Conversas e desejos não provam que tenha havido tentativa de golpe

Alexandre de Moraes e o golpe, Leite interrompe as férias e outras frases  da semana | GZH

Charge do Gilmar Fraga (Gaúcha/Zero Hora)

J.R. Guzzo
Estadão

Uma das novidades da vida cotidiana no Brasil de hoje é o dever quase-legal de acreditar num absurdo por dia. São coisas que dizem com a cara, a formalidade e a segurança de um texto do Diário Oficial, e que não fazem nenhum nexo por qualquer tipo de raciocínio lógico – mas nas quais o cidadão é obrigado a acreditar, sem perguntar nada, sob pena de incidir nos delitos de “fascismo”, “nazismo”, “ato contra a democracia”, “extrema direita”, “golpismo” e “negacionismo”

É a criminalização do ato de pensar – por decisão do STF, da Polícia Federal e da porção da mídia que reproduz mecanicamente o que ambos lhes entregam para publicar. Você tem que acreditar, por exemplo, que um tubo de batom é “substância inflamável”; Alexandre de Moraes escreveu isso.

CRÊ OU MORRE – Houve uma tentativa de golpe armado, com estilingues e bolas de gude, em 8 de janeiro de 2023. O mesmo ministro diz que foi agredido no aeroporto de Roma, mas o STF mantém em sigilo há mais de um ano as imagens gravadas do episódio.

Esse “crê ou morre”, como no Islã, é do tipo pega geral. Em política é obrigatório dizer que o presidente Lula não perdeu nada nas eleições municipais de 2024 – o PT ficou com menos de 5% das prefeituras e o candidato de Lula foi incinerado em São Paulo, mas isso é porque ele “se preservou”.

Em economia está decidido que um crescimento de 3% ao ano, igual ao do último ano do governo anterior, é “robusto”. Em conduta, a mulher do presidente dirige palavras de baixo calão a Elon Musk, mas é ele quem propaga o “discurso do ódio”.

COMUNICADO INDIGENTE – A conferência do G-20 ora encerrada no Rio de Janeiro, e que deveria ser a obra prima da política externa de Lula, acabou com um dos comunicados mais indigentes na história do grupo – uma sopa de palavras tão aguada, e tão inútil, que ninguém achou motivo para vetar nada no texto.

 Mas a alternativa era não sair nem isso, o que parece ter deixado o Itamaraty em princípio de pânico. Como, no fim, arrumou-se alguma coisa para colocar no papel, a verdade oficial é que a diplomacia brasileira deu um show.

A última obrigação expedida pelo ministro Moraes e a PF estabelece que se leve a sério uma “Operação Punhal Verde-Amarelo” – um segundo golpe de Estado de Jair Bolsonaro contra Lula, ou a continuação do primeiro, que já está sendo investigado há quase dois anos, por outros meios.

ENVENENAMENTO – Não parece claro se é uma coisa ou outra, mas a principal novidade é que Lula, nesta versão, seria envenenado. Moraes, que antes seria executado na estrada que vai de Brasília a Goiânia, continua da lista de assassinatos dos golpistas. Iam matar, também, Geraldo Alckmin – coisa que jamais passou pela cabeça de ninguém até hoje.

No golpe como ele era até agora, segundo Moraes e a polícia, a prova mãe era a “delação premiada” do coronel Cid e as suas “minutas do golpe”. A delação, aparentemente, não está valendo mais; nem o ministro e nem a PF estão satisfeitos com ela. As “minutas” não serviriam como prova nem num júri de centro acadêmico.

 Se o ministro Toffoli decidiu que confissões voluntárias de corrupção ativa são “imprestáveis”, por que as minutas do coronel seriam prestáveis? As provas da polícia, agora, são “conversas entre militares”.

“UNS VINTE…” – O que a PF mostrou para os jornalistas até agora é uma maçaroca de diálogos idiotas e de orações sem verbo, sujeito, predicado, começo, fim e, sobretudo, sem pé nem cabeça – algo no nível do “quem tomar vacina pode virar jacaré” e outros grandes momentos do governo Bolsonaro.

Como iriam envenenar Lula? Com formicida? Não está claro quantos militares tomariam parte no golpe. “Já temos uns vinte”, diz um dos denunciados pela PF. E os outros 220.000 homens que estão no efetivo do Exército? A verba total para financiar o golpe era de R$ 100.000, diz a polícia.

Nem o ministro Moraes e nem a PF demonstraram que essas conversas e desejos formam um plano coerente de golpe, e menos ainda de tentativa real de golpe.

ATOS PREPARATÓRIOS – Talvez sejam o que se chamam de “atos preparatórios” do desejo de cometer um crime, se ficar provado que conseguiriam mesmo preparar alguma coisa. Mas “atos preparatórios”, na lei brasileira, não são nada.

Não foi demonstrada, menos ainda, qual poderia ter sido a participação do maior suspeito da PF e de Moraes nesse golpe – Bolsonaro.

Não há nenhuma declaração gravada de algo que ele tenha dito, ou algum papel assinado, ou uma mensagem de WhatsApp. Tudo o que existe, segundo a PF, é gente falando a respeito de Bolsonaro – e principalmente a respeito do que ele não disse.

