer para prestar esclarecimentos.

DENÚNCIA EXCESSIVA – A defesa disse ainda que a denúncia ofertada pela PGR (Procuradoria Geral da República) contém “excessos” e é extremamente parcial, uma vez que não foi concedido acesso às imagens. Disseram ainda que só tomaram conhecimento de que a PGR ofereceu denúncia por causa de divulgação dada pela imprensa em 16 de julho.

Segundo apurou o Poder360, as imagens não foram analisadas pela PGR para a apresentação da denúncia, nem disponibilizadas para a defesa dos acusados. Só o ministro relator do caso no Supremo, Dias Toffoli, e um grupo de policiais tiveram acesso à gravação.

Os advogados requerem, “antes de se determinar a intimação dos denunciados para ofertar defesa”, cópia tanto das imagens do aeroporto, como de eventuais mensagens e postagens supostamente identificadas no celular apreendido na investigação. “Sem o acesso integral à principal prova, não há como ser realizada a defesa dos denunciados, por muito evidente”, afirmam. O último pedido da defesa para acessar as imagens foi em 9 de abril de 2024.

POLÍCIA NO VAIVÉM – A PF havia desistido de indiciar a família, mas voltou atrás em 3 de junho de 2024 e decidiu indiciá-los.  O empresário Roberto Mantovani Filho; a sua mulher, Andreia Mantovani; e o seu genro, Alex Zanatta, foram indiciados por calúnia e difamação depois de supostamente terem xingado o ministro de “bandido, comunista e comprado”.

Roberto teria agredido fisicamente o filho de Moraes com um golpe no rosto depois que ele interveio na discussão em defesa do pai.

O delegado anterior, Hiroshi de Araújo Sakaki, então responsável pelo caso na PF, não havia visto indícios de crime, diferentemente do atual delegado, Thiago Rezende, que atribuiu aos três o crime de calúnia, com o agravante de ter sido cometida contra um funcionário público, em razão das suas funções.

O CASO SIMPLES– Em 14 de julho de 2023, Moraes, acompanhado de sua família, retornava de uma palestra no Fórum Internacional de Direito, realizado na Universidade de Siena, quando foi alvo de ofensas proferidas por brasileiros.

Roberto Mantovani Filho estava acompanhado da mulher, Andreia Mantovani, e do genro, Alex Zanatta. Os suspeitos teriam xingado o ministro, que enviou à PF uma notícia-crime detalhando com imagens os suspeitos de hostilizá-lo.

Os três brasileiros desembarcaram no dia seguinte (15.jul) no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo. Agentes da PF estiveram no local no momento do desembarque. Os suspeitos prestaram depoimentos à Polícia Federal. Eis o que disseram:

EXPLICAÇÕES CLARAS  – Roberto Mantovani, empresário – prestou depoimento em 18 de julho e disse que “afastou” o filho de Moraes com os braços porque sua mulher se sentiu desrespeitada pelo filho do ministro.

Andreia Mantovani, mulher de Roberto – prestou depoimento em 18 de julho e disse ter criticado a possibilidade de a família Moraes ter tido algum privilégio para acessar a sala VIP, enquanto eles chegaram antes e foram barrados.

E Alexandre Zanatta, genro de Roberto e corretor de imóveis – prestou depoimento em 16 de julho e negou as acusações.

Em fevereiro, a PF havia terminado as investigações sobre o caso. A conclusão anterior da corporação foi de que o empresário Roberto Mantovani Filho havia apenas injuriado o filho de Moraes, Alexandre Barci. À época, o delegado do caso, Hiroshi de Araújo Sakaki, não indiciou nenhum dos envolvidos, por se tratar de delito pequeno, sem importância.

###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Trata-se de uma situação vergonhosa para a Justiça brasileira, que tem questões muito mais importantes para resolver. Mas o ministro Moraes é vingativo e insiste em condenar a família Mantovani, pressionando a Polícia Federal e o ministro-relator Dias Toffoli. Antes, o próprio Moraes é que ia julgar o caso, na condição de vítima, testemunha, assistente de acusação e juiz. Primeiro, negaram-lhe a assistência de acusação, que ele mesmo tinha requerido. Depois, devido ao repúdio crescente, desistiu de julgar. E ainda chamam isso de Justiça. (C.N.)

Mercado Livre supera Petrobras como a empresa mais valiosa da América Latina

Fotografia mostra um galpão industrial com esteiras amarelas e uma bandeira do Mercado Livre pendurada no teto. Ao fundo, é possível ver caixas amarelas empilhadas.

Este é um dos centros de distribuição da Mercado Livre

Daniel Cancel
Bloomberg

As ações do Mercado Livre, a gigante empresa latino-americana de comércio eletrônico e pagamentos, dispararam depois que os lucros do segundo trimestre superaram as estimativas dos analistas, e a companhia foi impulsionada à empresa mais valiosa da América Latina, superando a Petrobras.

Os papéis saltaram quase 11%, dando ao Mercado Livre uma capitalização de mercado de US$ 90 bilhões. Isso supera o valor de mercado de US$ 85,5 bilhões da estatal brasileira.

DESDE A PANDEMIA – É a primeira vez desde um curto período em 2021 durante a febre do comércio eletrônico alimentada pela pandemia que o Mercado Livre lidera o ranking da região, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.

O CEO do Mercado Livre, Marcos Galperin, publicou um post no X na sexta-feira (2) para comemorar o 25º aniversário da empresa e o feito de se tornar a mais valiosa companhia latino-americana. “Tinha que ser feito… e nós fizemos”, ele escreveu.

