Hélio Schwartsman
Folha
Se havia uma figura improvável para tornar-se um campeão da democracia, era Alexis de Tocqueville (1805-1859). Filho da nata da aristocracia francesa, ele teve vários de seus ancestrais guilhotinados durante a fase de terror que se sucedeu à revolução. Mais, a maior parte de seus familiares que sobreviveram a Robespierre era de legitimistas, isto é, apoiavam a monarquia absolutista dos Bourbon contra a dos Orleans.
Ainda assim, Tocqueville se tornou um dos primeiros e mais influentes teóricos da democracia, adotando uma abordagem que lembra bastante a dos modernos institucionalistas. Quem conta essa história com detalhes é Olivier Zunz em “O Homem que Compreendeu a Democracia”.
IGUALDADE E LIBERDADE – Foi numa viagem aos EUA que a democracia “fisgou” Tocqueville. O então jovem advogado que cruzara o oceano para estudar diferenças nos sistemas prisionais se deu conta de que algumas especificidades da vida social norte-americana favoreciam a democracia, a qual, por sua vez, exercia influências benfazejas sobre a sociedade. A viagem virou “Democracia na América”, que logo se tornou um clássico.
De volta à França, Tocqueville enveredou para a parte prática da política, tornando-se deputado e ministro. Ele se opunha tanto aos reacionários como aos socialistas. Seu foco era tentar conciliar a liberdade com a igualdade.
De modo geral, buscava a moderação, mas houve momentos em que se radicalizou, especialmente quando se tratava de defender a soberania francesa e a colonização.
MUITAS CONTRADIÇÕES – Embora fosse veementemente contra a escravidão, se opôs com igual veemência à campanha dos ingleses de apreender navios negreiros de bandeira francesa.
O sucesso de “Democracia na América” lhe abriu portas na Inglaterra e nos EUA. Tornou-se um bom amigo de John Stuart Mill. É a Tocqueville que Mill deve a noção de “tirania da maioria”.
O texto de Zunz se lê como um romance, e o autor não esconde as muitas contradições de seu biografado.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Hélio Schwartsman é um jornalista e cientista político que busca sempre temas capazes de levar os leitores à reflexão. No caso do pensador francês Tocqueville, ao tentar prever o que aconteceria com o avanço da democracia, ele defendia a igualdade de oportunidades, que é uma premissa socialista, mas tinha dúvidas a respeito do que pudesse ocorrer no tocante às liberdades individuais. Daí Tocqueville temer a tirania da maioria, um fenômeno que até hoje vive a atormentar a evolução civilizatória. (C.N.)
Vou aguardar Hélio Schwartsman escrever um artigo largando de lado Tocqueville, Stuart Mill e até Adam Smith que foi contemporâneo de Voltaire e que segundo alguns foi um dos influenciaram a Revolução Francesa que matou alguns ancestrais do Alexis; que construa um artigo onde faça uma análise dos teóricos do comunismo passando por Lenin, Marx e outros que foram despejados da realidade com a derrubada do Muro de Berlim.
Imagino o que o Hélio escreverá sobre Lenin…