Bruno Boghossian
Folha
A fratura do centrão pode ser uma miragem, e a concorrência interna vai determinar se o próximo presidente da Câmara continuará montado num rolo compressor
Hoje, o poder de Arthur Lira se sustenta em dois números graúdos. O primeiro é a fortuna de R$ 30 bilhões em emendas destinadas aos deputados, valor que ele ajudou a inflar como presidente da Câmara. A segunda cifra é a bancada de 300 a 350 parlamentares que atuam de maneira coordenada, sob grande influência do líder do centrão.
A mudança de comando na Câmara, em fevereiro de 2025, envolve o controle dos dois ativos. O grupo vencedor vai trabalhar para preservar o cofre das emendas e gerenciar a distribuição do dinheiro. Já a liderança do bloco atravessa um momento delicado.
RACHA SUCESSÓRIO – A reviravolta produzida por Lira ao trocar o candidato à própria sucessão provocou um racha entre os partidos que dão as cartas na Câmara. O efeito imediato é a divisão desse centrão expandido. De um lado, o núcleo do bloco (PP, PL e Republicanos) se uniu rapidamente em torno do nome de Hugo Motta. De outro, ficaram o União Brasil, de Elmar Nascimento, e o PSD, de Antonio Brito.
A concorrência interna pôs em risco a unidade do grupo e sugeriu uma certa contestação à chefia de Lira. O presidente da Câmara preparava o apoio à candidatura de Elmar, mas farejou um risco de derrota e decidiu abraçar Hugo Motta. O deputado do União Brasil se sentiu traído e buscou uma aliança com o PSD.
A briga ganhou ares de autofagia. Com vencedores e vencidos, o centrão terminaria a eleição com um pedaço a menos. Mesmo que Lira conseguisse liquidar a fatura e levar Motta à presidência da Câmara, estaria à frente de um grupo menos coeso. Isso é o que dizem os rancores de hoje.
VAI SE UNIR – Cardeais do centrão que costuraram a entrada de Motta no jogo apostam que, cedo ou tarde, o grupo estará unido novamente. A fratura, afinal, reduz o poder de barganha dos dois lados, e este é um prejuízo que não vale o orgulho dos derrotados.
O desenrolar da disputa vai determinar se o próximo presidente da Câmara continuará montado num rolo compressor capaz de determinar o que é votado e aprovado no plenário.
O governo chegou a sonhar com uma ruptura capaz de destronar Lira e reduzir o tamanho do poder do centrão, mas pode estar diante de uma miragem.
O cara mais poderoso da república é o presidente do Congresso. Pode pautar o impeachment de quem quiser, inclusive de membros do STF ou do presidente.
Acontece que ser fizerem isso, o STF levanta a capivara do bruto e aí o bicho pega. E como ali no Congresso não tem ninguém com vocação para ser piloto de provas de fábrica de supositório, todo escapam felizes e endinheirados.
E assim a suruba política atinge níveis de obscenidade de fazer inveja a Sodoma bíblica e aos fariseus do templo.
Essa bagaça tem dado certo.
O Sistema é o Centrão, o Centrão e a realidade, o Centrão e a normalidade.