A empresa sediada em Montevidéu, no Uruguai, reportou que o lucro dobrou em relação ao ano anterior e que há um número recorde de usuários para sua plataforma fintech, em um sinal de que sua expansão geográfica e de produtos está ganhando velocidade.

SÓLIDO MOMENTO – “Este resultado mais uma vez destaca o sólido momento operacional do Mercado Livre e as fortes perspectivas de longo prazo”, disseram analistas do Itaú BBA liderados por Thiago Macruz em nota, mantendo sua classificação de ‘outperform’ para a ação.

A receita líquida foi de US$ 5,1 bilhões no período de três meses encerrado em 30 de junho, em comparação com a estimativa mediana de US$ 4,7 bilhões em uma pesquisa da Bloomberg. O lucro líquido foi de US$ 531 milhões, superando os US$ 415 milhões esperados pelos analistas de Wall Street. 

O volume bruto de mercadorias aumentou 20% em relação ao ano anterior, para US$ 12,6 bilhões no período, com o Brasil e o México ganhando 36% e 30%, respectivamente, no mesmo período.

EMPRESA STARUP – “Essas são realmente as taxas de uma startup”, disse o diretor financeiro Martin de los Santos em uma entrevista antes dos resultados. “Após 25 anos, estamos muito encorajados por esses números e continuamos a ganhar participação de mercado nesses países.”

Da receita líquida, US$ 3 bilhões corresponderam ao negócio de comércio, enquanto US$ 2,1 bilhões vieram da plataforma de pagamentos Mercado Pago, de acordo com um comunicado da empresa.

Fundado há 25 anos, o Mercado Livre continua a investir em novas áreas, incluindo publicidade e seguros, ao mesmo tempo em que consolida seus negócios principais de comércio eletrônico com entrega rápida. A ação tem 25 recomendações de compra e três de manutenção, com um preço-alvo médio de 12 meses de US$ 2.023.

Acusada de não cooperar em acordo, Odebrecht rebate o procurador Gonet

Odebrecht agora é Novonor. Entenda a mudança! - Anota Bahia

Mudou o nome, mas as armações continuam as mesmas

João Pedroso de Campos
Metrópoles

A Novonor, como se chama atualmente a Odebrecht, rebateu no STF na quinta-feira (1/8) uma manifestação em que o procurador-geral da República, Paulo Gonet, fez críticas à postura da empresa em torno da cooperação com a Justiça no âmbito do seu acordo de leniência.

Em junho, o chefe da PGR classificou como “paradoxal” a busca da empreiteira por manter os benefícios do acordo, enquanto usa a anulação de provas dele pelo STF para deixar de colaborar com o Ministério Público Federal.

TENTA REVERTER – A manifestação de Gonet foi feita por ele ao tentar reverter uma decisão do ministro Dias Toffoli favorável à empreiteira. Toffoli anulou um pedido de informações feito à empresa pelo MPF do Paraná, para que a empreiteira fornecesse dados sobre duas contas bancárias mantidas em Andorra, na Europa. Segundo o MPF, há indícios de que as offshores eram usadas para pagamentos ilícitos.

A Novonor foi atendida pelo ministro ao alegar que os registros sobre as contas estão entre o material do acordo de leniência invalidado pelo STF: os sistemas Drousys e MyWebDayB, usados pela empreiteira para gerenciar pagamentos ilegais a políticos e autoridades.

Ao rebater a PGR nessa quinta-feira, a companhia classificou os argumentos de Gonet como “indevidos” e “teratológicos”. A Odebrecht ressaltou que não poderia atender ao pedido de informações do MPF por se tratar de provas já anuladas pelo Supremo. Também afirmou que, ao contrário do alegado pela PGR, não seria possível fornecer os dados solicitados por meios que não fossem os sistemas Drousys e MyWebDay B.

ILEGALIDADES – Sobre sua cooperação no acordo de leniência, colocada em dúvida por Paulo Gonet, a empreiteira ressaltou não haver impedimentos a acionar a Justiça em situações nas quais possa ser alvo de ilegalidades — como seria o caso, se fosse obrigada a manusear provas anuladas pelo STF.

Ainda conforme a defesa de Odebrecht, o recurso de Gonet não deve ser nem considerado por Toffoli. Isso porque foi arquivado o procedimento administrativo por meio do qual o MPF lhe pediu as informações sobre as offshores de Andorra.

###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
É impressionante como o ministro Dias Toffoli, seguindo a trilha aberta por Ricardo Lewandowski, conseguiu praticar um crime perfeito, ao cancelar a delação premiada dos diretores da Odebrecht e de mais de 70 executivos. É duro acreditar que todos eles tenham sofrido “perseguição política” da Lava Jato. Com isso, os réus foram automaticamente inocentados. E ainda chamam isso de Justiça. (C.N.)

Parecer da Receita omite irregularidades constatadas em auditoria feita pelo TCU

Flávio Bolsonaro revela ter sido sondado pelo pai... | VEJA

Receita invadiu as contas de Flávio e ele não esboça reação

Guilherme Amado e Eduardo Barretto
Metrópoles

Um parecer da Receita Federal que rebateu acusações contra o órgão feitas pela defesa de Flávio Bolsonaro ignorou uma auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) que identificou o acesso ilegal de um servidor da Receita a dados fiscais de Flávio e de outras pessoas. A investigação do TCU foi concluída em 2021.

