Não precisamos de políticos imbrocháveis nem que tenham tesão de 20 anos…

“Quem achar que o Lulinha está cansado, pergunte para a Janja”, diz Lula

Lula continua a ser o rei das declarações com baixarias

Becky S. Korich
Folha

Em 1991, o então presidente Fernando Collor de Mello declarou que tinha nascido com “aquilo roxo”, para enfatizar sua força e masculinidade. Sua “macheza” não foi suficiente para impedi-lo de ser triturado em um processo de impeachment.

Passados mais de trinta anos, nada mudou. Em 2022, Jair Bolsonaro repetiu cinco vezes o termo “imbrochável” para afirmar sua virilidade, em um discurso na Esplanada dos Ministérios durante a celebração do 7 de Setembro, sugerindo uma suposta potência sexual inabalável. Em maio de 2021, ele tinha ido ainda mais longe: “Fique tranquilo. Já falei que sou imorrível, imbrochável e também sou incomível”. Só faltou o inelegível nessa lista.

LULA TESUDO – Quando pensávamos que estaríamos livres do palavreado chulo e da retórica sexualizada, o Presidente Lula não se conteve: quis ser tão potente e viril quanto o seu antecessor. Recentemente, em um evento em São Paulo, fez questão de declarar que dispõe de uma tenacidade (sexual) de um jovem de vinte anos e ainda cometeu a indelicadeza de expor sua mulher:

“Quem achar que o Lulinha está cansado, pergunte para Janja. Ela é testemunha ocular. Quando eu falo que eu tenho 70 anos de idade, energia de 30 e tesão de 20, eu estou falando com conhecimento de causa”.

Em setembro do ano passado, antes mesmo do efeito Biden, Lula fez uma declaração no mínimo capacitista depois de passar por uma cirurgia: “O Ricardo Stuckert [fotógrafo oficial da Presidência] não quer que eu ande de andador. Ele já falou: ‘Não vou filmar você de andador’. Então significa que vocês não vão me ver de andador, de muleta. Vão me ver sempre bonito, como se eu não tivesse sequer operado.”

CORINTIANO – A gafe mais recente, em tom de piada com o que não se brinca, foi sobre a violência contra as mulheres que aumentam depois dos jogos de futebol, “se o cara é corintiano, tudo bem”. Isso está mais para uma conversa de bar entre machos do que uma declaração presidencial.

Ninguém precisa de garanhões insaciáveis no governo. Não precisamos de presidentes imbrocháveis, joviais, viris, imbatíveis; não são essas as “forças políticas” que vão fazer um país melhor.

Não nos interessa saber o nível de testosterona dos nossos dirigentes, não temos mais paciência nem estômago para as autoproclamações de virilidade – que mais nos dão a sensação de falta do que de plenitude.

EMPODERADOS – Homens “do poder” precisam aprender a ser homens “empoderados”. Aprender a não diminuir as mulheres para se sentirem grandes; a ficar calados quando o silêncio é mais precioso; a ser fortes a ponto de não precisar agredir para demonstrar força; a ser corajosos para assumir suas próprias falhas e, por que não, suas brochadas.

Homens públicos empoderados pensam antes de falar; não precisam gritar para serem ouvidos; conseguem ouvir vozes mais fracas; fazem de tudo para que as mulheres tenham as mesmas oportunidades, sem se sentirem ameaçados. Homens empoderados torcem por mais mulheres empoderadas.

O macho de verdade respeita as escolhas sexuais não só das mulheres como de todas as pessoas; não expõe sua intimidade (principalmente quando envolve a de outra pessoa); não precisa publicar no jornal suas peripécias sexuais; não tem medo de pedir ajuda quando precisa, de falar “eu não sei” ou “eu errei”.

PODE BROCHAR – Macho de verdade não tem medo de brochar. A política não é um palco para os homens reafirmarem sua masculinidade.

 Mas, infelizmente, o cenário político se tornou um campo especialmente atraente para os homens reforçarem seu status de masculinidade. Nesse contexto, as posturas e políticas masculinas refletem qualidades que podem ser consideradas relevantes nos domínios da segurança nacional e da política no geral.

Isso faz com que alguns homens se sintam impelidos a seguir um padrão implacável de masculinidade, para não correrem o risco de perder seu status de “homens de verdade”. É aqui que reside a masculinidade frágil.

OUTRAS QUALIDADES – A masculinidade real não se caracteriza pela agressividade e força, ela necessariamente inclui qualidades como civilidade, respeito e cuidado. Na política, que ainda é predominantemente composta por homens e onde o “mais forte vence”, os líderes masculinos devem reunir todas as suas forças para modelar essa versão mais positiva da masculinidade.

Para merecer o cargo, um líder precisa se adaptar às mudanças na mesma velocidade em que elas acontecem. Por mais que tente se superar, Lula se mantém como um homem de seu tempo, moldado por uma sociedade estruturalmente machista. Suas falas infelizes provam a dificuldade que tem para atualizar as referências sobre as mulheres e sobre o papel do homem de hoje.

Não é questão de idade, muito menos de virilidade. Para esse tipo de derrapada, não há Viagra que resolva.

Entenda por que Obama não endossou Kamala ao saudar decisão de Biden

Obama faz piada e chama Biden de 'vice-presidente' durante visita à Casa  Branca | Jovem Pan

Obama sabia que Joe Biden não tinha mais condições

Glenn Thrush
The New York Times/Folha

Muitos dos principais políticos democratas endossaram a candidatura à Presidência dos Estados Unidos da atual vice, Kamala Harris, já no domingo (21), após o presidente Joe Biden anunciar que havia desistido da corrida pela Casa Branca. Mas uma presença imponente no partido estava visível e propositadamente ausente entre esses nomes: Barack Obama.

O ex-presidente ainda não apoiou publicamente Kamala. Na verdade, ele não a mencionou nenhuma vez no tributo afetuoso e cuidadosamente escrito a Biden publicado em sua conta no Medium logo após o presidente afirmar que não tentaria uma reeleição.

QUERIDO AMIGO – “Joe Biden tem sido um dos presidentes mais influentes da América, além de um querido amigo e parceiro para mim”, escreveu Obama. O ex-presidente escolheu Biden como vice em 2008 porque queria um companheiro de chapa mais velho, mais experiente, com “cabelos grisalhos” e ambições presidenciais futuras limitadas, disse ele na época.

“Navegaremos por águas desconhecidas nos próximos dias”, escreveu Obama na publicação. “Mas tenho uma confiança extraordinária de que os líderes do nosso partido serão capazes de criar um processo do qual surgirá um candidato excelente.”

Republicanos interpretaram isso como um desprezo. Mas pessoas próximas a Obama, que se posiciona como um estadista imparcial acima de esquemas partidários, disseram para não dar muita importância a isso —e afirmaram que ele não tinha nenhum candidato alternativo em mente quando decidiu não endossar Kamala imediatamente.

MESMA POSTURA – Obama adotou uma postura idêntica há quatro anos, quando os assessores de Biden o pressionaram por apoio nas primárias democratas antes que Bernie Sanders desistisse. A frase favorita de Obama na época era “Eu não quero influenciar a balança”.

Segundo pessoas próximas a Obama, endossar muito cedo agora também seria um erro político —alimentaria críticas de que a indicação de Kamala, caso aconteça, foi uma coroação em vez de um consenso possível já feito sob circunstâncias apressadas, já que as eleições são em novembro.

Em vez disso, Obama vê seu papel como o de ajudar a unir o partido rapidamente, assim que tiverem um candidato, disse uma pessoa familiarizada com o assunto.

OUTROS ASPECTOS – Há, no entanto, outras considerações pessoais que deixam mais visível a típica cautela de Obama.

Biden é um homem profundamente orgulhoso, e ele nunca perdoou completamente Obama por apoiar silenciosamente a ex-secretária de Estado Hillary Clinton na campanha de 2016. O atual presidente ainda acredita que poderia ter vencido o republicano Donald Trump naquele ano se tivesse tido a chance. Biden também não ficou satisfeito quando Obama lhe aconselhou a considerar ficar de fora em 2020, disseram pessoas de seu círculo.

Por fim, Obama queria que o domingo fosse sobre Biden, uma celebração de suas conquistas — e não se sente pressionado a agir precipitadamente, de acordo com um ex-funcionário da Casa Branca que fala regularmente com o ex-presidente.

###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Nada de novo no front ocidental. Em todas as relações humanas sempre há arestas e desentendimentos. Na política, então, o que há de controvérsias entre correligionários não está no gibi, como se dizia antigamente. (C.N.)