ESTÃO SOLTOS – Mais do que qualquer outra coisa, talvez, você está intimado a considerar que o ex-presidente é o grande culpado por trás disso tudo, só que não está preso. Se o ministro e a polícia estão certos de que o responsável é Bolsonaro, ou gatos gordos como o general Braga, por que eles estão soltos?

A incompetência das investigações chega ao ponto de trabalharem num caso durante dois anos e não levantarem prova alguma que fique de pé? Não há nada, pelo menos, que o STF tenha considerado suficiente até agora para prender Bolsonaro. Caso contrário, é óbvio que ele estaria na cadeia, não é mesmo?

São dúvidas formalmente proibidas para o cidadão brasileiro. A democracia recivilizada do Brasil estabeleceu que é ilegal perguntar.

13 thoughts on “Conversas e desejos não provam que tenha havido tentativa de golpe

  1. Diz a doutrina: “Crime tentado é aquele que, quando iniciada a execução do crime ele não se consuma por circunstância alheia à vontade do indivíduo“.

    Se nem isso convence, faço minhas as palavras da primeira – digamos – dama (que o diga Macron): VTNR !!!.

      • Esse Sr. é vergonha alheia, Sr. Moreno.

        “…onde esse panfletário vai buscar o jabá agora?”

        Resposta muito simples:

        Daqui a pouco, vai tecer loas ao cachaça e Cia.

        Pronto!

        Simples como dois mais dois, são quatro.

        Essa gente não tem ideologia, têm dinheirologia.

        Espere mais um pouco e verá a metamorfose, rsrs…

        Um forte abraço,
        José Luis

  2. Repugnante, senador Flávio Bolsonaro, é a sua fala

    Numa declaração pavorosa, o senador Flávio Bolsonaro assim se manifestou sobre a Operação Contragolpe, deflagrada pela PF, terça-feira, 19:

    “Por mais que seja repugnante pensar em matar alguém, isso não é crime. E para haver uma tentativa é preciso que sua execução seja interrompida por alguma situação alheia à vontade dos agentes. O que não parece ter ocorrido”.

    É sério, senador? Então tudo se resume a não ser crime “pensar” em matar alguém, pouco importando se quem “pensou” eram o presidente do país (hipótese, claro), seus auxiliares diretos, oficiais graduados das Forças Armadas e até mesmo, supostamente, um candidato à vice-Presidência da República?

    Pouco importando, também, se os alvos eram um ministro do STF, no caso, Alexandre de Moraes, e o presidente e vice-presidente eleitos da República?

    Pouco importando, por fim, se o objetivo era um golpe de Estado?

    Pergunto: o senhor acredita mesmo no reducionismo tosco e cínico de suas palavras ou se trata apenas do “toque do berrante”, para a manada sair repetindo uníssona nas redes sociais?

    Fonte: O Antagonista, Opinião, 20.11.2024 10:00 Por Ricardo Kertzman

  3. “ESTÃO SOLTOS – Mais do que qualquer outra coisa, talvez, você está intimado a considerar que o ex-presidente é o grande culpado por trás disso tudo, só que não está preso. Se o ministro e a polícia estão certos de que o responsável é Bolsonaro, ou gatos gordos como o general Braga, por que eles estão soltos?”

    “Inquérito da tentativa de golpe: PF indicia Bolsonaro e mais 36”
    Fonte: Metrópoles.
    Madu Toledo
    21/11/2024 15:11, atualizado 21/11/2024 16:13

    O que eu acho?
    Eu acho é pouco!

    Tic tac, tic tac…

    E o povo?
    O povo que se exploda!

    José Luis

      • “Espero que fique inelegível até 2.092….”

        Vamos comemorar, amigão!

        Pegaram o Deus, pátria e patifaria.

        Agora, é meter bronca e jogar o tosco na Papuda Resort o mais rápido possível.

        Que cá pra nós, acho que o covarde vai fugir
        Não é macho pra curtir uma jaula!

        Em todo caso, vamos comemorar curtindo este Jazz maravilhoso, pois os presos, obrigar o imbrochável a fazer um belo Striptease no banho de sol com essa música.
        🤣🤣🤣🤣🤣🤣

        Herb Alpert & The Tijuana Brass

        Love potion No. 9
        👇👇👇

        https://youtu.be/4AjUHjEYCfo?si=BnF2096ATtJfTb0R

        Um forte abraço,
        José Luis

  4. O celular do então Mauro Cid foi muito mais importante que sua delação inteira.
    Mauro Cid é como eu na fila do pão, não é ninguém, mas até agora pouco se importaram com o que ele falou e o que ele falou foi pouco relevante. Desde então todos estão passando pano para a alta patente e ninguém toma nenhuma decisão.
    Eu e o antamitoloko estamos preocupados, ele com medo de ser preso e eu com medo de estar dormindo na hora da ação.
    Acorda Brasil que eu vou dormir…

  5. Um multilateral evento de falsas bandeiras e porque falsas?
    Ora pois: Nenhum dos APÁTRIDAS envolvidos é nacionalista, TODOS LOCUPLETOS pois subornados e servis arregimentados pela “Fraterna, Mãe da Impunidade” robotizada pela “Máfia Khazariana”, àquela representada pelo “Escudo Vermelho”, dai a sutil junção dos vários regimentos do tido “Sindicato Internacional do Crime Organizado, pró avanço da “idéia fixa”!

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