Conversas moles e duras não precisam incluir insultos a Roberto Campos Neto

Charge do JCaesar | VEJA

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Janio de Freitas
Poder360

O cidadão Lula da Silva acredita em política. Acredita, e diz com frequência, que “conversando os objetivos contrários se entendem”. Acredita, portanto, em boa-fé no que se entende por meio político e em racionalidade. Aí está a parte que lhe cabe na criação dos impasses que assolam o seu governo.

O que prevalece na política brasileira são interesses marginais. O interesse público e o conceituado como interesse nacional são secundários, visto o universo político sem a individualização que localizaria exceções admiráveis.

POUCAS HORAS – As conversas com Arthur Lira, de Lula ou de Fernando Haddad, costumam surtir efeito positivo. Por horas, poucas. Depois, é esperar para ver. Em se tratando do presidente da Câmara, com domínio de chefão sobre a maioria da Casa, é um exemplo abrangente do terreno político movediço que o governo tenta atravessar.

Semelhantes nos efeitos adversos aos propósitos governamentais, as dificuldades de Lula com o Congresso e com o Banco Central se fortalecem mutuamente sem, no entanto, terem as mesmas causas e objetivos. Têm, porém, a igualdade das conversas vãs.

Já no governo Lula, o dono de um banco provocou artigos críticos ao falar de uma conversa telefônica em que o presidente do BC o consultara sobre a inflação. O banqueiro e Roberto Campos Neto, na verdade, fizeram o corriqueiro.

AMPLA CONSULTA – A taxa oficial de juros, dita Selic, é fixada a partir da consulta, pelo BC, a perto de 150 integrantes do “mercado” sobre a inflação vindoura e o desenrolar da economia.

A coleta vem a ser a base a que se junta a opinião dos dirigentes do BC, na chamada reunião do Copom, o Comitê de Política Monetária. Com voz preponderante do presidente do banco.

Disso resulta a taxa Selic, que terá influência decisiva para o melhor ou pior desempenho da economia. O governo não tem poder algum sobre o montante da taxa nem recurso algum se a considerar inconciliável com suas políticas e projetos. É assim desde fevereiro de 2021, com a “autonomia do Banco Central” sancionada por Bolsonaro.

QUEM GANHA? – Está claro que a formação da decisiva taxa de juros tem influência de um amplo contingente de interessados na própria taxa. A mais significativa opinião vem do setor financeiro, cuja rentabilidade notoriamente elevada tem relação direta com taxas de juros.

Outros setores só na aparência elaborada têm vantagem em juros baixos. Com juros altos, ganham nas vendas a prazo, no acréscimo em duplicatas industriais, não faltam expedientes.

A extensão da tarefa técnica do BC a interessados na taxa de juros os torna suspeitos. Não, a priori, de má-fé. Mas porque as suas cabeças não funcionam contra os seus interesses. O que não constitui novidade no ser humano e, muito menos, nos escolhidos ao Copom por sua relação com ganhos financeiros.

SEM INSULTOS – Nem por isso insultos na batalha dos juros fazem sentido. Não consta deslize de Roberto Campos Neto que pudesse motivá-los. Mesmo como bolsonarista explícito, logo, adepto de política econômica conservadora e elitista.

Como já dito muitas vezes, o mandato de presidente do BC, indo da metade de um mandato de presidente da República à metade do mandato do presidente sucessor, foi uma idiotice interesseira. Deliberado impedimento a reduções da desigualdade social por transferência de renda.

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