Como mostrou a coluna em 2020, a defesa de Flávio Bolsonaro alegou haver uma organização criminosa na Receita, que poderia ter embasado o relatório que deu origem à investigação das rachadinhas. A acusação aconteceu em uma reunião das advogadas com o então presidente Jair Bolsonaro no Planalto.

REUNIÃO GRAVADA – O então diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem, e o ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, também estavam na reunião. A gravação do encontro foi feita às escondidas por Ramagem e apreendida pela Polícia Federal. O áudio veio a público em julho.

Em 2021, uma auditoria do TCU concluiu que pelo menos seis “pessoas expostas politicamente”, a exemplo de autoridades, tiveram os dados fiscais acessados ilegalmente entre 2018 e 2020. Uma das vítimas foi Flávio Bolsonaro.

O parecer da Receita que rebateu a defesa de Flávio e minimizou a reunião no Planalto, divulgado esta semana por integrantes da Receita, não citou a auditoria e suas conclusões. O documento do TCU não foi sequer citado.

PARECER ARDILOSO – “Não há nenhuma novidade no áudio liberado pelo STF em relação à Corregedoria da Receita Federal, tendo sido demonstradas, de maneira fundamentada e motivada, a precariedade e a absoluta ausência de provas por parte das advogadas no que se refere às acusações e ilações por elas elaboradas”, afirmaram os técnicos da Receita à Corregedoria do órgão, a respeito da denúncia feitas pelas advogadas do senador Flávio Bolsonaro, naquela ocasião.

Segundo o documento, as advogadas de Flávio Bolsonaro tentaram “vender acusações infundadas” ao senador, que então as levou à Agência Brasileira de Inteligência (Abin).

###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Em qualquer país minimamente sério, não pode ser tolerado este tipo de grave divergência entre importantes órgãos públicos, como o Tribunal de Contas da União e a Receita Federal. Um deles está mentindo em documento oficial e tudo indica que a irregularidade está sendo cometida pela Corregedoria da Receita. Em qualquer país minimamente sério, o povo exigiria saber se a Receita está mesmo encobrindo ilegalidades de seus servidores e qual será a punição desses funcionários fajutos. Como não há reação alguma e o poderoso SindiFisco (sindicatos dos servidores da Receita) está fechado em copas, confirma-se que este país não é minimamente sério. Pelo contrário, é totalmente esculhambado. (C.N.)

Num atoleiro moral, Netanyahu prolonga a guerra para obter sua sobrevida política

Without naming Ismail Haniyeh, Netanyahu says Israel will exact 'heavy ...

Se não negociar a paz, Netanyahu acabará afastado

Hélio Schwartsman
Folha

Num intervalo de horas, ataques israelenses mataram um general do Hezbollah em Beirute e o principal líder político do Hamas, Ismail Haniyeh, em Teerã. Haniyeh estava no Irã como convidado para a posse do recém-eleito presidente Masoud Pezeshkian, uma desfeita a mais para o regime persa.

O cenário bélico no Oriente Médio ficou mais volátil, mas nenhuma das partes tem interesse num conflito generalizado. Penso que tentarão calibrar suas respostas para não criar nenhuma situação que leve à guerra total. Se vão conseguir é outra história.

ANTES, JULGÁ-LOS – Acho difícil deixar de classificar esse tipo de ação, que em inglês recebe o nome de “targeted killing”, como um caso de assassinato extrajudicial. Para dar-se o direito de matar líderes inimigos fora do campo de batalha, um país deveria no mínimo julgá-los antes, ainda que à revelia.

É fato, porém, que esses assassinatos seletivos foram normalizados nos últimos anos, recebendo até elaboradas justificativas jurídicas.

O “progressista” Barack Obama, prêmio Nobel da Paz, autorizou 542 operações com drones para eliminar suspeitos de terrorismo no Paquistão, no Iêmen e na Somália, deixando um saldo estimado de 3.797 mortos, incluindo 324 civis.

OPÇÃO DE GUERRA – Eu não faria muitas objeções se, na sequência do ataque terrorista de 7 de outubro, Israel tivesse optado por caçar lideranças do Hamas e eliminá-las em vez de pulverizar Gaza com bombardeios maciços, matando cerca de 40 mil palestinos, a maioria dos quais não teve nada a ver com os atentados. Só que o governo de Binyamin Netanyahu fez os dois, matou 40 mil palestinos e agora recorre aos “targeted killings”.

Netanyahu está conseguindo o que parecia muito difícil logo após a brutal falha de segurança do 7 de outubro, que é sobreviver politicamente. Ele vai prolongando deliberadamente o conflito e assim evita a dissolução de seu governo. Ao fazê-lo, porém, enreda Israel num atoleiro moral.

Lula atrai a onda de críticas por um Maluco, quer dizer, Maduro, sem luz no fim do túnel

Charge do Zé Dassilva: Defendendo a Venezuela - NSC Total

Charge do Zé Dassilva (NSC Total)

Eliane Cantanhêde
Estadão

Nenhuma estratégia está funcionando, não há luz no fim do túnel tenebroso da Venezuela, e Nicolás Maduro, isolado e alucinado, é como uma bomba-relógio de um massacre da oposição. Assim como sanções, condenações e pressões internacionais, inclusive notas inócuas da ONU, não deram em nada nas guerras da Rússia e de Israel, Putin e Netanyahu fazem o que bem entendem, também não terão efeito no caos venezuelano.

Insanos não têm limite e quanto mais encapsulados, mais livres para destruir. Do outro lado, do que adianta “manter o diálogo”?