Generais mentiram ao depor sobre golpe, para não sujar as suas carreiras

Tribuna da Internet | Receio de golpe militar é patologia grave, da qual o Brasil não se livra

Charge do Alpino (Yahoo Notícias)

Carlos Newton

Comentamos, aqui na Tribuna da Internet, que a Polícia Federal está tendo dificuldades para fechar a investigação sobre o golpe de estado que o então presidente Jair Bolsonaro e o general Braga Netto pretendiam concretizar. O ponto fora da curva refere-se aos depoimentos dos principais chefes militares envolvidos – os generais Marco Antonio Freire Gomes, comandante do Exército, e Estevam Theofilo, que detinha o controle efetivo das tropas, como chefe do Comando de Operações Terrestres (Coter), o mais importante e estratégico cargo do Exército.

Até agora, a Polícia Federal não descobriu quem está mentindo ou se os dois generais estariam mentindo, o que seria mais grave ainda. E o que causa maior estranheza é que Freire Gomes e Estevam Theofilo ainda não tenham sido chamados a depor novamente.

REUNIÃO NO PLANALTO – As investigações sobre as articulações mostram que o golpe quase chegou a se concretizar, quando os três comandantes militares foram chamados ao palácio, para serem consultados pelo presidente Bolsonaro sobre a posição das Forças Armadas, caso houvesse a assinatura de uma medida drástica (estado de emergência, estado de sítio ou garantia da lei e da ordem) que anulasse a eleição de Lula.

0 comandante da Marinha, almirante Almir Garnier, mostrou-se totalmente favorável, mas o comandante da Aeronáutica, Baptista Júnior, posicionou-se contra. A questão foi decidida pelo general Freire Gomes. Além de responder negativamente quanto à medida de emergência, aventou a possibilidade de o presidente Bolsonaro ser preso, caso tentasse anular a eleição de Lula. Tudo isso é conhecido e verdadeiro.

A posição do general surpreendeu Bolsonaro, porque ele e o general Braga Netto tinham escolhido a dedo e  nomeado para comandar as Forças Armadas justamente os oficiais mais inimigos do petismo. Assim, esperava que eles apoiassem incondicionalmente o golpe, como fez o almirante Garnier.

ALTO COMANDO – Acontece que nenhum oficial-superior manda no Exército Brasileiro. Quem decide essas situações-limites é o Alto Comando, formado por 16 generais, e a grande maior foi contra o golpe.

As investigações indicam, mas não provam, que o comandante Freire Gomes e o general Estevam Theofilo inicialmente eram a favor do golpe, caso as urnas estivessem fraudadas. O comandante levou o assunto ao Alto Comando, que não aceitou como argumento a suspeita às urnas eletrônicas, e fim de papo.

Assim, tudo indica que os dois generais estão mentindo, porque não querem sujar as biografias. E as posições deles favorecem Bolsonaro e Braga Netto, porque tumultuam o inquérito e evitam que as investigações tenham um desfecho.

###
P.S. –
Não há explicação para o fato de o general Estevam Theofilo ter ido se reunir com Bolsonaro  sozinho, sem pedir autorização a seu comandante. E também não há explicação para o fato de o general Freire Gomes não lembrar se Theopilo depois foi à sua casa, à noite, para relatar o que acontecera na reunião com Bolsonaro. Em tradução simultânea, está claro que os dois generais estão mentindo descaradamente. E assim fica cada vez mais difícil concluir a investigação do inquérito do fim do mundo, aquele que começou há cinco anos e não acaba nunca.
(C.N.)

Santa Inquisição pretendia matar hereges medievais, acabou perseguindo mulheres

A Inquisição Medieval

A Inquisição Medieval foi um período de trevas sinistras

Luiz Felipe Pondé
Folha

Se fosse um religioso, o que não sou, minha total simpatia iria para esses hereges medievais, que se diziam os ‘bons homens’. Afinal, de onde surgiu o mal? Sei que é comum se descartar essa questão como sendo bobagem. Tudo é relativo, logo, não existe o mal nem o bem, nem o certo e o errado. Qualquer bom cético considera esse tipo de afirmação, quando feita de forma gloriosa, coisa de iniciante. A origem do mal sempre preocupou a filosofia e as religiões.

Eu posso, por exemplo, assumir que aquilo que chamamos de “o mal” nada mais seja do que a descrição aterrorizada dos efeitos da contingência cega sobre nós. Tese consistente e que, a propósito, o filósofo da religião Mircea Eliade, no século 20, dizia ser a causa primeira das religiões, “o terror da contingência”.

SAUDADES DE DEUS – A natureza do mal, enfim, a causa do mundo ser como é —um lugar de dor e morte— sempre foi objeto de reflexão no cristianismo. Se por um lado sinto saudades de Deus, como diz uma personagem no filme de Manuel de Oliveira “O Convento”, por outro, o Diabo me parece mais fácil de crer.

Vou dizer hoje para você que, se eu fosse um religioso, o que não sou, minha total simpatia iria para os hereges cátaros medievais, dos séculos 12, 13 e 14. Seu epicentro geográfico foi o sul da França e o norte da Itália, e seu primos, os bogomilos, eram dos Bálcãs, região da Bulgária e da Romênia.

Me parece que esses cristãos sombrios, em meio ao universo das teologias existentes, tinham razão sobre o mundo e os atormentados que nele habitam.

INQUISIÇÃO – A famosa Santa Inquisição foi sistematizada e posta em prática para matar os cátaros —e não, como pensa o senso comum feminista, para perseguir mulheres, apesar de que, claro, matou muitas mulheres, principalmente as cátaras. Bernardo Gui foi, talvez, o maior inquisidor envolvido nas fogueiras que queimaram os cátaros.

A palavra “cátaro” vem do grego “katharói”, que pode ser traduzido por “puros”. Eles nunca usaram o termo para si mesmos, mas a inquisição os chamou de cátaros, e assim ficou. Eles se referiam a si mesmos como “bons homens” e “boas mulheres”.

Seria impossível aqui entrar nos meandros sociais, políticos, econômicos e pastorais que a igreja cristã cátara significou. Apenas deixemos claro que reis e a igreja romana os perseguiram e mataram em guerras e fogueiras por quase três séculos.

CRIAÇÃO DO MUNDO – Concentremo-nos na sua teoria da criação do mundo. Mas, antes de tudo, que fique claro que a espiritualidade cátara se fundamentava numa experiência existencial evidente e não em mera filosofia, catequese ou escrituras sagradas. A experiência do mal se impõe como fato inquestionável no mundo e nos corpos.

Nossos hereges eram dualistas. Dualismo é uma teoria segundo a qual existem dois princípios criadores que atuam na realidade —portanto, não um deus único. Um principio da realidade visível e um da invisível. Matéria versus espírito ou alma, basicamente.

O dualismo na herança cristã antiga e medieval tem cauda longa. Desde os agnósticos nos primeiros séculos, passando pelos maniqueus persas pouco depois, até os bogomilos e cátaros na Idade Média, os dualistas cristãos acreditavam —e existem textos “revelados” sagrados deles que atestavam essa crença— que o mundo material foi criado por um deus mau e por isso existe a morte, o envelhecimento e a violência da natureza e do cosmos que esmaga todos os corpos.

DEUS BOM – Já o mundo invisível, imaterial e perfeito foi criado por um deus bom que enviou o Cristo, puro espírito, para nos pôr a par da tragédia.

Somos fruto dessa dualidade: um corpo precário que prende um espírito a princípio livre. Anjos que, na sua inveja de Deus, tombaram no abismo que é esse mundo físico. A reprodução era proibida a fim de negar ao Diabo mais vítimas.

A propósito, esse dualismo existe no islã também. A etnia iazidi, chacinada pelo califado do Estado Islâmico no passado recente —ninguém deu a mínima bola na época—, partilha de cosmologia semelhante. Uma comunidade iazidi vive em paz na Armênia. Um anjo mau recebeu de Alá o direito de fazer o que quisesse conosco e com o mundo. Para os cátaros, esse anjo mau era o Diabo, claro.

Vivesse eu no sul da França ou no norte da Itália entre os séculos 12 e 14, provavelmente simpatizaria com os cátaros.

Objetivo do governo é haver pelo menos um grande cassino em cada Estado

Cassino no Casamento: um pouco de Las Vegas na sua Festa

A roleta ainda é o jogo mais popular dos cassinos

Lucas Schroeder e Henrique Sales Barro
CNN São Paulo

O ministro do Turismo, Celso Sabino, disse à CNN, nesta segunda-feira (15), que, uma vez sancionado o projeto de lei (PL) que legaliza os jogos de azar, o governo trabalha com a expectativa de haver um resort integrado por estado.

