Brasil insiste em políticas que desperdiçam recursos e mantêm a inviabilidade do país 

Charge Bruno Galvão (Arquivo Google)

Cláudio Frischtak
O Globo

O título deste artigo foi inspirado num livro de John K. Galbraith, economista e autor prolífico que morreu em 2006, aos 97 anos. A tese central de Galbraith — um liberal progressista e democrata — pode ser assim resumida: as grandes certezas do pensamento econômico dos séculos XIX e XX foram abaladas pela Grande Depressão (no caso do capitalismo) e pelo insucesso do que se convencionou denominar de socialismo real.

Galbraith morreu antes do teste mais recente do capitalismo: a Grande Recessão, deflagrada ao final de 2008. Se vivo estivesse, veria esse episódio e a reemergência do populismo reivindicando a importância de o Estado atenuar ciclos e corrigir a desigualdade, teses que hoje vêm retornando com força ao debate.

DOIS CONCEITOS – Nas economias desenvolvidas, discute-se como reverter a tendência ao baixo crescimento, a “estagnação secular”, num contexto de concentração de riqueza e oportunidades limitadas de educação e mobilidade.

Para as economias emergentes, cunhou-se outra expressão: a “armadilha da renda média”, a dificuldade de países que superaram o subdesenvolvimento sustentarem o dinamismo.

É possível enxergar similaridades: a transição demográfica dificulta o crescimento de ambos os grupos de países; a crise climática ameaça todos; e o populismo com traços autoritários deixou de ser monopólio dos países em desenvolvimento. Mas há também diferenças marcantes.

NO CASO DO BRASIL – Aqui, os níveis de produtividade são ainda muito baixos, por estarmos longe de explorar e extrair crescimento de novas e não tão novas tecnologias, seja pela limitada integração à economia global, seja por grandes deficiências em infraestrutura e capital humano. Será possível superar a armadilha da renda média? Como chegar a mais crescimento com menor desigualdade?

O caminho do crescimento com inclusão se alicerça numa proposição simples: enquanto sociedade, precisamos aprender com os erros do passado, e não insistir em políticas que geram má alocação de capital e desperdício de recursos públicos.

Pois estas não nos retirarão da armadilha da renda média e, pior, levarão o país a um longo período de estagnação. Para muitos, a renda encolherá, e as novas gerações terão menos oportunidades de ascensão e níveis mais baixos de bem-estar.

FALTAM EVIDÊNCIAS – Políticas públicas devem se alicerçar em “evidências”, no que comprovadamente deu certo, no que foi capaz de impulsionar os ganhos de produtividade com maior igualdade de oportunidades.

Um ambiente que induz a inovação e adoção de novas tecnologias com a efetiva abertura da economia, a modernização da infraestrutura e um compromisso de educação de qualidade para todos e maior cuidado do capital natural do país poderão, no conjunto, ser a diferença entre estagnação e um PIB per capita que cresceria em bases anuais próximo a 1,5%, centrado nos ganhos de produtividade.

 Em 2050, o país estaria 50% mais rico. Escapar da armadilha da renda média necessitaria de políticas que impulsionassem esses ganhos acima de 4% ao ano (foram de apenas 0,8% ao ano nas últimas três décadas).

POLÍTICA VELHACA – Além das propostas que temem escapar do museu das ideias ruins, a maior dificuldade de avançar com essa agenda é de natureza política: a captura das instituições pelos interesses particulares entranhados no Estado, que resistem a sua modernização; e o poder dos incumbentes de defender politicamente seus mercados.

Reformar o Estado deveria ser a prioridade maior, pois não há salvação fora do bom governo. Precisamos ser mais bem governados, com mais transparência e integridade. Garantir menores barreiras à entrada e maior dinamismo nos mercados e na economia. E romper o ciclo da reprodução da pobreza, da desigualdade e da destruição do capital natural.

É altamente provável que venhamos a observar nos próximos anos um tensionamento crescente da sociedade. Demandas não atendidas criam um campo fértil para demagogos populistas, espíritos autoritários e propostas salvacionistas. É a essência da incerteza, mas não necessita ser nosso destino. Talvez o primeiro passo seja encarar com sobriedade o futuro e assumir a ética da responsabilidade com a nossa e com as próximas gerações.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Cláudio Frischtak é um excelente economista, que procura debater temas realmente importantes para o país. Mas quem se interessa? (C.N.)

13 thoughts on “Brasil insiste em políticas que desperdiçam recursos e mantêm a inviabilidade do país 

    • Há “dendos”, em: ”
      “O Colapso Financeiro Global — O Que Você Precisa Saber e Como se Precaver.”
      Autor: Carl Teichrib
      Forcing Change, julho de 2008.
      “Compreenda a crise do dinheiro sem lastro e criado a partir do nada, um sistema fraudulento que está prestes a ruir. Conheça o contexto histórico e saiba como o clima econômico em mutação poderá afetar sua situação em particular. As ações preventivas que você deve considerar.”
      Continua, em:
      https://www.espada.eti.br/colapso.asp

      • Taí, não li ainda, mas concordo com essa parte. Os livros de economia precisam ser revistos para se adaptarem ao panorama atual. E não é só Lula que fala isso.