SEM SUCESSO – Argentina, Peru e cinco outros países bateram de frente com Maduro nos primeiros momentos, mas com isso só conseguiram a expulsão de seus diplomatas em Caracas, deixando ao relento seus nacionais, seus interesses no País e os opositores de Maduro que haviam abrigado.

Agora, EUA, Uruguai e novamente Argentina reconhecem a (óbvia) vitória de González, assim como ocorreu com a de Juan Guaidó em 2021. Ok. E daí? São ações sem consequência, para atrair aplausos internos.

E o Brasil? Depois da sucessão de erros graves do presidente Lula, o Brasil aliou-se a México e Colômbia para manter “o diálogo” com a ditadura venezuelana e o sonho de chamar Maduro à razão. É legítimo, mas uma estratégia tão inútil como as demais, apenas mais desgastante. Já no dia seguinte, Maduro invadiu os escritórios da oposição. Há diálogo possível?

TARDE DEMAIS… – O impasse é geral e, no Brasil, Lula atrai um tsunami de críticas internas por um Maluco, quer dizer, Maduro, que desdenha do esforço e não quer soluções, quer guerra.

Emburrado, Lula agora se recusar a atender telefonemas. Tarde demais. Brasil mediou o Acordo de Barbados, pelo qual os EUA retirariam as sanções em troca de “eleições transparentes” na Venezuela.

Maduro assinou e fez todo mundo de bobo. Opositores presos, impedidos de concorrer e, depois, a declaração de “vitória” sem atas e provas. Um acinte.

Exigir as atas de votação foi prudente no início, mas Maduro não irá mostrar atas que confirmam sua derrota e não se pode esperar nada da Justiça, servil à “democracia” de Maduro.

CARDÁPIO DE OPÇÕES – A crise é gigantesca, com as estratégias todas dando com os burros n’água – ameaçar, bater de frente ou, ao contrário, “manter o diálogo”.

Chanceleres de Brasil, Colômbia e México ficaram de apresentar um “cardápio de opções” nesta segunda-feira, depois das manifestações de oposição e chavismo no sábado, com o Exército nas ruas, em que tudo poderia acontecer.

Mas o que esse cardápio pode incluir? Ninguém, e nenhum país, sabe o que fazer. Os opositores, de uma coragem impressionante, estão entregues à própria sorte, ou a um Maduro enlouquecido. Trancados numa arena, com a fera pronta para um mar de sangue.

É simples! Lula decidiu ser cúmplice dos crimes de Maduro na Venezuela

Na charge temos uma competição de marcha atlética onde vemos Nicolás Maduro tentando se aproximar do presidente Lula que aperta o passo.

Charge do Cláudio Mor (Folha)

J.R. Guzzo
Estadão

É raro ver uma escolha indecente ir se tornando menos indecente com o passar do tempo. Decisões desse tipo não são biodegradáveis – na verdade, ficam cada vez mais perniciosas e conduzem a uma espiral crescente de emendas piores que os sonetos. É precisamente este o caso do governo Lula com a sua decisão de apoiar, para todos os efeitos práticos, o roubo das eleições na Venezuela que acaba de ser praticado pela ditadura de seu parceiro e amigo Nicolás Maduro.

O fato é que Lula decidiu ser cúmplice de um crime. Não há remédio para isso: ele está condenado, agora, a trair o comparsa ou trair o Brasil, e mesmo que decida fazer a primeira traição, para salvar o próprio couro mais adiante, a segunda já entrou no seu prontuário.

ATAS DE VOTAÇÃO – Lula, agora, está pendurado nas “atas de votação” que a “justiça eleitoral” de Maduro, um aglomerado de subalternos que até hoje nunca fez nada contra as ordens do ditador, ficou de publicar. A eleição estava obviamente roubada desde o primeiro dia de campanha; nunca foi preciso esperar “ata” nenhuma para saber que Maduro iria se declarar eleito.

A principal candidata da oposição foi proibida de concorrer pela mesmíssima “justiça eleitoral” da ditadura. A oposição indicou uma outra; também foi vetada por Maduro. Os cerca de 4 milhões de eleitores venezuelanos que vivem no exílio foram impedidos de votar. O governo prendeu, reprimiu e censurou oposicionistas. É fraude em modo extremo.

Lula, numa flagrante falsificação dos fatos, disse que não houve “nada de anormal” na eleição. O Itamaraty elogiou o clima “pacífico” da votação – e continua a ignorar a matança de pelo menos 16 oposicionistas e as 1.200 prisões que Maduro, em pessoa, anunciou que estava fazendo.

VIROU ABERRAÇÃO – Mas mesmo com todo esse massacre, as coisas não saíram como a ditadura quis que saíssem. A fraude maciça, na cara de todo mundo, virou aberração: o ditador disse que tinha ganho antes de terminar a apuração, não mostrou nenhuma prova disso e, diante dos protestos de todas as democracias, prometeu divulgar as “atas”.

Lula se jogou de cabeça nessa mentira – com a publicação dos dados, disse ele, ia ficar tudo esclarecido. De mais a mais, quem não concordasse com os números poderia reclamar à justiça do ditador. Qual o problema?

Não veio ata nenhuma no domingo da eleição. Não veio na segunda, na terça, na quarta, na quinta, na sexta – e se vier, vão dizer que Maduro ganhou. O chefe de fato do Itamaraty, Celso Amorim, vem agora com uma tese revolucionária: a oposição tem de “provar que ganhou”. Aparentemente, o ditador está dispensado dessa mesma exigência. É o absurdo ficando cada vez mais absurdo.

