Dizia Lêdo Ivo: “Não confie a ninguém seu segredo, a verdade não pode ser dita” 

Veredas da Língua: Lêdo Ivo - PoemasPaulo Peres
Poemas & Canções

O jornalista, cronista, romancista, contista, ensaísta e poeta alagoano Lêdo Ivo (1924-2012), da Academia Brasileira de Letras,  aconselha (queime tudo o que puder) no poema “A Queimada”, pois a verdade não é para ser dita, ela é o eterno segredo. Vale ressaltar que, se este poema fosse escrito atualmente, poderíamos dizer que o teor foi inspirado em certas autoridades brasileiras.

A QUEIMADA
Lêdo Ivo

Queime tudo o que puder:
as cartas de amor
as contas telefônicas
o rol de roupas sujas
as escrituras e certidões
as inconfidências dos confrades ressentidos
a confissão interrompida
o poema erótico que ratifica a impotência
e anuncia a arterioesclerose
os recortes antigos e as fotografias amareladas.

Não deixe aos herdeiros esfaimados
nenhuma herança de papel.
Seja como os lobos: more num covil
e só mostre à canalha das ruas
os seus dentes afiados.

Viva e morra fechado como um caracol.
Diga sempre não à escória eletrônica.
Destrua os poemas inacabados, os rascunhos,
as variantes e os fragmentos
que provocam o orgasmo tardio dos filólogos e escoliastas.

Não deixe aos catadores do lixo literário nenhuma migalha.
Não confie a ninguém o seu segredo.
A verdade não pode ser dita.

5 thoughts on “Dizia Lêdo Ivo: “Não confie a ninguém seu segredo, a verdade não pode ser dita” 

  1. Difusão de idéia de possessivos donos de laboratórios, pois a verdade que está criminosamente escondida, simplesmente curaria e traria sanidade ao mundo!
    Uma lástima!

  2. Em sistema planetário algum do Universo jamais existiu um paraíso que anteriormente não tenha sido um inferno! (L.C. Balreira).
    A morte não existe para os mortos, nem para os ‘’mortos-vivos’’. Morto algum jamais conheceu a morte ou o abandono da vida. Jamais um morto teve consciência de si mesmo. Consciência é coisa de organismo vivo, acordado, desperto, diligente, ativo, proativo. O morto só conheceu a vida. A morte é um sentimento, ‘’realidade, ‘’modo de ser e existir’’ que pertence aos vivos. O morto não sabe, jamais saberá que foi amado ou odiado. Não existe no morto o sentimento de deixar de existir. ‘’Espírito’’ é coisa que pertence às mitologias, às religiões. Espírito é ‘’Vento’’. O Deus do vento das mitologias extintas, ou religiões agora desacreditadas. Assim, o vento tornou-se ‘’espírito’’ nas religiões modernas ou crendices atuais. Assim, a morte é coisa de gente viva; a vida é coisa de gente morta! O morto não sabe o que é a morte! Os mortos só ganham vida na máquina do tempo cerebral dos vivos. Não existe possibilidade alguma de haver atilamento da vida ou da morte após a vida ou a morte. A morte é semelhante a pré-existência de um recém-nascido que abriu os olhos na Terra, após um processo de formação de 14 bilhões de anos! O morto só viverá ou terá vivido uma mesma a vida! (L.C. Balreira).

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