“Herança” de Bolsonaro é movimento de ruptura, mas não tem agenda clara 

Bolsonaro se revolta com carro de som em ato e pede sabotagem. Vídeo |  Metrópoles

Na verdade, nem Bolsonaro sabe o que ele realmente quer

William Waack
Estadão

Jair Bolsonaro perdeu em boa parte para si mesmo as eleições de 2022 e, a julgar pelo que está acontecendo na capital paulista, sua figura e influência políticas sofrem acelerado processo de erosão. O curioso é que o potencial de votos “antissistema” em geral e o “de direita” (como se queira chamar isso) em particular aumentou desde a derrota de Bolsonaro.

Em São Paulo, o óbvio “herdeiro” é Pablo Marçal. Não importam as diferenças entre cada um: esses personagens de meteórica ascensão trafegam no mesmo “filão”. Asseguram que são capazes de mudar para melhor a vida de cada um “arrebentando” com “isso que está aí”.

SURFAR A ONDA – As lições trazidas por Bolsonaro, e que aparentemente Marçal ainda não assimilou, é que a parte mais fácil da trajetória política é surfar a onda dos sentimentos gerais de angústia e impotência diante, por exemplo, da percebida mão de ferro do STF, da Receita, da burocracia, agravadas pelo medo gerado por questões de segurança pública e o dia a dia travado, sobretudo de empreendedores.

“Acabar com o que está aí”, porém, pode ser coisa muito diferente dependendo do setor. E a grande dificuldade de “ondas disruptivas”, como as de Bolsonaro antes e Marçal agora, é definir claramente seu eixo de ação e, portanto, seus objetivos estratégicos — além da óbvia conquista do poder.

Bolsonaro nem sequer criou uma estrutura razoavelmente hierarquizada, o que espelha fielmente a falência de partidos políticos no Brasil.

ILUSÃO FATAL – Ocorre que essas agremiações são essenciais para se governar no sistema brasileiro que ainda perdura. Conforme o próprio Bolsonaro demonstrou, revelou-se uma ilusão fatal supor que o personagem “conectado com os anseios populares” trafegue como quiser no semipresidencialismo jabuticaba, acrescido do Supremo Tribunal Federal.

O que se possa chamar de “voto de direita” — e não só o voto “antissistema” — padece, em primeiro lugar, da falta de partidos com definido propósito ideológico. Resultado direto do fato de que no Brasil inexiste uma clara definição do que é “ser conservador” ou “liberal conservador”.

Portanto, faltam agendas prioritárias além de chavões como “diminuir o tamanho do Estado”.

4 thoughts on ““Herança” de Bolsonaro é movimento de ruptura, mas não tem agenda clara 

  1. Por acaso o pt faz o contrário. Tudo que os petistas falam em especial omolusco é Nós contra eles. A esquerda é especialista em desestabilizar a sociedade

  2. Waak foi certeiro. A direita precisa ser propositiva, com projetos e ideias bem definidas. Dória chegou com esse com essa conversinha de político outsider e antissistema e vimos no que deu.

  3. Pegando o gancho da falência dos partidos políticos do Waack, aproveito para republicar um capítulo do “Meu Pé de Jabuticaba” já publicado aqui, anos atrás, por cortesia do nosso editor Carlos Newton.

    Partidos Políticos

    Empresas, grupos empreendedores, quadrilhas? Não, quadrilhas não, não é politicamente correto, no Brasil apelidados de “partidos políticos” são investimentos relativamente baratos, já que os recurso vem da Viúva ou dos “clientes” com retorno astronómico e seguro e deve ser por isso que essa doce jabuticaba é tão abundante, somente registrados são 33 partidos e há mais 77 aguardando registro, mas o Cartório que fornece o alvará de funcionamento é muito exigente nas condições éticas das agremiações, senão vejam o nível das já registradas.

    Mas, para avaliar-nos se essa quantidade representa uma jabuticaba, seria melhor fazer nossa comparação com países que não produzem a fruta.

    Estados Unidos, o pais, ídolo político da maioria dos patrícios, não passa de uma reles pós colónia, que até agora só conseguiu organizar 2 míseros partidos e uns outros 5 nanicos menores que somam só um deputado. Não era à toa que o nosso Presidente pretendia mandar seu filho 03 como embaixador para ensinar os americanos como organizar a estrutura política do país e como fazer um hambúrguer crocante. Reino Unido, lá, a monarquia parlamentarista, remonta ao século XIII e a atividade política, como em todo parlamentarismo, é intensa, mas assim mesmo, os britânicos não conseguiram atingir nosso nível de diversidade política e ideológica, pois em oito séculos só conseguiram organizar 2 grandes partidos, Conservadores e Trabalhistas, acho que copiando nossos Arena e MDB e outros 9 nanicos regionais. Não sei se não seria o caso de mandar algum know how, talvez Roberto Jefferson, Waldemar Costa Neto, Carlos Lupi, etc.

    Alemanha, democracia representativa parlamentarista resultante da Constituição 1946, após a tragédia finda em 45, possui 15 partidos inscritos, embora só 8 tenham representação no Bundestag, talvez a insuficiência de recursos seja a causa dessa sub-representação partidária. Quem sabe, um empréstimo a fundo perdido, tipo Angola ou Cuba?

    Argentina, neste quesito, os hermanitos se esforçaram e chegaram perto do nosso handicap político partidário, pois eles tem 23, não assustem não, é isso mesmo, 23 partidos políticos em atividade e isso deve explicar sua pujante economia.
    Um Velho na Janela
    Enviado por Um Velho na Janela em 30/10/2021

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