Livro critica o excesso de penduricalhos que favorecem as elites dos servidores  

Tribuna da Internet | Novo penduricalho de juízes custará ao país R$ 81,6  bilhões em três anos

Charge do Kemp (Humortadela)

Hélio Schwartsman
Folha

Sou fã de Bruno Carazza desde os tempos em que ele mantinha um blog no qual tentava introduzir medidas objetivas para analisar questões de direito. É com satisfação, portanto, que o vejo agora envolvido no ambicioso projeto de escrever uma trilogia que atualiza “Os Donos do Poder”, o clássico de Raymundo Faoro, que mostrou como alguns estamentos sociais conseguem sequestrar o poder do Estado brasileiro para beneficiá-los.

O título da obra de Bruno é “O País dos Privilégios”, da qual acaba de sair o primeiro volume.

OS SERVIDORES – Neste tomo inicial, Bruno se debruça sobre o funcionalismo público. Esse livro teria potencial de ser um dos mais aborrecidos do mundo. O que Bruno faz essencialmente é comparar tabelas com rendimentos de servidores e outros dados que não despertam entusiasmo. Mas ele consegue transformar isso numa leitura interessante.

Eu exageraria se afirmasse que a obra se lê como um romance de Agatha Christie, mas o texto é agradável e prende a atenção. Até desperta algumas emoções no leitor, quando descreve as formas criativas pelas quais certos estamentos extraem benefícios da sociedade.

O número de funcionários públicos no Brasil não é exagerado –12%, bem menos que o registrado em algumas economias avançadas–, mas empenhamos em suas remunerações a formidável fatia de 13% do PIB, padrão só verificado nos países nórdicos.

MUITA DESIGUALDADE – A distribuição é, como tudo no Brasil, desigual. Enquanto funcionários municipais ganham em média menos que trabalhadores da iniciativa privada em funções semelhantes, grupos de elite do funcionalismo federal ganham bem mais, além de gozar de outros privilégios.

Estamos falando de juízes, membros do Ministério Público, fiscais de renda etc.

O livro não é uma diatribe contra servidores públicos. Bruno é muito cuidadoso ao lembrar que eles desempenham um papel importantíssimo na administração, que justifica alguns (mas não todos) os privilégios.

A humanidade vaga sobre o mundo como uma sonâmbula, em busca de uma janela

As 5 fases do desenvolvimento psicossexual segundo Freud - Psicoativo ⋆  Universo da PsicologiaLuiz Felipe Pondé
Folha

Dicas para manter o pau duro e a vagina umedecida. Dificuldade na penetração. A mulher goza mesmo na penetração? Uma questão escolástica para as mentes ilustradas do século 21. O século ridículo. Aos poucos, os jornais viram revista Capricho. E não para aí.

Quem traiu quem. Quem bate em quem. Quem processou quem por “ghosting” — um desses termos idiotas da moda para a turba infantil das redes — na Nova Zelândia? Aos poucos, o progresso vai mostrando sua boca desdentada e sua deformação facial. E a dita inteligência pública torna-se “inteligentinha”, achando-se avançada.

VELHA HISTERIA – A obsessão pelos gêneros também é parte do ruído geral inútil. No fundo, trata-se de sexo. Quem quer dar, quem quer comer, quem quer dar e comer, quem é indiferente a dar ou comer. Tudo sexo. Freud ri feliz vendo onde foi parar a velha histeria.

O mundo se torna uma grande rede de mexericos. Daqui a pouco, ouviremos as estrelas do universo fofocando. Uma nova forma de apocalipse infame. A luta entre Deus e o Diabo sempre foi mais digna.

Olhemos de longe essa nebulosa de seres risíveis em crescimento espiral. O que aconteceu com essa espécie? “Minha hipótese”: somos uma espécie precária psiquicamente —além de fisiologicamente infeliz—, e a civilização moderna racionalista, tecnológica e, portanto, de uma pobreza espiritual atroz, é um surto neurótico que acometeu a psique de uma espécie que permanece, em muito, intoxicada ou saturada —no sentido químico do termo— por elementos religiosos primitivos e pura e simples irracionalidade.

PATOLOGIA HISTÓRICA – Nesse sentido, sob pressão do surto, nos afogamos no caldo dessa patologia que se assenta na história da própria evolução —ou involução— da psique. O paradigma hermenêutico —interpretativo— da nossa época deveria ser o de uma patologia histórica insuperável em escala e não o de um progresso em curso. Quanto mais emitimos ruídos —nós que evoluímos num mundo habitado em toda parte pelo silêncio— mais doentes ficamos.

O ridículo descrito na abertura desta coluna é apenas um dos fenômenos de uma espécie pré-histórica que vive no exílio do seu habitat natural psíquico, a saber, o mundo dos mitos, dos delírios extáticos, dos sonhos com os mortos que falam, das deusas e dos deuses que gozam e criam o ser por meio de seus óvulos e esperma, como é comum ver nos relatos míticos politeístas.

Ou da busca da graça, de um amor divino que não existe, mas que nos conforta, da luta contra o mal, que não derrotamos nunca porque é, simplesmente, mais forte do que tudo, e o mundo é sustentado nele.

A RAZÃO AFOGADA – A razão não é uma mera estranha a nós — a razão tem suas razões que a própria razão desconhece, não só o coração, como dizia Pascal no século 17—, mas uma neófita, uma recém-chegada, que nada sabe sobre nós e sobre si mesma, afogada num inconsciente que transcende o indivíduo e o mergulha num magma primitivo escuro e assustador, como num abismo de águas profundas.