Resorts integrados são hotéis que oferecem uma ampla gama de serviços e instalações voltadas ao entretenimento dos hóspedes. E entre as instalações ofertadas, estão os cassinos.

INVESTIMENTOS – “Apenas um empreendimento vai mobilizar mais de R$ 1 bilhão para sua implantação. Nós pretendemos ter pelo menos um (resort integrado) em cada estado da federação”, afirmou Sabino em entrevista ao programa Bastidores CNN.

“Haverá estados que poderão ter mais de um, dado o seu tamanho territorial e população”, complementou o ministro.

Os resorts integrados, segundo o Sabino, permitirão que o Brasil “seja igual aos outros países do mundo que já permitem a exploração” de jogos de azar, como Estados Unidos, Uruguai, Paraguai e Argentina, que recebem brasileiros em busca da atividade.

RESTRIÇÕES – A aprovação desse projeto não vai permitir que qualquer pessoa entre em qualquer bodega e possa fazer jogos de azar. Só dentro daquele lugar (resort integrado) e dentro de uma área específica daquele local que vai poder ter jogo de roleta, jogo de baralho, jogo de dados…

O PL dos Jogos de Azar já foi aprovado pela Câmara dos Deputados – no primeiro semestre de 2022 – e, agora, tramita no Senado Federal.

Em discussão há mais de 30 anos, o projeto prevê, além de cassinos em resorts e hotéis de alto padrão, a legalização do jogo do bicho e de apostas em corridas de cavalo fora de hipódromos.

O QUE FALTA – Em junho, a proposta foi aprovada pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa. Agora, restam a votação no Plenário e, posteriormente, a sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), já declarou que a votação deve ocorrer após o recesso parlamentar – que vai de 17 de julho a 1º de agosto. À CNN, Sabino defendeu que o processo pelo plenário ocorra já “nas primeiras semanas de agosto”.

“Fizemos um projeto bem amarrado, que conseguiu vencer as barreiras da Câmara. Imagino que os senadores da República terão também esse compromisso”, afirmou.

###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGEspera-se que não haja novos boicotes de todas as igrejas reunidas em coalizão. Já é hora de parar com essas criancices e deixar os adultos viverem suas vidas conforme desejarem. Aqui, você pode apostar em todo tipo de jogo pela internet. Chega de hipocrisia. (C.N.) 

Começou o embate entre Lula e Tarcísio  pela sucessão de 2026. Comprem pipoca…

A conciliação na política brasileira (por André Gustavo Stumpf) | Metrópoles

A amizade terminou e agora começa a pancadaria

Caio Junqueira
CNN

Os movimentos dos dois potenciais candidatos à Presidência em 2026 têm sido desde o começo de 2023 de aproximações e afastamentos. Mas uma manifestação da Advocacia-Geral da União (AGU) atacando o processo de privatização da Sabesp esquentou a relação entre Lula e Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo.

A AGU, ligada a Lula, reafirmou por escrito ao Supremo Tribunal Federal suspeitas do PT de que uma das principais bandeiras da gestão Tarcísio, a venda da Sabesp, tem irregularidades morais e éticas. Isso deflagrou um movimento de ataques de lado a lado nos bastidores.

OBRAS DE TARCÍSIO – Esse movimento cresceu ao longo do dia com outro episódio: a ida de Lula a São Paulo para anunciar obras que haviam sido formuladas por Tarcísio quando era ministro de Bolsonaro.

Lula convidou Tarcísio para o ato, mas Tarcísio não foi. E Lula atacou Tarcísio por ele não ter ido.

Os movimentos dos dois potenciais candidatos à Presidência em 2026 têm sido desde o começo de 2023 de aproximações e afastamentos. Mas tem ficado mais claro que, quanto mais a eleição presidencial de 2026 se aproxima, mais eles se afastam.

A possibilidade de Tarcísio de Freitas ser candidato ao Palácio do Planalto em 2026 e concorrer contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi avaliada na CNN pelo cientista político Rafael Cortez, professor do Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP). Cortez explica que existe “o conflito em torno da privatização em si”, mas também há “os desdobramentos políticos eleitorais desse movimento”.

Para Cortez, “como o Tarcísio é a bola da vez para representar eventualmente o bolsonarismo, em 2026, organizando um projeto rival ao do presidente Lula, todo o movimento entre esses dois nomes vai ganhar uma repercussão política para além da temática específica”.

###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Em tradução simultânea, a luta pela sucessão de Lula agora começou de verdade. Chegou ao fim a sessão tapas e beijos. Daqui em diante, será pancadaria pura. Podem comprar a pipoca. (C.N.)

Na primeira aparição pública, Kamala faz a defesa do legado de Joe Biden

Kamala aproveitou um evento e iniciou sua campanha

Fernanda Perrin
Folha

Em sua primeira aparição pública após tornar-se candidata à vaga democrata na disputa pela Casa Branca, Kamala Harris fez uma defesa do legado de Joe Biden, dizendo que o presidente conseguiu mais em quatro anos do que a maioria de seus antecessores fez em oito.

A declaração ocorre um dia após o octogenário desistir de tentar sua reeleição, após forte pressão interna do próprio partido, que duvidava cada vez mais da sua capacidade de derrotar Donald Trump. Ao anunciar sua saída, Biden endossou Kamala para substituí-lo na chapa do partido.

SEM PARALELO – “O legado de Joe Biden nos últimos três anos e meio não tem paralelo na história moderna”, afirmou a vice-presidente durante um evento na Casa Branca na manhã desta segunda (22) com times da Associação Atlética Nacional Universitária. “Em um mandato, ele já superou o legado da maior parte dos presidentes que serviram dois mandatos.”

Em seguida, Kamala repetiu declarações que já havia feito em uma nota circulada no domingo, afirmando que conheceu Biden primeiramente por meio de seu filho Beau, morto em 2015, quando os dois trabalhavam juntos na Califórnia.

“As qualidades que ele reverenciava em seu pai são as mesmas que vi todo dia em nosso presidente. Sua honestidade, integridade, compromisso com sua fé e sua família. Seu grande coração e o profundo amor pelo nosso país”, afirmou. “Somos profundamente gratos pelo seu trabalho pela nossa nação”, completou.

GESTO ALTRUÍSTA – O discurso é semelhante ao repetido por outros integrantes do partido desde que Biden anunciou sua saída da campanha. Em notas e entrevistas, democratas descrevem a decisão do presidente como um gesto altruísta e heróico.

A narrativa contrasta com tentativa semelhante feita entre republicanos em relação ao seu candidato, Donald Trump. Desde que sofreu uma tentativa de assassinato, há pouco mais de uma semana, o empresário vem sendo retratado por aliados como um herói. Em um comício no último sábado, Trump chegou a dizer que levou um tiro pela democracia.

Kamala é filha de um professor jamaicano e de uma pesquisadora de câncer indiana que se conheceram durante um protesto por direitos civis na Califórnia, nos anos 1960 —ambos faziam doutorado na Universidade de Berkeley. O nome da vice-presidente, em hindi, significa flor de lótus, como ela afirma em seu livro de memórias “The Truths We Hold – An American Journey” (2019). A pronúncia correta é “Kâmala”, com a sílaba tônica no “Ka”, e não “Kamála”.

###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
É impressionante o apoio da mídia ao partido Democrata. Se depender da imprensa, Trump terá de fazer um esforço enorme para derrotar Kamala Harris. Tudo indica uma eleição duríssima. (C.N.)

Maior entrave ao desenvolvimento do país é o despreparo do Congresso e dos politicos

Sessão Congresso

Baixo nível dos congressistas retarda o desenvolvimento

Janio de Freitas
Poder360

É quase ininteligível que uma nação com o desenvolvimento dos Estados Unidos fosse entregue à direção de um ser tão inadequado quanto Donald Trump. E esteja ameaçada de repetir o desatino. Guardadas as proporções, o Brasil de Bolsonaro, a Venezuela de Maduro, a Argentina de Milei, apesar de tudo, não justificam tamanho desprezo do destino.

A evolução dos sistemas de escolha política percorre os séculos em quase imobilidade. No decorrer dos 5.000 anos de reflexão a respeito, e historicamente perceptível, nada mudou menos do que as formas do poder político.

