Merval Pereira
O Globo
O presidente Lula está num momento em que precisa de um bode expiatório para explicar a perspectiva ruim da economia brasileira. E já escolheu: é o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Este, também, não deveria ter ido ao jantar oferecido pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. Todos sabem que ele foi indicado por Bolsonaro, é membro da equipe do ex-presidente e tem pensamentos econômicos liberais que diferem do PT.
Tudo isso está na conta do Banco Central autônomo. Mas ser homenageado e ainda deixar escapar que aceitaria ser ministro da Fazenda num eventual governo de Tarcísio na sucessão de Lula, dá margem à interpretação de que ele está fazendo a coisa errada – quando está fazendo o certo – para prejudicar o governo do PT.
IMPASSE – E então entramos na discussão que não acaba nunca. O governo quer jogar a culpa para outros que não os aliados da sua base, e Roberto Campos tenta segurar a inflação, vendo que a coisa está ficando meio destrambelhada.
Ao ser confirmado que não haverá corte de juros, com a decisão por unanimidade, como estava previsto, os últimos meses dele no BC serão muito ruins politicamente. Vai ser atacado e a escolha do próximo presidente do banco será mais política do que técnica.
Lula já disse que vai escolher alguém que não pense apenas na inflação, que pense no desenvolvimento do país. São critérios que farão o mercado ficar em dúvida. Ele tem razão em alguns pontos quando fala de subsídios, mas grande parte deles veio dos governos petistas.
Bota Delubio no lugar dele.
A régua de Lula
Lula usou um jantar de Tarcísio de Freitas com Roberto Campos Neto e integrantes do setor financeiro para acusar o governador de ingerência no Banco Central. Sob essa régua, Lula põe sob suspeita seus jantares com ministros do STF, autores de decisões favorecendo seu governo.
Lula sempre foi assim, ele apronta e coloca a culpa nos outros ou adversários.
Esse é o L
Lembrando palavras do Lula antes de ser eleito:
“Obviamente que, tendo em vista os lucros que tiveram o Itaú, o Bradesco e os outros bancos, o Fernando Henrique Cardoso não é nem pai: ele é pai, mãe, avô, avó, tio, tia do sistema financeiro, que nunca ganhou tanto dinheiro como está ganhando agora”.
(Candidato Lula, 2001, Entrevista a Ziraldo)
Palavras do Banqueiro depois que Lula foi eleito:
“Quando ele foi eleito, eu tive uma preocupação de que levasse o governo para uma linha de esquerda, mas ele foi mais conservador do que eu esperava”.
Olavo Egydio Setúbal, presidente do conselho de administração da holding que controla o banco Itaú.
(12/08/2006)