Antes de pensarmos, já percebíamos. Antes da consciência, já pensávamos e percebíamos, mas, de certa forma, percebíamos esse emaranhado de ideias e imagens —o pensamento em si— como uma visitação do mundo exterior e divino.

Os deuses falavam dentro da nossa consciência, não era ela que pensava nos deuses e em tudo a sua volta. Só os ingênuos pensam que somos o sujeito do “nosso” pensamento, quando, na verdade, somos seu objeto, seu refém.

LIÇÕES DE JUNG – Quem conhece conceitos como “arquétipo” ou “inconsciente coletivo” do psiquiatra suíço Carl Gustav Jung (1875-1961), criador da psicologia analítica, percebe a semelhança entre “minha hipótese” e sua antropologia filosófica ou teoria da psique. Como disse Jung, “a humanidade nada pode contra a humanidade”.

O que decorre de um juízo como esse? Antes de tudo, uma atitude radicalmente oposta ao “páthos” contemporâneo: a mais aterradora humildade. Quando dizemos algo como “a humanidade deveria isso” ou “a humanidade conseguirá chegar àquilo”, não temos a mínima ideia do que estamos a dizer.

Não temos nenhum controle sobre a humanidade, ela vaga sobre o mundo como uma sonâmbula em busca de uma janela.

É um erro absurdo dizer que o ditador Maduro é de direita, não de esquerda

Maduro: Últimas Notícias | GZH

Charge do Iotti (Gaúcha/Zero Hora)

Mario Sabino
Metrópoles

Deve ser mais ignorância do que má-fé, o que não diminui em nada os seus efeitos deletérios. Estou falando do jornalismo que decidiu que a ditadura bolivariana da Venezuela, comandada por Nicolás Maduro, é de direita, não de esquerda.

É como dizer, com sinal invertido, que o fascismo e nazismo eram de esquerda, não de direita, como também se andou afirmando poucos anos atrás nas hostes bolsonaristas: uma tremenda besteira e falsificação histórica. Benito Mussolini, que começou socialista, foi financiado por empresas italianas, especialmente a Pirelli, para conter o avanço da influência soviética nos meios proletários e domar os sindicatos dominados pela esquerda.

A MESMA BASE – Corporativismo e nacionalismo estavam na base do fascismo, bem como na do nazismo — cujo partido tinha a palavra “socialista” no nome apenas para cooptar operários seduzidos pelo bolchevismo. Ao mesmo tempo, para diferenciar-se da esquerda e do seu internacionalismo, Adolf Hitler chamou o partido de “nacional-socialista” — e o nacional, no nazismo, é racismo.

Nicolás Maduro seria de direita, como quer certo jornalismo, porque a esquerda seria sempre democrática. Como assim? A concepção de “ditadura do proletariado” é de quem? Ah, ficou no passado. Ficou coisa nenhuma, só foi edulcorada depois do fracasso da União Soviética.

A esquerda continua a acreditar que uma classe social — a operária, a dos trabalhadores, dê-se o nome que for — é a redentora de uma história que chegará ao seu final quando essa classe chegar ao poder e lá permanecer, eliminando as relações capitalistas. Mesmo para a social-democracia, o capitalismo, que fundamenta a democracia, continua a ser o grande problema a ser enfrentado.

E NA CHINA? – O caso da China é uma peculiaridade, como já escrevi em outras paragens, por ser um totalitarismo que combina comunismo e corporativismo: o patrão é o Estado e a iniciativa privada é uma espécie de franquia a apaniguados que se servem do Estado e servem ao Estado.

Para a esquerda, a democracia é valor relativo, um meio para tomar o poder, não um valor universal, que pressupõe a alternância nos governos.

Houve uma grande discussão dentro do PT, nos 1990, sobre esse ponto. A conclusão de que a democracia é valor universal foi desmentida na prática partidária pelas contínuas tentativas de torpedeamento da democracia brasileira por meio de corrupção e, não menos relevante, pela lealdade ininterrupta aos regimes castrista e bolivariano, principalmente.

AUTORITARISMO – A esquerda é, na sua essência, autoritária, tal como demonstram os regimes venezuelano, cubano, nicaraguense, chinês e norte-coreano. O wokismo da esquerda ocidental replica essa essência ao transformar diferenças a ser protegidas em padrão a ser imposto a todos e ao usar anacronismos para reescrever ou cancelar o passado.

O fato de uma ditadura como a de Nicolás Maduro reprimir também minorias não a torna de direita, apenas ressalta o seu anacronismo: os regimes comunistas, extremamente conservadores, também eram brutalmente repressores contra elas.

Ditaduras são ditaduras. Serem de direita ou de esquerda não as tornam menos ruins. Há certas características que lhes são comuns, como a ojeriza à liberdade de expressão e de imprensa (e a propensão à cleptocracia), e outras que as diferenciam. O regime venezuelano é de esquerda — autodeclarado, inclusive — por ser contra o capitalismo, sacrificar o individual no altar de um suposto coletivo, governar em nome de uma classe e querer exportar o seu modelo. O jornalismo que não enxerga esse fato é ignorante ou de má-fé.

‘Fala na minha cara’, diz Kamala Harris ao desafiar o valentão Donald Trump

Kamala Harris é autoritária e perigosa

Kamala Harris cresce e desafia Trump para fazer debates

Lúcia Guimarães
Folha

Quem nunca sentiu prazer ao observar um valentão da escola amedrontado no momento em que um colega dá um basta na situação? Nesta semana, o valentão que suga o oxigênio do cotidiano político americano há nove longos anos deu sinais de intimidação.