ILUSÃO DE INOVAÇÕES – Das transformações de nomenclatura é que veio a ilusão de inovações, boas e más. Tirano, por exemplo, denominava o chegado ao poder meio fora da regra, mesmo que meio pacífico, e fosse bom ou mau governante. As palavras ficam, os sentidos se movem.

O mundo mudou muito nos últimos 2 séculos, e a política não se atualizou. Precisa evoluir para modos mais verazes e mais capazes de compor as instituições de condução dos países.

Os brasileiros não têm o direito de aspirar a tanto. Antes, precisamos que a política aqui seja menos subdesenvolvida. Menos de costas para o país. Menos vista como caminho fácil para saciar voracidades pessoais e grupais.

FALHAS POLÍTICAS – O Congresso brasileiro não pode deixar-se ver como contrário, no mínimo indiferente, às necessidades e interesses predominantes na população. Fake news eleitorais são mentiras para enganar o eleitorado, mas o Congresso mantém o veto (ainda de Bolsonaro) a punições para disseminadores dessas mentiras, que são crimes.

O projeto de reforma tributária, trabalhosa elaboração esperada há décadas, sofreu na Câmara desfiguração imoral, para favorecimento a setores e grupos empresariais, e em prejuízo dos cidadãos comuns e do cofre público.

A crescente incidência do câncer é agora constatada também entre jovens. O Congresso, porém, derrubou o veto de Lula à transferência da liberação de agrotóxicos, doada na Lei do Veneno ao Ministério da Agricultura: o ministério dos adeptos do agrotóxico é que passa a controlá-lo.

DÍVIDAS E FUNDOS – Criado na Câmara, o perdão para as dívidas dos partidos é aprovado lá com apoio inclusive do PT, que só de Fundo Eleitoral leva R$ 620 milhões: o conjunto de partidos leva fantásticos R$ 4,9 bilhões, com os 10 maiores partilhando R$ 4,2 bilhões.

E é de cassinos mesmo que o Brasil precisa, como aprovado pela Câmara e a caminho de prevista aprovação no Senado?

Congressistas, aliás, dispõem de duas maneiras de ganhar alto com o jogo de cassino: uma, antes da votação do projeto liberador; outra, depois, se tiver sorte na roleta. “Orçamento secreto”, dinheiro do Orçamento para prefeitos, parentes e pagamento de repetidas viagens ao exterior.

TUDO É DIFÍCIL – E para o governo tudo é dificultado, tudo exige negociações, até que entregue cargos e ministérios ou libere verbas de destinação indicada por um congressista. Aí estão uns poucos exemplos, muito poucos, do que precisa acabar.

O Brasil precisa do Congresso, os cidadãos precisam do Congresso.

É preciso adotar inovações que melhorem o nível médio dos eleitos para o Congresso. Que o façam olhar para fora e não para dentro dos seus desejos pessoais. Precisa-se, é indispensável, que a política fique menos subdesenvolvida.

Muitos analistas políticos passaram a se comportar como meros pregadores

Charge do Zé Dassilva: Debate presidencial - NSC TotalDemétrio Magnoli
Folha

“Não rir, nem lamentar, nem odiar, mas compreender”. A prescrição de Spinoza, que serviu como guia para os intelectuais públicos, saiu da moda. Na era das redes sociais, os intelectuais públicos desistiram de decifrar os fenômenos políticos, dedicando-se à tarefa banal de exprimir indignação moral perante suas bolhas ideológicas.

De analistas, tornaram-se pregadores. Daí, o pequeno escândalo provocado por meus comentários, aqui e na GloboNews, sobre a ascensão da Reunião Nacional (RN) francesa.

RÓTULOS POLÍTICOS – Num passado menos envenenado, rótulos políticos serviam para descrever fenômenos dinâmicos. A atual RN, de Le Pen, emanou de um longo processo de revisões históricas e dramáticas cisões internas que ainda não se concluiu.

Nessa trajetória, renunciou às suas raízes, fincadas na França de Vichy, para aderir à narrativa gaullista da França da Resistência. A estratégia permitiu-lhe capturar a maior parte do eleitorado da centro-direita tradicional, relegando o velho partido gaullista a um gueto. A extrema direita tornou-se direita nacionalista.

A direita nacionalista é reacionária, xenófoba e islamofóbica, como a extrema direita, mas subordina-se às instituições democráticas. A RN só desistiu do chamado à deportação em massa de imigrantes para concentrar-se no objetivo principal: cancelar o princípio do “direito do solo”, instituído pela Revolução Francesa, substituindo-o pelo “direito do sangue”.

MUTAÇÃO DE LE PEN – Não é pouco: o “direito do solo” funciona como limitação constitucional das erupções de xenofobia e racismo. Os pregadores, que preferem rir, lamentar e odiar, nem tentam explicar a mutação da RN. No lugar disso, apelam ao pensamento mágico, alegando que tudo não passa de uma operação de camuflagem.

Seria, igualmente, mera camuflagem a mutação histórica do PT, de partido anticapitalista que rejeitou assinar a Constituição de 1988 para o atual partido de esquerda engajado na busca da governabilidade?

O PT chegou ao Planalto porque mudou. A RN atingiu o umbral do poder pelo mesmo motivo, o que a torna mais – não menos! – perigosa para os direitos humanos e a coesão social da França.

FRANÇA ETERNA – A ascensão do partido de Marine Le Pen ameaça consumir a “França de 1789” na fogueira da “França eterna”. Já o partido original, extremista, de Jean-Marie Le Pen, produzia apenas ruídos, por vezes sonoros, nas franjas da sociedade francesa.

Não é prudente traçar paralelos superficiais entre a Europa e os EUA – ou o Brasil. O Maga, movimento de Trump que tomou de assalto o Partido Republicano, é um fenômeno extremista, como atesta a contestação violenta à eleição de 2020. O bolsonarismo pertence à extrema direita, como prova a trama golpista que se desenrolou entre dezembro de 2022 e o 8/1 de Brasília.

Na Europa, porém, os partidos da direita extremista, como a Afd alemã ou o Vox espanhol, permanecem circunscritos à periferia política. O perigo iminente mora nos partidos que se moveram para a direita nacionalista, como o Fidesz, de Orbán, o Irmãos da Itália, de Meloni, e a RN francesa.

ANALISTA E PREGADOR – O analista concentra-se nas mutações e nas nuances; o pregador, na caricatura bruta que serve à sua causa. Os arautos do bolsonarismo só sabem utilizar os rótulos comunista e socialista (ou o que, na sua febre infantil, imaginam serem variações, como “liberais globalistas”).

Já os intelectuais de esquerda, também prisioneiros do teatro das redes antissociais, reconhecem apenas neonazismo e fascismo (ou extrema direita, que tratam como sinônimo dos anteriores). Uns e outros comportam-se como influencers, investindo no mercado da propaganda.

O jovem pastor Pedro, conta-nos Esopo, acostumou-se a fazer troça com os habitantes da aldeia, gritando “lobo!” para atrair a ajuda deles. No dia em que o lobo emergiu da floresta, ninguém deu-lhe atenção – e lá se foi seu rebanho. Pedrinho, pare de representar.

Lula supera Bolsonaro em declarações que ofendem as minorias, e a esquerda se cala

Lula tem 45% e Bolsonaro 33% no primeiro turno, aponta Quaest | Metrópoles

Bolsonaro e Lula disputam o troféu Asneira do Ano

Deu no Estadão

A defesa dos direitos das minorias, em tese, é universal. Todos, sem exceção, devem respeitar mulheres, negros, homossexuais, indígenas e outros tantos grupos, conforme preconizam as cartilhas de direitos humanos e os manuais de bom comportamento. Os ativistas da chamada esquerda “identitária”, aquela que superou a luta de classes e investe na afirmação política de grupos ultraminoritários, são particularmente dedicados a essa defesa, exercendo o papel de vigilantes do discurso alheio para flagrar o que, em sua opinião, fere a sensibilidade desses grupos.

Ninguém escapa da fúria censória desses zelotes. Apenas um cidadão brasileiro está livre do “cancelamento”: é o presidente Lula da Silva.

SALVO-CONDUTO – Diga a barbaridade que disser – e como ele diz! –, Lula não será repreendido pelos esquerdistas. Parece ter salvo-conduto para dar declarações machistas, homofóbicas e capacitistas à vontade.

A última do demiurgo petista foi num evento no Palácio do Planalto, em que ele, a propósito de uma pesquisa segundo a qual a agressão doméstica a mulheres aumenta em dias de jogos de futebol, declarou que, “se o cara (que agride mulher) é corintiano, tudo bem”. Mal se ouviram críticas de petistas a essa blague lamentável; as escassas reprimendas vieram na forma de sussurro obsequioso. Afinal, Lula é uma ideia.

