Bruno Boghossian
Folha
A cúpula do governo não admite agora, mas praticamente jogou a toalha em relação à fraude de Nicolás Maduro. Mesmo sem reconhecer a vitória o regime nas urnas, a diplomacia brasileira incorporou o cenário de permanência do ditador no poder.
Há gente no Planalto que nem mesmo gostaria de ver Maduro pelas costas. Ainda assim, chegou a sonhar com uma negociação que tornasse o processo eleitoral menos obsceno e menos desonroso para o governo Lula.
BUSCA DE DIÁLOGO – O Itamaraty, por sua vez, levou a sério a busca por um diálogo entre Maduro e a oposição. Ainda que fossem baixíssimas as chances de convencer o presidente venezuelano a deixar o cargo, os brasileiros agiram para que a exigência de apresentação das atas eleitorais deixasse o ditador sem saída, obrigando-o a se sentar para discutir alternativas.
Alguns elementos mudaram o cálculo dos brasileiros. Dois deles têm relação com a pressão interna sobre Maduro. O candidato opositor, Edmundo González, deixou o país, diminuindo as expectativas de que pudesse assumir o poder, e os protestos contra a fraude se tornaram menos frequentes nas ruas de Caracas.
Além disso, Maduro passou a tocar os negócios como de costume, fazendo pouco caso das tentativas de mediação. Na segunda-feira (14), um cão de guarda do ditador sugeriu que Lula foi aliciado e se tornou um agente da CIA.
CONTENÇÃO DE DANOS – Aos poucos, o Brasil entra num modo de contenção de danos. Como qualquer ruptura está descartada, o Itamaraty mantém canais abertos para negociações objetivas, da importação de energia até a busca por um salvo-conduto para remover, num avião da FAB, opositores asilados na embaixada da Argentina.
Ainda que o Itamaraty insista publicamente em algum diálogo em sentido contrário, o quadro mais provável inclui uma nova posse de Maduro em 10 de janeiro. Lula não deverá comparecer, e muitos diplomatas acreditam que ele nem será convidado.
No dia seguinte, o governo Lula não terá apenas um vizinho incômodo. A Venezuela servirá como lembrete de que o país pagou caro pelas concessões feitas ao regime e ainda saiu com um prejuízo adicional nas suas ambições de liderança regional.
Isso é um sinal de falta de caráter, quem cala consente com o roubo que cometeram na Venezuela