Desde o ano passado, a máquina eleitoral organizada para reconduzir Donald Trump à Casa Branca estava pronta para encenar uma falsa valentia contra um adversário octogenário cada vez mais fragilizado. Agora, pela primeira vez, o nova-iorquino e criminoso condenado perdeu o controle da discussão nacional. Passa parte do tempo justificando as declarações grotescas do vice de sua chapa, J.D. Vance, escolhido pelo primogênito e terminalmente cretino Donald Trump Jr.

No resto do tempo, ele esperneia para fazer insultos colarem na nova adversária, como uma criança que atira papel higiênico molhado na parede.

KAMALA SUBESTIMADA – Não foram só os republicanos que subestimaram Kamala Harris. A imprensa americana se manteve tão fixada no desempenho ruim da vice-presidente como pré-candidata que ela abandonou a campanha de 2020 antes de começar a votação nas primárias.

Se houvesse moscas em estúdios de TV, elas estariam se aproveitando das bocas abertas de comentaristas políticos que previam o pior se a ex-senadora da Califórnia ocupasse o lugar de Joe Biden na chapa democrata. É importante notar que, no momento, a Presidência continua ao alcance do fascista senil. Mas a entrada da vice-presidente fez a campanha que parecia um cortejo fúnebre se assemelhar à parada carnavalesca de Nova Orleans.

A mudança nas pesquisas é real, a motivação entre jovens e negros cresceu, mas ainda não se pode usar pesquisas como termômetro claro para novembro. O problema é que os oráculos de plantão não estavam prestando atenção em Kamala Harris nos últimos dois anos.

KAMALA X TRUMP – A Vice-Presidência é um posto ingrato, definido mais por um trabalho discreto e complementar do que por reconhecimento. Na fidelidade à agenda Biden, Harris passava dias por semana cruzando o país e cultivando comunidades que estavam no seu radar desde que se elegeu promotora distrital pela primeira vez em San Francisco, há duas décadas – mulheres, minorias raciais, jovens e eleitores traumatizados pela violência das armas de fogo. Os números de aprovação eram baixos, sim, mas pouca atenção nacional era dedicada ao varejo rotineiro da vice-presidente.

Quando vazou a informação de que a Suprema Corte voltaria a criminalizar o aborto, em 2022, Kamala mudou o discurso que tinha preparado para um evento e cunhou o bordão “como ousam?”. Nascia seu novo chamado na Presidência Biden.

Na terça-feira (30), na Geórgia, Kamala Harris lotou uma arena, num comício de uma eletricidade nunca vista na campanha de Biden. Diante da ameaça de Trump de faltar ao segundo debate, olhou para a câmera e disparou: “Como reza o ditado, se você tem algo para me dizer…”. E a multidão gritou, antes de ela completar: “Fala na minha cara!”.

Israel continua o massacre e mata ao menos 44 suspeitos em escolas e hospital

A imagem mostra uma criança com cabelo curto e bagunçado, olhando diretamente para a câmera. Seu rosto está sujo, com marcas de sangue. Ao fundo, uma mulher inconsciente deitada em uma cama.

Uma menina ensanguentada diante da mãe inconsciente

Deu na Reuters
Folha

Um ataque aéreo israelense atingiu duas escolas na Cidade de Gaza no domingo (4), matando pelo menos 30 pessoas, disseram autoridades palestinas, enquanto o Exército israelense disse ter atingido um complexo militar do Hamas dentro das escolas. Mais cedo, outro ataque aéreo israelense tinha atingido um acampamento de tendas dentro de um hospital na região central da Faixa de Gaza.

Autoridades de saúde de Gaza disseram que pelo menos 44 palestinos foram mortos no domingo, um dia após uma rodada de conversas no Cairo ter terminado sem resultado.

CORPOS ESPALHADOS – Imagens circularam na mídia palestina mostrando corpos espalhados no pátio de uma das duas escolas destruídas pelas explosões, enquanto os moradores corriam para carregar os feridos, incluindo crianças, e os colocavam em veículos de ambulância que os levaram para pelo menos dois hospitais próximos.

O Serviço de Emergência Civil de Gaza disse que dezenas ficaram feridos além das vítimas nas escolas de Hassan Salama e Al-Nasser, que abrigavam famílias palestinas deslocadas.

O Exército israelense alegou que atingiu combatentes dentro de uma base do Hamas dentro das escolas e que havia tomado medidas para reduzir o risco para os civis no local.

TAMBÉM SÁBADO – No sábado (3), um outro ataque israelense deixou 15 mortos em uma escola no bairro de Sheikh Radwan, na Cidade de Gaza, disse o escritório de mídia do governo do Hamas. O Exército israelense disse que a escola estava sendo usada como centro de comando do Hamas, que negou as acusações.

Israel afirma que o grupo terrorista Hamas regularmente se infiltra em instituições civis, usando a população de Gaza como escudos humanos. O Hamas nega isso.

Mais cedo no sábado, um ataque israelense dentro do complexo do hospital Al-Aqsa iniciou um incêndio e feriu pelo menos 18 pessoas, além de matar cinco, disseram autoridades médicas. O Exército israelense disse que atingiu um combatente que operava no local e que foram identificadas explosões secundárias, indicando a presença de armas na área.

ÁREA LOTADA – O complexo hospitalar fica em Deir al-Balah, uma área lotada com milhares de pessoas deslocadas pelos combates em outras partes do enclave. Em outras partes de Deir al-Balah, três palestinos foram mortos quando um míssil israelense atingiu uma casa.