As grosserias de Lula são tratadas por seus devotos como “gafes” ou “deslizes”. Desrespeitou a própria mulher, Janja, ao dizer que ela poderia atestar o vigor sexual que comprovaria sua disposição para seguir na política apesar da idade.

OUTRAS GROSSERIAS – Afirmou, ao anunciar medidas de socorro ao Rio Grande do Sul, que uma máquina de lavar roupa é “muito importante” para as mulheres. A uma beneficiária do Minha Casa Minha Vida que aos 27 anos tem cinco filhos, Lula perguntou: “Quando é que vai fechar a porteira?”.

Numa cerimônia dedicada a pessoas com deficiência, o presidente disse que Janja o instruiu a escolher bem as palavras porque “essa gente tem a sensibilidade aguçada”. Noutra ocasião, declarou que “afrodescendente gosta de um batuque de um tambor”. E tudo isso apenas neste ano.

Nada disso é trivial ou desimportante. Lula é presidente da República e, como tal, representando o Estado brasileiro, deve servir de exemplo de compostura e respeito.

BOLSONARO, TAMBÉM – Ainda estão frescas na memória as inúmeras declarações ultrajantes de Jair Bolsonaro, na condição de presidente, a respeito de diversas minorias, e isso mereceu justa condenação.

Recorde-se ainda a enorme proporção que teve o movimento “Ele Não”, liderado por mulheres, para protestar contra a candidatura presidencial de Bolsonaro, em 2018, em razão de suas seguidas ofensas.

Não se trata, aqui, de avaliar o grau de desfaçatez de um e de outro, como se Lula e Bolsonaro estivessem a disputar um certame de cafajestagem. Ambos merecem a mesma admoestação por parte de todos os que prezam a civilidade, mas sobretudo daqueles que fazem da defesa das minorias a causa de suas vidas. Ou então a causa não vale nada.

Lula já não tem como propagar que na Venezuela há “democracia até demais”

Maduro afirma que se não for reeleito Venezuela cairá em “banho de sangue”Merval Pereira
O Globo

Mesmo que Maduro não fosse seu candidato preferido, o presidente Lula estaria agora mais empenhado do que nunca na sua vitória, para não ter que enfrentar o dilema de quem se mete a apoiar ditadores: evitar o “banho de sangue” prometido pelo ditador venezuelano em caso de derrota. Caso ela venha, o que não parece impossível a esta altura, o presidente brasileiro, que se diz um democrata, terá que intervir para que a Venezuela não se torne uma ditadura escancarada.

Não que Lula não apoie ditaduras, como mostra seu comportamento com Cuba, ou Nicarágua. Esses três exemplos, aliás, são de países que fizeram revoluções de esquerda para afastar governos autoritários de direita, presumidamente para defender o povo explorado. No que foram apoiados entusiasticamente em determinado momento histórico. Agora são eles os ditadores de esquerda que exploram o mesmo povo.

ENRASCADA – De heróis passaram a vilões, e colocam governos como o de Lula em uma enrascada: como dizer-se um democrata quando os amigos se tornam ditadores.

Lula, sem ter o que dizer diante da ameaça de Maduro de que sua derrota poderá gerar “um banho de sangue”, saiu-se com essa: “Eles que elejam quem eles quiserem”. Como assim, se os principais líderes oposicionistas da Venezuela estão presos ou impedidos de disputar a eleição presidencial? Mesmo assim, o oposicionista que sobrou, Edmundo Gonzales, tem chances reais de vencer as eleições, e por isso Maduro espalha suas ameaças dias antes do pleito.

O assessor especial de Lula para assuntos internacionais, Celso Amorim, que hoje assume o papel que um dia já foi de Marco Aurelio Garcia quando Amorim era o chanceler brasileiro, tentou amenizar a fala de seu malvado preferido, dizendo que Maduro se expressou mal ao falar em “banho de sangue”, quando queria se referir à luta de classes. Mesmo que tivesse sido um ato falho, revelaria o que Maduro pensa da “luta de classes”, uma associação da guerra como a continuidade da política por outros meios, como já disse Clausewitz.

ESTÁ DIFÍCIL – Fica cada vez mais difícil para o governo brasileiro sustentar que na Venezuela há “democracia até demais”, como já disse Lula. Uma frase como a dita por Maduro elimina qualquer possibilidade de classificá-lo como “um democrata”, ou seu governo como uma “democracia”.

O “banho de sangue” prometido, quando as pesquisas eleitorais mostram a oposição com praticamente 60% dos votos, pode vir a ser uma desculpa para adiar as eleições do dia 28, o que escancararia o caráter simplesmente simbólico da ida às urnas, pois o resultado contrário ao governo não seria aceito.

Já o fato de não ser possível a Maduro organizar uma eleição em que ele não correria chance de perder, como fazem outras ditaduras pelo mundo, já é sinal de sua fraqueza política. Se saberá qual a fortaleza militar quando se aproximarem as eleições, e as pesquisas continuarem a prever uma vitória da oposição, longe de um empate técnico.

PRAGMATISMO – É certo que o pragmatismo na política externa é incontornável, por isso a chamada maior democracia do mundo, os Estados Unidos, se submetem a uma relação assimétrica com a Arábia Saudita, por exemplo, tendo dado imunidade ao ditador Mohammad bin Salman, acusado pelo assassinato do jornalista Jamal Khashoggi.

Mas, pelo menos, os órgãos de inteligência dos Estados Unidos desvendaram o caso e divulgaram relatórios, e nunca nenhum dirigente americano garantiu que a Arábia Saudita era uma democracia.

É compreensível que o governo brasileiro, qualquer governo que se guia pelas regras internacionais, precise manter sua liderança na América do Sul, mas para tal não é preciso assumir as vergonhosas ações das ditaduras.

Entenda o paradoxo que fez a direita radical perder na França e Reino Unido

Marine Le Pen promete suspender toda a imigração na França | VEJA

Marine Le Pen sonhou com uma vitória que não veio

Marcus André Melo
Folha

O RN liderado por Marine Le Pen quase dobrou o número de votos (37%) nas eleições legislativas francesas. No entanto obteve apenas 20% das cadeiras. Algo que já ocorrera antes. Em 2017, o partido, antes de mudar o nome, amealhou 13,3% (1º turno) e 8,5% (2º turno) dos votos e apenas 1,3% (8 em 577) das cadeiras.

Na última eleição britânica, o Reform Party foi o terceiro partido mais votado (14,3% dos votos), mas obteve apenas cinco cadeiras (0,7% do total). Em 2015, foi ainda pior: com 12,6% dos votos ficou com apenas 0,15% das cadeiras (isso mesmo, uma cadeira em 650).

PARADOXO – A melhor forma de compreender o paradoxo é examinando o efeito de regras diferentes para o mesmo eleitorado.

O Brexit Party (nome anterior do Reform), cuja representação era pífia sob o voto distrital no Parlamento britânico, tinha a maior bancada no Parlamento Europeu, o qual adota a representação proporcional (39% dos deputados da representação britânica, tendo logrado 31% dos votos). Na França idem: o RN teve 31% dos votos e sua bancada de 30 deputados é também a maior no Parlamento Europeu.

Esta eleição ocorreu 20 dias antes da eleição legislativa, inflacionando as expectativas quanto ao partido. Os incentivos, a abstenção etc. são diferentes nas duas eleições; mas o contraste é colossal.

COISAS DO DISTRITAL – A moral da história é que sob o voto distrital os partidos pequenos (radicais de direita) são punidos enquanto os grandes são premiados. O bônus médio do maior partido para as democracias majoritárias foi estimado em 1,4.

Mas, na recente eleição britânica, o partido trabalhista teve o maior bônus da série histórica (1,8), amealhando 80% mais cadeiras do que logrou obter em voto. São 63% das cadeiras, e apenas 33,7% dos votos —menos do que na última eleição (40%), em 2017.

Como explicar o paradoxo? Parte deve-se à geografia do voto: os trabalhistas perderam proporcionalmente mais votos nos distritos onde não tinham chances de ganhar e ganharam votos onde eram competitivos, conseguindo assim ser o mais votado.

OUTROS FATORES – Mas há dois outros fatores envolvidos. Eleitores votaram estrategicamente: os trabalhistas votaram no Lib-Dem, nos distritos em que seu partido era o terceiro nas pesquisas.

