Polícia Federal deixa no cofre R$ 4 milhões que foram “esquecidos” por aliado de Lira

Montante de R$ 4 milhões foi apreendido pela PF em cofre durante a Operação Hefesto em Maceió (AL) em 2023 — Foto: Reprodução/G1

Polícia Federal não sabe o que fazer com esses R$ 4 milhões

Malu Gaspar
O Globo

A Polícia Federal (PF) está há quase nove meses sem conseguir cumprir uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que determinou a devolução de todos os bens apreendidos em uma operação sobre aliados do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), por suspeitas de desvios de verbas do Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educação (FNDE) em Alagoas.

Estão sem destino R$ 4 milhões encontrados no cofre da empresa de um aliado de Lira e que, em tese, deveriam ser devolvidos ao dono, depois que o ministro Gilmar Mendes anulou a operação e mandou destruir todas as provas produzidas pela PF no caso que ficou conhecido como dos “kits robótica”.

NINGUÉM APARECE – O dinheiro está depositado em uma conta judicial desde setembro do ano passado e até agora não apareceu ninguém para reivindicá-lo. Para policiais federais ouvidos pela equipe do blog, isso acontece porque os envolvidos no caso não tem como comprovar a origem dos valores.

Os milhões foram encontrados dentro de um cofre em uma propriedade do policial civil e empresário Murilo Sergio Jucá Nogueira Junior, de 45 anos, durante a operação Hefesto, realizada em junho de 2023.

Segundo a prestação de contas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Junior doou R$ 4 mil para Lira nas eleições de 2022 e recebeu o mesmo valor por ceder uma picape Toyota Hilux para sua campanha.

KITS ROBÓTICA – Ele foi um dos investigados no inquérito que apurou um esquema de direcionamento de licitações para a Megalic, empresa de um outro aliado de Lira que teria desviado R$ 8,1 milhões do FNDE durante o governo Jair Bolsonaro.

O Tribunal de Contas da União (TCU) chegou a suspender os contratos e os repasses para a aquisição dos kits com verbas de emendas do orçamento secreto carimbadas para o FNDE, que seriam destinadas a 43 municípios alagoanos.

Mas as investigações foram interrompidas porque o ministro Gilmar Mendes mandou anular e destruir as provas do caso, além de arquivar o inquérito.

TESE DA DEFESA – O ministro acolheu a tese da defesa de Lira de que a operação não poderia ter sido realizada pela Justiça Federal de Alagoas e sim remetida ao STF, uma vez o inquérito citava autoridades com foro privilegiado – como o próprio presidente da Câmara e o deputado Gilvan Máximo (Republicanos-DF).

Entre as provas colhidas pela PF estavam áudios coletados com autorização judicial a partir do celular de Luciano Cavalcante, ex-assessor da liderança do PP quando era comandada por Lira. Cavalcante também foi assessor do pai de Lira, Benedito de Lira, no Senado. O teor dos áudios jamais foi conhecido, pois o caso tramitava em sigilo.

Com a decisão de Gilmar, o dinheiro poderia ter sido recuperado por Murilo Junior ou por quem comprovasse ser seu dono, mas está até hoje “perdido” na conta judicial.

ORIGEM ILÍCITA – Diante da suspeita de origem ilícita jamais reivindicado, o Ministério Público Federal poderia, por exemplo, pedir a abertura de uma nova investigação para apurar se houve lavagem de dinheiro.

Mas isso não foi feito, e a probabilidade de que uma nova investigação seja autorizada é muito pequena, já que Gilmar arquivou o inquérito e anulou as provas.

O ministro só não conseguiu apagar e nem destruir os R$ 4 milhões. Esses ficaram como lembrança do escândalo que por muito pouco não complicou a vida de Arthur Lira.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Excelente matéria de Malu Gaspar. Mostra a conivência e a cumplicidade da Justiça brasileira em atos de corrupção. Em tradução simultânea, foi tudo perdoado porque os criminosos foram presos por agentes federais de Alagoas, ao invés de serem presos por agentes federais de Brasília. E ainda chamam isso de Justiça. (C.N.)  

9 thoughts on “Polícia Federal deixa no cofre R$ 4 milhões que foram “esquecidos” por aliado de Lira

  1. Senhor Carlos Newton , reparou que sempre aparece o superministro/juiz do STF Gilmar Mendes , em defesa dos humildes ” corruptos e corruptores ” do Brasil , que são injustamente perseguidos e incomodados pelos policiais e procuradores malvados , impedindo-os em sua nobre e honrosa atividade de ” roubarem ” o dinheiro público , em prol de sua classe.

  2. Lira e Alcolumbre são inimigos da nação. Deveriam estar no xadrez há muito tempo. Muito triste nossa sociedade aceitar viver na miséria por causa de uma centena de cafajestes. Que sejam mil , somos 220 milhões. Mil canalhas não deveriam poder subjugar 220 milhões de pessoas. O povo nem lê! Como protestar se não entende profundamente de nada . O povão reclama mas não sabe nem o que está acontecendo, muito menos como resolver. Sacrifícios JAMAIS, isso eu garanto.

  3. “Mas as investigações foram interrompidas porque o ministro Gilmar Mendes mandou anular e destruir as provas do caso, além de arquivar o inquérito.”

    Se o dinheiro foi roubado legalmente a lógica é que se devolva ao ladrão.
    Esse termo, ladrão, deveria merecer nova definição nos dicionários.
    Para ser usado somente depois que houver o processo transitado em jugado, e enquanto poderia continuar roubando e aguardando a sentença que poderia absolvê-lo.
    Pura lógica cartesiana.
    Um exemplo de valor mundial: Loola não é ladrão, foi tirado da cadeia, virou presidente e o processo foi encerrado.
    Fica a dica, se alguém chamar Loola de ladrão pode ser enquadrado como divulgador de fake news e atentado contra a democracia.

    • Certas coisas estão me deixando meio desacorçoado, pela segunda vez o Papa Bergolho afirma que igreja está cheia de viadagens, na primeira vez o Vaticano se desculpou pela homofobia.
      No dizer de Loola, Pelotas era um polo exportador de viados, agora lá vem o argentino com esse negócio de viadagem na igreja.
      No Brasil sabemos que viadagens não é crime, mas sabemos que no Irã e outros países muçulmanos, é. Só que lá essas pessoas são enforcadas e pendurados em gruas e em via pública.
      Tudo bem em não gostar do Milei, mas será que esse papa um dia chega lá?

  4. Polícia Federal não sabe o que fazer com esses R$ 4 milhões

    A PF não sabe o que fazer, agora dá para a Quadrilha do Ladrão……

    Não sobra 1 real

  5. Senhor James Pimenta , a história se repete , lembra-se de uma situação semelhante que ocorreu com a então candidata a governadora ao Estado do Maranhão Roseana Sarney , quando de uma ” batida e busca ” da polícia federal num dos comitês de campanha da Roseana Sarney , onde foi encontrado num cofre milhões de reais , sem comprovação de procedência , origem e dono(a) , sendo que o ex-presidente José Sarney ao invés de cobrar responsabilidade de sua filha candidata e de seus auxiliares , saiu questionando o trabalho da polícia federal , que até hoje não se saber como terminou esse imbróglio , ou seja , se ficou o dito pelo não dito , ou com quem ficou o dinheiro apreendido pela policial federal .

  6. Stalinácio foi “descondenado” porque a vara em que ele deveria ter sido julgado era outra, aí toda a Lava Jato foi parar no lixo, para espanto do mundo todo, exceto do nosso. Assim funciona a nossa “dinâmica” Justiça.

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