Outros ataques aéreos israelenses mataram outras oito pessoas dentro de sua casa no acampamento de Jabalia, no norte da Cidade de Gaza, e três dentro de um carro, ainda de acordo com as autoridades do território, ligadas ao Hamas.

Moradores em áreas a sudeste da Cidade de Gaza, em Khan Younis, e ao norte de Rafah, onde houve intensos combates no mês passado, relataram ter recebido ordens do Exército israelense para que abandonassem essas áreas.

ORDEM DE RETIRADA – O porta-voz do Exército israelense postou ordens em X, pedindo aos moradores desses distritos que se dirigissem para a zona humanitária, dizendo que as forças agiriam em breve com firmeza contra os combatentes que operam nessas áreas.

No sul de Israel, sirenes soaram na área de Ashdod e o Exército israelense disse que cinco foguetes foram lançados do sul de Gaza. Ninguém ficou ferido. O Hamas disse que o lançamento de foguetes foi em resposta aos “massacres israelenses contra os civis”.

Israel se prepara para uma escalada séria após o assassinato do líder do Hamas, Ismail Haniyeh, em Teerã na quarta-feira (30), um dia após um ataque israelense em Beirute matar Fuad Shukr, um comandante militar de alto escalão do grupo armado libanês Hezbollah.

Lula não pretende acompanhar México e Colômbia na pressão sobre Maduro

Estratégia de Lula é seguir embromando, embromando…

Demétrio Magnoli
Folha

Menos de 48 horas depois da descarada fraude eleitoral, Lula declarou que “não tem nada de anormal” na Venezuela. Verdade: a corrupção dos processos eleitorais é o normal no regime “cívico-militar-policial” de Maduro. Dessa vez, contudo, o ditador companheiro ultrapassou os limites aceitáveis por quase todos –mas não, claro, por Lula.

Também não há “nada de anormal” nas sentenças do presidente brasileiro, que dissolveu cedo demais a farsa diplomática montada por Celso Amorim.

NA CONTRAMÃO – “Mostrem as atas!” — exigiu a oposição, secundada pelos governos democráticos com um mínimo de vergonha na cara. O governo do Brasil somou-se ao pedido, embora aos murmúrios, em posição contrastante à do PT, que correu para o abraço com o ditador.

Nos amplos círculos do jornalismo oficialista, disseminou-se a tese benevolente de que a posição brasileira equilibrava prudência e firmeza. Lula desfez o equívoco, antecipando um roteiro previsível.

“Como vai resolver essa briga? Apresenta a ata. Se a ata tiver dúvida, a oposição entra com recurso e vai esperar na Justiça andar o processo. E aí vai ter uma decisão, que a gente tem que acatar.” Atas eleitorais são documentos cuja autenticidade é facilmente verificável por peritos. Mas Lula prefere transferir a prerrogativa aos juízes amestrados da ditadura, os mesmos que encarceram opositores ou vetam suas candidaturas. Qualquer ata falsificada serve —eis a mensagem que, sem corar, Lula enviou a Maduro.

VETO NA OEA – São atos, além de palavras. A abstenção brasileira impediu a aprovação de uma resolução da OEA que solicitava não só a apresentação das célebres atas mas, sobretudo, a análise delas por observadores independentes. O veto tácito, mais um serviço prestado pelo governo Lula ao regime venezuelano, oferece amparo ao plano de Maduro de confiar o veredito eleitoral a seus juízes de estimação.

A valsa do apoio ao tirano desmoraliza a denúncia lulista do golpismo de Bolsonaro, desencanta os eleitores atraídos pela frente democrática no Brasil e divide até mesmo as bancadas do PT e do PSOL.

Por que Lula não segue o exemplo do chileno Boric e denuncia o golpe contra a soberania popular na Venezuela?

CASCA DE BANANA – Um tanto envergonhados, os áulicos lulistas na imprensa recorrem à proverbial “casca de banana” que, rotineiramente, provocaria “escorregões” de seu ídolo distraído.

Contudo, bananas na calçada não pertencem ao domínio da análise política. Lula move-se por um cálculo de prioridades: em nome de uma razão estratégica, aceita o pesado desgaste doméstico provocado pelo abraço em Maduro.

No passado, a aliança do lulismo com o regime chavista derivava da parceria ideológica com a ditadura castrista cubana. O cenário mudou desde a inauguração de Lula 3, em meio à tormenta que desloca o edifício da ordem mundial. A política externa do atual governo, conduzida mais por Celso Amorim que por Mauro Vieira, emana do dogma “anti-imperialista” e busca alinhar o Brasil ao “Sul Global”, rótulo quimérico aplicado ao eixo China/Rússia.

PROTEÇÃO A MADURO – Lula cava uma trincheira de proteção ao redor de Maduro pelo mesmo motivo que mantém solidariedade à guerra imperial russa na Ucrânia. Ao contrário de Cuba, que é economicamente irrelevante, a Venezuela possui as maiores reservas de petróleo do mundo.

A ditadura venezuelana estreitou laços com a China, sua maior parceira comercial, e com a Rússia, principal fornecedora de material militar, transformando-se no mais importante ponto de apoio geopolítico das duas potências na América Latina. É nessa moldura que Lula organiza suas prioridades.

A revista The Economist depositou suas esperanças no passo inicial da valsa lulista, sugerindo que, depois de pedir a exibição das atas, o Brasil articule-se com o México e a Colômbia para endurecer o jogo diplomático com Maduro. Não acontecerá: para Lula, democracia é um bem supérfluo.