Lula frita ‘batata quente’ de Haddad e adia ajuste fiscal por mais um ano

Um homem com cabelo grisalho e terno escuro está em pé, com a mão direita cobrindo parte do rosto, aparentando estar pensativo ou preocupado. O fundo é de madeira clara.

Haddad sonha em reduzir supersalários. Quem acredita?

Vinicius Torres Freire
Folha

Já vimos o filme. A última reprise havia sido em junho, quando a chapa de Fernando Haddad esquentava; as taxas de juros e de câmbio desandavam, para alturas mais daninhas. Agora, o ministro da Fazenda diz que quente é a batata dos gastos fora de controle, inclusive do controle dele mesmo, por lei. Então, Luiz Inácio Lula da Silva frita a batata do ministro.

Diz-se que o pacote de conserto fiscal vem depois da eleição municipal, novembro, por aí. Perdemos outro ano, envenenando aos poucos a possibilidade de PIB maior no futuro próximo.

PLENÁRIO VAZIO – O Congresso ora se dedica a decidir quem vai ser seu próximo duque, a ser eleito no início de 2025, e a negociar quais serão os barões das pisadinhas nas comissões. Discute com o Supremo legiferante os direitos de mandar dinheiros, emendas, para feudos eleitorais. A reforma tributária pega poeira no plenário vazio.

Haddad insinuou a esta Folha que “agora vai”: vai se dar um jeito duradouro nas contas federais, “questão de Estado”. Tem até tido muita conversa a respeito do assunto com Lula. Banqueiros encontram-se com o ministro e renovam protestos da mais elevada estima e consideração, por ele, pelo “firme compromisso” com o “ajuste” etc.

Um pouco antes ou um pouco depois dessas diplomacias e relações públicas da política econômica, aparece Lula. Diz que não mexe em Previdência, saúde, educação. Diz que essas despesas não são gastos, mas investimentos, essa conversa de bar ou de grupo de WhatsApp.

EM “ESTUDO” – Pelo caminho, vazam medidas que o governo “estuda”, sem que se entenda direito seu formato, alcance e como conversam com outras providências de modo a fazer que o plano tenha sentido. As medidas não têm o aval de Lula, até porque ainda estariam em elaboração. A batata assa, os juros pulam da panela, fervendo.

Haddad de fato se empenha em dar um jeito nas contas e na dívida que cresce sem controle. Os bancos dão uma força, pois não gostam de confusão em geral, inclusive fiscais e monetárias. Nesta quarta-feira (16), outra vez deram o maior apoio ao ministro, em reunião também com Lula, como o fizeram por duas vezes em junho, em público.

De resto, os bancos outra vez foram dizer ao governo que essa história de bets pode dar rolo e que, no mínimo, querem ficar longe do risco de mutretas como lavagem de dinheiro, entre outros problemas, como ruína das famílias e, pois, inadimplências.

SUSPEITOS DE SEMPRE – A coisa não anda. Vaza que vai haver limitação definitiva de supersalários (combinaram com o Judiciário?), o que é muito necessário, mas nem de longe resolve o problema. Dizem ainda que vão conter o crescimento excessivo de gasto com BPC, que se tornou uma Previdência alternativa e descontrolada. Que vão rever seguro-desemprego (gasto que não cai nem com emprego alto) e abono salarial. São os suspeitos de sempre, itens que aparecem quando as alternativas maiores de controle fiscal vão para o vinagre —mas nem assim vingam.

A caça aos jabutis anda malparada —trata-se das reduções de impostos que somam meio trilhão de reais por ano, na conta da Receita. Um monte de interesses e o Congresso bloqueiam a revisão dessas concessões, ampliadas inclusive por Lula (1, 2 e 3).

Enfim, a gente fica a pensar se vai haver ajuste na embocadura de 2026, com a direita montada para fazer a festa nas eleições, pelo menos no Congresso.

2 thoughts on “Lula frita ‘batata quente’ de Haddad e adia ajuste fiscal por mais um ano

  1. O brasileiro por sua formação política e vivencial, já se tornou craque em adivinhação, e sabe que, sai governo, entra governo, e sempre o que pinta de novo, pinta no rabo do povo.
    A única coisa credível neste pais, é que em crise, aumentam-se os impostos.
    Lembram da tal crise da China, que no governo FHC, fez com que o “iluminado” sociólogo, passasse a alíquota do IR dos 25% para 27,5%, que seria temporário? Esqueceram de retornar as origens.
    Assim assim caminha a humanidade brasileira.

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