Há também a estratégia partidária. Na França, a retirada de candidaturas menos competitivas por NFP e Macronistas para derrotar Le Pen funcionou. Não há novidade aqui. Nem fortes fatores ideológicos envolvidos. Em 2019, foi a direita radical (Brexit Party) no Reino Unido que retirou as candidaturas onde os conservadores eram competitivos. Agora lançou candidatos e dividiu a direita.

Não foi, portanto, o moderado Keir Starmer substituindo o radical Jeremy Corbyn que levou à vitória.

Kamala quer unir democratas e doações já disparam, com apoio de bilionários

Kamala Harris Is Top Choice For Donors As Potential Biden Exit Looms

Kamala Harris surge como uma candidata de muita chance

Deu no Estadão

A desistência de Joe Biden da candidatura democrata para a presidência dos EUA deu novo ânimo para uma arrecadação mais forte de campanha. Com Kamala Harris, atual vice-presidente do país, como principal nome para entrar na disputa, eleitores e – principalmente – empresários desanimados com Biden voltaram a olhar com atenção para a corrida à Casa Branca.

A tarde deste domingo, 21, foi agitada pelo anúncio de um Biden pressionado por seus colegas a deixar a disputa. O presidente afirmou que estava agindo em prol dos interesses do Partido Democrata e endossou a candidatura de Kamala Harris para o cargo.

MAIS DOAÇÕES – Desde então, doadores democratas estão se mobilizando em torno de Harris como a próxima candidata presidencial do partido, oferecendo às elites democratas algo que elas não sentiam há semanas: otimismo.

Assessores e grandes doadores disseram, já neste domingo, que estavam sendo inundados com entusiasmo e notícias de doações para apoiar Harris caso ela se tornasse a candidata oficial do Partido Democrata – a desistência de Biden não implica no avanço obrigatório de Kamala para a corrida presidencial. A vice-presidente ainda precisará ser confirmada pelo seu partido.

Vários apoiadores de Biden e seus assessores disseram que estavam recebendo notícias de doadores que antes estavam desanimados, mas agora se dizem prontos para doar e apoiar uma chapa liderada por Harris. Um doador do Vale do Silício arrecadou mais de US$ 1 milhão em um período de 30 minutos, disse o informante ao The New York Times.

NAS REDES SOCIAIS – Kamala Harris usou as redes sociais para comentar a desistência do presidente Joe Biden, neste domingo, 21, e agradecer o apoio recebido para que substitua o democrata na corrida presidencial à Casa Branca. No primeiro posicionamento, Kamala falou em união do partido e disse que vai “conquistar” a nomeação democrata.

No X (antigo Twitter) Kamala disse: “Em nome do povo americano, agradeço a Joe Biden por sua extraordinária liderança como presidente dos Estados Unidos e por suas décadas de serviço ao nosso país. Sinto-me honrada com o endosso do presidente e minha intenção é conquistar e ganhar essa indicação.”

Mesmo antes do anúncio oficial da sucessão de Biden, Kamala Harris já garantiu o endosso do seu parceiro de governo na Casa Branca, que pediu que apoiadores do partido realizem as doações para a futura campanha da candidata que será a primeira mulher negras à concorrer a cadeira mais importante na Sala Oval.

DISSE BIDEN – “Farei tudo o que estiver ao meu alcance para unir o Partido Democrata – e unir nossa nação – para derrotar Donald Trump e sua agenda extrema do Projeto 2025. Se você está comigo, faça uma doação agora mesmo”, publicou.

Está havendo apoios em série. Alexandra Acker-Lyons, consultora de doadores democratas que passou os últimos dias nos bastidores tentando angariar fundos para Harris, disse que “recebeu uma enxurrada de e-mails, mensagens de texto e telefonemas” com promessas de doação. “Pessoas que não haviam doado nada perguntaram onde poderiam fazer a doação”, disse ela.

Na tarde de domingo, o apoio dos doadores bilionários do Partido Democrata foi forte e rápido. Reid Hoffman, o mega-doador democrata que esteve entre os maiores apoiadores de Biden nas últimas semanas em meio ao caos, endossou Harris para a presidência. Outro grande bilionário que apoiou Biden, Alex Soros, disse que também a estava apoiando. O Way to Win, um importante grupo de doadores democratas com muitos membros que são partidários de Harris, também aderiu.

###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Como há outros pretendentes de prestígio querendo se candidatar, esse apoio espontâneo de grandes doadores já diz tudo. E Kamala Harris, filha de jamaicano com indiana, tem experiência e preparo para ser presidente dos Estados Unidos. Não é uma candidata meia-sola e vai enfrentar Trump com muita chance de vencer. O ex-presidente Bill Clinton acaba de apoiar Kamala para presidente. (C.N.)

Criativo na era analógica, o PT foi apanhado no contrapé na nova era digital

Memes de Haddad: mensagens indicam movimento espontâneo - 18/07/2024 -  Mercado - Folha

O PT e Lula nao sabem brincar de política na era digital

Dora Kramer
Folha

Na era analógica, o PT era eficiente no embate. Naqueles idos do final do século passado, era também bom de festa, de (algum) humor e criatividade. Com esses atributos, tanto fez oposição que conseguiu, e segue conseguindo, ser situação.

Nesse lugar de poder pela quinta vez e na era digital, o partido parece ter sido pego de jeito no contrapé do novo tempo. Perde de lavada num ambiente dominado pela direita. Não consegue pautar as provocações nem reagir a elas de modo eficaz.

MEMES DE HADDAD – Leva o tranco e, quando (raramente) se anima a dar o troco, o faz em moeda de menor valor. Os exemplos são muitos, mas o mais recente e impressionante é a enxurrada de memes com a figura do ministro Fernando Haddad ligada ao apetite por arrecadação, popular e competentemente traduzido na palavra “taxa”.

São engraçados e bem bolados, principalmente na referência a filmes de sucesso. Aqui os adversários não podem ser acusados do recurso ao ódio. São piadas, e quando não se reage a elas na calibragem certa, grudam feito chiclete.

Governo e partido não têm sabido calibrar a reação. De um lado, houve uma tentativa de não passar recibo. Soou tímida e meio sem graça. De outro, os petistas Alexandre Padilha e Gleisi Hoffmann resolveram explicar a piada, muito sérios, dizendo que não há excessos na cobrança de impostos.

ATRASADINHOS – Gleisi e Padilha Fizeram isso quando a brincadeira já tomava as redes há dias e até perfis de esquerda replicavam os memes. Faltou um pouco de picardia nessa cadência.

A imprensa tradicional não deu muita bola para o assunto e governistas deram de ombros. “Vai passar”, devem ter pensado. O problema é que a zoeira tem rebatimento na realidade e quando isso acontece a coisa, além de não passar, tem potencial danoso. No caso, de desqualificar o bom trabalho do ministro da Fazenda.

Lembremos o que o apelido “Martaxa” fez em 2004 à tentativa da então prefeita Marta Suplicy de se reeleger.

Não há nada de errado, o problema da Justiça é que as leis ainda atrapalham muito

Judiciário brasileiro é Justiça de rico e precisa resolver a equação da  própria ineficácia – Blog do César Vale

Charge do Jarbas (Arquivo Google)

J.R. Guzzo

O Brasil que deu a si próprio as funções de vigilante do “processo civilizatório” faz de conta, há anos, que não existe nada de realmente errado com nosso sistema de justiça. Sim, é possível que haja algum exagero aqui e ali, admitem os integrantes do Conselho Nacional de Fiscalização do Estado de Direito e da Democracia.

Talvez haja decisões polêmicas por parte do Alto Judiciário – e uma ou outra dúvida sobre a conduta moral de magistrados que participam de “eventos” pagos por magnatas com causas a serem julgadas nas cortes de Brasília.

Pode-se debater se está certo julgarem processos defendidos por escritórios de advocacia onde as suas mulheres trabalham. Mais do que tudo, é preciso tomar o máximo de cuidado diante de casos em que a lei é indiscutivelmente violada, na letra e no espírito, pelos supremos juízes da nação.

SALVANDO A DEMOCRACIA – Não se pode esquecer que eles agem assim porque entendem que estão salvando a democracia – missão que, do seu ponto de vista, não pode ser atrapalhada por detalhes formais.

Tudo bem, mas o STF e as suas dependências, definitivamente, não estão reagindo de maneira construtiva à essa tolerância toda. Ao contrário: quanto mais os guardiães do bem mostram compreensão com os ministros, a Procuradoria-Geral da República, o Ministério Público e o resto da máquina judiciária, mais todos eles se convencem de que têm o direito e o dever de mandar para o diabo que os carregue a Constituição, o Código Penal e tudo o que estiver estorvando os seus projetos.

