Sílvio Ribas
Gazeta do Povo
O governo brasileiro evitou se posicionar sobre as eleições na Venezuela: não reconheceu a vitória do ditador Nicolás Maduro, declarada pelo órgão eleitoral ligado ao chavismo, tampouco manifestou preocupação diante dos relatos de manipulações estatais do processo eleitoral do país vizinho. As hesitações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) acabaram deixando o Brasil isolado em relação às cobranças mais contundentes de outros presidentes sobre a transparência no pleito deste domingo.
A oposição venezuelana, do candidato Edmundo González Urrutia, espera que Lula não reconheça a reeleição de Maduro, demonstrando assim que tem um real compromisso com a defesa da democracia. Porém, o histórico do petista não sugere que ele dará uma declaração nesse sentido.
REAPROXIMAÇÃO – Desde o início de seu atual mandato, Lula buscou a reaproximação com o regime chavista e vem apoiando a aceitação de Maduro em fóruns internacionais, além de negociar a retirada de sanções contra a Venezuela, sobretudo dos Estados Unidos, o que reduziu sua capacidade de exigir concessões democráticas do aliado.
De acordo com especialistas consultados pela Gazeta do Povo, a abordagem da política externa do país para a eleição venezuelana, traçada pelo assessor presidencial Celso Amorim, antes e depois da divulgação do resultado oficial no domingo (28), revela a dificuldade do Palácio do Planalto em se posicionar.
A cautela exagerada deve-se, segundo eles, ao receio do governo de agravar a sua já comprometida postura em relação à crise venezuelana, com grande repercussão internacional. A inação de Lula contrasta ainda com a reação de outros presidentes da América do Sul, como os da Argentina, Javier Milei, e do Chile, Gabriel Boric.
OPÇÃO CLARA – “Os venezuelanos optaram por acabar com a ditadura comunista de Maduro”, disse Milei em postagem no X, citando pesquisas de intenções de voto que apontavam o oposicionista González Urrutia como vencedor. “A Argentina não vai reconhecer mais uma fraude e espera que desta vez as Forças Armadas defendam a democracia e a vontade popular”, completou.
Também no X, Boric declarou que seu país não reconhecerá “nenhum resultado que não seja verificável”. E concluiu: “A comunidade internacional e especialmente o povo venezuelano, incluindo os milhões no exílio, exigem total transparência das atas e do processo, e que observadores internacionais não comprometidos com o governo prestem contas pela veracidade dos resultados”.
Uruguai, Peru, Equador e Costa Rica também evidenciaram que não reconhecem Maduro como presidente reeleito. Estados Unidos e União Europeia, por sua vez, cobraram transparência.
DITADURAS APOIAM – O posicionamento divergente e explícito vem dos ditadores da China, Xi Jinping, e da Rússia, Vladimir Putin, que prontamente felicitaram o parceiro Maduro pela suposta recondução para novo mandato de seis anos, endossa pelas urnas.
Numa direção no mínimo titubeante, o ex-chanceler Amorim procurou ainda contemporizar. “Não sou daqueles que reconhece tudo o que é dito, mas também não vou entrar numa de dizer que foi fraude. É uma situação complexa e queremos um regime democrático para a Venezuela de forma pacífica”, disse o assessor especial da Presidência em entrevista ao G1.
Oficialmente, o Ministério das Relações Exteriores disse em nota que aguarda a publicação dos dados desagregados por mesa de votação, antes de emitir um posicionamento sobre o resultado anunciado pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE). Por outro lado, o governo brasileiro saudou “o caráter pacífico da jornada eleitoral” na Venezuela neste domingo.
DESGASTE POLÍTICO – Lula amplia desgaste político com governos da região, dizem especialistas. Para o professor Daniel Afonso Silva, pesquisador de relações internacionais da USP, “a relação entre os líderes e os governos saíram claramente arranhadas neste episódio. O mandatário venezuelano desrespeitou e desautorizou as autoridades e instituições brasileiras e, mesmo assim, Lula enviou Celso Amorim como fiador do processo”, observou.
Natalia Fingermann, professora de Relações Internacionais da ESPM, acredita que o Brasil aguarda a divulgação dos relatórios completos das autoridades eleitorais da Venezuela para fazer um pronunciamento oficial, com o objetivo de fundamentar melhor sua posição. Ela também observa que, de toda forma, a relação entre Brasil e Venezuela tende a se distanciar, contrastando com o apoio incondicional dado anteriormente.
Em relação à perda de liderança do Brasil na região, Natalia aponta que este é um processo que já vem ocorrendo há algum tempo, especialmente após a eleição de Javier Milei na Argentina.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Excelente reportagem de Silvio Ribas, enviada por Mário Assis Causanilhas. Faltou dizer que a Venezuela está sendo apoiada pelos países que compram seu petróleo e dependem desse fornecimento, o que é politicamente compreensível. (C.N.)
$talinacio é um finório, um espertalhão, antes de ser um esquerdista de ocasião. Ele apoia o ditador comunista mas tem vergonha de assumir sua simpatia. Um apoio explicito causaria danos a sua pretensão de grande popularidade.
Ele está à espera de uma narrativa favorável, não é doido de ‘fazer o diabo’ a favor do Maduro.
Quem contestou resultado
1. Estados Unidos – secretário de Estado, Antony Blinken
2. União Europeia – vice-presidente, Josep Borrell Fontelle
3. Reino Unido – Ministério das Relações Exteriores
4. Chile – presidente Gabriel Boric
5. Alemanha – Ministério das Relações Exteriores
6. Argentina – presidente Javier Milei
7. Uruguai – presidente Luis Lacalle Pou
8. Espanha – ministro das Relações Exteriores, José Manuel Albares
9. Itália – vice-primeiro-ministro, Antonio Tajani
10. Equador – presidente Daniel Noboa
11. Peru – ministro das Relações Exteriores, Javier Gonzalez-Olaecha
12. Colômbia – ministro das Relações Exteriores, Luis Gilberto Murillo
13. Guatemala – presidente Bernardo Arevalo
14. Panamá – presidente José Raúl Mulino
15. Costa Rica – presidente Rodrigo Chaves
16. Portugal – Ministério dos Negócios Estrangeiros
Quem apoiou – Quem parabenizou Maduro
1. Rússia – presidente Vladimir Putin;
2. China – Ministério das Relações Exteriores;
3. Irã – embaixada iraniana na Venezuela;
4. Honduras – presidente Xiomara Castro;
5. Bolívia – presidente Luis Arce;
6. Catar – emir Tamim bin Hamad al-Thani;
7. Cuba – presidente Miguel Díaz-Canel Bermúdez;
8. Nicarágua – presidente Daniel Ortega.
https://g1.globo.com/mundo/noticia/2024/07/29/venezuela-eleicoes-repercute.ghtml
E o anão diplomático continua!