Conflitos no governo Lula exibem novo populismo macroeconômico

Charge do Kleber Sales (Correio Braziliense)

Marcus André Melo
Folha

“Se um governo tentasse um ponto de equilíbrio, procurando ser trabalhista no Ministério do Trabalho, liberal no Ministério da Economia e conservador no Ministério das Finanças, deixaria de ser governo para se transformar num conflito” – este prognóstico do ideólogo do trabalhismo getulista, o senador Alberto Pasqualini, ilumina a dinâmica intragoverno sob Lula 3.

Pasqualini recorre a uma falácia recorrente entre nós sobre a incompatibilidade dinâmica entre equilíbrio fiscal e gasto social: “Reconhecemos como justa a política social, mas praticamos uma política financeira, monetária e fiscal que lhe está em absoluta contradição” (idem).

NA ERA VARGAS – A conjuntura em que ele fez sua análise era marcada pela estabilização macroeconômica do segundo governo Vargas, comandada pela dupla Lafer/Aranha; mas o que acabou prevalecendo foi o histórico aumento do salário mínimo em 100% proposto pelo ministro do trabalho, João Goulart.

O remédio prescrito foi algo comum em nossa farmacopéia política, quando a popularidade presidencial desaba: mais gasto. Em tempos de abundância —ex-boom de commodities— não há conflito. Mas é na adversidade que o verdadeiro estadista se revela.

Quando o fiscal deteriora, posições distintas convivem de forma conflituosa no governo, e o presidente arbitra os conflitos. Delegar amplos poderes a um posto Ypiranga transfere a culpa, como discuti aqui. Criticar o Banco Central também. E o presidente pode também —como Vargas, acuado— dobrar a aposta em medidas plebiscitárias.

TUDO AO CONTRÁRIO – Estudo clássico modelou o padrão na América Latina de reversão de políticas no qual presidentes —Menem é o paradigma— são eleitos com uma plataforma mas implementam outra inteiramente distinta. Medidas de ajustes fiscais e privatizações foram implementados por presidentes que foram eleitos por criticá-las. Aconteceu com Dilma, ao nomear Joaquim Levy como ministro da Fazenda, que implementou ajustes duros e caiu sob o fogo amigo.

(Uma notável exceção ao padrão é o caso de Milei que foi eleito, prometendo sacrifícios).

A pergunta crítica do ponto de vista da accountability democrática é por que foram incapazes de defender este programa antes como nas democracias avançadas?

CONFLITO INSTALADO – Sob Lula 3, a situação é mais complexa. Por que não quer repetir o estelionato eleitoral de Dilma pelos custos políticos. Já começou com uma PEC da Transição que expandiu gastos.

O conflito previsto por Pasqualini definitivamente se instalou. Lula advertiu Fernando Haddad que deveria ler menos livros e negociar mais. Simone Tebet também recebeu advertências.

Lula dobrou a aposta na Petrobras. Sim, empresas e bancos estatais são o mecanismo privilegiado de criar bonanças insustentáveis.

3 thoughts on “Conflitos no governo Lula exibem novo populismo macroeconômico

  1. Há muitos palpites sobre a economia. Acredito que nessa matéria Paulo Gaia acerta bastante. Erramos lá atrás, notadamente com Collor e mais ainda com FHC.
    Temos saída? Talvez, mas não vai ser nada fácil.

    Links retirados de uma entrevista concedida pelo economista. Muito interessantes:

    https://www.youtube.com/watch?v=FMAb4Z0pylI
    https://www.youtube.com/watch?v=FsLtmn87lv0
    https://www.youtube.com/watch?v=TK8G2mkszUU

    https://www.youtube.com/watch?v=fT5uvLfMZiQ

    • Meu Caro José Vidal, parabéns por trazer a baila esse assunto.

      Os Asiáticos,vieram auscultar o Governador BRIZOLA,sobre período integral nas escolas,e adaptaram o know-how em seus países.

      Para mim,nenhuma surpresa, pois já tinha esse conhecimento.

      A surpresa é um economista não identificado com o Varguimos/Brizolista,tecer comentários.

  2. As inundações no RS estão para o governo atual assim como a pandemia esteve para o anterior

    Ainda bem que o anterior não agradeceu à natureza a desgraça dos gaúchos, ao contrário do atual, que aproveitou para criar um “interventor-candidato” para atrapalhar.

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