Olhe-se, a qualquer hora do dia e da noite, para o que estão fazendo – é certo que vai se encontrar algum absurdo em estado bruto. Olhando um pouco mais, fica muito pior. Há literalmente centenas de casos em que a lei foi diretamente desrespeitada.

SUPERMINISTRO – O fato é que o “processo civilizatório” aceitou, como a coisa mais normal da vida, que o Poder Judiciário do Brasil gire em torno do ministro Alexandre de Moraes. O resultado direto dessa anomalia é a multiplicação descontrolada de casos em que vale qualquer coisa para não se contrariar o ministro. Acontece o tempo todo.

No último espasmo desta justiça de psicose, a PGR, nada menos que a PGR que se coloca à mão direita de Deus, rebaixou-se a tomar partido numa miserável briguinha de aeroporto – só para mostrar serviço a Moraes.

Fez uma denúncia contra desafetos pessoais do ministro por um crime que não foi cometido, o de calúnia, em que mais de um ano de investigação da Polícia Federal não encontrou nenhuma prova e que, de qualquer forma, nunca poderia estar sendo tratado pela PGR e pelo STF. Mas isso tudo é a lei – e na justiça brasileira de hoje não há nada mais suspeito do que a lei.

Na orelha direita, exibia o curativo branco, condecoração do destino de quase mártir

Curativo na orelha vira tendência em convenção republicana - Internacional  - Ansa.it

Após o atentado, Trump virou candidato a predestinado

Dorrit Harazim
O Globo

A coreografia levou a assinatura do comunicador de massas intuitivo. Donald Trump sempre exerceu controle detalhista da própria imagem e, muito antes de entrar na política, aprendeu a dominar recursos imagéticos de impacto. Não foi diferente na última noite da Convenção Nacional do Partido Republicano, quando fez seu aguardado discurso de candidato oficial. Mandou escurecer as luzes na arena Fiserv Forum de Milwaukee e emergiu no palco a passos lentos, entre colunas de neon que projetavam cinco letras monumentais: T, R, U, M, P.

Portava na orelha direita o curativo branco, sua condecoração de herói do destino e quase mártir. Cinco dias antes, por um átimo, o candidato quase foi morto com um tiro de AR-15 na cabeça perante uma multidão de apoiadores. O atentado que estarreceu os Estados Unidos e o resto do mundo fez dele um candidato a predestinado.

O QUE SENTIU – Iniciou sua fala fazendo um dramático e minucioso relato do que sentiu, pensou, viu, imaginou e concluiu ao sair com vida do atentado. Enquanto descrevia o episódio a uma plateia cativa e emocionada, projeções múltiplas de seu rosto ensanguentado e punho cerrado emolduravam o palco. Ao final, concluiu com ardor na voz:

— Eu me senti seguro porque tinha Deus a meu lado.

Amém. Aleluia. Antes de mudar de assunto, Trump ainda beijou o capacete e alisou a jaqueta de bombeiro que pertenceu a Corey Comperatore, o pai de família atingido na cabeça por um dos disparos do franco-atirador. Os dois objetos plantados no palco haviam sido emprestados pela viúva da vítima, que dias antes declinara atender um telefonema de condolências do presidente Joe Biden.

AOS INCAUTOS — “Nos erguemos juntos ou caímos desunidos” — prosseguiu, em voz mansa, alimentando a expectativa de incautos de que, tendo visto de perto a cara da morte, pudesse ter se convertido à conveniência de um desarmamento verbal.

Não foi o que se ouviu. “Paz, estabilidade e harmonia no mundo” coabitaram com as velhas tiradas contra a “invasão de imigrantes ilegais, criminosos, estupradores que vêm roubar nossos empregos”. Como sempre, abordou a surrada “farsa eleitoral”, reclamou dos “chamados Aliados”, elencou o “tremendo fracasso” do governo Biden.

Num mesmo sopro, disse estar falando “com grande humildade”, enquanto anunciava suspender a produção de carros elétricos e dar prioridade à perfuração de poços de petróleo. Tudo salpicado da habitual enxurrada de superlativos e acusações de perseguição judicial.

UNIÃO COMIGO – Como resumiu o jornalista americano Eric Lutz, foi um discurso de união de sentido único: “União comigo, ou sai da minha frente”.

A própria redação final do programa partidário aprovada na convenção deu a dimensão da disposição de Trump para atropelar o que lhe parecer estorvo.

Já nas semanas anteriores, fez saber aos autores do festejado Projeto 2025 — originário de 34 cabeças pensantes da ultraconservadora Heritage Foundation, mais 140 ex-assessores de próprio Trump — que o catatau de 922 páginas não serviria de linha mestra para seu futuro governo. Em Milwaukee, surpreendeu o grupo de delegados designados para debater o programa partidário apresentando um texto enxuto, praticamente já acabado, sem muito espaço para debate. Aos delegados que haviam levado pastas recheadas de sugestões, restou concordar. Assim se forja um autoritário.

MULHER DE  VANCE – A grande surpresa da convenção, contudo, atende pelo nome de Usha Vance, née Usha Chilukuri, mulher do senador J.D. Vance, que Donald Trump tirou da cartola para compor sua chapa raiz. Na eleição de novembro próximo, os republicanos votarão em dois homens brancos e machos para presidente e vice. As semelhanças terminam aí.

Trump é velho, Vance tem 39 anos; por ter nascido em família influente, Trump escapuliu de servir no Vietnã, enquanto Vance, nascido em família disfuncional e sem recursos, foi fuzileiro naval no Iraque; Trump casou três vezes, sempre com mulheres-troféu, sem formação — Usha fez Direito na Universidade Yale (onde conheceu o marido) e História em Cambridge, é vegana e atua como litigante em grande escritório de advocacia transnacional.

Sobretudo, Usha Vance é filha de imigrantes indianos, o que, para muitos supremacistas do entorno de Trump, é sinônimo de traição.

TEORIA CONSPIRATÓRIA – Alguns divulgadores da teoria conspiratória de um fantasioso plano que visa a substituir a população americana por hordas de imigrantes já se manifestaram.

“Duvido que um cara com mulher indiana possa apoiar a identidade dos brancos” — avisou o extremista Nick Fuentes em seu podcast radical. Sem falar que Vance é um duplo convertido — atribui seu “retorno à vida com Cristo” ao amor pela mulher, e a recente, ferrenha, defesa do trumpismo a seu amadurecimento político.

Para o ex-presidente autoungido a imorrível, a semana deu um respiro. Para seu adversário Joe Biden, isolado com Covid numa casa de praia em Delaware, a vida política está por um fio. Que tempos!

Lava Jato não morreu no Peru e quer prender ex-executivo da Odebrecht

Jorge Barata

Jorge Barata teve prisão preventiva decretada no Peru

João Pedroso de Campos
Metrópoles

Alvo de um pedido de prisão preventiva no Peru, o ex-executivo da Odebrecht Jorge Barata pediu ao ministro Dias Toffoli, do STF, que impeça o governo brasileiro de processar qualquer pedido de cooperação internacional com a Justiça peruana no âmbito da Operação Lava Jato.

Ex-diretor da Odebrecht no Peru e delator, Barata acionou o STF nessa quinta-feira (18/7), em uma ação protocolada também em nome de Luiz Antônio Mameri, ex-vice-presidente da Odebrecht na América Latina.

PEDIDO DE PRISÃO – O pedido foi apresentado depois de Barata e Mameri serem intimados a depor como testemunhas em um processo da Lava Jato peruana, em oitivas previstas para as duas últimas semanas.

Há um mês, em 21 de junho, uma juíza do Quinto Juzgado de Investigación Preparatoria Nacional, em Lima, revogou o acordo de colaboração que Jorge Barata havia fechado com o Ministério Público peruano em 2019. Depois dessa decisão, em 8 de julho, o MP pediu a prisão preventiva dele por um prazo de 36 meses.

As medidas da Justiça do Peru contra Jorge Barata se deram sob alegações de que o ex-executivo da Odebrecht descumpriu cláusulas de seu acordo ao não prestar depoimento como testemunha em um processo que apura pagamentos ilegais da Odebrecht ao ex-presidente peruano Ollanta Humala.