        • O presidente de um país governa com política, que é abrangente.
          O simplesmente economista, só serve para colaborar com a política.
          Um presidente do Bacen que não foi eleito e, é apenas um economista, não tem gabarito político para orientar a política de um país.

  1. Creio que devemos ser mais explícito. Nunca cansarei de falar que reduzir ao máximo a corrupção é a primeira tarefa. Neste sistema e regime clepto-patrimonialista ê absolutamente impossível partirmos para atuarmos nos demais empecilhos. As evidências empíricas, dos países que saíram da pobreza para se tornarem desenvolvidos de meados do século passado pra cá, lançaram mão até da pena de morte para eliminar a praga da bandidagem estatal e a corolária privatização do Estado.

    No Brasil estamos assistindo a um movimento absolutamente ao contrário, passando pano pros corruptos e normalizando e até constitucionalizando o atraso. Com este esforço absurdo, sem nenhuma chance de vingar, de passar borracha no maior escândalo de corrupção da História, estamos retrocedendo algumas décadas. Os exemplos mais bem sucedidos são Cingapura e China. Pena de morte pros meliantes seria algo anti-civilizatório, mas pena máxima seria bem proporcional

    E, o pior, é que o que tínhamos de esperança de possível resistência ao secular cleptopatrimonialismo, a esquerda. Hoje, pseudo, que “cisca pra cá, mas bota ovos pra elites retrógradas e usurpadores dos bens públicos”, quedou-se, ou melhor, tornou-se timoreira do desastre. Em outros termos a corrente cleptopatrimonialista tornou-se hegemônica. E, o pior, transformando e mediocrizando o segundo pilar do desenvolvimento, a Educação (de baixíssimo nível), operada pelos “gênios imbecilizados”, como mero a Aparelho Ideológico dos setores mais retrógrados das elites transgressores dos mais básicos valores civilizatórios.

    Neste sentido, hoje temos a maior hegemonia do atraso: o lulobolsonarismo. Que divide o país entre eles, influenciando até cabeças laureados, como temos visto nos julgamentos do 8 de janeiro.

    Lulobolsonarsmo que são irmãos gêmeos quando se trata de aprofundar o clepto-patrimonialismo e o atraso.

    Por exemplo.

    https://youtu.be/jDN1tt_0wcY?si=p5APfm4ShJNdIgVJ

  2. O imprescindível decálogo chinês que, com as devidas adaptações, podem nos tirar do atraso (em todos os níveis).

    Infelizmente já somos e permaneceremos reprovados no primeiro e imprescindível item, a corrupção, que com a ação das atuais forças hegemônicas, tende a ser estrutural, normal e legal.

    https://www.jusbrasil.com.br/noticias/licao-chinesa-em-tempos-de-hipocrisia-dos-nossos-governantes/3181124

    Deixemos a hipocrisia lulobolsonarista com sua falsa rivalidade e sigamos à frente, deixando essa horda pro lixo da História.

  3. Muito blá blá blá, falou o óbvio mas não deu solução, apenas aquele conversa liberal de menos barreiras para o capital estrangeiro e abertura da economia.

    O fato é que o pouco de investimento em infraestrutura crítica bem como em P&D é feito pelo governo, mas defender isso é pecado. Sempre é papo de que tem corrupção, de que o investimento não tem retorno, sempre que alguma obra que beneficia a população é planejada pelo Estado essa patrulha neoliberal entra em ação.

    No governo do patriota, Paulo Guedes e sua turma mercadista seguiram a risca a receita menos Estado e o que vimos foram os menores investimentos em ciências e em universidades públicas da história. O fechamento da única fábrica de semi condutores da América Latina foi o ápice dessa doutrina defendida nesse artigo, em vez de modernizar o nosso ecossistema produtivo adicionando tecnologias os liberais foram na contra mão, ainda bem que o atual governo impediu esse crime.

    • É isso caro Rafael Santos, esse papo antigo neoliberal não engana mais. Se não houver reiindustrialização e investimentos em tecnologia podemos esquecer o crescimento sustentável.

  4. Não me consta que o povo norte coreano tenha chegado ao paraíso, nem ele nem os cubanos.
    Tem gente que aceitaria um tipo de solução final à moda da lenda de Stalin.
    “Doutor Stalin tenho sido informado que o povo russo anda meio triste, o que podemos fazer? Simples disse Stalin, vou mandar matar todos os tristes e vamos ficar só com os alegres.
    Gosta de dizer o Editor, mas quem se interessa?
    Digo eu, não me preocupo muito, pois no médio e longo prazo estaremos todos mortos no dizer de John Maynard Keynes.
    Hehehehe.

  5. Esse aí, se continar com a cantilena de boa governança e transparência, não vai durar muito no Globo, que é parte do consórcio do narcotráfico e apoia venalmente o ladrão Lula da Silva.

    Quanto custou ao povo brasileiro, somente em verba publicitária divulgada pela Secom, o apoio dos mérdias no 1º semestre/2023?

    TV:
    – Rede Globo: R$ 55 milhões
    – Record: R$ 13 milhões
    – SBT: R$ 12 milhões

    Impressa:
    – Folha: R$ 353 milhões
    – O Globo: R$ 400 milhões
    – Estadão: R$ 207 milhões
    – Brasil 247: R$ 60 milhões
    – DCO: R$ 47 milhões
    – O Cafezinho: R$ 5 milhões

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