DIZ A DEFESA – A Toffoli, a defesa dele alegou que Barata é alvo de retaliações do Ministério Público peruano, a quem acusou de desrespeitar termos da cooperação com o Brasil e as decisões do Supremo que invalidaram provas do acordo de leniência da Odebrecht. Entre o material anulado estão os sistemas Drousys e MyWebDayB, usados para contabilizar pagamentos ilícitos da empreiteira no Brasil e no exterior.

Humala e diversos outros políticos, autoridades e empresários estrangeiros pediram e obtiveram de Dias Toffoli decisões que invalidaram as provas da Odebrecht contra eles. Os despachos também impedem que delatores da Odebrecht prestem depoimentos como testemunhas, em território brasileiro, sobre o conteúdo anulado.

Os advogados sustentaram a Toffoli que Barata só deixou de testemunhar na ação contra Ollanta Humala em razão deste entendimento do ministro, referendado por uma decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) que cancelou a oitiva.

INTIMAÇÃO – Pelo mesmo motivo, a defesa argumentou que ele e Mameri não deveriam ter sido intimados a depor no outro processo.

Além do pedido de interrupção da cooperação entre Brasil e Peru na Lava Jato, os advogados de Barata e Mameri solicitaram a Toffoli que declare as provas da Odebrecht imprestáveis contra ambos; ordene ao Ministério da Justiça que recolha, por meio do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI), todas as provas compartilhadas pelo Brasil com o Peru, incluindo os depoimentos dos dois e documentos; e mande o DRCI barrar trâmites para produção de provas destinadas à Lava Jato peruana.

###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
É outra Piada do Ano, mostrando o erro que o Supremo cometeu ao extinguir a Lava Jato e transformar o Brasil no paraíso da impunidade. (C.N.)

Além de Milei no Sul, Lula terá um espinho ao Norte, se Trump se eleger

Ed Raposo on X: "Acertaram um tiro de raspão na orelha de Donald Trump durante comício. Ele levantou de punho cerrado e com o rosto ensanguentado. Imagem histórica. Os EUA já tem

Lula previu que Trump usaria essa foto na campanha

Elio Gaspari
O Globo/Folha

Se Donald Trump se reeleger, Lula ficará com dois espinhos, pois já tem o argentino Javier Milei ao sul. Ele poderia ficar com suas incontinências verbais restritas aos corintianos.

Quando ele comentou a fotografia do atentado a Trump, saiu-se com essa: “Eu sinceramente acho que o Trump vai tentar tirar proveito disso. Aquela foto dele com o braço erguido, aquilo, se fosse encomendado, não sairia melhor. Ele vai explorar isso”.

LEMBRANDO KENNEDY – Imagine-se como ficaria a relação do Brasil com o presidente americano se, em 1963, John Kennedy tivesse se livrado dos dois tiros e o presidente brasileiro João Goulart dissesse uma dessas.

Joe Biden arrisca virar um presidente americano de um só mandato. O grande mistério estará em contar como ele destruiu quatro anos de governo em menos de um mês.

É verdade que a sorte não o ajudou, e a Convenção nos EUA reflete culto a Trump no Partido Republicano.

BOB DYLAN – Donald Trump diz que tem Deus ao seu lado, e o fato de ter saído vivo do atentado mostra que é pelo menos um homem de muita sorte.

Deveria deixar Deus de fora, até porque, faz tempo, o poeta Bob Dylan cantou:

“Judas Iscariotes tinha Deus ao seu lado”.

Desequilíbrio de Poderes faz o imoral tornar-se normal na realidade brasileira

Juízes auxiliares do STF ganham mais que os ministros da corte - Espaço  Vital

Charge do Alpino (Yahoo Notícias)

Merval Pereira
O Globo

A democracia, não apenas no Brasil, está passando por momentos tormentosos que prenunciam um futuro inquietante. Em consequência, os Poderes da República ganham tons políticos que não se coadunam com o equilíbrio teoricamente imaginado por seus criadores.

À medida que os Poderes se envolvem com ações políticas que sempre foram consideradas imorais, até ilegais, elas se transformam em normais, e fica-se com a sensação de que trabalham em comum acordo — um acordo político muito semelhante àquele proposto pelo hoje lobista Romero Jucá, que prenunciou um pacto “com o Supremo, com tudo” para “estancar essa sangria”, referindo-se à Operação Lava-Jato.

GOVERNO DISFUNCIONAL – Alguns fatos preocupantes mostram que estamos vivendo não mais numa República, ou quase isso, no limite de um governo disfuncional em que, dependendo do momento, um dos três Poderes se impõe e é acobertado pelos outros dois, o que pode ser indicativo de um regime autoritário à vista.

Está acontecendo a mesma coisa nos Estados Unidos, agravada pelo triste hábito de resolver as pendências políticas à bala. Lá, um juiz achou normal que o ex-presidente Trump levasse para casa documentos secretos do governo e anunciou sua decisão às vésperas da convenção que o indicará como o candidato republicano à Presidência.

Também lá a Suprema Corte deu recentemente uma interpretação mais flexível a uma lei anticorrupção, admitindo que funcionários públicos podem receber presentes ou dar assessoria a empresas.

DEFENDER O FILHO – Aqui, Bolsonaro acha normal ligar para o chefe da Receita Federal para falar sobre um filho que é investigado. O presidente da ocasião pode escolher o secretário da Receita Federal, mas não tem o poder de interferir nas investigações, especialmente para defender um filho. Isso acontece com realezas das antigas, em que a família do rei é intocável, e não é o que a República pede.

Nas realezas modernas, a intocabilidade já está bastante limitada pela ação dos paparazzi, da imprensa livre e da sociedade, cada vez mais atenta aos abusos. A vontade de normalizar qualquer deslize vai longe, na visão de direita ou esquerda.

O presidente Lula acha que pode interferir na Petrobras, que pode indicar políticos aliados para órgãos estatais. Não é o que uma verdadeira democracia pede de seus dirigentes. A tendência de achar que o presidente pode qualquer coisa é anacrônica, fora do que exige uma democracia moderna.

EXORBITÂNCIA – O mesmo acontece com o Supremo Tribunal Federal (STF), que exorbita de suas funções, achando que tem poderes para dirigir as investigações do ponto de vista da maioria eventual naquele momento — sempre uma maioria relativa, dependente da tendência do presidente que nomeia os ministros, entre progressistas, conservadores, de direita ou de esquerda.

Não é possível que os mesmos ministros votem de maneiras distintas sobre o mesmo caso. É preciso um mínimo de coerência para que o cidadão se sinta garantido pela mais alta instância da Justiça brasileira.

Um exemplo inquietante é o caso do ministro Alexandre de Moraes, que, a partir do belo serviço prestado na presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em defesa da democracia, convenceu-se de que é intocável — e não apenas ele.

UMA LAMBANÇA – Uma desavença num aeroporto no exterior com uma família de brasileiros transformou-se em caso de segurança nacional. O encarregado da investigação, que considerou o caso de menor gravidade e o arquivou, foi substituído por outro, que viu na discussão em solo estrangeiro um caso sério, a ponto de o procurador-geral da República ter denunciado por calúnia e injúria os membros da família, com base em “expressões corporais”, pois o vídeo não tem áudio.

Não é aceitável, numa democracia, que se ataque fisicamente uma autoridade, mas também é impensável que uma investigação que já fora encerrada mude de direção sem que tenha surgido fato novo.

O Congresso, que teoricamente representa o povo brasileiro, tem interesses próprios para tratar com urgência, como a anistia aos partidos que desrespeitaram a legislação que eles mesmos aprovaram. Assim la nave va, desgovernada.

A força dos sonhos, nas asas da esperança, inspira a poesia de Augusto dos Anjos

Augusto dos Anjos, um poeta trágico

Paulo Peres
Poemas e Canções

O grande poeta paraibano Augusto dos Anjos (1884-1914) mostra neste soneto que a esperança é a panaceia para todos os sentimentos e momentos do viver, inclusive, na espera da morte.

###
A ESPERANÇA
Augusto dos Anjos

A Esperança não murcha, ela não cansa,
Também como ela não sucumbe a Crença.
Vão-se sonhos nas asas da Descrença,
Voltam sonhos nas asas da Esperança.

Muita gente infeliz assim não pensa;
No entanto o mundo é uma ilusão completa,
E não é a Esperança por sentença
Este laço que ao mundo nos manieta?

Mocidade, portanto, ergue o teu grito,
Sirva-te a crença de fanal bendito,
Salve-te a glória no futuro – avança!

E eu, que vivo atrelado ao desalento,
Também espero o fim do meu tormento,
Na voz da morte a me bradar: descansa!